Em todos os acontecimentos encontramos alguma razão psicológica, consciente ou inconsciente. Isto está implícito e é inerente aos indivíduos, aos grupos e às nações. Basta uma pequena observação para assim o constatarmos nas atividades das religiões, tradições, culturas, comportamentos, aspirações, nacionalismos e tantas outras atividades do nosso cotidiano.
O grande problema, e que torna as razões psicológicas tendenciosas, conflitivas e egoístas, é a carência evolutiva que ainda permeia grande parcela da humanidade. A falta de evolução e visão trás à tona todas as “razões” e “tradições” de consequências perversas, em nível individual e coletivo.
Mas na própria problemática está embutida a busca de soluções. Assim, em meio às crises, percebe-se uma crescente tomada de consciência da necessidade de uma revalorização, de uma nova avaliação e renovação filosófica, jurídica, política, religiosa e social menos parcial e mais abrangente. A evolução tem seus mecanismos de defesa para que o caos seja apenas corretivo e não a lei imperante.
Procurando-se ter uma visão mais espiritual do problema, cabe enfatizar a importância da alma como componente fundamental no processo de reabilitação. Alma que atua em um plano mais elevado, além do plano e visão da personalidade encarnada neste mundo. Sempre nos foi dito que devemos buscar as respostas e soluções no íntimo, na alma/espírito, no ser interior. Conhecer-se a si mesmo.
Vemos, portanto, que somente aquilo que é construído numa profundidade capaz de alcançar a essência espiritual do ser humano, a alma com suas respostas e intuições, poderá sobreviver e ser reabilitado, porque será erguido na dimensão da eternidade, mesmo que a ação e seus objetivos estejam inseridos no tempo e no espaço, ou seja, no plano de manifestação.
Devemos saber e ter uma habilidade de agir no tempo e no espaço, mas sempre investindo na eternidade, nos valores perenes, para que as ações não sejam destinadas ao fracasso de uma existência puramente fenomênica, ilusória e impermanente. Porque toda construção ou ação que se afasta do objetivo essencial ou do Plano Divino dá lugar a objetivos ilusórios e transitórios, normalmente calcados em interesses e personalismos humanos, filhos do orgulho, presunção e egoísmo.
É essencial uma pausa e uma reflexão constantes em nossa caminhada para que analisemos possíveis novos rumos a seguir. Observar como devem ser e os reais motivos de nossas propostas de ação e de serviço. E, de suma importância, devemos fazer o hercúleo esforço para que nos tornemos mais livres, gradativamente, das preferências geradas pelo personalismo tão cultuado pelo ser humano.
Urge que nossa visão e proposta de mundo sejam globais. Os estudos dos problemas humanos devem também ser ampliados e globalizados para que as respostas, propostas e possíveis soluções sejam válidas e aplicáveis no mundo que evolui e exige novas realidades, enfoques e soluções. Aumentar a abrangência dos estudos e reflexão proporciona ao homem uma percepção mais clara da integração psicológica e social e evita o aprisionamento nas partes e nas consequentes separatividades.
É momento de abandonarmos os ressentimentos e desconfianças. É hora de não somente nos enfocarmos nas diferenças externas. Não existem divisões entre luz e trevas, mas tão somente seres que caminham no mesmo planeta, e em todo o cosmos, em graus de consciência, despertamento, evolução e compreensões diferentes. Tudo evolui e não podemos permanecer estagnados em diferenciações e propostas que talvez já não sirvam mais a um propósito ou às necessidades atuais. Tradições são importantes, mas nosso objetivo maior não é ficar atrelado a elas, pois isso causa estagnação, presunção e fanatismo. Elas nos auxiliam porém, principalmente, nos indicam o caminho a seguir e não uma parada final.
A educação, em especial, deve seguir novas buscas, novos rumos e visão, pois é uma maneira de desenvolver uma atitude psicológica correta, levando os educandos a uma correta opinião pública, dentro do possível, sem as influências tendenciosas e intenções não corretas. A reabilitação psicológica reclama e requer os valores da cooperação. E uma educação que somente ensina a competir e não a cooperar está fadada ao fracasso. A verdadeira educação desperta a cidadania e esta, por sua vez, leva a uma reabilitação psicológica.
Um ideal, realmente maior, faz com que cada ser humano, cada grupo ou nação transcenda sua visão míope e fragmentada, suas pretensões e presunções egoístas e de auto-afirmação. O progresso e a felicidade das massas só podem ser conseguidos pela melhoria dos indivíduos, melhoria esta livremente aceite e compreendida, fruto da evolução sócio-psico-espiritual e educação corretamente orientada. A educação é a condição “sine qua non” do progresso e da evolução, entretanto tem sido desvirtuada e falsificada por interesses diversos. Agora é necessário, e tendo-se em vista a reabilitação psicológica, desnacionalizá-la e usá-la no seu verdadeiro sentido que nada tem a ver com, simplesmente, informação ou instrução que na grande maioria das vezes tem sido perigosa, inútil, fútil e subordinada ao egoísmo, presunção e interesses de mentes alucinadas.
Com o passar dos tempos e com o avanço científico, o mundo cada vez se torna “menor”, obrigando os povos a se tonarem uma comunidade. Isto é um desafio para cada um e para todos os grupos e nações. E para enfrentar tal desafio o sentido de responsabilidade universal deverá ser a meta de todos; é uma questão, no mínimo, de sobrevivência. Todos os ramos do conhecimento e atividades humanas deverão rever seus conceitos e preconceitos e entrar num novo ritmo.
A reabilitação psicológica depende de cada um dos seres humanos, dos grupos e nações. Depende da atenção dada ao que acontece no mundo, depende da boa vontade daqueles que despertam para um novo mundo. Depende da atuação prática dos que se sentem tocados pelos novos paradigmas de uma nova ordem mundial. Depende do abandonar o “homem velho” e vestir-se do “homem novo”. Depende da cooperação como caminho, do novo enfoque da educação, do relacionamento do homem para com a natureza, das relações internacionais, da liberdade e do cultivo das qualidades humanas positivas e baseadas na sua essência interior, na alma, na voz divina interna que está sempre pronta ao auxílio. Depende do equilíbrio do coração-mente tendo em vista o espírito e o verdadeiro sentido da vida. Do contrário, trilharemos o caminho da fuga na ilusão, aprisionados num passado que não existe mais e num abstrato futuro, deixando fugir o presente, este onde se situam as melhores ferramentas para qualquer crescimento e soluções.
Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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