Thomas Merton, espírito arguto e refinado, refinado na escola do mundo, que para isto é a melhor, dispôs-se a nos propiciar uma explanação modernizada daquilo que, de tratados antigos, chega até nós carregando estilo e conceituação de sua época, sobre a direção espiritual e a meditação.
Coisas antigas em formas novas, eis a contribuição de Merton, acrescendo que tudo é reformulado, pelas conquistas de psicologia moderna, pela qual muita coisa obscura se tornou clara e outras foram reduzidas às verdadeiras proporções.
Belo e acertado seu conceito quanto ao diretor espiritual: “um amigo em quem se confia, que, numa atmosfera de compreensão e simpatia, nos ajuda e fortalece em nossos esforços, nosso tatear, para corresponder à graça do Espírito Santo, que é o único verdadeiro Guia no sentido pleno da palavra”. Mas conhece e aponta os maus, que os há também.
Merton, neste tratado de meditação, ensina aos iniciantes, melhormente que certos tratados antigos, em virtude de abordar, ânimo aberto e destemido, dificuldades existentes nesse difícil capítulo da espiritualidade cristã, e as aberrações que podem surgir.
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Iniciaremos apresentando o ponto de vista do monge trapista sobre um dos exercícios mais importantes da vida de oração: a meditação. Aqueles que se iniciam na oração procuram os caminhos mais adequados para chegarem aos elevados patamares da união com Deus. Contudo, tem o homem moderno sérias desconfianças em relação aos métodos e fórmulas, sendo o comodismo a opção natural.
Merton nos dá conselhos úteis, e chega a propor, com toda discrição, o seu método:
COMO MEDITAR
A alma bem disciplinada, como o corpo bem disciplinado, é ágil, dócil e sabe se adaptar. A alma que não sabe se dobrar, ser flexível e livre, é incapaz de progredir no caminho da oração. Uma rigidez imprudente poderá, no início, parecer dar bons resultados, mas acabará paralisando a vida interior.
Há, entretanto, algumas exigências universais para o exercício sadio da oração mental. Não podem, de forma alguma, ser negligenciadas.
Para meditar, tenho de afastar meu pensamento de tudo que me impeça de estar atento a Deus presente em meu coração. Ora, isso é impossível se não recolho meus sentidos. Mas é praticamente inútil recolher-me no momento de oração se, durante o dia, permiti aos sentidos e à imaginação andarem soltos.
Consequentemente, o desejo de se entregar à meditação supõe o esforço de conservar um recolhimento moderado e atento durante o dia todo. Significa viver habitualmente numa atmosfera de fé, com momento ocasionais de oração e atenção a Deus. O mundo em que vivemos apresenta um problema atordoante a qualquer pessoa que deseje adquirir hábitos de recolhimento.
... Thomas Merton alerta nossas motivações e pontua a postura humilde exigida na união com Deus, e trata das mortificações dos nossos sentidos. Observemos o que diz o monge sobre:
O SEGREDO DO NOSSO DESTINO
A primeira coisa que tenho de fazer, se quero ter vida de oração, é desenvolver uma forte resistência às atrações fúteis que a sociedade moderna exerce sobre meus cinco sentidos. Terei, portanto, de mortificar meus desejos.
Não falo aqui de práticas ascéticas extraordinárias, mas simplesmente da autorrenúncia requerida para viver segundo as normas da razão e do Evangelho. […]
Para fazer uma meditação séria e frutuosa, temos de iniciar nossa oração com o senso real da necessidade que temos dos frutos que dela provém. Não basta aplicar nosso espírito às coisas espirituais do mesmo modo que faríamos para observar um fenômeno natural ou um teste científico. Na oração mental, entramos num domínio do qual não somos os senhores, e nos propomos a consideração de verdades que excedem nossa compreensão natural e que contém, no entanto, o segredo de nosso destino. Procuramos, na oração mental, penetrar mais profundamente na vida de Deus. Mas Deus está infinitamente acima de nós, embora esteja em nós e seja o princípio de nosso ser. A graça da íntima união com Ele é, apesar de tudo, sempre um dom que Ele nos faz, ainda que a possamos obter pela oração e as boas obras.
... Lemos Merton finalmente chegar à "matéria-prima" de tudo aquilo que foi tratado anteriormente:
A meditação deve ter um assunto definido, preciso. No início da vida de oração, quanto mais precisos e concretos formos na meditação, tanto mais êxito teremos. A disciplina que nos impomos para nos concentrarmos num assunto especial claro e nítido tende a unificar as faculdades, dispondo-as assim, remotamente, para a oração contemplativa.
O ASSUNTO DA MEDITAÇÃO
Está claro que a escolha do assunto é de importância na meditação. E torna-se imediatamente evidente, desde que a meditação é uma forma íntima e pessoal de atividade espiritual, que a escolha deva ser pessoal. A maior parte das pessoas não consegue meditar bem num “tema” imposto por outro, sobretudo se é algo de abstrato.
O assunto normal da meditação, conforme a tradição ascética cristã, será algum mistério da fé. [...]
A finalidade da meditação é, portanto, em primeiro lugar, tornar-nos capazes de ver e experimentar os mistérios da vida de Cristo como fatores reais, presentes em nossa própria vida espiritual.
Para tornar essa experiência mais profunda e pessoal, procura a meditação penetrar debaixo da superfície exterior, no sentido íntimo, e, (o mais importante) relacionar os acontecimentos históricos narrados no Evangelho, com a nossa própria vida aqui e agora.
Fonte: do livro "Direção Espiritual e Meditação", Thomas Merton, Ed. Vozes
Via: https://merton.org.br/
Fonte da Gravura: https://i2.wp.com/www.ahintofrosemary.com/wp-content/uploads/2019/03/maxresdefault-1.jpg?w=669&ssl=1
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