Quando as pessoas fazem essa afirmativa - "A Vida é uma só, é preciso aproveitar" - não imaginam que grande verdade estão dizendo.
A intenção, sabemos, é enfatizar que a vida deve ser vivida em cada minuto, no mundo material. Há que comer bem, passear, crescer socialmente e desfrutar tudo que o mundo oferece. Enfim, como se diz habitualmente, temos de curtir a vida.
Se analisarmos a frase sob a ótica espiritual, constataremos uma outra verdade. A vida é realmente uma só, eterna, que é cumprida em diversas etapas, algumas como encarnados e outras sem o corpo, sem que haja entre elas qualquer interrupção. É o futuro amarrado ao passado. Presos ao que já fomos, tentando nos desvencilhar das algemas da inferioridade para ter alguma alegria.
Estamos na vida eterna desde o nosso nascimento como espíritos simples e sem qualquer conhecimento, quando fomos premiados com o sopro divino e iniciamos nosso processo evolutivo. Já vivemos em mundos primitivos, probatórios e neles ainda continuamos fazendo experiências de crescimento, sempre de conformidade com o nosso atual estado espiritual.
A limitação mental impõe a densidade e determina o mundo onde temos de viver. Por isso temos de nos desprender do mundo material enquanto nele, para viver na espiritualidade divorciados de valores que não terão utilidade. Se enquanto encarnados formos escravos da matéria, seremos dependentes dela mesmo depois de deixar o mundo dos "vivos". Avarentos, gananciosos, sensuais aqui, continuaremos iguais na erraticidade.
A vida é uma só e tem de ser aproveitada. Em cada momento e em cada encarnação - que são minutos espirituais - vamos nos desligando de Mamon e nos aproximando de Deus. Trabalho lento, difícil com quedas e desânimos. Tão duro que vez por outra caímos e abandonamos tudo o que já foi conquistado. Renegamos o esforço feito para subir um degrau e despencamos escada abaixo.
Lembramos São Paulo, quando dizia que a despeito do muito que sabia, quando pensava era só no que aborrecia. Afirmava, porém, que suas quedas não eram a sua derrota.
Em determinadas situações, fatos vistos do ponto de vista material parecem desanimadores. Sofrer, adoecer, morrer, coisas abomináveis. Mas Jesus ensinou na prática a razão de tais ocorrências. Após a cura do paralítico, quando um apóstolo perguntou se estava feliz respondeu que não, porque enquanto doente ele orava a Deus. Agora, curado, está na taverna com mulheres e se embriagando. Só o curou, completou o Mestre, para manifestar-se nele a Vontade do Pai.
A doença é na verdade o remédio. As dores são reguladoras da vida e limitam os excessos que habitualmente cometemos. Por vezes, pior ser curado que continuar doente. Será que compreendemos e concordamos com isso?
Aproveitemos as orientações de Paulo, em seu testemunho. Se Jesus ensinou dando demonstração de fé, Paulo nos encoraja e antes de ser o santo Paulo da igreja, que deixou-se imolar resignadamente, lutou contra as más tendências.
Ainda Saulo, contou com a ajuda do Cristo que o convidou a segui-Lo após o episódio vivido durante a viagem para Damasco. Nós também somos chamados por Jesus, diariamente. Basta aceitar o convite.
Ávida é uma só, é preciso aproveitar, é uma grande verdade. Entretanto, temos de saber o que é aproveitar a vida. De acordo com as nossas preferências, talvez não nos traga bom proveito. Dia desses deixaremos o mundo e seguiremos para lugares desconhecidos, onde teremos de continuar, enfrentando a razão e a sabedoria das Leis. Poderemos ficar totalmente desajustados se, enquanto na carne, não nos desligarmos dela.
Temos o mundo material ao nosso dispor para as experiências necessárias. Uma vez fora dele, ficamos escravos das próprias realizações, o que poderá, dependendo dos nossos atos, ser motivo para grande sofrimento.
Mas o sábio conselho continua valendo: Vamos aproveitar a vida, porque é uma só.
Fonte original: Revista "O Clarim", abril de 1992
Via: livro "Pontos de Vista", de Octávio Caúmo Serrano
Editora SEDAC - Sociedade Espírita de Divulgação e Apoio à Criança S/C
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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