Na conscientização do bem pelo bem — quando a recompensa é justamente sentir-se bem em agir com caridade, sem esperar nada mais que essa satisfação —, o indivíduo começa então a vislumbrar o reino de Deus dentro de si, esteja onde estiver, esteja na condição que estiver. Leveza da alma e coragem para seguir em frente, superando todos os desafios, são sintomas típicos de quem ascende às faixas superiores de vibração e começa a tocar a felicidade dos evoluídos, com a qual nada do âmbito físico pode se comparar.
Esse estado de autoemulação, de transcendência espiritual e de interiorização do conceito de felicidade não apenas preenche o espírito de bálsamo, mas igualmente leva o indivíduo a exteriorizar suas aquisições, muitas vezes num nível tal que o põe em relevo diante dos seus arredores. Esse destaque, porém, pode até ser nocivo para ambos, em razão de despertar o ciúme e a inveja dos que o cercam e assim por transformá-lo em alvo de prováveis atentados. Seria como, entre nós humanos, que ainda rastejamos sobre a terra, alguém saísse volitando por aí. Donde se vê a necessidade de o sábio saber silenciar-se diante dos faladores — não para simplesmente proteger a sua integridade, mas para não depreciar o outro ou instigá-lo a se depreciar.
A mescla de entidades mais adiantadas com outras inferiores é um recurso da Natureza para o próprio processo evolutivo, para que haja solidariedade e oportunidades de serviço (para os mais evoluídos) e aprendizado (para os mais carentes). Entretanto, essa intersecção de estágios evolutivos tem um controle. Logo, à medida que dois Espíritos se distanciam um do outro — pelo atraso evolutivo de um, em comparação com o avanço do outro —, obviamente que eles ocuparão espaços distintos, indo cada qual para uma dimensão mais ou menos da mesma qualidade. Assim é que os retardatários — aqueles que se omitiram de promover a própria ascensão — são por vezes exilados para outras esferas, de condições e companhias mais ou menos compatíveis com suas ideias e procedimentos; ao passo que os Espíritos que promovem seu autodescobrimento de forma mais considerável do que o padrão dos seus companheiros de jornada são, digamos, arrebatados para dimensões mais elevadas. Isso se dá para que nem os retardatários sejam fatais empecilhos para o progresso de um mundo e nem que os mais evoluídos fiquem subjugados ao primitivismo dos menos adiantados, mas que possam cursar nas escolas mais elevadas a que já alcançaram o ingresso.
Propor a si próprio o autodescobrimento, procurar a verdade, tomar a decisão de se aperfeiçoar e praticar a caridade como meio para o fim de tudo só faz sentido se nesse processo todo acreditarmos firmemente que o saldo de tudo é a tão sonhada felicidade.
Abstração feita às divergências conceituais, o ponto concordante para todos é o de que o estágio de feliz seja a ausência de tudo o que é ruim (imperfeito). Contudo, em suma, o que é a felicidade, na sua plenitude?
[...] Pela moderna neurociência, o mais alto grau de satisfação está na realização de algo bom. A realização é portanto a condição básica para estarmos felizes e para nos realizarmos nós precisamos de campo de atuação para nossas capacidades. Noutras palavras, carecemos de trabalho, de oportunidade de sermos uteis e demonstrarmos do que somos capazes.
Aquele paraíso tradicional, aquele céu prometido na bíblia (conforme as interpretações vulgares), o reino de infinita contemplação e vida inerte não existem. A ociosidade absolutamente não é da lei de Deus — que, como teria dito Jesus, está sempre em labor.
O trabalho incessante é da natureza espiritual divina, como condição sublime para que também os Espíritos evoluídos labutem na cooperação com os caminheiros da estrada do aperfeiçoamento, tendo assim como se realizarem e, portanto, serem felizes. Para esses eleitos, o trabalho que lhes compete já não é de qualquer pesar. As missões a que são destinados em nada lhes aborrecem, pois que eles têm consciência da necessidade do serviço que lhes foi imposto e então se engrandecem por terem como servir. O que os poderia constranger seria exatamente a ociosidade, a ausência de serem precisados. A condição de desocupado implicaria em crerem que eles não fazem parte dos planos divinos, que não seriam importantes. E na verdade, todos nós não apenas fazemos parte dos planos de Deus como também somos imprescindíveis para a ordem das coisas, sem o que a obra divina estaria incompleta e imperfeita. Uma vez que fomos inseridos no contexto, nós passamos a ser elementos inexoravelmente indispensáveis para o Universo — o que também nos remete à conclusão de que cada filho de Deus é da mesma grandiosidade, pelo que somos forçados a convir que cada um de nós é igualmente amável, como amável é Jesus, Maria, Pedro, Judas, Pilatos — não os personagens, mas as individualidades, ou seja, os Espíritos que animaram essas figuras históricas terrenas.
Ao chegarmos nessa concepção máxima de autodescobrimento, não há porque nos portarmos diante do pai celestial como bastardos, mas como filhos legítimos, na intimidade de pai para filho — embora com a compreensão de que ele não pode nos conceder prerrogativas e atribuições incompatíveis com nosso nível evolutivo. A esse pai, perfeito como é, devemos toda a nossa confiança e amor filial, bem como aos nossos irmãos — todos os Espíritos — cumpre-nos o amor fraterno.
Este o grande encontro filosófico — o autodescobrimento.
Louis Neilmoris
Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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