quinta-feira, 30 de junho de 2022

ALÉM DA MOTIVAÇÃO


Uma das coisas básicas que nos interessa é encontrar nosso caminho, não apenas para a harmonia externa de nossas vidas, onde não há conflito ou atrito, mas para a harmonia interior, algo que só podemos descrever com a palavra “paz”. A sensação de paz é a sensação de estar intacto, inteiro, completo. É imensamente maior do que a sensação de estar calmo. É transcendentalmente mais do que a ausência de turbulência. É algo muito mais positivo. É uma sensação de bem-estar extático.

A paz flui em nós quando descobrimos nossa harmonia na dimensão externa como interna. É uma harmonia interior como uma harmonia de que somos capazes através da relação com os outros e da harmonia, por exemplo, que experimentamos na natureza, quando vemos as montanhas num dia claro, ou o mar em toda a sua força. Nesses momentos de revelação de harmonia, surge algo sobre nossa humanidade: um sentimento de unidade com a natureza, consigo mesmo e com os outros. É por isso que meditamos. É triste e perigoso encontrar pessoas que rejeitam esses momentos como se fossem sentimentais ou escapistas. A paz não é uma fuga das lutas da vida. As lutas da vida são honrosamente concluídas.

Quando você começa a meditar, você deve ter uma motivação. Você deve ter um objetivo para começar, um empurrão para iniciar o caminho. Não há melhor incentivo do que alcançar este estado de harmonia interior e exterior. A paz é um objetivo nobre e unificador. Em muitas das escrituras sagradas do Oriente e do Ocidente, esse estado é descrito como um estado de bênção, glória, salvação ou simplesmente vida. O significado é ser totalmente completo, humanamente vivo. Então, sim, aqui está uma motivação para meditar que pode ser boa.

Mas uma vez que você comece a meditar de forma regular diária, logo perceberá que a meditação opera em uma dinâmica diferente. Não é necessário estar constantemente afirmando ou definindo sua motivação ou seu objetivo. Há um impulso direcional na própria meditação que o leva adiante com cada vez menos automotivação ou motivação externa. É muito diferente de qualquer outra atividade em sua vida. Você não visualiza isso da maneira convencional, como se dissesse: "Se eu meditar tantas vezes, vou conseguir isso, ou tal nível de paz, e se eu for particularmente leal, obterei algo mais por isso."

Uma vez que você começa a meditar, descobre que chega a ela com uma quantidade menor de demanda sem procurar uma recompensa. Meditamos simplesmente porque é o caminho mais claro para um senso de totalidade, de unidade, que está além de nosso controle ou posse, e só pode ser desfrutado quando aceitamos a natureza de ser um presente.


Fr. John Main, OSB



Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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