A Lua é o símbolo universal do feminino, simbolizando a fertilidade, a maternidade, a pureza, a intuição, os sonhos e o acolhimento. A Lua também é associada às águas, já que controla as marés em nosso planeta. O ciclo lunar se relaciona com o ciclo menstrual feminino.
Maria é simbolizada pela Lua, não apenas por tê-la a seus pés, mas também pela sua atribuição, pela sua maternidade, sua misericórdia, seu abraço acolhedor, suas cores simbólicas e por ser a mãe do redentor, a Mãe do Logos, cuja glória é associado ao Sol. Do mesmo modo a Lua reflete a luz solar.
Não se trata de uma comparação meramente pagã, mas sim uma alegoria que podemos fazer para melhor compreender os mistérios divinos. O Divino nos é incompreensível por si só, por isso usamos constantemente metáforas, alegorias, parábolas e todo tipo de linguagem simbólica para que nossa mente, limitada ao mundo terreno, possa compreender e adentrar esses mistérios.
A Lua é o astro mais próximo à Terra, no qual fica entre a Terra e o resto do universo. Na Cabala, a esfera de Yesod (a Lua) fica logo acima de Malkuth (a Terra, o mundo tangível) e abaixo de Tiferet (o Sol, o Verbo Divino), compreendendo Yesod como o véu místico entre os mundos, a porta de entrada para Cristo. Em outras palavras, a Lua está mais próxima da Terra (ou seja, de nós) do que o Sol, mas a luz que a Lua emite é reflexo da luz solar. Nestas lógicas, sua atribuição de Mediadora faz todo o sentido, até mesmo entre as igrejas que não aceitam este título para Maria mas ainda sim a veneram como acima de todos os santos.
A Maria é concedida o título de Turris Eburnea (Torre de Marfim). Uma torre é uma edificação vertical que vai da Terra, onde entramos, até o mais elevado. É um conceito semelhante à sua atuação como Yesod, ligando a Terra ao céu. Marfim é um material cor de lua, liso e sem manchas, representando a pureza, uma torre de extrema pureza que nos eleva da Terra aos céus, cuja castidade é necessária para nos afastarmos dos desejos deste mundo e nos voltarmos a Cristo. Torre de Marfim se refere, metaforicamente, a um estado de isolamento filosófico, de interiorização e contemplação, um estado de autoaperfeiçoamento onde o adepto solitário se fecha ao mundo profano e ingressa nos mais altos mistérios. Simplificando, Torre de Marfim é um lugar acolhedor um refúgio para quem busca o mais elevado, a porta de entrada para a Verdade. A Virgem Maria é a porta de entrada para Cristo, é o abrigo que os grandes mestres buscaram para chegar até Deus.
Nos templos ortodoxos é comum ver a lua deitada sob a cruz. Esta simbologia remete ao livro do Apocalipse (c. 12), no qual aparece uma "mulher vestida de sol" e "a lua aos seus pés", o que muitos associaram à própria Virgem Maria grávida de Jesus. Outra interpretação seria que a cruz, obviamente, simboliza Cristo enquanto a Lua simboliza Maria. A Lua está sob a cruz não como sinal de inferioridade, mas sim sendo o seu suporte, sua base, seu fundamento, assim como Maria, que foi mãe de Jesus em todas as suas qualidades maternais, dando-lhe suporte, base e fundamento.
Maria tem três facetas, assim como a Lua. Maria, em sua Imaculada Conceição, é comparável à lua crescente, de aspecto puro e virginal. Maria, como a Mãe de Deus, Theotokos*, é comparável à lua cheia, a perfeição lunar, plena da luz solar, associada à maternidade. Maria, como cônjuge do Espírito Santo, é comparável à lua minguante, simbolizando a sabedoria do fim, a graça da última pessoa da Trindade, se revelando no Pentecostes. E quanto à lua nova? Podemos relacionar à lua escura à Mater Dolorosa, Nossa Senhora das Dores e todos os seus mistérios, que, embora seu culto tenha se iniciado no século XIII, sua devoção é bem anterior, baseado ainda na profecia de Simeão e em vários momentos dos evangelhos. Neste aspecto, Maria se encontra de luto pela morte de seu filho, acolhendo o seu corpo. Geralmente é representada em prantos e com sete espadas perfurando o seu coração, simbolizando suas Sete Dores. Representa a introspecção necessária para um novo começo. A lua nova em Maria remete não apenas num único aspecto, mas de todas as suas Sete Dores, de todos os momentos de aflição que ela passou com seu Filho. Mesmo assim Maria não desistiu e continuou sua senda, assim como a Lua perfaz mais um ciclo. O momento de luto de nossa Mãe, retratado em sua imagem, não a fez desistir e nem perdeu o seu brilho, mas serviu para que ela meditasse em seu interior e retornasse ainda mais fortalecida. Maria não desistiu, mas seguiu com os apóstolos na missão que o seu Santo Filho os designou. Assim, depois de seu "momento de escuridão", Nossa Senhora passou por mais um ciclo na resistência com os apóstolos até ser ascensionada e coroada, de acordo com a tradição romana.
Como podemos ver, não se trata de um simbolismo vazio, mas repleto de valores para a prática cristã. Maria, como a serva perfeita no qual todo cristão deve ser, adorou a Deus (Pai), acolheu Deus (Filho) em seu interior e viveu uma relação especial com Deus (Espírito Santo). Ela viveu uma vida de pureza e longe do pecado. Ela revelou Deus ao mundo e teve forças para continuar depois de várias Dores.
Buscamos em Maria, o sagrado feminino, o puríssimo receptáculo no qual Deus se adentrou. Maria é concha que protege a pérola, o véu que oculta a verdade, o templo onde se assenta a Divindade. Buscamos também o acolhimento, a misericórdia, a doçura e todas as qualidades maternas que precisamos em nossa vida cheia de prantos.
* Theotokos: título grego da Virgem Maria, usado especialmente na Igrejas Católica e Ortodoxa. Sua tradução literal para o português inclui "portadora de Deus".
Autor não especificado
Fonte: Gruta do Eremita
http://grutaeremita.blogspot.com/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/munique-marienplatz-virgem-maria-1530366/
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