terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

VIVER INTENSAMENTE PARA APERFEIÇOAR-SE

Não basta que uma atividade satisfaça o vosso desejo de conhecimento, que ela vos traga a alegria, o apaziguamento ou a descontração. Em cada atividade, deveis procurar uma ocasião de aperfeiçoamento, de libertação interior. Ora, mesmo a maneira como os humanos praticam a arte, a ciência e também a religião revela que eles não procuram nelas, verdadeiramente, meios para se aperfeiçoarem. Perguntareis vós: «Então, o que significa aperfeiçoar-se?... E o que devemos nós fazer para o conseguir?» Aperfeiçoar-se é mudar a qualidade das suas vibrações, a fim de as tornar mais intensas, isto é, mais espirituais. Tudo reside na intensidade do pensamento, do sentimento e da vida; é isso que a Ciência Iniciática nos revela. Quando o ser humano conseguir viver essa vida intensa, todas as suas atividades, tanto as físicas como as espirituais, contribuirão para o seu aperfeiçoamento.





Omraam Mikhaël Aïvanhov






Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Tumblr.com

DESIGUALDADE SOCIAL E REENCARNAÇÃO

Auroville é uma pequena cidade localizada na Índia. Foi fundada em 1968 pelo casal Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Ali, todos os moradores recebem um salário mínimo e podem trabalhar com o que se adaptem. É uma urbe que não tem políticos ou classes sociais. Não há religião oficial e o dinheiro é de somenos importância. Atualmente, cerca de duas mil pessoas moram na cidade, que tem capacidade de acolher até 50 mil habitantes.

É uma cidade autossustentável, tem campos cultiváveis, pequenas fábricas, restaurantes, padarias, hospitais, escolas e cinemas, além de um pequeno jornal local, tudo alimentado por energia solar. Não existem prefeito, governador ou secretários. Sempre que surge um problema, uma assembleia é convocada e os cidadãos da comunidade elegem um conselho para solucioná-lo.

Os habitantes de Auroville são livres para exercer seus rituais e acreditar no que quiserem, desde que não incomodem ou tentem pregar suas crenças aos concidadãos. Para residir na cidade, o interessado precisa comprar uma casa, que custa em média 3 mil dólares. No primeiro ano que passa na cidade, o novato é observado e avaliado pela comunidade. Depois de um ano, período que eles chamam de “estágio”, os cidadãos de Auroville decidem se a pessoa pode ou não permanecer entre eles.

Observamos ser um lugar apinhado de utopias e talvez não muito encantador, pois com meio século de existência e com capacidade para receber até 50 mil moradores, hoje só habitam cerca de duas mil pessoas. Como disse, deve ser um lugar pouco atraente, ou os cidadãos de Auroville devem ser intransigentes (pouco democráticos, diria!). Pode ser que o processo de seleção pela comunidade sobre os que podem ou não residir na cidade (após um ano de “estágio” no local) seja muito rígido ou discriminatório, sabe-se lá!...

Talvez tenham conquistado em Auroville a virtual igualdade dos “bens”, mas convidamos os leitores a meditarem aqui acerca da teoria da desigualdade das riquezas conforme ensinou Kardec, demonstrando que o princípio da pluralidade das existências pode oferecer a real explicação sobre as dessemelhanças dos “bens” na Terra.

Sabemos que há “espíritas progressistas”, que apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada. Creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades", por isso os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.

Kardec assegurou também que se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade espírita é intolerável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas a fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta (à moda deles), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa performance das estruturas sociais.

Quando Kardec afirmou que se a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” blasonaram que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para o consumo do supérfluo.

Gritam furiosamente os tais “espíritas progressistas”, levantando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas? Bradam, então, que a riqueza concentra-se pelo simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como se observa uma, dedução horizontalizada, superficial, mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.

Creem os “progressistas” que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do quê, a sua apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por eles produzida.

Expõem ainda os “progressistas” que em dez anos, no Brasil, as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que porém deve preocupar, e é racional estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.'' [1]

É bem verdade que a desigualdade social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!

Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com violência e atualmente no Brasil com ameaça na boca (verbal e saliva hostil ou “cuspidela”) que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.

Politicamente sabemos que as leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.

Para confirmar as magníficas teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”. [2]




Jorge Hessen






Fonte do Texto e da Gravura: "Artigos Espíritas"
https://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com.br






Referências bibliográficas:

[1] Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936


[2] Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978

A PSICANÁLISE DAS RELIGIÕES

Freud e os Mestres de Sabedoria Veem a Religiosidade Dogmática de Modo Semelhante


O caminho da independência e da investigação pessoal exige do buscador a coragem de enfrentar a solidão. Ele se liberta em grande parte da preguiça mental e do dogmatismo, mas tem que pagar um preço por isso, como todo aquele que abre seu próprio caminho. Quando aprofunda a sua visão crítica sobre as tentativas de viajar de carona pelo caminho espiritual, o estudante encontra um ponto de apoio e um reforço desafiador na obra de Sigmund Freud e na análise que ele faz sobre as formas convencionais de religião.

A análise crítica das religiões é inevitável: se mesmo depois de vários milênios de civilizações tão religiosas ainda existe tamanha dor no mundo, é porque há algo profundamente errado nas nossas religiões.

De fato, uma coisa é o mundo divino, e outra - bem diferente - é a ideia imperfeita que fazemos dele. Tudo o que pensamos de Deus foi feito à imagem do homem. A divindade é um espelho em que projetamos não só nossas esperanças e sentimentos nobres, mas também nossa ignorância - e isso tanto individual como coletivamente.

Basta olhar a história humana dos últimos 2000 anos para reconhecer uma quantidade imensa de crueldades, loucuras, guerras e massacres que foram abençoados e incentivados por altos sacerdotes em nome de Deus, Allah, Jeová, dos deuses do hinduísmo e assim por diante. A fé em Deus tem servido de álibi e justificativa para alguns dos piores crimes da história da humanidade. Diante disso, é recomendável observar nossas religiões do ponto de vista daquele velho cientista e sábio que inventou a psicanálise na primeira metade do século 20, com o objetivo de compreender o sofrimento humano.

A boa psicologia, como a boa tradição esotérica, nos convida a assumir nossa responsabilidade diante da vida, abandonando o mau hábito de atribuir nossos erros à “vontade de Deus”. Se quisermos abrir espaço para a religiosidade dos novos tempos, que se apoia na liberdade de pensamento, devemos reexaminar o lado difícil e sombrio da religiosidade autoritária herdada por nós dos tempos antigos. Uma relação diferente com o mundo divino - livre de dogmas e aberta para a mudança - poderá conduzir-nos sem perda de tempo a uma nova era de solidariedade entre todos os seres. No entanto, será preciso uma certa dose de persistência. Porque a verdade incomoda, subverte. Ela questiona nossas rotinas mentais e mostra coisas que preferiríamos ignorar.

Todos sabem, por exemplo, que o povo brasileiro é profundamente místico e cristão. Já em 1500 os portugueses chegaram aqui precisamente em nome da salvação dos indígenas para o reino de Deus. Pero Vaz de Caminha escreveu, em sua famosa “Carta do Achamento”, que o melhor proveito a ser tirado destas terras da “Vera Cruz” seria a salvação das almas dos seus primeiros habitantes. Mas essa bela piedade cristã era usada para encobrir com palavras generosas - como um verniz - as verdadeiras finalidades geopolíticas, estratégicas e econômicas do reino lusitano. Na prática, a teoria era outra. Pouco depois da posse portuguesa, teve começo um longo e impiedoso massacre dos povos nativos. Ainda hoje cabe perguntar por que há tamanha injustiça na sociedade brasileira depois de 500 anos de intensa evangelização, e tanta mentira, corrupção e violência em meio ao nosso povo bom e cristão.

Nenhuma religião pode atirar a primeira pedra. O povo da Índia milenar tem, certamente, uma das tradições religiosas mais ricas e inspiradoras do planeta. Mas a população do país vive na miséria, a classe política é corrupta, e o grande líder da independência do país, Mohandas Gandhi, foi assassinado a sangue frio na metade do século 20 por fanáticos cheios de sentimento religioso, simplesmente porque queria a tolerância mútua e a convivência pacífica entre pessoas de fés diferentes. A Índia milenar investe hoje em armas atômicas uma fortuna que poderia alimentar melhor seu povo. O único objetivo é sustentar uma corrida armamentista contra outro país bastante religioso, o Paquistão. Aliás, também o Paquistão desenvolveu armas atômicas em meio à pobreza da sua própria população.

Os povos árabes são igualmente místicos e tementes a Deus, mas por que têm odiado tanto os judeus e, em alguns casos, toda a sociedade ocidental? A religião de Gautama não está livre do pecado. Há casos de grandes líderes e famosos monges budistas vindos para o ocidente que se transformaram em bêbados incuráveis e completos fracassos morais, enquanto procuravam manter o discurso e a pose de “grandes sábios” diante do assombro dos seus seguidores e discípulos. [1]

Pessoa alguma poderia duvidar: o cristianismo é uma das melhores religiões do mundo. Mas será que as autoridades religiosas precisavam matar tantos milhares de pessoas em nome de Jesus, humilhando, torturando e queimando na fogueira, durante os longos tempos da Inquisição, todo aquele que parecesse discordar de alguns dos seus dogmas, entre os quais não faltavam superstições absurdas? O padre Antônio Vieira, por exemplo, foi um dos criadores do que há de melhor na alma do povo brasileiro. Pioneiro da luta pela ética na política e pelo respeito aos indígenas, pensador independente e de ideias messiânicas, ele passou vários anos da sua vida nos cárceres da “Santa” Inquisição em Portugal. Teve sorte de não ser morto.

No começo do século 19, o grande místico e maçom Hipólito da Costa fugiu dos cárceres da Inquisição portuguesa para ir viver em Londres e fundar no exílio o primeiro jornal brasileiro, Correio Braziliense. Mas milhares de pessoas não puderam sobreviver à perseguição do fanatismo religioso. Centenas de milhões viveram aterrorizados e sem liberdade de pensamento. Quando é que o Vaticano fará, finalmente, uma autocrítica mais ampla e corajosa em relação aos desatinos da Inquisição? Como foi possível que uma “Igreja de Deus” fizesse tais coisas?

Como? Bem, Freud explica isso. Apesar de todos os belos rituais, das promessas de céu, ameaças de inferno e da sincera adoração de Deus, grande parte da casta sacerdotal das diferentes religiões transmite há milênios aos seus seguidores, nas entrelinhas, pelos seus atos e não por suas palavras, uma mensagem moralmente perigosa: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Essa moral de cara dupla da velha religiosidade dogmática, que vive das aparências, não é mais capaz de manter-se de pé no século 21. As condições cármicas e históricas atuais já não admitem um divórcio hipócrita entre teoria e prática, ideal e vida, palavra e gesto. Se o ceticismo materialista e a falta de valores éticos ameaçam a convivência social, é porque as religiões têm falhas importantes.

A solução é o autoexame individual e coletivo. Cada um deve cuidar prioritariamente da sua própria purificação, porque ninguém está isento de erros. As organizações espiritualistas enfrentam os mesmos perigos da hipocrisia e da ilusão que corroem as religiões dogmáticas. Em certos meios “esotéricos”, por exemplo, encontra-se em cada esquina um “avatar”, um “alto iniciado” ou alguém que “canaliza” grandes seres e mestres divinos, ou conversa com eles. Há profetas ingênuos que aparentam uma santidade pessoal construída artificialmente. Na grande maioria dos casos, acreditam com sinceridade em suas próprias fantasias. A escritora Helena Blavatsky estava dolorosamente certa ao afirmar que, no caminho espiritual, é preciso manter sobretudo o bom senso.

Para Sigmund Freud, criador da psicanálise, o surgimento das religiões na história humana ocorreu de modo paralelo com a construção das sociedades organizadas. Deus surge na mente do homem como uma projeção cósmica da figura do pai. Exatamente como um pai, Deus castiga, impõe limites e - na medida do nosso bom comportamento e submissão filial - nos protege do mal e da destruição. Ao longo da história humana, quanto mais surgia a necessidade de organizar a sociedade, mais era necessário reprimir os instintos.

Freud escreveu em O Futuro de Uma Ilusão que a figura de Deus surge na mente humana como um modo de impor ordem no mundo psicológico do homem primitivo: “Por pouco que os homens sejam capazes de existir isoladamente, eles sentem, não obstante, como um pesado fardo os sacrifícios que a civilização espera deles para tornar possível a vida comunitária. A civilização, portanto, tem que ser defendida contra o indivíduo, e seus regulamentos, ordens e instituições visam a esta tarefa.”

Para Freud, os homens “não são espontaneamente amantes do trabalho” e os argumentos racionais “não têm valia alguma contra suas paixões”. Assim, “toda civilização repousa sobre uma compulsão a trabalhar e uma renúncia ao instinto”. Entre os impulsos reprimidos estão o incesto, o canibalismo e a “ânsia de matar”. [2]

O psicanalista observa “com surpresa e preocupação” que “a maioria das pessoas obedece às proibições culturais nestes aspectos apenas sob pressão externa”. O mesmo ocorre com relação à conduta moral no sentido mais amplo: “a maioria das experiências que se tem da indignidade moral do homem ocorre nesta categoria (da ausência de repressão externa). Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a cometer incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos agressivos ou desejos sexuais, e que não hesitam em prejudicar outras pessoas por meio da mentira e da calúnia, desde que possam permanecer impunes; isso, indubitavelmente, foi sempre assim através de muitas épocas da civilização.” [3]

Contemporâneo da ascensão do nazismo, Freud não alimenta ilusões em relação ao ser humano e olha com lucidez implacável os dramas neuróticos da nossa alma coletiva. Ele descreve o processo pelo qual uma cultura idealiza a si mesma, estimulando o orgulho narcisístico em seus integrantes como uma compensação pela repressão dos seus instintos animais elementares. Em casos extremos, o orgulho nacionalista ou racista pode levar à guerra e ao crime. E há casos brandos. Dizer que Deus é brasileiro ou que o futebol brasileiro deve ser sempre o melhor do mundo são manifestações simples e relativamente inofensivas desse tipo de narcisismo de grupo.

Vejamos alguns exemplos simples, que constatei no movimento espiritualista das últimas décadas. Em Porto Alegre muitos pensam que a capital gaúcha, por estar situada no paralelo trinta, será a capital espiritual do planeta, no futuro; em Curitiba, acredita-se que Curitiba, naturalmente, é uma cidade mágica, com um astral especial, e que comandará a passagem para a próxima civilização. Alguns habitantes da capital paulista tendem a pensar que sua cidade, por ser a maior do país, terá um papel fundamental nesse processo. Os espiritualistas cariocas, por sua vez, estão cientes da sua própria importância. Alguns habitantes da região de Brasília garantem que a região Centro Oeste, especialmente em torno da capital federal, será o berço da nova civilização. Em Nova Iorque, os habitantes daquela cidade alegam que ela é o verdadeiro centro do mundo, um tubo de ensaio para a formação da sociedade futura. Quem duvida que a Califórnia é o centro e berço do movimento da nova era? Os tibetanos, modestamente, creem que seu país é o mais sagrado e divino do planeta. Mas se você for à Índia, perceberá que os indianos têm uma serena consciência de que seu país é a origem e o criadouro de algumas das principais religiões humanas. Os espiritualistas ingleses levam muito a sério a importância dos seus próprios pontos de vista, e assim sucessivamente.

O fato central, esquecido por alguns, é que todos os lugares - e não apenas este ou aquele em especial - são, hoje, laboratórios e portais de transição para uma nova maneira de viver, mais solidária. A capital da nova era global - a “nova Jerusalém” - está em todas as partes, porque é na verdade uma nova dimensão da mente humana, uma nova maneira de funcionar, e não um lugar físico. A aurora da nova civilização ilumina a todos - mas o narcisismo compensatório encontra motivos para pensar que a nossa própria cidade é a melhor; nossa agrupação espiritualista é a grande portadora da verdade; nosso time de futebol tem que ser o campeão; nosso partido político é o único bom; nossas próprias opiniões e os livros que lemos são os mais importantes do mundo. Assim se fragmenta a verdade e se bloqueia a energia da fraternidade universal. Especialmente quando há nisso um sutil desprezo pelo ponto de vista dos outros.

Esse fenômeno narcisístico está ancorado em lugares profundos da alma humana. A civilização reprime os instintos do indivíduo usando como figura de poder um Deus paternal e autoritário que dita as regras. Aos seres humanos só resta obedecer. Fora daquela “verdade” oficial específica, única legítima, está o gigantesco e ameaçador “caos” que todos devem ignorar ou combater. O indivíduo se submete cegamente sem direito a questionar, mas, em troca, ganha o “direito” de considerar seu povo superior a todos os demais, sua religião a única verdadeira, e assim por diante. Disso têm surgido conflitos e sofrimentos inenarráveis, em quantidades indescritíveis.

Quando é visto ilusoriamente, o caminho espiritual oferece garantias tão sublimes quanto neuróticas. Só o discernimento permite perceber que na verdade a espiritualidade é o caminho da paz interior incondicional, e não do poder ou do prestígio externos; é o caminho do Ser, e não do ter; e no qual se procura o poder que nos faz parecer nada aos olhos dos outros.

Sem medo da verdade, o polêmico Freud qualifica as grandes religiões dominantes no século 20 como velhas ilusões - “relíquias neuróticas” - pelas quais o ser humano criou uma figura divina nacionalista, que o protege do desconhecido legitimando a guerra, o egoísmo dos mais fortes e o sacrifício dos mais fracos. Assim, apesar da mensagem libertária de Jesus no Novo Testamento, na prática o cristianismo passou a ser uma religião imperial e dominadora - para citar um exemplo ocidental. A religião dogmática, para Freud, é uma maneira de externalizar a divindade, ou seja, de afirmar que ela não está dentro de nós, e que, sendo assim, podemos continuar agindo com maldade e irresponsavelmente, já que algo externo nos defenderá das consequências dos nossos próprios atos. “Compraremos” esse direito de proteção externa através da nossa submissão ao clero e da participação passiva nos rituais recomendados. Um exemplo claro desse lamentável equívoco é o caso do cristão desinformado que pensa que o sacrifício de Jesus na cruz é suficiente para salvá-lo, e que portanto ele não precisa, ou não pode (já que é um “mero pecador”), aplicar na prática da sua vida concreta o ensinamento do mestre Jesus.

Freud escreve: “É duvidoso pensar que os homens em geral tenham sido mais felizes na época em que as doutrinas religiosas dispunham de uma influência irrestrita; mais morais, certamente eles não foram. Os sacerdotes, cujo dever era assegurar a obediência à religião, foram ao seu encontro neste aspecto. A bondade de Deus coloca freio em Sua própria Justiça. Alguém peca; faz depois um sacrifício ou se penitencia e fica livre para pecar de novo. (...) Assim concluíram: só Deus é forte e bom; o homem é fraco e pecador.” [4] Ao ler este parágrafo, anotei à margem com uma caneta: “Os rituais religiosos são, muitas vezes, uma exteriorização dos preceitos da sabedoria com o objetivo subconsciente de não ter de vivenciá-los na prática diária”.

Após uma longa reflexão, o psicanalista anuncia seu diagnóstico em relação às religiões convencionais e autoritárias: “Assim, a religião seria a neurose obsessiva universal da humanidade; tal como a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai. Se for correta esta conceituação, o afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo de crescimento; e nos encontramos exatamente nesta junção, no meio desta fase de desenvolvimento.” [5] Isto é, o Deus-pai-autoritário corresponde à infância humana. Com nosso crescimento, nos afastamos dele e descobrimos maneiras adultas de ter acesso ao mundo divino.

Freud escreveu que o Deus em que ele próprio acreditava, o Logos, a Razão, podia parecer pouco poderoso em meados do século 20, mas que desempenharia um papel preponderante no futuro. Ele escreveu, falando do verdadeiro intelecto ou inteligência espiritual: “A voz do intelecto é suave, mas não descansa enquanto não encontra uma audiência. Finalmente, após uma incontável sucessão de reveses, obtém êxito. Este é um dos poucos pontos sobre os quais se pode ser otimista a respeito do futuro da humanidade e, em si mesmo, não é de pequena importância. E dele se podem derivar outras esperanças ainda. A primazia do intelecto jaz, é verdade, num futuro distante, mas é provável que ele não seja  infinitamente distante.” [6]

Consciente ou inconscientemente, Freud parece mencionar aqui as futuras raças humanas de que fala a filosofia esotérica, e que deverão ser guiadas por uma forte inteligência espiritual, ao invés da inteligência mental que caracterizava a humanidade do século 20. As humanidades futuras são descritas na obra “A Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky. Em seguida, Sigmund Freud confessa que sua divindade preferida é a Razão, o Logos: “O nosso deus, o Logos, talvez não seja um deus muito poderoso, e poderá ser capaz de efetuar apenas uma pequena parte do que seus predecessores prometeram. Se tivermos de reconhecer isto, aceitá-lo-emos com resignação.” [7]

É no mínimo significativo o fato de que Freud, considerado ateu, adota com seu enfoque psicanalítico o mesmo ponto de vista defendido por um grande mestre de sabedoria, o Mahatma Koothoomi, em uma carta escrita em 1882 para o jornalista inglês Alfred Sinnett, na época seu discípulo leigo. A carta - que causa polêmica até hoje nos meios teosóficos e espiritualistas - foi mandada para a Índia desde os Himalaias por processos físicos desconhecidos da ciência atual. Nela o instrutor afirma, com relação à religiosidade convencional e autoritária:

“Direi a você qual é a maior, a principal causa de cerca de dois terços dos males que perseguem a humanidade desde que esta causa entrou em ação. É a casta sacerdotal, o clero e as igrejas; é nestas ilusões que o homem vê como sagradas que ele deve procurar a fonte daquele sem-número de males, a grande maldição da humanidade que domina quase totalmente o gênero humano. A ignorância criou os deuses e a astúcia aproveitou a oportunidade. Veja a Índia, veja a cristandade, o islamismo, o judaísmo e o fetichismo. Foi a impostura dos cleros que fez com que estes Deuses passassem a ser tão terríveis para o homem; é a religião que o transforma no beato egoísta, no fanático que odeia toda a humanidade fora da sua própria seita, sem torná-lo em nada melhor ou mais moral por isso. É a crença em Deus e nos Deuses que faz de dois terços da humanidade escravos de um punhado daqueles que os enganam com o falso pretexto de salvá-los. O homem não está sempre pronto a cometer qualquer tipo de maldade se lhe disserem que seu Deus ou Deuses exigem o crime? O homem não é vítima voluntária de um Deus ilusório, escravo abjeto de seus ministros astuciosos?” [8]

Convém lembrar que em 1882 as religiões eram ainda piores do que são hoje. Uma boa parte do dogmatismo autoritário já é coisa do passado, embora haja muito por fazer. O instrutor prossegue na carta:

“Durante dois mil anos a Índia gemeu sob o peso das castas, com os brâmanes engordando só a si mesmos com o melhor da terra, e hoje os seguidores de Cristo e Maomé estão cortando as gargantas uns dos outros em nome - e para maior glória - dos seus respectivos mitos. Lembre que a soma da miséria humana nunca será diminuída até aquele dia em que a parte melhor da humanidade destruir em nome da verdade, da moralidade e da caridade universal, os altares dos seus falsos deuses.”

A semelhança com o ponto de vista freudiano é forte, e mostra que o fundador da psicanálise não só deu uma grande contribuição para libertar a alma humana dos seus condicionamentos, mas que sua visão do ser humano é semelhante, em muitos aspectos, à filosofia esotérica que inspira o movimento teosófico e grande parte do espiritualismo moderno. Assim como os raja-iogues inspiradores do movimento teosófico, Freud confiava no desenvolvimento da ciência e no alargamento dos seus horizontes, como meio para eliminar as causas do sofrimento humano.

A religião do futuro está nascendo hoje livre de dogmas e de obediência cega, porque se apoia no surgimento de um novo cidadão capaz de confiar na verdade, mesmo quando ela parece desagradável ou é “politicamente incômoda”. Esse cidadão possui uma dose suficiente de bom senso para viver na prática os antigos preceitos que recomendam ter uma “vida limpa, uma mente aberta e um coração puro”. Esse ser humano solidário, base de uma civilização mais durável, estabelece em seu mundo interno uma ligação consciente e crescente com a sabedoria imortal.




Carlos Cardoso Aveline





Fonte do Texto e da Gravura: do Blog "Vislumbres da Outra Margem"
http://www.vislumbresdaoutramargem.com/2015/06/a-psicanalise-das-religioes.html

O texto “A Psicanálise das Religiões” reproduz o capítulo 11 da obra “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline; Editora Teosófica, Brasília, DF, 2002, 191 páginas.

Foi feita em 2015 a atualização a que se refere a nota [6].




NOTAS:

[1] Veja, entre outros, o relato impressionante do caso de um famoso “Rinpoche” tibetano na Califórnia, totalmente destruído pelo alcoolismo e pela hipocrisia, no sério e bem documentado livro “Ao Encontro da Sombra”, compilado por Connie Zweig e Jeremiah Abrams, Ed. Cultrix, S. Paulo, capítulo 29. O livro traz uma reflexão indispensável para os espiritualistas do século 21.

[2] “O Futuro de Uma Ilusão”, Sigmund Freud, Ed. Imago, RJ, 1997, 87 pp. Ver pp. 11-18. Para conhecer melhor a visão freudiana sobre as religiões, leia também “Moisés e o Monoteísmo”, de Sigmund Freud, Imago Editora, 1997, RJ, 119 pp.

[3] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, pp.19-20.

[4] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 60.

[5]  “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 69.

[6] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 83. Faço aqui uma pequena correção à edição brasileira da obra, seguindo a edição norte-americana com tradução de James Strachey. A edição brasileira afirma que o futuro é “infinitamente distante”, o que não faz sentido.

[7] “O Futuro de Uma Ilusão”, obra citada, p. 85.

[8] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, editadas por A. Trevor Barker, Editora Teosófica, Brasília, 2001. Ver carta número 88, vol. II, pp. 61-62. A respeito, veja também a Carta 30 no volume I, e a carta 90, no volume II.

OLHANDO PARA O CORAÇÃO HUMANO


O Desafio Ético Lançado por Jean-Jacques Rousseau


A verdadeira sabedoria passa frequentemente desapercebida. Ela parece invisível, porque o verdadeiro saber tem mais afinidade com o silêncio do que com o barulho.

J.-J. Rousseau escreveu:

“Como seria bom para aqueles que vivem entre nós, se a nossa aparência externa fosse sempre um espelho dos nossos corações, se boas maneiras fossem também virtude, se os preceitos que nós recitamos fossem as normas da nossa conduta, se a verdadeira filosofia fosse inseparável do título de filósofo! [1] Mas estas boas qualidades raramente andam juntas, e a virtude dificilmente tem tanta pompa, ou tanta pose.” [2]

O autoconhecimento abre espaço para o autoesquecimento. Este último faz surgir uma simplicidade essencial diante da vida.




NOTAS:

[1] Ou da palavra “teosofista”.

[2] Trecho do extraordinário ensaio de Rousseau intitulado “Discourse on the Sciences and Arts” (“Discurso Sobre as Ciências e Artes”), de 1750, publicado em inglês no livro “Jean-Jacques Rousseau”, Susan Dunn, editor; Yale University Press, 2002, p. 49.





Fonte do Texto e da Gravura: do Boletim "O Teosofista"
Ano VII - Número 84 - Edição de Maio de 2014 
www.FilosofiaEsoterica.com

O CONFLITO DOS OPOSTOS

Estando preso no processo de se tornar, de aquisição, e percebendo sua luta e dor, o desejo de sair disto dá origem ao conflito de dualidade. O ganho sempre engendra o medo, e o medo gera o conflito dos opostos – a superação do que é e transformar isto no que é desejado. Um oposto não contém o germe de seu próprio oposto? A virtude é o oposto do vício? Se for, então deixa de ser virtude. Se a virtude é o oposto do vício, então virtude é resultado do vício. A beleza não é a negação do feio. A virtude não tem oposto. A ganância não pode nunca se tornar não-ganância, assim como a ignorância não pode se tornar iluminação. Se iluminação é o oposto de ignorância, então não é mais iluminação. Ganância é ainda ganância quando tenta se tornar não-ganância, porque o próprio tornar-se é ganância. O conflito dos opostos não é o conflito de diferentes, mas de desejos em mudança e oposição. O conflito só existe quando o que é não é compreendido. Se pudermos compreender o que é, então não existe o conflito de seu oposto. O que é só pode ser compreendido pela conscientização sem escolha na qual não há condenação, justificação, nem identificação.





J. Krishnamurti
Eighth Talk in Madras, 1947






Fonte: J. Krishnamurti Online
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://orihinaleskrima.com/krishnamurti-imagenes-eskrima-views/

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

ALCANÇANDO O OBJETIVO NA VIDA

Pratique a atitude de alegria quando os outros estão alegres e de consternação quando os outros ao seu redor estão em sofrimento. Deixe seu coração se enternecer em empatia. Mas a alegria e o sofrimento devem ser traduzidos em serviço; não devem ser mera emoção. Não é por usar o mesmo "casaco de pano" que todos os outros usam que você deveria demonstrar o princípio da igualdade; isso é muito fácil. Isso é uniformidade externa. Como são todos iguais? Todos são iguais porque todos têm a mesma Consciência Divina (Chaitanya) dentro de si. Quando o Sol nasce, nem todos os lótus florescem no lago; apenas os botões crescidos abrem suas pétalas. Os outros aguardam seu tempo. É o mesmo com as pessoas. As diferenças existem devido à falta de maturação, embora todas os frutos tenham que amadurecer e cair um dia. Cada ser deve alcançar o objetivo, por mais lento que caminhe ou por mais tortuosa que sua estrada seja! (Discurso Divino, 23 de abril de 1961)





Sathya Sai Baba






Fonte: http://www.sathyasai.org.br/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

POR QUE O ESPÍRITO NECESSITA PASSAR PELO ESTADO DA INFÂNCIA?

Porque durante esse período, é mais fácil assimilar a educação que recebe, de seus pais ou daquele que está com a responsabilidade de educá-la, de auxiliá-la no adiantamento. As crianças são seres que Deus manda para novas existências. Nós não conhecemos o que a inocência das crianças esconde. Para que os Espíritos não possam mostrar excessiva severidade, eles recebem todo o aspecto da inocência. Essa inocência, muitas vezes, não constitui o que realmente eram antes. É a imagem do que deveriam ser, e não o que são. As más inclinações são cobertas com o esquecimento do passado. O amor dos pais se enfraqueceria diante do caráter áspero e intratável do Espírito encarnado. Pois não sabemos se o Espírito que recebemos com todo amor, possa ter sido um assassino, um amigo, um inimigo, um viciado etc. Na adolescência surge o caráter real e individual, por isso mudam tanto de comportamento. Devemos educar nossos filhos desde o berço, e começar a conversar com eles desde os 4 anos, sem esperar pelos 12, 13 anos. Os frutos plantados na infância serão colhidos na adolescência. Dentro dos lares, possivelmente, nascem crianças cujos Espíritos vêm de mundos onde contraíram hábitos diferentes, trazendo paixões diversas das que nutrimos, inclinações, gostos, inteiramente opostos aos nossos. Por isso, a fase da infância é importante. É nela que poderemos reforçar o que for bom e, reprimir os maus pendores. Esse é o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas.

Kardec pergunta aos Espíritos: PODE SE CONSIDERAR COMO MISSÃO A PATERNIDADE? E eles respondem: “É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro (...)” (Questão 582 - O Livro dos Espíritos).

Assim, portanto, a infância não é só útil, necessária, indispensável, mas também conseqüência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo. Chico Xavier coloca: “Criança que gosta de rasgar papéis é uma criança até certo ponto agressiva. Não podemos permitir que tenha uma liberdade nociva. Crianças que destroem brinquedos, objetos domésticos, estragam paredes, móveis, matam animais e plantas, gritam continuamente, explodem em birra à menor contrariedade, demonstram ervas daninhas que devem ser combatidas pelos pais, para que não se transformem em caminho para a irresponsabilidade e o crime, gerando violência. Habituando-os desde pequenas transgressões, à disciplina e ao equilíbrio, estaremos imunizando-os contra grandes atitudes de desequilíbrio.” No ambiente familiar, numa hierarquia natural das leis da vida, compete aos pais o dever de exercer o poder, a autoridade, sem confundir com autoritarismo. A receita está sempre no equilíbrio, conforme lembra Emmanuel: “NEM FREIO QUE OS MANTENHA NA SERVIDÃO, NEM LICENÇA QUE OS ARREMESSE AO CHARCO DA LIBERTINAGEM.” No Antigo Testamento, no livro de Provérbios, 13:24 diz: “QUEM POUPA A VARA, ODEIA SEU FILHO; QUEM O AMA, CASTIGA-O NA HORA.” Obviamente, não devemos entender a vara como símbolo de violência, mas sim como: disciplina, energia, vigilância, a análise das más tendências, seguida de agentes reparadores, a orientação evangelizada, a palavra amorosa e firme nas decisões, o “sim” e o “não” no momento certo, a ordem paterna ou materna que leve ao cumprimento dos deveres. Porque “AQUELE QUE ESTRAGA SEUS FILHOS COM MIMOS TERÁ QUE PENSAR AS FERIDAS.” (Eclesiástico 30:7). O que vem ocorrendo nos lares é que a maioria dos pais e mães estão despreparados para enfrentar as dificuldades do trabalho educativo e acabam por tomar atitudes erradas, tanto na prevenção quanto na terapêutica, para corrigir os problemas que surgem. Como disse André Luiz: “Na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas.” Portanto, diante dos ajustes de seus próprios problemas, os filhos tornam-se, muitas vezes, mais problemas. Com isso, muitos estragam seus filhos porque os liberam demais, outros prendem demais, outros os ignoram, transferindo, muitas vezes, a responsabilidade de educar para outras pessoas, ou então, superprotegem, transformando-os em egoístas, orgulhosos, frágeis diante dos problemas. Fazendo tudo para nossos filhos, eles acostumarão e acharão que todos terão que fazer o mesmo. Fraquejarão no primeiro obstáculo. Os meninos acharão que suas esposas deverão fazer tudo para eles e que eles não devem ajudar. E as meninas serão péssimas organizadoras do lar, e irão querer empregadas para mínimos afazeres, ou dependerão dos pais para tudo. Resumindo, provavelmente, terão um casamento fracassado. Portanto, não os carreguemos nos braços, caminhemos com eles, ensinando-os a caminhar por si próprios.

Como vemos, Deus nos empresta Seus filhos, na confiança que possamos devolvê-los melhores do que aqui chegaram, ou então, que os ajudemos a cumprir sua prova ou expiação. Apesar do conflito individual ou pessoal dos casais, lembremos que, Deus não nos dá um fardo maior que possamos carregar. Se ele nos dá essa incumbência, é porque Ele acha que somos capazes para cumprirmos tal missão.




(Texto retirado por Rudymara dos livros: “Um desafio chamado família” e “O Livro dos Espíritos”, questões 379 a 385)





Fonte: Grupo de Estudo Allan Kardec
http://grupoallankardec.blogspot.com.br/
Fonte da Gravura: http://keywordsuggest.org/gallery/151908.html

BENEFÍCIOS DA RESILÊNCIA

Resiliência, a capacidade de renascer depois de uma adversidade

Todas as pessoas, em algum momento de suas vidas, sofreram algum tipo de situação traumática. Alguns traumas são muito fortes (como a morte de um filho, uma doença grave, ou ser vítima de um atentado, por exemplo), mas alguns podem ser mais “simples” e cotidianos (como perder o trabalho, ter problemas econômicos, ou terminar um relacionamento). Esses podem ser alguns dos motivos que colocam uma pessoa para baixo, pensando que sua vida já não tem sentido.

No entanto, cada indivíduo tem a capacidade inerente de enfrentar as adversidades e superá-las, assim como aprender a se adaptar às novas situações que aparecem. Isso é conhecido como resiliência.

Quando dizemos que uma pessoa é resiliente, não quer dizer que ela não tem sentimentos, ou que seja incapaz de sentir mal estar ou dor emocional perante as dificuldades. Significa, na verdade, que depois de um tempo de dor, de incerteza e de insegurança, a pessoa tem a capacidade de juntar forças para aceitar a realidade e continuar com a sua vida.

Isso não é fácil, e não consiste apenas no fato da pessoa ter ou não ter resiliência, e sim em determinadas condutas e formas de pensar, que podem ser aprendidas ou desenvolvidas. O indivíduo pode ser geneticamente mais vulnerável na hora de enfrentar uma situação adversa, mas pode ser resiliente se tiver crescido num ambiente propenso a isso.

As pessoas mais resilientes têm um modo de pensar mais exato, realista e flexível, além de serem menos propensas a tirar conclusões precipitadas ou exagerar. Além disso, compartilham três características principais:

– Aceitam a realidade como ela é;
– Acreditam que a vida tem um verdadeiro sentido;
– Possuem uma enorme capacidade de ficar bem.

Desse modo, da mesma maneira que a fênix ressurge das suas cinzas, os seres humanos são capazes de deixar as tragédias para trás, aprender com elas e sair fortalecidos dos problemas. No entanto, a família, a escola e a sociedade cumprem um papel muito importante na formação de uma pessoa mais, ou menos, resiliente.


Benefícios da resiliência

Ser resiliente ajuda a pessoa a saber identificar as causas de um problema (para que ele não se repita no futuro) e a controlar as emoções e os impulsos frente a situações de crise. Sendo assim, o indivíduo resiliente tem um otimismo realista, com uma percepção positiva de seu futuro e da ideia de que controla sua vida, além de ser dotado da capacidade de saber procurar novos caminhos e oportunidades para alcançar mais satisfação em sua vida.

Além disso, as pessoas resilientes esbanjam boa saúde (não só física, é claro), possuem uma melhor imagem sobre si mesmos, têm uma maior satisfação com suas relações e são menos propensas a sofrer de depressão.






Fonte do Texto e da Gravura: Biblioteca Virtual da Antroposofia
http://www.antroposofy.com.br/forum/resiliencia/

A LEI NÃO É NECESSÁRIA ONDE EXISTE O AMOR

Só é necessário fazer tantas leis para reger as relações entre os humanos porque eles ainda não são habitados pelo amor.

Quando eles souberem o que é o verdadeiro amor, quando eles viverem desse amor, nesse amor, já não terão necessidade de que as leis venham, continuamente, recordar-lhes o que devem fazer ou não: eles fá-lo-ão, pois, espontaneamente, descobrirão como pôr-se em harmonia uns com os outros.

O amor é a única força que organiza as coisas, que as faz crescer e florir.

Assim que o amor entra numa família, numa comunidade, numa sociedade, já não é preciso dizer: «Fazei isto, fazei aquilo, porque, se não o fizerdes, ai de vós!» Todos executam a sua tarefa com prazer.

Onde existe amor, a lei já não faz falta.




Omraam Mikhaël Aïvanhov






Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Ventos de Paz
www.ventosdepaz.com.br

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

YEMANJÁ - A VIDA

Yemanjá é a Orixá doadora da vida, é a guardiã do ponto de força da natureza, o Mar, para onde tudo é levado para ser purificado, por isso ela é por excelência um princípio do criador, o grande doador da vida. A gênese bíblica nos revela que Deus modelou o homem com a terra, mas para fazê-lo certamente usou a água, e Yemanjá é isso, a água que nos dá a vida.

Podemos observar que o próprio planeta Terra e todos os seres que nele habitam, são constituídos por uma porção muito maior de água, por isso é que somos regidos e sofremos uma maior influência das energias geradas pela água, pois quando não há água não há vida, e sem vida nada existe.

Yemanjá é um princípio da vida, é dos Orixás a que tem o maior ponto de força da natureza. Ela é um princípio do Criador por excelência, pois é do mar que saem as irradiações energéticas que purificam e regeneram tudo em nosso planeta. E como já vimos, tudo em nosso planeta gira em torno das energias geradas pelos elementos fundamentais da natureza e como somos seus dependentes direto, manifestamos suas influências em nossa própria maneira de ser, sendo assim podemos observar que as pessoas que habitam as regiões onde há muita água são mais emotivas e criativas do que as que habitam as regiões mais desérticas.

Yemanjá na Umbanda tem sob sua regência milhares de falanges de espíritos que desenvolvem seus trabalhos sob os domínios de sua energia. Para muitos estudiosos "Nanam" e "Oxum" são consideradas Orixás regidas por Yemanjá, por serem consideradas um desdobramento do mesmo princípio: a Água, que é considerada um dos mais ricos elementos existentes na Terra.

Sendo assim Yemanjá delega a Nanam o poder sobre a chuva e a água doce, e a Oxum a coordenação dessas águas nos rios, lagos e cachoeiras. Podemos ver na alegria das pessoas quando estão em contato com a água, o quão magnífico é o poder de revitalização de sua energia.

As pessoas que são regidas por Yemanjá se destacam por sua magnitude, são serenas, extremamente destemidas e criativas, mas quando se deixam levar pelo ego, se tornam rudez, cruéis, insensíveis, orgulhosas e com uma fobia, um medo excessivo das coisas.

Yemanjá tem como elemento fundamental a água, e por isso é regente de toda a fonte do elemento líquido do nosso planeta, onde podemos citar os mares e oceanos, os rios, lagos, córregos e cachoeiras. É representada pela figura da lua, sua cor é o branco e o azul-claro, e seu dia da semana é sábado e sua saudação é "Odò Iyá!".

Yemanjá é a mais respeitada dos Orixás, dificilmente encontramos entidades utilizando o lado negativo de sua energia, pois como sabem que ela é uma mãe protetora e ciumenta, também sabem que ela não perdoa, sendo rígida com aqueles que vão a seu ponto de força para fazerem o mal. Sendo assim, desejamos que todos que se interessam pelo mar e os outros mananciais aquáticos de nosso planeta, comecem a olhá-lo com mais respeito, para que possam ser merecedores de seus fluidos revitalizadores, fluidos estes que nos transmitem as energias regeneradoras necessárias para melhor seguirmos nessa grande viagem, que é a vida.

E que possamos também buscar conhecer melhor Yemanjá, que é uma grande mãe amorosa, pois assim estaremos conhecendo um dos próprios princípios do Criador, pois Yemanjá é a manifestação física do princípio da vida, que é derramado sobre nós. Isso tudo é Yemanjá, a Rainha do mar, o princípio gerador da vida, a guardiã do ponto de força da natureza, o Mar.


"Yemanjá, grandiosa mãe, que os movimentos das ondas transmitam sua paz e seu amor.

Derramai seus fluidos vitais sobre mim purificando meu espírito e meu corpo, para que quando estiver fraco, me sinta protegido no aconchego de vossos braços.

Quando estiver afogado em meu orgulho e arrogância, me torne humilde e benevolente perante sua bondade e grandeza.

Que os doentes recebam de vós, minha Santa Rainha, a cura através das emanações de vossas vibrações vitais.

Que a força de vosso reino seja para mim, um escudo contra as más influências.

Que o vosso sagrado manto agasalhe e traga calor a todos os necessitados.

Senhora tende piedade de tantos, que como eu, vos invocamos nesse momento, que vossa misericórdia se estenda a todos os reinos de Olorum.

Odo Yá! Salve Yemanjá!"




Jorge Botelho





Fonte: Apostila de Estudo "Umbanda - Conceitos Básicos"
TEDES - Tenda Espírita Divino Espírito Santo
Rua Dom Pedro II, n° 554 , Bairro 249 - Volta Redonda/RJ
Fonte da Gravura (Yemanjá): Acervo de autoria pessoal
Fonte da Gravura (sereia): https://mulpix.com/instagram/sereia_e_mar.html

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO DURANTE A MEDITAÇÃO

Por que é que a mente tem dificuldade em concentrar-se durante a meditação?

Baba estava rodeado dos seus devotos na Jagrti de Jamalpur. Aqueles que estavam presentes desfrutavam o néctar das suas doces palavras e presença delicada e encantadora. Estava um ambiente divinamente pacífico naquele Ashram.

Quando Baba terminou o discurso do dia, um devoto levantou-se e perguntou: por que é que às vezes a meditação é tão boa e outra vezes somos incapazes de nos concentrar já que a mente fica muito agitada e não quer meditar?

Baba respondeu dizendo que é muito natural não conseguirmos concentrar a mente durante sádhana. A vida humana é o resultado de uma evolução através de muitas vidas passadas. As reações potenciais de todas as ações passadas influenciam e perturbam a nossa mente. Isto é muito natural. Um aspirante espiritual não precisa de se inquietar com isso. O que importa é ser regular na prática. Não estejam preocupados com o fato de a mente conseguir concentrar-se ou não. Quando fazem sadhana mantenham o vosso objetivo fixo em Parama Purusa e vão certamente progredir. Lentamente a mente ficará mais e mais concentrada e experienciar-se-à um sentimento de bem-aventurança durante a prática.

Sádhana é o resultado de uma luta interna e externa. Um sádhaka é sem dúvida um soldado, e os obstáculos no caminho são sinais de progresso. O resultado de sádhana também deve ser entregue a Parama Purusa. O mais importante é a sinceridade na prática, pois é a melhor forma de obter a sua graça, e somente isso pode levar um sadhaka à realização de Deus.




Ac. Parameshvarananda Avadhuta





Fonte: Excerto do livro “My Baba”
Ananda Marga
http://www.anandamarga.pt/porque-e-que-a-mente-tem-dificuldade-em-concentrar-se/
Jamalpur Jagrti 1965
Fonte da Gravura: Tumblr.com

O QUE VAI ACONTECER COMIGO?

Havia uma vez um moribundo que foi incomodado por uma série de parentes. Pais, esposa, filhos, irmãos, irmãs - todos rodearam sua cama durante seus últimos momentos e choraram. Perguntaram-lhe: "O que vai acontecer conosco?" O moribundo levantou a cabeça um pouco do travesseiro e perguntou em troca: "O que vai acontecer comigo? Estou realmente muito mais interessado nesse problema, do que me preocupar com o que vai acontecer com vocês". Bem, é melhor que todos façam essa pergunta agora e se preparem com a resposta ao invés de esperar até que seja tarde demais. "Para que eu sirvo?" - "O que devo fazer?" Estas são as perguntas que você deve buscar e chegar às respostas. Todos são peregrinos, movendo-se ao longo desta Terra de ação (Karmakshetra) para a meta - a terra da retidão (Dharmakshetra). Os eruditos, os poetas e os professores são os guias que o ajudam ao longo do caminho; mas, você deve trilhar o caminho, cada polegada dele! (Discurso Divino, 13 de março de 1964)




Sathya Sai Baba






Fonte: http://www.sathyasai.org.br/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

O FENÔMENO DO DOGMATISMO

O Que Acontece Quando Estamos Convencidos da Veracidade de Algo


O dogmatismo é uma falha de muita gente. Penso que ele é gerado por um sentimento de insegurança, na realidade, ao mesmo tempo que é um esforço de alguém para confirmar diante de si mesmo e dos outros a certeza de que o seu conhecimento é correto.

Naturalmente há outros tipos de dogmatismo, como a manutenção da nossa opinião simplesmente porque é a nossa opinião – uma afirmação egocêntrica. Um “dogma” é definido como aquilo que parece bom e correto para alguém [1]; o dogmatismo, normalmente arrogância, é afirmação.

O dogmatismo sempre traz à minha mente a ideia de uma afirmação cuja veracidade não pode ser comprovada. Alguém pode falar de maneira convincente sobre aquilo que para ele é verdadeiro, sem cair na atitude dogmática. Quando estamos convencidos da veracidade de algo, não há  razão para que não expressemos essa convicção com a intensidade que a situação exige, mas em tal caso também não há razão para que exijamos a sua aceitação por parte dos outros.

Concretamente, nós não exigimos a aceitação da Teosofia; nós apontamos para os seus princípios e as aplicações desses princípios. A Teosofia apresenta algumas afirmações como percepções que são objetos de conhecimento por parte de seres humanos aperfeiçoados, mas não como afirmações em que se deve acreditar. É mostrado que tal conhecimento, tendo sido alcançado por Eles a partir de observação e experiência feitas ao longo de muitas vidas, pode ser alcançado por todos os seres humanos, e os meios para fazer isso são assinalados. O bom senso presente na alegação de que esse é um conhecimento legítimo afasta a afirmativa do terreno do dogmatismo.

A consciência é onipresente, não  pode ser localizada nem centrada em nenhum assunto particular, e tampouco pode ser limitada. Só os seus efeitos é que pertencem à região da matéria, porque o pensamento é uma energia que afeta a matéria de várias maneiras; mas a consciência em si não pertence ao plano da materialidade.




Robert Crosbie





Fonte do Texto e da Gravura: do Blog "Filosofia Esotérica"
http://www.filosofiaesoterica.com





NOTA DO TRADUTOR:

[1] Crosbie está mencionando a definição clássica do termo. (C. C. Aveline)



O fragmento acima foi traduzido do livro “The Friendly Philosopher”, de Robert Crosbie, The Theosophy Company, Los Angeles, EUA, 1945, 416 pp. O texto está na seção “Homely Hints”, à página 113.

YEMANJÁ - ARQUÉTIPOS, MITOS E LENDAS

OS ORIXÁS - ORISSÁ

Orissá ou orixá significa a luz da cabeça. Para os iorubás, os orixás são potências cósmicas que regem os poderes dos elementos da natureza. Elementos que constituem nosso organismo e todos os reinos da natureza e que tudo mantém e de onde tudo provem. O orixá é uma força pura, imaterial que atua em várias dimensões e se torna perceptível quando incorpora em um ser humano. São os regentes das energias do planeta e para entrar ou sair da Terra é preciso a autorização deles. Constituem hierarquias de elementais que zelam pela vida manifestada na Mãe-Terra. Eles adotam os seres humanos quando suas almas estão prontas para encarnar na Terra e os protegem vigilantes durante toda a existência.

Os mitos, as lendas e definições dos orixás podem variar de região para região, mas todas as narrativas coincidem quanto a fé na atuação deles como divindades administradoras do equilíbrio e da preservação da vida no mundo terrestre. Divindades que estão encarregadas pelo Princípio Supremo, Olodumare, da manutenção de sua criação no Ilê, o mundo natural, e constituem a energia emanada da/e pela Mãe-Terra para o Cosmo e vice-versa.


IEMANJÁ

A deusa-mãe das águas salgadas. Sua energia se potencializa nos mares e oceanos. É o princípio feminino que se apresenta como beleza, impetuosidade, poder, mutabilidade, exuberância, acolhimento, fascínio, imprevisibilidade, criatividade e força transformadora e renovadora da vida. Protege os homens do mar, a pesca, a família, o amor entre os casais. É a deusa que reina desde as profundezas e dos mistérios abissais.

A representação desse orixá na África é uma mulher madura, de grande beleza, dotada de formas voluptuosas e seios fartos. Para eles, dos seios generosos de Iemanjá jorra a água da vida. Aqui no Brasil ela é representada como uma linda e jovem mulher com cabelos negros e longos, portando uma tiara na cabeça, com muitas pérolas adornando seus cabelos, mãos e colo. Nas estátuas e gravuras, ela está usando sempre um vestido azul claro salpicado de estrelas e peixinhos dourados; o vestido desenha suas formas sinuosas.

Iemanjá é uma energia feminina portadora de beleza, mistério, amor, sensualidade, poder, generosidade, abundância, transformações, autoridade e respeito. É uma mãe amorosa, zelosa e acolhedora, mas firme e disciplinadora ao mesmo tempo.


O ARQUÉTIPO

O arquétipo psicológico de Iemanjá é a delicadeza, a sensibilidade, o refinamento, a beleza, a feminilidade, a força interior, a imponência, a renovação e a transformação constante. Iemanjá não tolera desonestidade, maledicência, inveja, mentira, dissimulação e traição. Nessa tradição, os filhos de cada orixá trazem características dos seus deuses protetores. Os adeptos consagrados a Iemanjá são belos e imponentes e também dotados de grande magnetismo e encanto. Eles chamam a atenção de todos por onde passam. Também são francos e verdadeiros, primam pelo caráter reto e abertura para o novo e desconhecido. Sejam homens ou mulheres, têm sempre um comportamento ético, são gentis, delicados no trato, fiéis, amorosos, refinados, dotados de discernimento e autoconfiança; mas, como o mar, surpreendem, podendo mudar de ânimo de repente. Seus filhos se irritam quando contrariados em seus princípios e podem agir intempestivamente.

O dia da semana dedicado a Iemanjá é o sábado. As suas cores são: branco, prata, azul claro e cor de rosa. Suas filhas, quando incorporadas, usam roupas luxuosas nas cores branco, azul claro e prata. Na cabeça portam uma coroa prateada com uma estrela de 5 pontas desenhada em relevo; dessa coroa pende uma franja feita de contas de cristal branco e azul que encobre o rosto da iaô. Na mão direita elas carregam um “abebê” prateado (um tipo de espelho), no qual se olham enquanto dançam movendo os braços e as cadeiras em movimentos ondulatórios, ora lentos ou rápidos e vigorosos.


O MITO DE IEMANJÁ

São muitas as lendas sobre ela. Dentre tantas, existe uma nos versos de Ifá que diz: Iemanjá era uma princesa muito linda e querida por seu pai, o poderoso senhor das profundezas dos oceanos Olokun. O rei, zeloso de sua filha, queria para ela o melhor. Quando apareceu Orumilá, senhor das adivinhações, como pretendente à sua mão, Olokun concedeu de imediato, e esse foi o primeiro marido dela. Separou-se de Orumilá devido seu temperamento inconstante e depois se casou com Olofin, rei de Ifé, com quem teve 10 filhos. Porém, ela não tem paradeiro, está sempre em transformação, e cansada de sua permanência em Ifé, foge. Olokun, seu pai, sabendo do seu temperamento mutante e voluntarioso, havia entregue a ela, por medida de precaução, uma garrafa com um preparado, recomendando-lhe que, se encontrasse em enorme perigo, quebrasse a garrafa no chão. Ela, na fuga, encaminhou-se para o entardecer da Terra, o oeste. Olofin-Odudua mandou o seu exército atrás dela. Quando Iemanjá se viu cercada, quebrou a garrafa e um rio criou-se imediatamente, envolvendo-a e carregando-a cuidadosamente até o oceano para junto de seu pai Olokun, de onde ela nunca mais saiu.

Iemanjá dança eternamente nas águas do mar mostrando sua beleza, fascinando homens e mulheres e fornecendo fartura de pesca aos homens do mar. É também a deusa do amor e do encantamento. Como senhora das águas, segue sempre em movimento, transformando e purificando nossas águas interiores, harmonizando nossas emoções e protegendo seus filhos e desenhando novos caminhos no corpo da Mãe Terra pela vida afora.

(Texto adaptado)





Marilu Martinelli






Fonte: do Blog "Mitologia Comentada"
http://mitologiacomentada.blogspot.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal