Assim, para compreender os inumeráveis problemas que cada um de nós tem, não é essencial que haja autoconhecimento? E esta é uma das coisas mais difíceis, autoconsciência – o que não significa isolamento, afastamento. Obviamente, conhecer a si mesmo é essencial; mas conhecer a si mesmo não implica um afastamento da relação. E seria um erro, certamente, pensar que a pessoa pode se conhecer significativamente, completamente, integralmente, por meio do isolamento, da exclusão, ou indo a algum psicólogo, ou sacerdote; ou que se pode aprender sobre si mesmo por meio de um livro. O autoconhecimento é, obviamente, um processo, não um fim em si mesmo; e para se conhecer, a pessoa deve estar consciente de si mesma em ação, o que é relação. Você se descobre, não no isolamento, não afastado, mas na relação, na relação com a sociedade, com sua esposa, seu marido, seu irmão, com o homem; mas descobrir como você reage, quais são nossas reações, requer uma extraordinária vigilância da mente, uma sutileza de percepção. (What Are You Doing with Your Life?)
O que é, é o que você é, não o que você gostaria de ser; não é o ideal, pois o ideal é fictício, mas é o que você realmente está fazendo, pensando e sentindo de momento a momento. O que é, é o real, e compreender o real requer conscientização, uma mente muito alerta, viva. Mas se nós começamos condenando o que é, se começamos a culpá-lo ou resistir a ele, então não vamos compreender seu movimento. Se eu quiser compreender alguém, não posso condená-lo – devo observá-lo, estudá-lo. Devo amar a própria coisa que estou estudando. Se você quiser compreender uma criança, deve amá-la e não condená-la. Você deve brincar com ela, ver seus movimentos, suas idiossincrasias, seus modos de comportamento; mas se você meramente condena, resiste ou a culpa, não haverá compreensão da criança. Do mesmo modo, para compreender o que é, a pessoa deve observar o que pensa, sente e faz de momento a momento. Isso é o real. Qualquer outra ação, qualquer ideal ou ação ideológica, não é o real – é, meramente, um anseio, um desejo fictício de ser alguma coisa que não existe. Assim, compreender o que é requer um estado de mente em que não há identificação ou condenação, o que significa uma mente que está alerta e, contudo, passiva. (Collected Works, Vol. V, 50, Choiceless Awareness)
A própria conscientização do que é, é um processo libertador. Enquanto estamos inconscientes daquilo que somos e ficamos tentando nos tornar outra coisa, haverá distorção e dor. A própria conscientização do que eu sou provoca transformação e liberdade de compreensão. (Collected Works, Vol. IV, 75, Choiceless Awareness)
O que queremos dizer com transformação? Certamente a cessação de todos os problemas, cessação do conflito, confusão e miséria. Se você observar, verá que a mente cultiva, semeia e colhe como um fazendeiro cultiva, semeia e ceifa. Mas, diferente do fazendeiro que permite ao campo descansar durante o inverno, a mente nunca se permite descansar. Como as chuvas, as tempestades, o brilho do sol recriam a terra, também durante esse descanso passivo, embora alerta, da mente, há rejuvenescimento, uma renovação, de modo que a mente se renova e os problemas são resolvidos. Os problemas são resolvidos apenas quando eles são vistos clara e rapidamente. A mente está constantemente distraída, fugindo, porque ver um problema claramente pode levar à ação que pode criar mais perturbação; e, assim, a mente fica, constantemente, evitando enfrentar o problema, o que só dá força ao problema. Mas, quando ele é visto claramente sem distorção, então deixa de existir. Enquanto você pensa em termos de transformação, não pode haver transformação, agora ou depois. A transformação só pode chegar quando todo problema é compreendido imediatamente. Você pode compreendê-lo quando não há escolha e busca por resultado, quando não há condenação ou justificação. Onde existe amor, não existe escolha nem busca por um fim, nem condenação, nem justificação. É este amor que provoca transformação. (Collected Works, Vol. IV, 206, Choiceless Awareness)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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