quarta-feira, 23 de outubro de 2013

COMO O SUBTERFÚGIO SE REBELA CONTRA O SUBTERFÚGIO?

Perguntaram a Osho:

Os padres, freiras e parentes responsáveis pela minha forma­ção agora estão velhos e acabados. A maioria já morreu. Parece que não vale a pena rebelar-se contra esses velhos impotentes. Agora eu sou o padre e as doutrinas. Sinto que me rebelar contra qualquer coisa que esteja fora de mim mesmo é perda de tempo e simplesmente não faz sentido. Isso faz com que a situa­ção fique muito mais frustrante e complicada. Parece que o eu tem de lutar contra o eu. Reconheço que não se trata do eu essen­cial — a face original — que tem de se rebelar. E o eu que foi edu­cado — o subterfúgio. Mas esse é o único “eu” que eu tenho ou conheço com o qual me rebelar. Como o subterfúgio se rebela contra o subterfúgio?

A rebelião de que estou falando não é para ser feita contra ninguém. Não é uma rebelião de fato, mas só uma compreensão.

Você não precisa lutar contra os padres, freiras, parentes exteriores, não. Nem tem de lutar contra os padres, freiras e parentes interiores. Porque, seja exterior ou interior, não importa, eles estão separados de vo­cê. O exterior está separado, o interior também está separado. O in­terior é só um reflexo do exterior.

Você está totalmente certo ao dizer que “parece que não vale a pena rebelar-se contra esses velhos impotentes”. Não estou falando para você se rebelar contra esses velhos impotentes. E não estou falando, também, para você se rebelar contra tudo o que enfiaram na sua cabeça. Se você se rebelar contra a sua própria mente, será uma rea­ção, não uma rebelião.

Perceba a diferença. A reação é resultado da raiva; a reação é violenta. Na reação, você fica cego de raiva. Na reação, você começa a ir para o outro extremo.

Por exemplo, se os seus pais lhe ensinaram a ter higiene e a tomar banho todo dia, e mais isto e aquilo, e você aprender desde pequeno que Deus gosta de limpeza, e um dia você começa a se rebelar, o que você vai fazer? Vai parar de tomar banho. Começará a viver na imundície. Você vai para o outro extremo.

Ensinaram-lhe que Deus gosta de limpeza; agora você acha que Deus gosta da imundície, que Deus adora a sujeira. Você foi de um extremo ao outro. Isso não é re­belião. Isso é fúria, é raiva, é vingança.

Enquanto está reagindo aos seus pais e às suas chamadas ideias de limpeza, você ficará apegado a essas mesmas ideias. Elas ainda assombram você, ainda têm influência sobre você, ainda o dominam, ainda são decisivas. Elas ainda decidem a sua vida, embora você agora seja contra elas; mas elas ainda decidem. Você não consegue tomar banho despreocupadamente; você sempre se lembra dos seus pais, que costumavam obrigá-lo a tomar banho todo dia. Agora você não toma banho nunca.

Quem está dominando você? Os seus pais, ainda. O que eles lhe fizeram, você ainda não consegue apagar. Isso é reação, não é rebelião.

Então o que é rebelião? Rebelião é entendimento puro. Você simplesmente entende o que aconteceu. Então deixa de ser neuroticamente obcecado por limpeza, só isso. Você não fica sujo. A limpe­za tem a sua própria beleza. Ninguém deve ser obcecado por ela, porque obsessão é doença.

Por exemplo, uma pessoa lava as mãos o dia inteiro — então ela é neurótica. Lavar as mãos não é ruim, mas só lavar as mãos o dia in­teiro é loucura. Mas se, em vez de lavar as mãos o dia inteiro, você co­meçar a não lavá-las nunca, a deixar para sempre de lavá-las, então vo­cê fica preso a outro tipo de loucura, o contrário do primeiro.

A pessoa de entendimento lava as mãos quando é necessário. Quando não é necessário, ela não fica obcecada com isso. Ela simples­mente lida com isso de modo natural, espontâneo. Vive com inteligência, só isso.

Não existe muita diferença entre obsessão e inteligência se você não observar com muito cuidado. Se você depara com uma cobra na estrada e dá um pulo, você pula de medo. Mas esse medo é inteligência. Se você não é inteligente, é burro, você não vai dar um pulo para trás e correrá risco inutilmente. A pessoa inteligente dará um pulo no mesmo instante — há uma cobra ali. Ela pula de medo, mas esse me­do é inteligente, positivo, benéfico.

Contudo, esse medo pode ser obsessivo. Por exemplo, você não consegue ficar sentado dentro de casa. Sabe-se lá. A casa pode vir abaixo. E as casas às vezes vêm abaixo, isso é verdade. Às vezes elas vêm abaixo; isso não está errado. Você pode argumentar, dizendo, “Se ou­tras casas vieram abaixo, por que não esta?” Agora você tem medo de viver sob um teto — ele pode despencar. Isso é uma obsessão. Agora não é inteligente.

As pessoas podem ficar obsessivas com relação a qualquer coisa. Qualquer coisa que possa ser inteligente dentro de certos limites po­de se tornar neurótica se você passar desses limites. A reação é passar para o outro extremo. A rebelião é um entendimento muito profun­do, uma profunda compreensão, de um certo fenômeno. E a rebelião sempre mantém você no meio-termo; ela lhe dá equilíbrio.

Você não está lutando contra alguém; contra as freiras, os padres, os pais exteriores ou interiores. Você não está lutando contra ninguém, porque numa luta você não sabe onde vai parar. Numa luta, a pessoa perde a consciência; numa luta, ela começa a passar para o ou­tro extremo. É fácil de ver.

Por exemplo, basta sentar-se com os amigos e, a certa altura, dizer  “Não vale a pena ver aquele filme que eu vi ontem”. Pode ser que esse tenha sido só um comentário que você fez de passagem, mas al­guém diz, “Você está errado. Também vi o filme. É um dos filmes mais belos que já fizeram”. Agora você foi provocado, desafiado; você fica com vontade de brigar. Você diz, “Ele não vale nada, é a coisa mais inútil que eu já vi!” E então começa a criticá-lo.

E, se o outro também insistir, você ficará cada vez mais irritado e começará a dizer coisas que nem sequer tinha pensado em dizer. E, mais tarde, se você fizer uma retrospectiva e analisar todo o fenômeno que aconteceu, ficará surpreso ao constatar que a menção de que não valia a pena assistir ao filme foi um comentário muito ameno, mas, ao acabar a discussão, você havia passado para o outro extremo. Você usou tudo o que sabia, todas as palavras grosseiras que conhecia. Você fez todo tipo de condenação; lançou mão de toda a sua perspicácia para condenar o outro. Mas não estava disposto a fazer isso logo de início. Se ninguém tivesse discor­dado de você, você poderia ter esquecido tudo, poderia nunca ter si­do tão mordaz nos seus comentários.

Acontece — quando começa a brigar, você tende a ir ao extremo.

Não estou ensinando você a lutar contra os seus condicionamentos. Compreenda-os. Mostre inteligência ao lidar com eles. Sim­plesmente veja como eles dominam você, como eles influenciam o seu comportamento, como moldam a sua personalidade, como conti­nuam a afetar você sem que perceba. Simplesmente observe! Medite a respeito. E um dia, quando já tiver visto o mecanismo dos seus condimentamentos, de repente você chega a um equilíbrio. A sua própria compreensão torna você livre.

Compreensão é liberdade e essa liberdade eu chamo de rebelião.

O verdadeiro rebelde não é alguém que luta; é uma pessoa de entendimento. Ela simplesmente fica mais inteligente, não com mais raiva, com mais fúria. Você não pode transformar a si mesmo ficando com raiva do passado. Assim o passado continuará dominando você, ele continuará sendo o centro do seu ser, continuará sendo o seu fo­co. Você continuará focado, ligado ao passado. Pode passar para o ex­tremo oposto, mas ainda estará ligado ao passado.

Cuidado! Esse não é o caminho do meditador, não é o caminho da rebelião pelo entendimento. Simplesmente compreenda.

Você passa ao lado de uma igreja e desperta em você um desejo pro­fundo de entrar e rezar. Ou você passa ao lado de um templo e inconscientemente se curva diante da divindade do templo. Simplesmente ob­serve. Por que você está fazendo essas coisas? Não estou dizendo para ir contra isso, estou dizendo para observar. Por que você se curva diante do templo? — porque lhe ensinaram que esse templo é o templo certo, que a divindade desse templo é a verdadeira imagem de Deus. Será mesmo? Ou simplesmente lhe disseram que era e você acreditou? Observe!

Ao ver que você está simplesmente repetindo um programa que lhe foi dado, que só está tocando uma fita na sua cabeça, que está no automático, como um robô, você pára de se curvar. Não que você te­nha de se esforçar, você simplesmente esquecerá tudo. A coisa irá desaparecer, deixará você sem deixar rastro.

A reação deixa um rastro, a rebelião não deixa; é liberdade absoluta.

E você também pergunta “Contra quem lutar?” Essa pergunta só surge se tiver de haver uma luta. Como não vai haver uma luta, essa pergunta não surgirá. Você tem simplesmente de ser uma testemunha.

E o testemunho é a sua face original; aquele que testemunha é a sua consciência verdadeira.

Aquilo que você testemunha é o condicionamento. Aquele que testemunha é a fonte transcendental do seu ser.




Osho, em "Coragem: A  Coragem de Ser Você Mesmo"




Fonte: www.palavrasdeosho.com
Fonte da Gravura: www.morguefile.com

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