Chegou-se ao fato absoluto – não fato relativo – o fato absoluto de que não há segurança psicológica em coisa alguma que o homem tenha inventado; vê-se que todas as nossas religiões são invenções do pensamento. Quando se vê que todos os nossos esforços separatistas – decorrentes de crenças, dogmas, rituais, coisas que constituem toda a substância da religião – quando se vê tudo isso muito claramente, não como ideia, mas como fato, então esse mesmo fato revela a extraordinária qualidade de inteligência na qual há segurança completa e total. (The Wholeness of Life, p. 166)
Há medo da insegurança, de não ter emprego, ou de ter emprego (fica-se com medo de perdê-lo), medo dos vários tipos de greve que estão acontecendo, etc. Então, a maioria está bastante nervosa, com medo de não estar completamente segura fisicamente. Isso é óbvio, mas por quê? Será porque estamos sempre nos isolando como nação, como família, como grupo? Será que esse lento processo de isolamento – os franceses se isolando, também os alemães, etc. – está trazendo insegurança para todos nós? Podemos observar isso, não só exteriormente? Observando o que acontece externamente, sabendo exatamente o que está acontecendo, a partir daí podemos começar a investigar dentro de nós mesmos. De outro modo, não temos critérios; de outro modo, enganamo-nos a nós mesmos. Portanto, precisamos começar pelo exterior e trabalhar na direção do interior. É como uma maré, que está indo para fora e vindo para dentro. Não é uma maré fixa: ela se move para fora e para dentro o tempo todo. (On Fear, p. 61)
Se um único ser humano compreender radicalmente o problema do medo e o resolver, não amanhã ou em algum outro dia, mas instantaneamente, ele afetará a consciência total da humanidade. Isso é um fato. Como tenho dito, sua consciência não é propriedade privada sua; ela resulta do tempo, de milhares de incidentes, de experiências, que são montadas pelo pensamento. Essa consciência está em movimento constante. É como uma corrente de água, um vasto rio do qual você faz parte. Portanto, não há particularização; e, se você examinar isso profundamente, não há individualidade. Você pode não gostar disso, mas examine-o. Indivíduo significa uma entidade não dividida, indivisível, que não está fragmentada, que não está partida, mas sim inteira. Entretanto, muitos de nós, infelizmente, estamos fragmentados, quebrados, divididos, como o resto do mundo – infelizes, preocupados, confusos, sofrendo, com dores, assustados. (Total Freedom, p. 302)
Pergunta-se por que os seres humanos, que viveram neste planeta durante milhões de anos, que são inteligentes em termos tecnológicos, não aplicaram sua inteligência para se libertarem desse complexo problema do medo, o qual pode ser uma das razões das guerras, de se matarem uns aos outros. As religiões, em todo o mundo, não resolveram o problema, tampouco os gurus, os salvadores, os ideais. Portanto, está muito claro que nenhum agente externo – não importa quão elevado, quão popular se tenha construído através da propaganda – nenhum agente externo poderá jamais resolver esse problema do medo humano... E talvez tenhamos aceitado tão bem o padrão do medo que nem queiramos sair dele. Então, o que é o medo? Quais os fatores que deflagram o medo? Como os muitos riachos, como os regatos que contribuem para o tremendo volume de um rio, quais são os pequenos riachos que resultam no medo? (On Fear, p. 2)
Quando fechamos as janelas e portas da nossa casa e ficamos dentro dela, sentimo-nos muito seguros, a salvo dos perigos, de sermos molestados. Mas a vida não é assim. A vida constantemente bate à nossa porta e tenta abrir também nossas janelas, para que possamos ver mais; e, se, com medo, trancamos as portas, trancamos as janelas, as batidas soam mais alto. Quanto mais nos agarramos a qualquer forma de segurança, mais a vida vem nos cutucar. Quanto mais temos medo e mais nos isolamos, maior é o nosso sofrimento, pois a vida não nos deixará em paz. Queremos estar em segurança, mas a vida diz que não o podemos; e assim começa a nossa luta. (Life Ahead, p. 54)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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