sábado, 11 de julho de 2020

REENCARNAÇÃO - ESQUECIMENTO E LEMBRANÇAS DE VIDAS ANTERIORES


As provas ou evidências - diretas ou indiretas - da Reencarnação não se limitam irredutivelmente às lembranças, às reminiscências, como fatos 'sine qua non'. Estas são um contributo dos mais importantes, não há como negar. [...]

Guardamos, intimamente pelo menos, a noção de quem somos e com isso fazemos um auto-reconhecimento de nossas fraquezas, de nossos arrastamentos, e perante nós mesmos nos questionamos. Pois, somos hoje, basicamente, o fruto do nosso ontem.

É preciso acrescentar que a alma não está totalmente enclausurada na matéria a ponto de não gozar de momentos transitórios de emancipação em que possa recordar compromissos assumidos.

Quando menos seja, chegará o momento de, uma vez desencarnados, verificarmos o saldo positivo ou negativo de nossas passagens pela Terra. As lembranças não ficam perdidas, antes arquivadas: o esquecimento, de toda a forma, não quer dizer destruição, como assevera Gabriel Delanne. E afinal de contas, a vida não se compõe apenas de sofrimentos e de erros. Também de acertos. Queremos dizer que a alma conhece, oculta no subconsciente, eventos relacionados às suas encarnações, influenciando decisões conscientes qual como costuma ocorrer nas sugestões post-hipnóticas. É mais ou menos isso o que nos diz Ernesto Bozzano. Faz-se cumprir, assim, uma espécie de precognição subconsciente. Seria então um determinismo de consequências, em função do livre-arbítrio; a cada causa correspondendo um efeito correlato. A causa está no arbítrio. Mas, se a criatura soubesse de tudo com maior clareza, se pudesse recordar fielmente o passado, é o que pensa Red Cloud, citado por Karl Muller, seria como o aluno que conhecesse as questões de um exame com antecedência...

Em "O Livro dos Espíritos " lemos, questão 393, que "a cada nova existência o homem pode distinguir de melhor forma o bem do mal. E quando entra na vida espiritual vê as faltas cometidas e o que poderia ter feito ao invés de cometê-las...". E Kardec acrescenta: "Se não temos durante a vida corpórea uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal, temos entretanto a sua intuição. Nossas tendências instintivas são uma reminiscência de nosso passado...". E diz, mais: "Se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos a dos atos alheios, e esse conhecimento poderia ter desagradáveis consequências sobre nossas relações sociais". Insiste o Codificador: "O esquecimento das faltas cometidas não constitui obstáculo à melhoria do Espírito, podendo guiar-se pela intuição no esforço de resistir ao mal, secundada pelos Espíritos que o assistem, se ele atende às boas inspirações." Quer dizer isso: Basta que estude a si mesmo, de boa vontade, e poderá saber não exatamente quem foi, como se chamou, mas o que foi, o que fez, não bem pelo posicionamento que hoje desfruta na sociedade, mas por suas tendências naturais e pelo esforço maior ou menor desenvolvido para melhorar-se. São evidências essas para o bom entendedor. [...]

Na obra "O Problema do Ser do Destino e da Dor", Leon Denis esclarece a razão fisiológica do esquecimento: "O movimento vibratório perispirítico amortecido pela matéria no decurso da vida atual é excessivamente fraco para que o grau de intensidade e a duração necessária à renovação dessas recordações possam ser obtidas durante a vigília". E explica mais: "O despertar da memória não é mais do que um efeito de vibração produzido pela ação da vontade nas células cerebrais. Para as anteriores ao nascimento é necessário procurá-las na consciência profunda, mas para reaver o fio das lembranças é preciso que a alma saia; é assim no sonambulismo e no transe". Está explicado aí porque a estrutura de apoio é o perispírito e porque essa rememoração é dita extracerebral. Gabriel Delanne diz que nem todos os pacientes estão aptos a fazer nascer na memória o seu passado. E a explicação é praticamente a mesma: "Isso se deve a causas múltiplas e a principal resulta, ao que parece, do que se poderia chamar a densidade espiritual, isto é, a imperfeição relativa desse campo fluídico, cujas vibrações pode não se ajustarem à intensidade necessária para ressuscitar o passado de maneira suficiente, mesmo com o estímulo artificial do magnetismo". Prossegue: "Acontece, por vezes, entretanto, que a alma, exteriorizada temporariamente, encontra, por momentos, condições favoráveis para que esse renascimento do passado possa produzir-se".

[...] A lei da Causalidade virá impor predisposições e condições. Ajustar-se-ão condições que não serão em absoluto fortuitas. Mas a redução do movimento vibratório do perispírito, enquanto se impregna de fluido vital indispensável à vida que ressurge no plano físico, vai restringir a memória psíquica, diluir a consciência, em cumprimento de leis amorosas, e porque nada haveria de perder-se, arquivar-se-á todo o acervo de lembranças na faixa que lhe é própria, a faixa perispiritual, expressa na linguagem oficial por subconsciente ou por inconsciente, o ld de Freud.

Não é, pois, de estranhar, dizemos agora, que inesperadamente um fato que nos chame a atenção, uma paisagem visualizada, uma melodia que nos enterneça, algo que funcione como despertamento, valendo por sugestão espontânea, desdobrando-se por associação de ideias, nos afaste da realidade vígil e nos leve a consciência a projetar-se a regiões profundas do ser, à subconsciência, onde vigem as lembranças. Isso é comum também nos sonhos lúcidos. Sempre que uma causa acarrete estado vibratório já produzido, criando uma espécie de ressonância, as lembranças com toda a probabilidade reaparecerão, ou tímida ou nitidamente. Ora, isso mesmo acontece, muitas vezes, com relação à vida atual. Questão de aprofundamento maior ou menor, resultando numa viagem ao passado atual ou ao passado remoto - sempre o mesmo mecanismo. Neste último caso, trazido do extracerebral para o registro memorial do cérebro físico, eis caracterizadas as reminiscências.

Notará o leitor que - não há como fugir - tratar do esquecimento nos forçará invariavelmente a tratar das lembranças.

Há um ditado popular que diz: "A gente nunca se esquece de quem se esquece da gente...". É o contraste, o paradoxo. Assim, para provar que por vezes - nem sempre - nos lembramos, torna-se necessário estudar conjuntamente por que razão, tão de hábito, nos esquecemos.


Alberto Souza Rocha



Fonte: do livro "Reencarnação em Foco", Casa Editora O Clarim, Matão, SP
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship) - http://www.grevkafi.org

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