Não existe método para o autoconhecimento. Buscar um método invariavelmente implica o desejo de conseguir algum resultado e é isso que todos nós queremos. Seguimos a autoridade – se não aquela de uma pessoa, então a de um sistema, de uma ideologia – porque queremos um resultado que será satisfatório, que nos dará segurança. Nós, realmente, não queremos compreender a nós mesmos, nossos impulsos e reações, todo o processo de nosso pensar, o consciente bem como o inconsciente; queremos antes buscar um sistema que nos assegure um resultado. Mas a busca de um sistema é, invariavelmente, resultado de nosso desejo de segurança, de certeza, e o resultado é, obviamente, não a compreensão de si mesmo. Quando seguimos um método, devemos ter autoridades – o professor, o guru, o salvador, o Mestre – que nos garantirão o que desejamos; e esse, certamente, não é o caminho para o autoconhecimento, não é? Sob o abrigo de uma autoridade, um guia, você pode ter, temporariamente, uma sensação de segurança, uma sensação de bem estar, mas isso não é a compreensão do processo total de você mesmo. A autoridade, em sua própria natureza, impede a integral consciência de si mesmo e, assim, finalmente destrói a liberdade; só na liberdade pode haver criatividade. Só pode haver criatividade através do autoconhecimento.
Então, para compreender os inumeráveis problemas que cada um de nós tem, não é essencial que haja autoconhecimento? E essa é uma das coisas mais difíceis, consciência de si – o que não significa um isolamento, um retraimento. Obviamente, se conhecer é essencial; mas se conhecer não implica se retirar da relação. E seria um erro, certamente, pensar que a pessoa pode se conhecer significantemente, completamente, totalmente, através do isolamento, ou indo para algum psicólogo ou algum sacerdote; ou que se pode aprender autoconhecimento através de um livro. Autoconhecimento é obviamente um processo, não um fim em si mesmo; e para conhecer a si mesmo, deve-se estar cônscio de si mesmo em ação, o que é relação. Você descobre a si mesmo, não em isolamento, não retraído, mas em relação, em relação com a sociedade, com sua esposa, seu marido, seu irmão, com o homem; mas para descobrir como você reage, qual é sua resposta, é preciso extraordinária vigilância da mente, sutileza de percepção.
Sem autoconhecimento, a experiência gera ilusão; com autoconhecimento, a experiência, que é a resposta ao desafio, não deixa um resíduo cumulativo como memória. Autoconhecimento é a descoberta, de momento a momento, dos caminhos do ego, suas intenções e ocupação, seus pensamentos e apetites. Nunca pode haver “sua experiência” e “minha experiência”; o próprio termo “minha experiência” indica ignorância e a aceitação da ilusão.
J. Krishnamurti
Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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