O relacionamento é o espelho em que podemos ver-nos como somos. Toda a vida é um movimento de relacionamento. Não existe nada vivo na Terra que não esteja relacionado com uma coisa ou com outra. Mesmo o eremita, o homem que parte para um lugar solitário, está relacionado com o seu passado, está relacionado com aqueles que estão ao seu redor. Não há como fugir ao relacionamento. Nesse relacionamento que é o espelho no qual podemos ver-nos, podemos também descobrir o que somos, as nossas reações, os nossos preconceitos, os nossos medos, depressão, ansiedades, solidão, sofrimento, dor, pesar. Podemos também descobrir se amamos ou se o amor não existe. Por conseguinte examinaremos a questão do relacionamento porque ele é a base do amor. (Mind Without Measure p 79)
Viver é estar relacionado. Portanto tenho que compreender e tenho que mudar. Tenho que descobrir como ocasionar uma mudança radical na minha relação, porque, afinal, isso produz guerras; é isso que está acontecendo neste país entre os paquistaneses e os hindus, entre os muçulmanos e os hindus, entre os árabes e os judeus. Não há , portanto, saída através do templo, através da mesquita, através das igrejas cristãs, através da discussão da Vedanta, deste e daquele e dos outros sistemas diferentes. Não há saída a menos que você, como ser humano, mude radicalmente a sua relação. Surge agora o problema: Como vou mudar, não abstratamente, a relação que está agora baseada em procuras e prazeres egocêntricos? (The Collected Works vol XVI pp 34-35)
A relação só tem um significado verdadeiro quando é um processo de autorrevelação, quando nos revela a nós mesmos na própria ação da relação. Mas a maior parte de nós não quer ser revelada na relação. Pelo contrário, usamos a relação como um meio de encobrir a nossa própria insuficiência, as nossas próprias dificuldades, a nossa própria incerteza. A relação torna-se, portanto, mero movimento, mera atividade. Não sei se repararam que a relação é muito dolorosa, e que desde que não seja um processo revelador em que você descobre a si mesmo, a relação é simplesmente um meio de fuga de si mesmo. (The Collected Works vol V p 230)
A compreensão de nós mesmos não chega através do processo de afastamento da sociedade ou através do isolamento numa torre de marfim. Se vocês e eu investigarmos realmente o assunto cuidadosa e inteligentemente, veremos que só conseguimos compreender a nós próprios na relação e não no isolamento. Ninguém consegue viver em isolamento. Viver é estar relacionado. Só no espelho da relação é que compreendo a mim mesmo, o que significa que tenho que estar extraordinariamente alerta nos meus pensamentos, sentimento e ações na relação. Isto não é um processo difícil ou um empreendimento super-humano; e como em todos os rios, enquanto a nascente dificilmente é perceptível, as águas ganham ímpeto à medida que se movem, à medida que se aprofundam. Neste mundo louco e caótico, se investigarem este processo deliberadamente, com cuidado, com paciência, sem condenar, verão como ele começa a ganhar ímpeto e que não é uma questão de tempo. (The Collected Works vol VI, pp 37-8)
Em um mundo de vastas organizações, vastas mobilizações de pessoas, movimentos em massa, temos medo de agir em pequena escala; temos medo de ser gente insignificante pondo em ordem a nossa própria parte. Dizemos a nós mesmos: “Que posso eu fazer pessoalmente? Preciso unir-me a um movimento de massas para fazer uma reforma.” Pelo contrário, a verdadeira revolução não ocorre por meio de movimento em massa mas mediante a revolução interior do relacionamento – só isso é reforma verdadeira, uma revolução radical, contínua. Temos receio de começar em pequena escala. Porque o problema é tão vasto, pensamos que temos de enfrentá-lo com grande quantidade de pessoas, com uma grande organização, com movimentos em massa. Certamente, temos de começar a procurar resolver o problema em pequena escala e na pequena escala do “eu” e do “você”. Quando eu compreendo a mim mesmo, compreendo você, e dessa compreensão vem o amor. (The Collected Works vol V p 96)
Tomemos por exemplo o mal que cada ser humano sofre desde a infância. É-se magoado pelos próprios pais, psicologicamente; depois magoado na escola, na universidade, através da comparação, através da competição, através de se dizer que tem que se ser excelente nesta matéria, etc. Durante toda a vida existe este processo constante de se ser magoado. Sabe-se isto, e que todos os seres humanos são magoados, profundamente, coisa de que podem não ter consciência, e que de tudo isto surgem todas as formas de ações neuróticas. Tudo isso faz parte da consciência da pessoa – uma consciência em parte oculta e em parte manifesta de que se é magoado. Agora, é possível não se ser de todo magoado? Porque as consequências de se ser magoado são a edificação de um muro em torno de si mesmo, afastando-se no relacionamento com os outros para não se ser mais magoado. Nisso há medo e um isolamento gradual. Agora, perguntamos: É possível não só ficar livre de males passados, mas também jamais ser magoado novamente? (The Flame of Attention, pp 87-88)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/
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