O espírito é a individualização do princípio inteligente, isto é, do princípio espiritual, como um dos elementos constitutivos do universo.
Desligado do corpo material ou físico, é o ser inteligente do mundo espiritual revestido de um envoltório (corpo espiritual) formado de uma matéria sutil, de natureza intermediária entre a matéria física e a extrafísica.
O corpo espiritual é o veículo de exteriorização do espírito, que lhe preside a formação. O espírito propriamente dito, como o princípio inteligente do universo, é a mente espiritual que tece seu invólucro sutil, isto é, seu corpo espiritual através do qual a consciência imortal prossegue em sua manifestação incessante no plano extrafísico, após a morte do corpo físico.
O corpo espiritual é uma formação sutil, tecida de recursos dinâmicos, extremamente plástica e maleável à influência da mente espiritual.
É através do corpo espiritual que o espírito se liga ao corpo físico, desde que se inicia a formação deste no plano físico. A configuração do corpo físico reflete o corpo espiritual, em cada nova encarnação do espírito no mundo físico. Portanto, o corpo espiritual é o veículo de exteriorização do espírito no mundo extrafísico. E o corpo físico é o veículo de exteriorização do espírito no mundo físico, por intermédio de sua ligação com o corpo espiritual.
O desenvolvimento dialético da consciência, portanto, consiste no desenvolvimento dialético do espírito, o qual encerra em si o germe de todas as faculdades e potencialidades.
O espírito é a essência do ser destinado a desenvolver as suas faculdades e potencialidades trabalhando no seio da natureza, em interação (ação recíproca) com a matéria, vestindo-se de matéria densa no plano físico e desnudando-se dela no fenômeno da morte, para revestir-se de matéria sutil no plano extrafísico e depois renascer no plano físico, elevando-se, gradativamente, por vidas sucessivas e inumeráveis, desde as formas inferiores e rudimentares da natureza, até alcançar a perfeição na plenitude da existência.
Embora permaneça em sua unidade, ao passar por milhares e milhares de corpos que anima na escalada da evolução, o espírito é sempre diferente pelas qualidades superiores adquiridas, as quais vão enriquecendo a sua individualidade, tornando-a cada vez mais consciente e mais livre na espiral evolutiva de suas existências no plano físico e no plano extrafísico.
Até configurar-se no indivíduo humano, o princípio inteligente atravessou lentamente as faixas elementares da natureza, incorporando em seu próprio veículo de exteriorização as conquistas das experiências infinitamente repetidas, que lhe propiciaram o automatismo dos impulsos fisiológicos e psicológicos, transformando, gradativamente, toda a atividade nervosa em vida psíquica.
O automatismo que revela a inteligência de todas as ações espontâneas do corpo espiritual, com repercussão no corpo físico do indivíduo, é sustentado pelo mecanismo dos reflexos. O reflexo é definido como a resposta involuntária a um estímulo, envolvendo, portanto, uma reação automática. Os reflexos podem ser incondicionados e condicionados.
Os reflexos incondicionados são os reflexos congênitos, os quais são seguros e estáveis, como que hauridos da espécie, tais como os relacionamentos com as funções de nutrição e proteção.
Os reflexos condicionados são os que se utilizam da intervenção necessária do córtex cerebral (substância cinzenta que recobre o cérebro), e que não surgem espontaneamente, mas são adquiridos pelo indivíduo, no curso da existência. Estes reflexos se desenvolvem sobre os reflexos preexistentes, à maneira de construções emocionais, por vezes instáveis, e sobre os alicerces das vias nervosas pertencentes aos reflexos incondicionados.
Os reflexos condicionados, adquiridos como efeito acumulado das experiências, determinam o comportamento do indivíduo perante o meio em que atua, ou diante de qualquer situação a que for submetido.
Ao propiciarem a expansão da vida mental, os reflexos condicionados assumem, em tais condições, um caráter psíquico, passando então a ser denominados de reflexos psíquicos. Estes reflexos são de suma importância nos processos mentais, que constituem o psiquismo do indivíduo.
Os reflexos psíquicos são, assim, o desdobramento dos reflexos condicionados na zona mais profunda do campo mental, sede da consciência, onde se processam as reações que condicionaram os diversos estados mentais do indivíduo.
No homem, essas reações mentais condicionam o caráter de sua personalidade e o seu comportamento na vida de relação, com vastas implicações no campo moral. A conquista da razão, que lhe faculta o livre-arbítrio e o discernimento, também lhe impõem, perante sua consciência de espírito imortal, a responsabilidade dos próprios atos e suas consequências.
O espírito, assim, ao imprimir em seu corpo espiritual os reflexos condicionados adquiridos como efeito acumulado das experiências vividas em cada existência, na condição de homem terreno, transforma esse efeito em reflexos psíquicos responsáveis pelas reações que condicionam a sua personalidade. Daí a necessidade das reencarnações, para que ele possa se libertar de condicionamentos psíquicos inferiores, pois o espírito imortal é destinado à perfeição.
Na vida mental do espírito humano, esteja o espírito ligado ou não a um corpo físico, cada mente emite e recebe estímulos e pensamentos, estabelecendo uma ligação sob a forma de influência recíproca com outras mentes.
O desenvolvimento mental e, consequentemente, o desenvolvimento da consciência é o produto da interação (ação recíproca) da individualidade espiritual, inteligente, com a natureza e com os outros seres inteligentes. A consciência, entretanto, é uma propriedade, um atributo do espírito, embora necessite dessa interação para desenvolver-se.
O desenvolvimento é o processo de realização de um fenômeno que, como tal, só pode ocorrer ao se reunirem todas as condições necessárias à sua manifestação.
Ao iniciar cada nova existência na condição de homem terreno, o espírito traz consigo as conquistas resultantes de suas experiências anteriores, bem como os condicionamentos que constituem sua herança psíquica, os quais vão interferir na formação da personalidade do indivíduo.
Por esse aspecto, pode-se dizer que o homem, como espírito, é o herdeiro de si mesmo. Em relação ao futuro, todavia, ele é o arquiteto de si mesmo. Por já ter conquistado a razão, que lhe concede o livre-arbítrio e o discernimento, ele é responsável pela construção de seu próprio destino, com todas as consequências que possam advir de sua escolha entre o bem e o mal. Daí a importância da educação moral do homem, ao lado da educação intelectual.
O homem, no seu estado atual de desenvolvimento, físico e espiritual, é o resultado de um longo e lento processo de evolução, através de milhões e milhões de anos, realizada sob a ação do princípio inteligente, após ter este passado pelas faixas elementares da natureza.
Portanto, o homem é um espírito imortal, em permanente evolução, na qual deverá desenvolver progressivamente as suas faculdades e potencialidades.
O desenvolvimento dialético do espírito deverá se estender ao infinito, em direção a níveis mais elevados de aperfeiçoamento, em que o espírito passará a ter consciência, com senso de responsabilidade, do seu papel de co-criador.
Esse desenvolvimento dialético consiste no movimento compreendido nos momentos dialéticos do nascer, morrer e renascer, os quais caracterizam o processo palingenésico, ou seja, das reencarnações sucessivas do espírito, sempre visando ao seu progresso na espiral evolutiva.
José Marques Mesquita
Fonte: do livro "A Dialética Espiritualista", Ed. Mandarino, Rio de Janeiro, 1985.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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