O desapego não é uma dissociação de si mesmo ou uma evasão de problemas ou responsabilidades. Não implica a negação da amizade, do afeto ou mesmo da paixão. O desapego é, em essência, o desapego da autopreocupação, do frequente e inconsciente estado de espírito que coloca o “eu” no centro do universo. O desapego torna possível o amor porque o amor só é possível se abrirmos mão da nossa própria preocupação, se largarmos o nosso isolamento e nos libertarmos da complacência e do uso dos outros para os nossos próprios interesses.
Mas acima de tudo, e esta é a lição mais importante que aprendemos na meditação, o desapego é a liberação da ansiedade que sofremos pela sobrevivência do nosso ego. A vida nos ensina que amar implica, em essência, abandonar o próprio ser na realidade mais ampla do outro, dos outros, de Deus. O desapego do egoísmo nos liberta para o amor para que não sejamos mais dominados pelo instinto animal de nossa própria sobrevivência. O desapego requer plena confiança humana: confiança no outro e em Deus. Requer a disposição de deixar ir, de abrir mão do controle e exige a força de ser.
Na meditação, aprendendo a repetir continuamente o mantra, aprendemos a confiar, aprendemos a ser. Na verdade, a alegria da meditação é uma celebração de ser, uma celebração da pura alegria de receber a vida como um presente e fazer o que Blake chamou de "beijar a alegria enquanto ela passa". A oração não é possuir ou controlar, mas pura celebração de ser.
Chegamos a esta celebração porque a meditação nos leva ao centro, ao ponto de quietude. Em cada pessoa existe um ponto de quietude que é o mesmo para todos. A meditação nos ensina que existe apenas um centro verdadeiro, que é o centro de todos os centros.
Isso é o que estamos aprendendo na meditação, a unidade que está em nós e a unidade na qual nosso ser está. O compromisso que temos na meditação é nos desapegarmos de nossa própria consciência e preocupação (...). O tempo de meditação, então, torna-se progressivamente mais fácil, mais alegre e mais centrado. E a nossa vida, que muda profundamente graças à meditação, revela-nos através da nossa própria experiência o que significa "Deus é Amor".
"Beijando a alegria enquanto ela passa " - Trecho de “The Heart of Creation”, de John Main OSB, (Nova York: Continuum, 1998) pp. 74-75.
Carla Cooper
Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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