quarta-feira, 24 de julho de 2013

BIG-BANG - TZIMTZUM - EVOLUÇÃO

“O 'Princípio' ampliou-se e fez um palácio para si mesmo, para glória e louvor. Ali semeou a semente sagrada (…) Assim que a semente entrou, o palácio encheu-se de luz. Dessa luz jorraram outras luzes, centelhas voando pelos portais e dando vida a tudo.” (Sefer haZohar)

A teoria do big-bang explica, em simples palavras, que havia, no princípio, um ponto ou semente de energia de proporções menores que um próton. Ao seu redor havia o “nada”. Num dado momento, “no princípio”, esse ponto explodiu lançando para todos os lados uma carga de energia que, à medida que ia se afastando do centro, formava os universos e os mundos.

Assim sendo, o “Nada Absoluto”, o “Ayin”, o “Zero”, o Deus Transcendente dá origem ao “Ayin Sof”, o “Um”, o Infinito, o “Tudo Absoluto”, o Deus Imanente. Na cabala, Nada e Tudo significa o mesmo. Porém, “Deus desejou ver Deus”, e esse desejo ou vontade tornou-se Luz, o “Ayn Sof Or”, a Luz Infinita. E “Deus desejando ver Deus” desencadeou uma “separação não separada”, de modo a Deus poder “olhar” para Deus. Isso foi realizado por uma “concentração” (Tzimtzum) no “Tudo Absoluto”, tendo como finalidade gerar um “lugar” (Makom), um “espelho”, a existência manifesta, um “lugar esvaziado” para a futura “existência existir”, lá “no começo”, “no princípio”. Na verdade, Deus não retirou-se, mas ocultou-se para que o finito pudesse existir. 

E do lugar oculto, o "Ayin Sof Or" enviou ou penetrou um Raio de Luz de sua Vontade (Kav), conhecido como “Ehyeh” (Eu Sou). E dessa emissão do Kav deu-se a origem de toda a "criação", manifestando-se em Dez Emanações Divinas (as Sefirôt da Árvore da Vida). O Raio de Luz, o Eu Sou, então, fez sua trajetória até o centro do “lugar esvaziado para a existência”, e formou, em sua trajetória, a grande Árvore da Vida (Etz Chaim), ou seja, o Eu Sou manisfestando-se como Kêter (a Coroa, a Vontade), Chochmá (a Sabedoria), Biná (a Inteligência), Chêssed (o Amor, a Misericórdia), Gvurá (o Rigor, a Força, o Julgamento), Tifêret ( a Beleza, o Coração do Céu), Nêtzach (a Eternidade, a Duração, a Vitória), Hod (o Explendor, a Glória, a Reverberação), Yêssod (o Fundamento, a Base, a Sexualidade) e Malchút (o Reino, a Receptividade). A partir de então, surge o Adam  haKadmon (o ser arquétipo, “criado à imagem e semelhança de Deus”) que contém a Árvore da Vida e é contido na Árvore da Vida.

Em Malchút, o Eu Sou manifesta-se como Shechiná, a Divina Presença Eu Sou, que está no íntimo de toda a manifestação (mundos e seres). Na maçonaria, na rosacruz e no martinismo, dentre outras ordens, a Shechiná está representada no centro do templo, como um pequeno altar triangular, sustentando três velas (luzes) e o Livro da Lei, dentre outros objetos ritualísticos. Representa, simbolicamente, a Presença de Deus (Eu Sou) no mundo, no templo e em cada criatura.

A "criação" "distanciou-se" do Criador. Entenda-se que a "criação" é o próprio Criador “distanciado” de si mesmo (“Deus desejou ver-se a si mesmo”), pois nada pode existir fora do Absoluto e Infinito, senão o Absoluto e Infinito deixaria de ser o Absoluto e Infinito. Tendo-se distanciado, necessitou de um caminho de retorno, depois de cumprir o caminho de “descida”. Temos, então, o longo caminho de “subida”. Caminho este que todos os seres e mundos percorrem. É Deus “retornando” a si mesmo.

Portanto, neste afastamento e retorno, encontra-se o possível segredo da existência: o aperfeiçoamento dos seres e dos mundos (a evolução, o despertar), o aperfeiçoamento de Adam haKadmon, que é a própria imagem de Deus. Em outra palavras, como escreveu o cabalista Warren Kenton, “o segredo da Existência é um espelho no qual o homem reflete a Imagem do Divino, para que, assim, Deus possa contemplar Deus.

Numa rápida e superficial visão e omitindo muitos detalhes e pormenores, procurei mostrar que a "Criação" Divina (emanação) não é obra do acaso. Há um propósito perfeito e definido, embora não nos seja possível, neste nosso atual grau evolutivo, de o sabermos em termos claros, precisos e definitivos. Tudo constitui-se, na verdade, numa viagem da inconsciência à consciência, e desta à uma super consciência. Muitas dificuldades a vencer. “Muita dor propulsionando a evolução, mas a própria evolução anulando progressivamente a dor”, como disse o filósofo Pietro Ubaldi. Dukkha, Samsara, Nirvana e as Quatro Nobres Verdades do budismo nos mostram muito similarmente o processo do Tzimtzum da cabala, em outras palavras.


Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)



Referências e sugestões bibliográficas:

-“Adão e a Árvore Kabalística”, Z'ev Ben Shimon Halevi
-“Universo Cabalístico”, Z'ev bem Shimon Halevi
-“A Grande Síntese”, Pietro Ubaldi
-“A Cabala”, Rabino Alexandre Safran
-“A Cabala”, Henry Serouya
-“A Rosa de Treze Pétalas”, Rabino Adin Even Ysrael
-“As 3 Dimensões da Kabalá”, Rav Chaim David Zukerwar
-“Cabala: Novas Perspectivas”, Prof. Moshe Idel


Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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