quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O QUE É SÁBIO ESPERAR DO YOGA?

Damos toda a razão a quem pretender com o Yoga melhorar suas condições físicas e psicológicas. Você poderá colher tais frutos. 

Seu corpo remoçará, como o desejo. Os sinais de decadência física, própria da idade avançada, seguramente serão retardados ou substituídos pelos aspectos juvenis que dão encanto às pessoas moças. As adiposidades desaparecerão. A cor rosada e sadia brilhará em seu rosto. As linhas elegantes, o tórax desenvolvido, a harmonia dos gestos, o porte ereto, tudo enfim que embeleze a figura, se encontram a seu dispor. 

No plano psicológico, alcançará, concomitantemente, outras tantas vantagens. Ao tratar de cada asana e de cada pranayama, em "Autoperfeição com Hatha Yoga" e em "Yoga para Nervosos", fiz referência a vantagens terapêuticas. Essas referências foram retiradas de tratados respeitáveis bem como de minha experiência com milhares de casos.

Tão flagrantes e seguros são os proveitos do Yoga que atraíram uma infinidade de aficionados no mundo todo. Como você e eu, homens e mulheres, jovens, velhos e de todas as categorias sociais e profissionais se atiram avidamente à prática. Que pretendem?

Propaganda intensa e eficaz tem divulgado o Hatha Yoga. O conhecimento divulgado, no entanto, é de certa forma infiel. O Hatha Yoga tem sido apresentado como uma nova panaceia, capaz de servilmente recompor a saúde e a forma física de quem delas precisa para triunfos mundanos. Artistas de cinema, elementos do society, pessoas ociosas do mundo ocidental abraçaram o Yoga, que se transformou em passatempo, mania, moda, divertimento, sei lá o que… Evidentemente, uma deturpação lamentável. Tais homens e mulheres, do Yoga só desejam as vantagens, ao mesmo tempo em que se furtam a um austero comportamento e às implicações de ordem espiritual. Verdadeiros tontos, inebriados pelo mais evidente e mais facilmente desejável, praticam Yoga como quem joga um novo tipo de carteado, como quem vai à sauna ou salão de beleza.

Mesmo a essas pessoas o Yoga faz bem, no plano físico. Não faz todo o bem que poderia fazer, no entanto, em virtude de não atuar mais profundamente no plano psicoespiritual. O que um diletante consegue, praticando asanas por motivos esportivos ou estéticos, é muito menos do que lucraria, se, a par de fazer as técnicas, também amasse o próximo, ajudasse os outros e se comportasse com alta dignidade. A saúde e plástica de uma estrela de cinema naturalmente melhoram com os exercícios, mas muito menos do que se ela transformasse sua vida numa permanente oferenda a Deus. Os frutos mais doces da árvore do Yoga só podem ser colhidos nos ramos mais altos e mais tenros, portanto verdadeiramente impraticáveis àqueles cujo egoísmo pesa uma tonelada. Refiro-me às realizações, às experiências e as vivências mais transcendentes e libertadoras. Os diletantes se contentam em apanhar as frutas do chão que os pássaros já não querem.

Contam que um tolo, ao comer bananas, devorava as cascas e lançava fora a polpa saborosa. Da mesma forma, as pessoas vaidosas se iludem dizendo que praticam Yoga quando apenas cultivam o impermanente. Algumas chegam mesmo a se dizerem yoginis, quando apenas se contentam com resultados superficiais.

Se no plano físico o Yoga deturpado apenas oferece vantagens menores, no plano ético-espiritual chega mesmo a ser maléfico e luciferino. Já viu o leitor que alimentar o ahamkara (egoísmo) é a fonte de todos os pecados, de toda a fragilidade, dor e angústia. Ao mesmo tempo causa e efeito da vaidade, da cobiça, da inquietude e das vicissitudes, o ahamkara nos mantém exilados da casa paterna. Tudo o que contribui para engordar e criar apego ao eu superficial; tudo o que vier a criar novas ilusões e grilhões novos; tudo, enfim, que levar a crer que o homem é apenas sua posição social, suas vitórias profissionais ou artísticas, que é um amontoado de lembranças, imagens e ideias; tudo o que fizer o homem considerar-se este frágil arranjo temporário de experiências psico-sociais e moléculas químicas; tudo o que o afastar do objetivo último – a unificação – não passa de perigoso inimigo. O Hatha Yoga, mal utilizado, pode ser esse inimigo.

Ora, é certo que morreremos. É certo que somos sujeitos a doenças, acidentes, envelhecimento e dor. Por mais miraculoso que seja o Hatha Yoga, não nos salva dessas coisas. Aliás, elas não são males. São naturais. “A doença é o aluguel que pagamos por morar no corpo”, lembra Ramakrishna. Os sofrimentos são-nos não só naturais, mas também necessários. Por que nos perturbarmos quando ele nos chegar e por que dele tentar fugir? É ainda o muito amado Ramakrishna que nos ensina: “É preciso esquentar o ferro várias vezes e martelá-lo muito tempo, antes que ele possa tornar-se aço temperado. E só então é possível dar-lhe a forma que se deseja e dele fazer uma espada cortante. Da mesma forma, um homem deve passar várias vezes pela fornalha das tribulações, deve ser batido pelas perseguições do mundo antes de tornar-se humilde, puro e capaz de ascender à presença de Deus”.

Qual a atitude mais sábia que se deve manter, na doença e em face do envelhecimento? Temê-las? Tentar fugir?

Devemos cumprir tudo o que é possível e razoável, a fim de preservar a saúde e as energias da mocidade. Não devemos, entretanto, fazer nossa felicidade depender de tais coisas. Não devemos desesperar ao cairmos doentes. Não convém entregarmo-nos ao abatimento quando perdemos cabelos ou notamos rugas no rosto. A Sabedoria Universal ensina que só o espírito é eterno. Só ele pode servir de alicerce à nossa felicidade.

“Todo aquele, pois, que ouve essas minhas palavras e as observa será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela não caiu, pois estava edificada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve essas minhas palavras e não as observa será comparado a um homem néscio, que edificou a sua casa sobre a areia. Desceu a chuva, vieram os ventos e bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e foi grande a sua ruína.” (Evangelho seg. Mateus, 7:24)

Edifiquemos, portanto, a nossa sobre a rocha eterna do espírito.

Há os que se dedicam ao Yoga em busca de siddhis, isto é, poderes psíquicos. É uma outra forma de desvirtuar o Yoga e de colher desenganos. A ninguém é lícito brincar de aprendiz de feiticeiro. Essas pretensões são antinaturais e ainda distraem o discípulo de seu objetivo verdadeiro. Disse Krishna a Arjuna: “Podeis estar certo de que um homem que se esforça para obter os poderes psíquicos não realiza Deus. O exercício desses poderes implica o ahamkara, o egoísmo, que é um obstáculo no caminho da realização.”

Quero que o leitor entenda que, se com a prática do Hatha Yoga aspira a lucros mundanos e ligados ao ahamkara, isto é, lucros egoísticos, estará acumulando futuras decepções e perdendo terreno na grande tarefa de sua existência: a libertação, o Reino dos Céus, o “regresso”…

No Hatha Yoga, como em tudo, devemos comportar-nos segundo o preceito evangélico: “Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas as outras coisas vos serão dadas de acréscimo”.

Se as praticamos com essa disposição, só teremos proveito e nenhum dano.

“Se conhecerdes o Único, podereis tudo conhecer. Os zeros que se colocam depois do algarismo 1 tornam-se centenas de milhares. Mas se apagardes esse algarismo 1, nada restará.” (Ramakrishna)

Saúde, beleza, energia, poderes ocultos, eficientes realizações mundanas, tudo enfim que o Hatha Yoga proporciona, são apenas zeros. Zeros e mais zeros enfileirados não fazem mais do que zero, se não forem precedidos pelo “1” da realização do Yoga, ou Integração.



Prof. José Hermógenes



Fonte do Texto: originalmente publicado na década de 1960, extraído das pp. 203 a 206, da 38ª edição, de 1998, do livro "Autoperfeição com Hatha Yoga", do Prof. José Hermógenes
www.profhermogenes.com.br

Extraído do sítio EKADANTAYOGA
www.ekadantayoga.com.br

Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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