segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

SER HUMANO: POTENTE E IMPOTENTE, SÁBIO E IGNORANTE


Um dos Upanishads dá uma curiosa definição do homem, dizendo que é ao mesmo tempo potente e impotente, sábio e ignorante. Se o compararmos no estado selvagem com qualquer outro ser vivente, o veremos desvalido e ignorante; carece de roupagem e armas naturais; não é alípede nem alígero para escapar de seus inimigos; não tem o instintivo conhecimento que aos animais ensina o alimentício e o venenoso, os que são amigos e os que são inimigos; nem tampouco é capaz de construir uma vivenda.

Poderia crer-se que a natureza fez uma exceção com o homem, pondo-o tão desvalido no mundo; mas não há tal. O homem sem vestimentas naturais aprendeu a usar sua inteligência para fabricar para si roupas com que morar em qualquer clima; e também lhe serviu sua inteligência para fabricar armas e ferramentas que lhe têm dado o domínio do mundo.

Pôde o homem primitivo queixar-se de sua inaptidão e rogar a Deus que a remediasse; mas o homem inteligente, reencarnação do primitivo, olha para trás e dá graças a Deus pelas oportunidades que lhe ofereceu e pela outorgada honra de constituí-lo através dos séculos em um ser divino que a si mesmo se vai formando constantemente por seu próprio trabalho, e não como uma coisa material modelada por força de influências externas. Então vê o homem através do tempo a sua harmonia com o mundo, e compreende que o mundo tem sido e é seu amigo, não um amigo sentimental, senão verdadeiro em suas necessidades.

Como o homem pertence ao aspecto divino e não material do universo, ele desenvolve cada vez em maior medida faculdades divinas, e Deus o auxilia encarnado no princípio de harmonia. Deus é onipotente e contudo há algo que Ele não pode fazer, como, por exemplo, que um gigante seja anão ou um quadrado seja um círculo, porque se o homem é gigante não pode ser anão, e se a forma é um quadrado não pode ser um círculo. Tampouco pode fazer que uma vontade seja dependente, porque se a vontade não é independente, não é vontade. Daqui que Deus reconheça a divindade no homem para a evolução de sua consciência e de suas faculdades, e neste conceito o homem é por si mesmo existente e criador e divino em todo o tempo.


Ernest Wood



Fonte: do livro "Os Sete Raios"
Tradução de Joaquim Gervásio de Figueiredo
Ed. Pensamento, São Paulo
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/face-silhueta-comunica%C3%A7%C3%A3o-m%C3%A1scara-386626/

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