quinta-feira, 5 de junho de 2014

O CAMINHO DA MEDITAÇÃO

Eu vou entrar passo a passo no que é meditação. Por favor, não esperem até o fim, confiando que terão uma descrição completa de como meditar. O que estamos fazendo agora é parte da meditação. Agora o que se deve fazer é ficar cônscio do pensador, e não tentar resolver a contradição e provocar uma integração entre pensamento e pensador. O pensador é a entidade psicológica que acumulou experiência e conhecimento; ele é o centro limitado pelo tempo que é o resultado da influência ambiental sempre mudando, e deste centro ele olha, escuta, experimenta. Enquanto não se compreende a estrutura e a anatomia deste centro, sempre haverá conflito, e uma mente em conflito não pode compreender a profundeza e a beleza da meditação. Na meditação não pode haver pensador, o que significa que o pensamento deve chegar a um fim – o pensamento que é impelido pelo desejo a conseguir um resultado. Meditação não tem nada a ver com conseguir um resultado. Ela não é uma questão de respirar de um modo particular, ou olhar para seu nariz, ou despertar o poder de executar certos truques, ou qualquer dessas tolices infantis. A meditação não é uma coisa apartada da vida. Quando você está dirigindo um carro ou sentado num ônibus, quando está conversando vagamente, quando está caminhando sozinho num bosque ou olhando uma borboleta levada pelo vento; estar consciente de tudo isso sem escolha é parte da meditação.

A verdade é uma coisa final, absoluta, fixa? Nós gostaríamos que ela fosse absoluta porque assim poderíamos nos abrigar nela. Gostaríamos que ela fosse permanente porque assim poderíamos nos prender a ela. Encontrar nela a felicidade. Mas a verdade é absoluta, contínua, para ser experimentada uma vez após outra? A repetição da experiência é simples cultivo da memória, não é? Em momentos de quietude, eu posso experimentar certa verdade, mas se me prendo a essa experiência através da memória e a torno absoluta, fixa – isso é verdade? A verdade é a continuação, o cultivo da memória? Ou, verdade é encontrada apenas quando a mente está completamente imóvel? Quando a mente não está presa em memórias, não está cultivando a memória como centro de reconhecimento, mas está consciente de todas as coisas que estou dizendo, tudo que estou fazendo em minhas relações, em minhas atividades, vendo a verdade de todas as coisas de momento a momento; certamente, esse é o caminho da meditação, não é? Há compreensão apenas quando a mente está imóvel, e a mente não pode estar imóvel enquanto for ignorante de si mesma. Essa ignorância não é dissipada através de nenhuma forma de disciplina, nem por se seguir qualquer autoridade, antiga ou moderna. A crença só cria resistência e isolamento e onde existe isolamento não há possibilidade de tranquilidade. A tranquilidade só chega quando compreendo a totalidade do processo de mim mesmo – as várias entidades em conflito umas com as outras que compõem o “eu”. Como essa é uma tarefa árdua, procuramos outros que nos ensinem vários truques que chamamos de meditação. Os truques da mente não são meditação. Meditação é o início do autoconhecimento, e sem meditação não há autoconhecimento.





J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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