sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

SOB O IMPÉRIO DE MOMO A “CARNIS” COBIÇA "VALLES" - É CARNAVAL!

A cada ano pessoas mergulham numa falsa felicidade de 3 dias de “folia” (1) seguida de 362 dias de novas e reconstruídas aflições. Será lícito confundir “diversão” passageira com alegria real? O carnaval é um desses delírios coletivos que costumam ser classificados como “extravasadores de energias reprimidas” – será mesmo? Em verdade o entrudo (2) representa o momento em que pessoas projetam o que há de mais irracional e de mais incivilizado em si mesmas.

Há quem afirme ser o período do carnaval marcado pelo "adeus à carne", ou do latim "carne vale", dando origem à palavra. Embora não haja unanimidade entre os estudiosos, a terminologia pode estar associada à ideia de encanto dos prazeres do corpo (carnal) marcado pela expressão "carnis valles", sendo que "carnis" em latim significa carne e "valles" significa prazeres.

Já foi no passado a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica (bacanália); na velha Roma imolava-se nessas ocasiões uma vítima humana (saturnália); na Idade Média era uma comemoração adotada pela Igreja romana, no século VI. Isso nos remete ao início do período da quaresma, uma pausa de 40 dias nos excessos cometidos durante o ano (mormente alimentação). (3) Assim, em sua origem não era apenas um período de reflexão espiritual, como também uma época de privação de certos alimentos como a carne.

Em Roma, em homenagem ao Deus Saturno, carros alegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eram os carrum navalis. O termo carnaval pode derivar das iniciais da frase: “carne nada vale”. Outra interpretação para a etimologia da palavra é a de que esta derive de currus navalis, expressão anterior ao Cristianismo e que significa carro naval. (4)

Há muitos séculos o carnaval era marcado por grandes festas, em que se comia, bebia e participava de frenéticas celebrações e busca incessante dos prazeres. (5) Prolongava-se por sete dias (de dezembro) nas ruas, praças e casas da antiga Roma. Todas as atividades e negócios eram suspensos nesse período; os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que quisessem e as restrições morais eram relaxadas. Um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas (saturnalicius princeps).

O carnaval atual é modelado na sociedade da corte (vitoriana) do século XIX. A cidade de Paris foi o principal modelo exportador da homenagem a Momo para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam no carnaval parisiense para implantar suas novas festas carnavalescas.

Um fato é incontestável: a cultura do carnaval estabelece tudo o que aguça o primarismo humano, volúpia, sensualidade e prazer. Não propomos quaisquer normas proibitivas ou restrição de anseios pessoais. Até porque temos o livre arbítrio, e viver na Terra é fazer as escolhas pessoais. Sem medo de correr o risco de ser taxado de moralista, lembro que a Lei de Causa e Efeito preconiza a obrigatoriedade da colheita em tudo o que foi semeado livremente.

Para todas as situações da vida, lembremos sempre da recomendação de Paulo de Tarso: “Todas as coisas me são lícitas”. (6) Há os que julgam que a participação nas festas de Momo nenhum mal acarreta à integridade fisiopsicoespiritual. Divergimos desse ponto de vista.

A Doutrina Espírita nada proíbe, nem nada obriga, nem censura o carnaval; mas igualmente, não endossa sua realização. Sabe-se que durante a folia de Momo são perpetrados abusos de todos os tipos e, mormente, desregramentos da carga erótica de adolescentes, jovens, adultos e até velhos (mal resolvidos); há consumo exagerado de álcool e outras drogas, instalação da bestialidade generalizada, excessos esses que atraem espíritos vinculados ao deletério parasitismo magnético, semelhantes às hienas diante de carcaças deterioradas (carniças).

É verdade! A Doutrina Espírita nem apoia nem condena o carnaval; todavia clarifica muitos aspectos ligados ao evento. Inobstante não dite regras coercitivas, cremos que o espírita deve ter completa ciência das implicações infelizes advindas desses festejos alucinantes. Logicamente não precisa se condenar o carnaval, nem temer por acreditá-lo uma festa “diabólica”; não precisa evadir-se por receio de atração dos seus “encantos”, porém vigiar à distância da agitação. Se se aprecia o folguedo de Momo, deve-se ser um observador atento e equilibrado.

Não fossem os exageros, o carnaval, como festa de integração sociocultural, poderia se tornar um acontecimento compreensível, até porque não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Há muita gente que busca fazer do carnaval um momento de esperança, oportunizando empregos, abrigando menores, e isso é muito valioso. Entretanto, o grande saldo da festa se resume em três palavras: violência, ilusão e sensualidade.

Particularmente, não vejo outro caminho que não seja o da “abstinência sincera das folias”. O ideal seria o emprego do feriadão para a descoberta de si mesmo, entrosamento com os familiares, leitura de livros instrutivos, frequência a reuniões espíritas, participação em eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.

Não há como “tapar o sol com a peneira” e ignorar que nesses períodos os foliões fascinados surgem de todos os antros para busca da perversão. A efervescência momesca é episódio que satura em si a carga da barbárie e do primitivismo. Há os que aniquilam as finanças familiares para experimentar o momento efêmero de “desfrutar” dias de total paranoia. Adolescentes, adultos e decrépitos se abandonam nas arapucas pegajosas das estéreis fanfarras. Não percebem que bandos de malfeitores do além (obsessores) igualmente colonizam as “avenidas e ruas” num lúgubre show de bizarrices. Malfeitores das penumbras espirituais se acoplam aos histriões fantasiados pelos fios invisíveis do pensamento por causa dos entulhos lascivos que trazem na intimidade.

Todos estamos sob influências das entidades do além-túmulo. Muitas fantasias de expressões ridículas são inspiradas pelos espíritos que vivem em regiões penumbrosas do além. Os espíritos excitam “nossos pensamentos e ações e essa influência é maior do que imaginamos porque, frequentemente, são eles [os espíritos] que nos conduzem”. (7) Pode parecer assustador tal afirmativa, ainda mais que se tem tais espíritos à conta de “demônios”.

Os três dias de Momo, portanto, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. Será que vale a pena pagar preço tão elevado? Os foliões incuráveis declaram que o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto, no carnaval não são abrandadas as taxas de agressividade e nem as neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica. Após os festejos surgem as gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos, incidem graves acidentes de trânsito, acréscimo da criminalidade, estupros, suicídios, ampliação do consumo de várias substâncias estupefacientes, alcoólicos, assim como o surgimento de novos drogados, disseminação das enfermidades sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS).

Existem muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, algumas verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha. Para os espíritas, merece reflexão a advertência de André Luiz: “Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do CARNAVAL, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança.”. (8) [grifamos]

Existem alguns centros espíritas que fecham suas portas nos feriados do carnaval por diversos pretextos inaceitáveis. Repensemos o seguinte: uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno ou dos recursos espirituais urgentes em caso de obsessão – seria lógico fazê-la esperar para ser atendida após as "cinzas", uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de feriado momesco?

Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um dia tudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seu lugar então predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade.



Jorge Hessen



Referências:

(1) Do francês folle, que significa loucura ou extravagância sem que tenha existido perda da razão
(2) O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias.
(3) Excessos esses que incluem, segundo a crença da igreja romana, a alimentação
(4) Esta interpretação baseia-se nas diversões próprias do começo da Primavera, com cortejos marítimos ou carros alegóricos em forma de barco, tanto na Grécia como em Roma e, posteriormente, entre os teutões (povos germânicos que viveram no centro e norte da Europa).
(5) A Festa do deus Líber em Roma; a Festa dos Asnos que acontecia na igreja de Ruan no dia de Natal e na cidade de Beauvais no dia 14 de janeiro, entre outras inúmeras festas populares em todo o mundo e em todos tempos, têm esta mesma função.
(6) I Coríntios 10:23
(7) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 460, RJ: Ed FEB, 1990
(8) Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1999




Fonte do Texto e da Gravura: ARTIGOS ESPÍRITAS - JORGE HESSEN
http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.pt/
http://aluznamente.com.br

AUTODESCOBRIMENTO - PROBLEMAS DA EVOLUÇÃO

A encarnação é uma punição? 
Não há senão espíritos culpados que a ela estejam obrigados?

A passagem pela vida corporal é necessária para que possam cumprir os desígnios de Deus; ela é necessária a eles mesmos porque a atividade a que estão obrigados desenvolvem sua inteligência. Deus, que é soberanamente justo, considera igualmente todos os seus filhos, dá a todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações e a mesma liberdade.

A encarnação é para todos, um estado transitório; uma tarefa que Deus lhes impõe como prova para uso do seu livre arbítrio. Aqueles que as cumpre com zelo, vencem mais rapidamente, menos penosamente e gozam mais cedo dos frutos do seu trabalho. Os que retardam o seu adiantamento, prolongam  indefinidamente a necessidade de reencarnar; isso porém não é castigo, não é nenhuma punição, mas sim a obrigação de recomeçar o mesmo trabalho para sua própria experiência e aprendizado.

A encarnação tem um fim útil. Quis Deus que encontrando-se os espíritos em novas reencarnações, tivessem ocasião de reparar os seus erros recíprocos, melhorarem suas relações anteriores, assentar os laços de família sobre base espiritual, e apoiar sobre uma lei natural os princípios de solidariedade, fraternidade e de igualdade. (Baseado em "O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 4, item 25)


PROBLEMAS DA EVOLUÇÃO

Em cada etapa nova, remanescem as ocorrências da anterior, em uma cadeia sucessória natural. A criatura humana, encarna-se e reencarna-se, repetindo as façanhas existenciais até atingir o clímax que a aguarda; e através desse mecanismo, abrem-se espaços a conquistas, mais amplas e complexas, assim como um fracasso em determinado comportamento estabelece processos que impõem problemas no desenvolvimento.

Pelas evocações inconscientes, ou sem elas, a criatura caracteriza-se, psicologicamente, por atitudes de ser fraco ou forte, podendo, bem ou mal, enfrentar os dissabores ou propostas de crescimento. Graças a essa conduta, se torna feliz ou atormentada. Ninguém está isento do patrimônio de si mesmo, como resultado dos próprios atos, o que constitui para o ser, um grande estímulo liberando-o dos processos de transferência de responsabilidade para outrem ou para fatores circunstanciais, sociais. Mesmo quando os imperativos genéticos insculpem situações orgânicas ou psíquicas constritoras, esses ainda derivam da conduta pessoal anterior, devendo serem considerados como estímulos e métodos corretivos, educadores, a que as leis da vida recorrem para o seu aprimoramento.

O estado de humanidade já é conquista valiosa, no entanto é o passo inicial de nova ordem de valores. O psiquismo evolve da insensibilidade inicial à percepção primária, dessa à sensibilidade, ao instinto, à razão, em escala ascendente, passando à intuição, e atingindo níveis elevados de interação com a Mente Cósmica.

Em se considerando  o estágio de humanidade, os indivíduos mergulhados no processo do crescimento, raramente se dão conta de que o sofrimento é fator de aprimoramento e constitui instrumento de evolução. Quando imaturo, o ser lamenta-se, teme e transforma o instrumento de educação em flagelo que o dilacera, tornando-se desventurado pela rebeldia ou entrega-se ao desanimo, negando-se à luta e autodestruindo-se, sem dar-se conta. Surge então da falta de valor moral, os transtornos depressivos, lamentável auto-abandono, portanto de autocídio.

É lícito e natural que cada pessoa se considere humana, isto é, com direitos aos erros e aos acertos; porém não incólume, não especial. Quando erra, repara; quando acerta cresce. A evolução ocorre através de vários e repetidos mecanismos de erro e acerto, desde os primeiros passos até a firmeza de decisão e de marcha.

A estrutura psicológica social - soma de todas as experiências, culturais, históricas, políticas, religiosas - exerce uma função compressiva no comportamento do homem, que se deve libertar mediante o amadurecimento pessoal. Reflexão e diálogo, honestidade para consigo mesmo e para com o seu próximo, esforço constante para a identificação dos seus limites e ampliação deles, constituem terapias e métodos para transformar os problemas em soluções, as dificuldades em experiências vitoriosas, crescendo sem cessar.

Os problemas, as dificuldades naturais, fazem parte do desempenho pessoal e da sua estruturação psicológica. A vida são todos as ocorrências, agradáveis ou não, que trabalham pelo progresso. Importante, desse modo, é manter-se o equilíbrio entre ser e exteriorizar o que se é, sem conflitos, eliminando os estados de tensão resultantes da insatisfação ou do comodismo, realizando-se interior e exteriormente.

Nesta luta, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência, devendo ser incorporados à conduta que os automatiza, não mais gerando áreas resistentes à auto-realização, e liberando-as para um estado de plenitude relativa, naturalmente em razão da transitoriedade da existência física. A integridade e a segurança defluem do que se é jamais do que se tem.

Há aqueles que afirmam ter problemas, e os cultiva sem cessar, há aqueles que têm problemas, e não se encontram dispostos a enfrentá-los, a solucioná-los, esperando que outros o façam, porque se consideram isentos de acontecimentos dessa ordem, há os que vivem sob  problemas, preservando-os mediante transferências psicológicas continuadas, adiando as soluções no tempo e no lugar, ignorando-os e ignorando-se.

Na maioria das vezes, porém, as pessoas são os problemas, que não solucionam pequenos desafios, mas os transformam em impedimentos, deixando-se consumir por desequilíbrios íntimos nos quais se realizam psicologicamente.

O ser psicológico, amadurecido, ama e confia, fitando o alvo e avançando para ele, Sem Ter, Nem Ser problema na própria trajetória. Já não se compadece da própria fraqueza, porém busca fortalecer-se; tampouco de considera inferior em relação aos demais, por saber-se detentor de energias equivalentes. Mergulhado na harmonia geral, contribuí conscientemente para mantê-la, observando-a e com ela se identificando, observado e em sintonia, diante do conjunto que também o envolve no ato de observar.

É indispensável, assim, que tome consciência de si, o que lhe independe da inteligência, da atividade de natureza mental. A consciência expressa-se em uma atitude perante a vida, um desvendar de si mesmo, de quem se é, de onde se encontra, analisando, depois, o que se sabe e quanto se ignora, equipando-se de lucidez que não permite mecanismos de evasão da realidade. Não finge que sabe, quando ignora; tampouco aparenta desconhecer, se sabe. Trata-se portanto, de uma tomada de conhecimento lógico.



Marisa de Mello
Psicóloga





(Desconheço a fonte do Texto)
Fonte da Gravura: http://www.morguefile.com/

SOMENTE O SERVIÇO CONFERE SATISFAÇÃO PERMANENTE

As pessoas veneram Deus com devoção e sinceridade, mas Deus não se satisfaz com veneração. Você deve servir à sociedade. Somente o serviço pode lhe conferir bem-aventurança. Oferecendo serviço à sociedade, você pode mitigar os sofrimentos das pessoas e também produzir transformação em sua vida. Yad Bhavam Tad Bhavathi (assim como é o sentimento, assim é o resultado). Quando se serve com sentimentos sagrados, está-se destinado a resultados sagrados. Sirva à sociedade ao máximo de sua capacidade. A satisfação que se obtém com bhajans (cantos devocionais) é temporária, enquanto que o serviço confere satisfação permanente. O tempo é o presente mais precioso de Deus, mas você está desperdiçando-o em buscas vãs e sentimentos não sagrados. Santifique o tempo que lhe foi dado servindo à sociedade. Somente pelo serviço pode-se livrar-se de aborrecimentos, ego, pompa e exibição, e outras características más.




Sathya Sai Baba




Fonte: www.sathyasai.org.br
Fonte da Gravura: http://www.morguefile.com/

MEDO DA MORTE - SINTA O ESTADO DA MORTE

Por que você tem medo da morte? Talvez seja porque você não sabe como viver? Se você soubesse como viver totalmente, teria medo da morte? Se você amasse as árvores, o pôr do sol, os pássaros, a folha caída, se estivesse consciente de homens e mulheres em prantos, dos pobres, e realmente sentisse amor em seu coração, você teria medo da morte? Teria? Não seja persuadido por mim. Vamos pensar nisto juntos. Você não vive com alegria, não está feliz, não é vitalmente sensível às coisas; e é por isso que pergunta o que acontecerá quando você morrer? A vida para você é sofrimento e, assim, você está muito mais interessado na morte. Você sente que talvez exista felicidade depois da morte. Mas esse é um tremendo problema, eu não sei se você quer entrar nele. Afinal, o medo está no fundo de tudo isto – medo de morrer, medo de viver, medo de sofrer. Se você não pode compreender o que causa o medo e se livrar dele, então não importa muito se você está vivo ou morto.

Nós temos medo de morrer. Para acabar com o medo da morte devemos entrar em contato com a morte, não com a imagem que o pensamento criou da morte, mas devemos de fato sentir o estado. De outro modo não há fim para o medo, porque a palavra morte cria medo, e nós nem queremos falar nisto. Sendo saudável, normal, com capacidade de raciocinar claramente, pensar objetivamente, observar, é possível para nós entrar em contato com o fato, totalmente? O organismo, pelo uso, por doença, finalmente vai morrer. Se formos saudáveis, queremos descobrir o que a morte significa. Não é um desejo mórbido, pois talvez morrendo compreendamos o viver. Viver, como acontece hoje, é tortura, tumulto infinito, uma contradição, e assim há conflito, miséria e confusão. A rotina de ir todo dia ao escritório, a repetição do prazer com suas dores, a angústia, a tentativa, a incerteza – é isso que chamamos viver. Nós nos acostumamos a esse tipo de vida. Aceitamos isto; envelhecemos com isto e morremos. Para descobrir o que é viver assim como descobrir o que é morrer, a pessoa deve entrar em contato com a morte; ou seja, deve acabar todo dia com todas as coisas que conheceu. Deve acabar com a imagem que construiu sobre si mesma, sobre sua família, sobre suas relações, a imagem que construiu através do prazer, através da relação com a sociedade, tudo. É isso que vai acontecer quando a morte ocorrer.



J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://www.morguefile.com/

VIVER E DEIXAR VIVER

Na condição de seres humanos, sempre vemos o copo meio vazio: olhamos para as pessoas e imediatamente as julgamos por seus defeitos. A maioria de nós não se dirige a outro ser humano e diz: “Como você é maravilhoso!" Geralmente começamos procurando defeitos, aqueles lugares que nos parecem escuros.

Hoje, dedique um tempo a dar um passo atrás e dar valor às pessoas ao seu redor. Talvez os valores deles sejam diferentes dos seus. Talvez tenham um estilo de vida diferente do seu. Independente do que forem, perceba que sua tarefa é aceitá-los - exatamente do jeito que são - como parte de sua vida.

Finalmente, lembre-se disso: no momento em que decidimos julgar a forma como outra pessoa vive, nos colocamos no papel do Criador. E nós não somos o Criador. Ninguém o é.




Karen Berg




Fonte: Centro de Cabala
www.kabbalah.com
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O LAMPEJO DE COMPREENSÃO

Eu não sei se você notou que há compreensão quando a mente está muito quieta, mesmo por um segundo; há o lampejo da compreensão quando a verbalização do pensamento não existe. Apenas experimente isto e verá por si mesmo que você tem o lampejo da compreensão, essa extraordinária rapidez do insight, quando a mente está muito imóvel, quando o pensamento está ausente, quando a mente não está oprimida por seu próprio ruído. Então, a compreensão de qualquer coisa - de um quadro moderno, de uma criança, de sua esposa, seu vizinho, ou a compreensão da verdade, que está em todas as coisas - só pode chegar quando a mente está muito imóvel. Mas tal imobilidade não pode ser cultivada porque se você cultiva uma mente imóvel, não é uma mente imóvel, é uma mente morta. Quanto mais você está interessado em alguma coisa, quanto mais sua intenção de compreender, mais simples, clara, livre está a mente. Então a verbalização cessa. Afinal, pensamento é palavra, e é a palavra que interfere. É a tela das palavras, que é memória, que intervém entre o desafio e a resposta. É a palavra que está respondendo ao desafio, o que chamamos de intelecção. Então, a mente que fica tagarelando, que fica verbalizando, não pode compreender a verdade - verdade na relação, não uma verdade abstrata. Não existe verdade abstrata. Mas a verdade é muito sutil. Como um ladrão na noite, ela chega obscuramente, não quando você está preparado para recebê-la.




J. Krishnamurti




Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A REENCARNAÇÃO É UM PROCESSO EDUCATIVO

A necessidade de se reconhecer um princípio diretor - DEUS -, justo e equânime para compreender a sociedade e suas complexas relações onde, aparentemente, não existe justiça além da dos homens, coloca a reencarnação como o mecanismo capaz de exercer uma justiça verdadeira e de possibilitar a compreensão e ao mesmo tempo o crescimento dessa mesma sociedade. Nenhum conhecimento poderia justificar as contingências do existir, com a precisão com que a reencarnação o faz. Tudo tem um sentido. As dificuldades e conflitos humanos passam pela necessidade de uma justificativa filosófica e até mesmo energética. A reencarnação é a chave para desvendar os mistérios provocados pelo vazio do conhecimento parcial que o homem tem sobre si mesmo e sobre as relações humanas.

Nem sempre a justiça, que se processa pela via da reencarnação, verifica-se na encarnação imediatamente seguinte do espírito. Os mecanismos educativos podem ocorrer na mesma existência, sem a necessidade de se aguardar uma próxima encarnação, como também pode dar-se após várias encarnações terem ocorrido, sem sua manifestação. O tempo que leva para que o processo educativo se instale dependerá da ocorrência de fatores que propiciem o aprendizado do espírito. Às vezes, há a necessidade de se reunirem pessoas várias num processo único, o que poderá levar séculos ou milênios. Deve salientar-se que ninguém, nenhum ser humano, estará isento do processo de educação. A reencarnação é o mecanismo obrigatório no nível de evolução em que se encontra a humanidade terrestre. Ninguém está isento dela. Não há privilégios nem privilegiados.

É comum, por ignorância, o homem querer fazer justiça com as próprias mãos. Não sabendo ele do alcance das Leis de Deus, resolve fazer sua própria justiça. Age como se fosse do seu direito punir o outro que o agrediu. Tal atitude nem sempre resulta na educação de sua vítima.

Ao fazer justiça, julgando-se no seu direito, o homem estabelece uma conexão entre ele e sua vítima. Imanta-se ao outro. Mesmo que o outro tenha sido seu algoz, cria-se uma ligação que permanece, enquanto ambos necessitarem ser educados. O ódio, tanto quanto o amor, liga as pessoas. O primeiro, o ódio, deverá transformar-se no segundo, o amor.

Os mecanismos de justiça são sempre detalhados. Nada escapa a Deus. Nenhum detalhe é esquecido. Tudo se processa para fazer com que o espírito se melhore. A justiça se processa de forma a educar o espírito. Nunca no sentido de puni-lo, mas de educá-lo.

A reencarnação é um processo educativo.

Reencarna, portanto para aprender.

“Dívida” e “Resgate” são expressões simbólicas de nossa ignorância às Leis de Deus.

Os mecanismos de justiça, aos poucos, vão se modificando com o progresso da sociedade. O que antes era usado como forma educativa pode não mais ser possível ou necessário. Há doenças que antes eram usadas para tal, mas que a medicina já erradicou. Dessa forma, dia chegará em que o homem excluirá dezenas de formas educativas baseadas na dor física. A Lei de Deus usará outras formas de educar o espírito. Até lá, utilizar-se-á delas para educá-lo. Quando a Lei deixar de aplicar a dor, o homem já terá avançado no progresso moral e pertencerá a outra ordem espiritual.

A reencarnação proporciona ao espírito vivenciar existências que o capacitarão a aprender as Leis de Deus. Só dessa forma ele se preparará para exercer Sua Justiça na Terra.



Adenáuer Novaes





Fonte: do livro “Reencarnação: Processo Educativo”, Lis Gráfica e Editora Ltda.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

VEGETARIANISMO E YOGA

Muita gente se pergunta o porquê da dieta vegetariana que nós yoguis praticamos. Às vezes fica difícil discernir os motivos pelos quais o vegetarianismo é adotado sem uma compreensão mais profunda desses motivos. O discernimento e a compreensão são valores fundamentais para exercermos nossa liberdade. O yogui consciente não se torna vegetariano cegamente, porque alguém mandou, ou “porque assim se faz há milênios”. O yogui consciente adota o vegetarianismo como um corolário do processo de compreensão da realidade da vida e do papel que o homem exerce no planeta.


Este texto tem o propósito de contextualizar a prática do Yoga na cultura hindu, de maneira que a pergunta sobre o porquê do vegetarianismo possa ser devidamente respondida. Ao mesmo tempo, o presente artigo pretende ser uma fonte de reflexão e recursos para aqueles que, havendo incorporado algumas das práticas yoguicas em suas vidas, se sintam curiosos ou preparados para darem esse passo em relação à alimentação.


Antes de começar, uma palavra sobre o dharma

A tradição do Yoga hindu nos ensina que a realização espiritual e a verdadeira felicidade somente são possíveis se nossos pensamentos, sentimentos e ações estiverem em harmonia com a ordem universal, chamada dharma. A palavra dharma significa “aquilo que mantém unido”, e refere-se não somente às leis naturais, mas igualmente à Força Consciente de coesão e harmonia que gera e mantém o universo. Tudo é harmonia no universo. Um exemplo óbvio dessa harmonia universal, que é expressão do dharma, é que os planetas, cada um seguindo sua própria órbita, não se chocam nunca.

Porém, o conceito de dharma admite uma outra interpretação no plano humano. Nessa segunda interpretação, podemos afirmar que o dharma é um grupo de valores, eternos e universais, através dos quais se estabelece uma convivência harmoniosa na sociedade. A palavra dharma também pode ser interpretada como “fazer a coisa certa”. Nesse sentido, dharma é aquilo ao qual o homem se mantém fiel ao longo da sua vida, o que pauta suas escolhas e ações. Em suma, sua missão de vida ou seu propósito humano.


O dharma e o código yoguico de conduta

A compreensão plena do conceito de dharma é essencial para podermos integrar em nossa vida os aspectos mais profundos da prática do Yoga, pois ele está intrinsecamente ligado ao código de conduta yoguica, chamado yama e niyama.

Esse código de conduta é o fruto de um longo processo de reflexão, discernimento e sensibilização que os yoguis da antiguidade nos legaram, e tem mais a ver com coerência, motivação e coordenação dos esforços do praticante do que com repressão e controle, e sendo absolutamente essenciais para podermos distinguir o certo do errado a cada momento.

Vou lhe contar um exemplo que ilustra perfeitamente a diferença entre discernimento e repressão de que falei acima. Meu amigo George Porto Ferreira foi morar numa reserva ambiental em Rondônia, na Amazônia, como técnico ambiental do IBAMA. Parte importante do seu trabalho é defender a mata virgem através de ações contra as madeireiras que extraem ilegalmente árvores da selva. Um dos principais motivos do desmatamento, porém, é a criação de novas áreas de pastagem para manutenção dos rebanhos bovinos que serão usados como alimento pelo homem.

Recentemente, em uma de suas raras visitas a Florianópolis, George me contou que tinha se dado conta de que não fazia nenhum sentido para ele levantar a bandeira do ambientalismo se não assumisse definitivamente uma dieta vegetariana. Em suma, meu amigo não decidiu tornar-se vegetariano porque alguém tenha proibido ele de comer carne, mas porque simplesmente percebeu a incoerência entre o discurso ambientalista e sua decisão na hora de escolher o alimento que punha no prato.

Se você come carne, não está unicamente se prejudicando com um alimento de qualidade altamente duvidosa, ou colaborando com a matança de milhões de animais usados como alimento: você está financiando o desmatamento da Amazônia. Simples assim.

Quem, por um lado, discernir o certo do errado, e, por outro, for capaz de colocar em prática o esforço para anular a distância que separa a retórica da prática, é um yogui de verdade.

Mohandas Karamchand (Mahatma) Gandhi (1869 – 1948)


Não-violência, dharma e vegetarianismo

Voltemos ao código yoguico de conduta. Esse código existe para facilitar a tarefa da realização espiritual. Sem ele, não há como progredir na prática. Não obstante a importância desse código para o Yoga, hoje em dia muitos praticantes sequer suspeitam da existência dele.

O esteio central do código yoguico é ahimsa, a prática da não-violência. Você certamente já ouviu falar na não-violência, uma prática yoguica tão poderosa que, apenas aplicando-a, Mahatma Gandhi e os lutadores pela independência da Índia foram capazes de libertar aquele país do jugo colonialista inglês sem disparar um único tiro. Isso, por sua vez, nos mostra o infinito poder transformador do Yoga. O ahimsa, portanto, é um formidável instrumento para nos mantermos harmonizados com o dharma.

Existem duas dimensões diferentes na prática da não-violência, que estão intrinsecamente ligadas: uma pessoal e outra social. A primeira tem a ver com a forma como a gente se relaciona consigo mesmo e com a nossa prática pessoal de Yoga. A segunda tem a ver com a maneira em que vivemos a vida em sociedade, com nossa família, nossos amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.

A segunda dimensão da não-violência, a social, depende diretamente da primeira, assim como a unha está ligada à carne. Se os praticantes de Yoga ficarem conscientes o tempo todo de ahimsa, haverá uma transformação profunda na sociedade. Os shastras, textos tradicionais do Yoga, convidam o praticante, como corolário natural da prática da não-violência, a adotar uma dieta vegetariana.

Em sânscrito, vegetarianismo se diz shakaharah. Shakaharah significa literalmente “comedor de vegetais” (shaka = vegetal). A pessoa não vegetariana é chamada mamsaharah, que significa “comedor de carne” (mamsa = carne). O Manudharmashastra, um texto de mais de 2.000 anos de antiguidade, dá a seguinte explicação sobre a palavra mamsaharah, “comedor de carne”:

“Os sábios declaram que o significado da palavra mamsa (carne) é [o seguinte]: “ele (sa) irá comer minha carne [na próxima encarnação] se eu (mam) comer a dele agora”.

Portanto “mamsa” significa literalmente “eu + ele”. Isso nos leva ao tema da unidade que existe na criação e à constatação de que, qualquer coisa que fizermos contra a harmonia universal irá irremediavelmente nos atingir no futuro.

Kamadhenu, a vaca sagrada do deus Indra, na Mitologia Hindu




Algumas razões para o praticante de Yoga se tornar vegetariano


O vegetarianismo tem sido adotado maciçamente pelos praticantes de Yoga desde milênios atrás, por três motivos:

1) o dharma e a ética ambiental,

2) a saúde e

3) o progresso espiritual.

Em relação ao primeiro ponto, vale lembrar o contexto da experiência do George: considera-se comer carne um crime contra a lei universal, porque isso significa participar, mesmo que indiretamente, em atos de crueldade e violência contra o reino animal, mas também contra o meio ambiente, quando somos coniventes com a destruição das florestas para fazer pasto para engordar o gado. Se uma parte da extensão de terra fértil usada atualmente para criar gado fosse utilizada para plantar cereais, o problema da fome no mundo acabaria imediatamente.

Em relação à questão da saúde, está mais do que claro que uma dieta rica em carnes é diretamente responsável por uma interminável série de problemas de saúde, que vão desde a prisão de ventre até o câncer de cólon, desde o mal de Parkinson até o mal da vaca louca, desde a halitose até problemas cardíacos como o enfarte, que, aliás, é a principal causa de mortes no mundo. Se continuarmos de olhos fechados para essas constatações gritantes, continuaremos vivendo mal e morrendo cedo. O Uruguai, por exemplo, país onde o consumo de carne vermelha é maciço, é recordista planetário em mortes por câncer de cólon (em números relativos à população).

Em relação ao último ponto, o progresso espiritual, devo dizer que nem todas as tradições espirituais do Oriente abraçaram o vegetarianismo. O Buddhismo tibetano, por exemplo, não menciona o assunto. Isso acontece por dois motivos. Por um lado, o Tibet é um país íngreme, alto e muito frio, onde não é possível para a maioria da população seguir uma dieta vegetariana. Por outro lado, Buddha não quis colocar nenhuma restrição a seus monges em relação à alimentação para evitar que eles se apegassem a uma dieta ou deixassem de aceitar o alimento que lhes era dado como esmola.

De fato, o próprio Buddha morreu em decorrência de uma intoxicação que adquiriu num jantar onde lhe foi servido porco, que ele não rejeitou pela questão do desapego mencionada acima. Não obstante esses dois motivos, e outros que poderíamos mencionar, o Dalai Lama recomenda aos seguidores do Buddhismo tibetano a dieta vegetariana.

Excetuando-se o Buddhismo, todas as demais tradições ascéticas da Índia são taxativas em relação à dieta vegetariana: hindus, jainistas e parses aderem desde tempos imemoriais ao vegetarianismo como meio para purificarem não apenas seus corpos mas igualmente suas mentes e corações.

Para o yogui consciente, devorar a carne de animais mortos é um ato de barbárie que carrega consigo consequências kármicas muito indesejáveis.

Considera-se como regra que, se o alimento foge de você quando você estende sua mão para pegá-lo, você não deve comê-lo. Se estender minha mão para pegar um frango com a intenção de matá-lo para comer, é natural que ele fuja para proteger sua vida. Até mesmo animais com limitações de locomoção como as ostras fugiriam de você se tivessem pernas e sentissem que você está atrás delas para comê-las!

Por outro lado, o reino vegetal parece dar seus alimentos sem demasiado sofrimento. Se estender minha mão em direção a um cajueiro para pegar seus frutos, este generosamente permite que me alimente com eles. A árvore não sofre, o alimento é bom e eu tenho direito de me beneficiar dele. Por causa disso, considera-se que a dieta vegetariana esteja em harmonia com o dharma.

A lista de razões para adotarmos o vegetarianismo não se esgota aqui. Sugiro que o leitor amplie sua pesquisa lendo bons livros sobre o assunto ou pesquisando na internet. Um bom começo é visitar o website da Sociedade Vegetariana Internacional no Brasil: www.vegetarianismo.com.br


A transição para o vegetarianismo

Então, como implementar uma dieta vegetariana sem criar um trauma em nossos hábitos? Existem duas opções. A primeira, radical, é simplesmente parar da noite para o dia, após haver refletido e amadurecido a ideia por tempo suficiente como para não se arrepender da decisão ao primeiro convite para o churrasco do próximo domingo.

A segunda, mais adequada para muita gente, é implementar uma série de mudanças graduais nos hábitos alimentares e começar a entrar com mais regularidade na cozinha para escolher e preparar o próprio alimento. Ambas as opções exigem planejamento, pesquisa, bom senso e, principalmente, uma mudança de visão em relação ao que significa realmente alimentar-se.

É preciso ter muita coragem para combater o preconceito e os hábitos sociais arraigados. Um vegetariano recente pode ouvir comentários como estes, da parte de seus amigos ou família: “Então você virou vegetariano? Você está comendo só grama?” “Mas essa canja tem pouquinha galinha. Você não vai comer mesmo assim?” Se você não mantiver o foco em seu propósito, a pressão social ou a familiar podem fazer fracassar seu plano.

Pessoalmente, parei de comer carnes e ovos há mais de vinte anos. Em verdade, já havia tomado a decisão no momento em que tive meu primeiro contato com o Yoga, há mais de vinte e cinco anos. Porém, quando anunciei para a minha mãe, desde o alto dos meus treze anos de idade, que havia decidido parar de comer carnes, ela simplesmente me deu uma bofetada e disse: “Se você acha que vou cozinhar especialmente para você sem carne, está redondamente enganado”. O assunto morreu aí mesmo, mas eu não desisti. Hoje em dia, minha mãe adotou a dieta vegetariana e ajuda muita gente que quer parar de comer carnes.

Não fui bem sucedido naquela primeira tentativa por causa da minha situação de dependência familiar. No entanto, o tempo passou e, quando tornei-me independente e comecei a morar sozinho, consegui finalmente realizar esse objetivo. Devo dizer que não me custou nada parar com as carnes e os ovos, pois minha motivação em relação à prática era muito forte e, depois que você desenvolve uma certa sensibilidade através da meditação, os mantras e as práticas mais sutis do Yoga, o vegetarianismo torna-se uma necessidade.


Definição de vegetarianismo no contexto do Yoga

Por vegetarianismo, entende-se aqui a dieta alimentar que exclui quaisquer tipos de carne, seja de vaca, ovelha, porco e outros mamíferos, mas igualmente a das aves, peixes e “frutos do mar”. Os ovos tampouco fazem parte da dieta vegetariana do Yoga, pois se considera o ovo um tipo de carne líquida.

Mesmo se formos considerar o ovo não galado, ele não faz parte da dieta simplesmente por uma razão de higiene: ovos não galados são menstruação de galinha e, de modo geral, os yoguis não se sentem muito confortáveis alimentando-se da descarga menstrual dos simpáticos bípedes. Aliás, uma pergunta que nenhum ovo-vegetariano me respondeu satisfatoriamente até hoje é a seguinte: qual é a diferença entre comer os ovos de uma galinha e os ovos de um peixe ou de uma tartaruga? Se você come omelete ou bolo com ovos, porque torce o nariz para o caviar?

Por outro lado, a dieta vegetariana tradicional recomendada nas escrituras admite o consumo de leite e seus derivados. É por isso que esta dieta é chamada lacto-vegetarianismo. Os derivados do leite usados na Índia, sejam de vaca ou búfala, são os seguintes: panir, ou queijo fresco, coalhada, iogurte, manteiga e ghi, ou manteiga clarificada. Esses são produtos de fácil digestão para a maioria das pessoas, embora haja gente com intolerância a lactose que deve evitar todos os tipos de laticínios.

Na Índia não existem os queijos amarelos, curados ou gordurosos desenvolvidos na Europa e trazidos para o Brasil pelos imigrantes italianos e alemães. Na medida do possível, o yogui precisa evitar esses queijos, pois contêm um excesso de gordura saturada e são de difícil digestão, provocando um excesso de mucosidade que é extremamente prejudicial para a prática do pranayama e os exercícios de purificação, dentre outros. De resto, provindo do reino vegetal, vale absolutamente tudo.

Afora a dieta lacto-vegetariana adotada pelos yoguis, existe outra opção alimentar, o veganismo, que exclui não somente as carnes mas igualmente todo alimento de origem animal, como os laticínios e o mel. O veganismo leva até as últimas consequências a preocupação ética em relação ao tratamento que os animais recebem das indústrias alimentar e do vestuário, eliminando sumariamente não apenas os alimentos de origem animal mas também quaisquer artigos de couro ou outros sub-produtos da mesma origem.

É bom lembrarmos que essa iniciativa nasceu igualmente na Índia, onde artigos feitos de couro como roupas, sapatos, cintos e outros acessórios nunca foram usados por praticantes sérios de Yoga.
Dhanvantari, o deus hindu da medicina, é um avatar de Vishnu, o preservador


Vegetarianismo e Ayurveda


Uma coisa interessante na hora de escolher o alimento e o tempero que se usa para dar sabor às refeições é observar se esse alimento e esse tempero estão de acordo com nosso biotipo individual. Esse biotipo individual chama-se dosha, em sânscrito.

O Ayurveda, a ciência indiana de manutenção da saúde, recomenda uma série de alimentos para cada biotipo. Nem todos os alimentos considerados bons são bons para todos nós. Você já se perguntou por que, quando duas pessoas comem exatamente a mesma coisa, uma delas digere o alimento com facilidade e a outra não? O Ayurveda responde essa pergunta e muitas outras que possam surgir ao longo do processo de tornar-se vegetariano, indicando os alimentos mais adequados para cada tipo de constituição individual.

Se você não escolher corretamente seu alimento, não conseguirá digeri-lo bem e vai achar que a dieta vegetariana só dá gases, ou que ser vegetariano não é uma boa opção para você.

Se o amigo leitor quiser ampliar sua pesquisa a esse respeito, existem algumas dietas recomendadas para os diferentes doshas disponíveis em www.yoga.pro.br. Não obstante, para escolher com propriedade uma dieta, é preciso conhecer primeiramente seu biotipo fazendo um teste rápido que pode ser achado usando o mecanismo de pesquisa desse website.


Ser yogui = ser vegetariano?

Existem yoguis atualmente que, por diferentes motivos, não aderem à dieta vegetariana. Esses praticantes podem apresentar situações peculiares de saúde, ou manter condicionamentos que lhes impedem de assumir o vegetarianismo de maneira plena, ou simplesmente não darem ao vegetarianismo a importância que ele merece na tradição. Pessoalmente, acredito que essas pessoas têm pleno direito de agirem conforme suas próprias consciências.

O aparente paradoxo que pode surgir do confronto dessas afirmações com o resto deste texto resolve-se no foro íntimo de cada um. Em suma, adotarmos ou não o vegetarianismo é uma questão de ética, sensibilidade, desapego e preparo.

Um dos grandes perigos que tenho visto em relação a isso no pequeno mundo do Yoga é que algumas pessoas se acham no direito de julgarem os demais em função do que elas comem, como se ser vegetariano fosse garantia e elevação espiritual e não o ser fosse sinal do contrário.

Nunca foi correto julgar alguém em função do que a pessoa põe no prato. Adolf Hitler, por exemplo, era vegetariano. Eu não colocaria esse assassino psicopata na categoria das pessoas espiritualmente elevadas. O Dalai Lama, embora já tenha mantido durante um tempo a dieta vegetariana, come carne ocasionalmente por indicação médica. Eu não diria que ele tem uma estatura espiritual pequena.

Portanto, adotar o vegetarianismo pode ajudar, mas não é sinal de realização espiritual. Assim como não existe um teste que possa ser aplicado ao ser humano para determinar seu grau de espiritualidade, tampouco podemos considerar que a adoção de uma determinada dieta signifique alguma coisa em termos de progresso espiritual.

Se você for trocar seus condicionamentos atuais por outros, como a tendência a julgar os demais pela dieta ou a se considerar superior pelo fato de ser vegetariano, é melhor que continue comendo carne até resolver seus problemas de fundo.

Em suma, se a prática do Yoga não estiver nos ajudando a sermos pessoas melhor resolvidas, mais felizes e legais, isso pode ser sinal de que não estamos praticando com a atitude correta, de mente equânime e coração aberto. O melhor é fazermos nossa prática sem julgar a dos demais. 

Para concluir, deixo o leitor com uma reflexão do shaiva yogi Tirumular, do sul da Índia:


“Como pode praticar a verdadeira compaixão aquele que come a carne de um animal para engordar sua própria carne? Maior do que mil oferendas de ghi no fogo sagrado é não sacrificar nem consumir nenhuma criatura viva.”




Pedro Kupfer





Texto originalmente publicado na edição nº 06, do Outono de 2005, do periódico trimestral Cadernos de Yoga e republicado em www.yoga.pro.br

Fonte do Texto e das Gravuras: EKADANTA YOGA
http://www.ekadantayoga.com.br/

sábado, 22 de fevereiro de 2014

YOGA: UMA PALAVRA PROFANADA NOS TEMPOS MODERNOS

Muito se fala a respeito do Yoga. Muitas definições foram dadas, mas sempre temos a sensação de que alguma coisa fica faltando; de que ele se recusa a ficar aprisionado numa definição. Porque essas quatro letras juntas significam muitas coisas. E o Yoga acaba sendo sempre mais do que as palavras podem dizer.

O Yoga é uma visão peculiar sobre o ser humano e seu papel na ordem das coisas, bem como um caminho de autoanálise que pode ser colocado em prática, prescindindo de qualquer teoria ou crença. Um caminho que conduz o homem a compreender verdadeiramente a si mesmo.

Todo mundo já ouviu dizer que Yoga significa em sânscrito união, mas Yoga igualmente significa trabalho, aplicação. Ou seja, Yoga seria o meio e o fim ao mesmo tempo. Jaideva Singh, no comentário do Vijñanabhairava (p. XIII), um antigo texto tântrico, afirma:

“A palavra Yoga é usada tanto no sentido de união (com o Divino) como no de veículo (upaya) para essa união. [...] Desafortunadamente, nenhuma palavra foi tão profanada nos tempo modernos como a palavra Yoga. Andar sobre o fogo, tomar ácido lisérgico, parar o batimento cardíaco etc. se consideram Yoga, quando, a bem da verdade, não têm nada a ver com ele. Mesmo os poderes psíquicos [siddhis] não são Yoga. Yoga é consciência; transformação da consciência humana em consciência divina.”

Yoga também é liberdade. Libertar-se de condicionamentos e preconceitos, por exemplo. Está escrito na Bhagavad gita: Yogaskarmasu kausalam (Yoga é perfeição na ação). Essa é uma visão tão ampla como simples da prática: qualquer ato pode fazer-se como sadhana, contínuo e constante.

Mas aqui temos um paradoxo: o que significa perfeição? A perfeição na ação não deve tomada literalmente no sentido de fazer uma ação “perfeita” em seus detalhes (por essa conta, um hábil batedor de carteiras poderia ser considerado um yogui), mas em fazer as ações em harmonia com o bem comum e com o reconhecimento de que nosso privilégio é agir, e não tentar controlar ou escolher os resultados das ações.

Noutras palavras, perfeição significa viver consciente. Patañjali explica o mesmo com outras palavras: “Discernimento constante é o meio para destruir a ignorância.” (Yogasutra, II:26).

Por outro lado, o Yoga não fica no plano das ideias nem se restringe unicamente a uma série de exercícios feitos na sala de prática. Com isso em mente, podemos dizer que praticar o Yoga é como participar de um jogo: conhecendo as regras, jogamos por amor, relaxados, para conviver e estar junto àqueles que amamos.

Mesmo se você não tiver nenhuma experiência com Yoga, saiba que suas atividades diárias, como trabalhar, criar os filhos ou estudar, também podem ser encaradas como um sadhana. É por isso que o Yoga é um jogo, cuja única regra é permanecer totalmente consciente o tempo todo, de cada ato, a cada momento.

Talvez você possa achar, como muita gente, que o Yoga é algo separado de si próprio ou do seu dia a dia. Algo que você faz, como ir às compras ou falar ao telefone. O Yoga é para ser vivido, de maneira atenta e equânime. Esse viver consciente, essa atentividade constante, é a essência da prática e ao mesmo tempo o fruto do amadurecimento interior, que é um processo gradual.

Por isso, não convém dizer “eu faço Yoga”, pois, em verdade, você não faz Yoga. Ele já está feito! Você ‘desliza’ para o Yoga (união) em certos momentos, através das atitudes equânimes. Isso tem a ver com a sua existência, com o seu momento presente, com o ar que entra por suas narinas no mesmo instante em que você está aqui sentado lendo, pois o sadhana aponta para colocar a visão em prática. Se você não for usar o Yoga, para que vai querer estudá-lo? Isso equivaleria a contentar-se com ver uma foto da praia, ao invés de ir pessoalmente dar um mergulho nela.

O Yoga é para todos. Não é apenas para pessoas sadias ou só para doentes. É para seres humanos, e não consiste em substituir o sistema de valores ou mitologias do mundo ocidental por outro exótico, não é escapismo ou uma resposta desesperada ao vazio que a sociedade oferece.

A partir da definição que o sábio Patañjali dá no Yogasutra, “Yoga é a supressão da identificação com as modificações da psiquê“, vemos que a prática começa numa sede profunda de transcender os condicionamentos humanos; vemos a necessidade de tornar cósmico o homem, de desenvolver as suas potencialidades para conquistar a iluminação. O método através do qual o Yoga pretende atingir esse objetivo é a reflexão sobre si mesmo, aliado a práticas que possuem como único objetivo aniquilar os condicionamentos que nos escravizam.

Os condicionamentos não nos deixam viver em paz e nos fazem repetir os mesmos erros, ano após ano, "ad eternum". Para ‘sair da roda do karma’, ou seja, alcançar a liberdade verdadeira, o yogui precisa aniquilar um a um esses condicionamentos na sua própria fonte: o inconsciente, a parte ‘escura’ do ser.

Dizem os shastras que o caminho do Yoga começa ‘quando o homem consegue quebrar a prisão das suas misérias’. O Yoga parte da condição humana desamparada, nua e crua, e tem o mérito sem par na história do pensamento de descobrir o verdadeiro potencial do homem: o da sua espiritualidade. A vida espiritual sempre começa no conflito interior, na sede de transcendência. E, neste kaliyuga, a era dos conflitos, requer muita mais pureza de coração, coragem e determinação que em outro tempo qualquer.

Precisamos quebrar o casulo da identificação com o ego para compreender quem somos. A Katha Upanishad diz que o Yoga é ao mesmo tempo dissolução e emergência, morte e renascimento (Yogah prabhavapyayau). É preciso matar o apego às coisas do ego para vivermos livres. Os ensinamentos do Yoga são somente acessíveis através da práxis: o praticante deve pôr sob o jugo seu corpo e sua psique para compreender que já é a liberdade que está buscando.

Múltiplo em suas diferentes correntes e manifestações, ele é sempre fiel a um modo de ver o homem e de servi-lo: após a severidade e paciência exigidas pela prática, sente-se a calidez da sua solicitude carinhosa por todos e respeito por todo o criado. Seu caminho é radical mas acessível e nos leva à conquista da liberdade.




Pedro Kupfer




Fonte: Texto originalmente publicado 24 de julho de 2000 em www.yoga.pro.br
EKADANTA YOGA
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Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/


DESAPEGO - DEIXA PARA LÁ - RESPEITO

Quando nos consideramos convidados, ficamos leves nas ações e nos relacionamentos. Somos hóspedes do corpo. Somos hóspedes do mundo também. Já que somos hóspedes, porque deveríamos ter apego? Quando somos hóspedes, somos também desapegados. Quando somos desapegados, aumentamos nosso poder de discernimento. Nesse estado é possível ler os sentimentos que estão no coração dos outros. Assim é possível responder às solicitações de forma gentil, precisa e pacífica.

Quando alguém me diz: eu não gosto da sua ideia, é bem provável que eu me sinta insultado. Mas será que alguém pode me machucar? Somente se eu deixar adormecer a consciência de quem sou e ficar apegado à ideia. Veja as crianças. Mesmo que alguém faça algo, elas esquecem e logo voltam a brincar. Porém, quando crescemos, nos tornamos muito sensíveis. Uma simples palavra causa tanta dor. Nessa hora, precisamos entender nossas emoções e, então, deixar para lá, porque essa dor é autocriada.

Respeito pelos outros é reconhecer seus esforços para melhorar. Isto nos encoraja a focalizar mais a atenção no potencial deles do que em seus erros. De fato, esse é o método para ajudar as pessoas a ficarem livres de seus defeitos. Uma oportunidade para julgar a qualidade da nossa percepção espiritual. Ver quanta fé nós temos na transformação definitiva daqueles que convivem conosco. Essa fé é respeito verdadeiro.



Brahma Kumaris





Fonte: www.bkumaris.org.br
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

POR QUE NÃO LEMBRAMOS DE NOSSAS VIDAS ANTERIORES?

O esquecimento das vidas passadas é uma realidade no processo de reencarnação. Realidade justa e necessária, diga-se de passagem, como não poderia ser diferente, já que vem de Deus. Mas então podemos inquirir: não seria melhor se lembrássemos de tudo para então saber o porquê de certas coisas que nos acontecem agora, para termos uma melhor visão geral das coisas e assim buscarmos nossa reforma íntima?

Certamente isso poderia ser útil para alguns, a saber: a minoria composta por aqueles de moral elevada e sempre prontos para perdoar seus inimigos. Como a maior parte da humanidade não se encontra - nem nunca se encontrou - nesse estágio de evolução moral, o esquecimento é mais uma bênção de Deus para conosco.

Todos temos erros passados a serem corrigidos, pessoas por nós derrubadas e humilhadas em outras encarnações que agora devemos ajudar a se erguerem do abismo em que a empurramos. Tais pessoas podem ser agora nossos pais, irmãos, tios, primos, vizinhos, colegas de trabalho, não se sabe. Mas como reagiríamos se, ao vermos um filho nosso nascer, reconhecêssemos nele a pessoa de um carrasco em uma vida passada? Alguém que nos arruinou completamente aquela vida! Iríamos dar a ele todo o nosso amor? Iríamos estar sempre prontos a atender o seu choro durante a noite depois de tudo o que ele nos fez?

O véu lançado sobre esses acontecimentos anteriores é uma ajuda da misericórdia divina que nos coloca em uma posição favorável à reconciliação com nosso próximo. Criando aquela criança desde pequena aprenderemos a amá-la, não mais importando o mal que ela nos causou em outras vidas. E esse amor que lhe devotarmos fará com que também ela nos dedique seu amor e o passado sombrio seja finalmente deixado para trás. Sem esse esquecimento a vida poderia ser quase impraticável devido ao nosso baixo nível de fraternidade uns para com os outros:

Imagine os senhores de engenho reencarnando em um local onde estejam alguns de seus antigos escravos.

Imagine judeus - vítimas do holocausto - encarnando junto a nazistas que foram seus algozes ou de seus familiares.

Imaginemos, acima de tudo, tempos sombrios da humanidade, como a Idade Média, onde tanta maldade fora feita de forma totalmente gratuita e legalizada.

Sem o lançamento desse límpido véu sobre nossas vidas anteriores o mundo correria um altíssimo risco de se afundar em um círculo vicioso de ódio recíproco entre os homens.

Temos que ter em mente que a existência espiritual da alma é a sua existência normal. As existências corpóreas não são senão intervalos, cuja soma iguala apenas uma parte mínima da existência normal.

Vale lembrar ainda que tal esquecimento não é definitivo. O espírito desencarnado pode sim lembrar - desde que julgue útil e de acordo com a sua evolução moral adquirida - de acontecimentos de vidas passadas, sejam quais forem; isso o auxilia, inclusive, na sua preparação para uma nova encarnação.

Além disso, uma nova encarnação não faz de uma pessoa um novo ser. Apenas o corpo muda, sendo o espírito o mesmo, com o seu caráter moral e intelectualidade particulares, guardando assim todos os seus instintos e pré-disposições, sejam bons ou ruins.




Fonte: Momento Espírita
http://www.momento.com.br/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

O CONHECIMENTO ADMITE A AUTORIDADE

Não existe movimento de aprender quando há aquisição de conhecimento; os dois são incompatíveis, são contraditórios. O movimento de aprender implica um estado em que a mente não tem experiência anterior acumulada como conhecimento. O conhecimento é adquirido, ao passo que aprender é um movimento constante que não é processo aditivo ou aquisitivo; portanto, o movimento de aprender implica um estado no qual a mente não tem autoridade. Todo conhecimento admite autoridade, e uma mente que se defende na autoridade do conhecimento não pode aprender. A mente só pode aprender quando o processo aditivo cessou completamente. É bem difícil para a maioria de nós diferenciar entre aprender e adquirir conhecimento. Através da experiência, da leitura, de ouvir, a mente acumula conhecimento; é um processo aquisitivo, um processo de adicionar ao que já se sabe, e desta base de conhecimento nós funcionamos. Ora, o que nós geralmente chamamos aprender é este mesmo processo de adquirir nova informação e adicioná-la ao depósito de conhecimento que já temos. Mas estou falando de algo inteiramente diferente. Por aprender não quero dizer adicionar ao que você já sabe. Você só pode aprender quando não existe apego ao passado como conhecimento, ou seja, quando você vê alguma coisa nova e não traduz em termos do conhecido. A mente que está aprendendo é uma mente inocente, ao passo que a mente que está meramente adquirindo conhecimento é velha, estagnada, corrompida pelo passado. Uma mente inocente percebe instantaneamente, está aprendendo todo o tempo sem acumular, e só essa mente é madura.




J. Krishnamurti




Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

12º TRABALHO DE HÉRCULES (A CAPTURA DO GADO VERMELHO DE GERIÃO) - SIGNO DE PEIXES

12º Trabalho de Hércules, "A Captura do Gado Vermelho de Gerião", significando a transcendência da animalidade, a salvação.

O Mestre chamou Hércules e disse-lhe: “Tu agora estás diante do último Trabalho. É o que falta para que o ciclo seja completo, e a liberação conquistada. Vai até aquele lugar sombrio chamado Eritéia onde a Grande Ilusão está entronizada; onde Gerião, o monstro de três cabeças, três corpos e seis mãos, é rei e senhor. À margem da lei ele mantém um rebanho de gado vermelho escuro. De Eritéia deves trazer até nossa Sagrada Cidade, este rebanho. Cuidado com Euritião, o pastor, e seu cão de duas cabeças, Ortus.” E depois de uma pausa continuou: “Mais um aviso posso dar. Invoca a ajuda de Helio.” 

Hércules partiu e no templo, fez oferendas a Helio, o deus do fogo e do sol. Por sete dias Hércules meditou, e depois mereceu dele um favor. Um cálice dourado caiu no chão aos seus pés. Ele sentiu no seu íntimo que esse objeto brilhante o capacitaria a cruzar os mares para alcançar o país de Eritéia. E assim foi. Sob a segura proteção do cálice dourado, ele velejou pelos mares agitados até chegar a Eritéia. Numa praia naquele país distante, Hércules desembarcou. Não muito longe dali ele chegou a um pasto onde o gado vermelho escuro pastava. Era guardado pelo pastor Euritião e o cão de duas cabeças, Ortus. Quando Hércules se aproximou, o cão lançou-se como uma flecha para ele, rosnando ferozmente, tentando alcançá-lo. Com um golpe decisivo Hércules derrubou o monstro. Então, Euritião, amedrontado pelo bravo guerreiro que estava diante dele, suplicou que sua vida fosse poupada. Hércules concedeu-lhe o pedido. 

Conduzindo o gado vermelho-sangue adiante dele, Hércules voltou sua face para a Cidade Sagrada. Ainda não estava muito longe daquelas pastagens quando percebeu que o monstro Gerião vinha em louca perseguição. Logo Gerião e Hércules estavam face-a-face. Exalando fogo e chamas de todas as três cabeças simultaneamente, o monstro avançou sobre ele. Esticando bem o seu arco, Hércules lançou uma flecha que parecia queimar o ar e que atingiu o monstro em seu flanco. Tamanho foi o ímpeto com que fora lançada, que todos os três corpos de Gerião foram perfurados. Com um guincho desesperado, o monstro oscilou, depois caiu, para nunca mais se levantar. Hércules conduziu, então, o lustroso gado para a Cidade Sagrada. Difícil foi a tarefa. Volta e meia alguns bois se desgarravam, e Hércules deixava o rebanho para procurar aquelas cabeças que se perdiam. Através dos Alpes ele conduziu o seu rebanho, até a Halia. 

Onde quer que o mal houvesse triunfado, ele golpeava as forças do mal com golpes mortais, e corrigia a balança em favor da justiça. Quando Eryx, o lutador, o desafiou, Hércules o derrubou tão vigorosamente que ele permaneceu caído. Novamente, quando o gigante Alcioneu lançou sobre Hércules uma rocha que pesava uma tonelada, este último a deteve com a sua clava e a mandou de volta, matando seu agressor. Às vezes ele perdia o seu rumo, mas sempre se voltava, refazia seus passos, e prosseguia. 

Embora exausto por este cansativo trabalho, Hércules por fim voltou. Quando chegou, o Mestre que o esperava, disse-lhe: “A joia da imortalidade te pertence. Por esses doze Trabalhos tu superaste o humano e te revestiste do divino. De volta ao lar viestes, para não mais partires. No firmamento estrelado o teu nome será inscrito, um símbolo para os batalhadores filhos dos homens, de seu imortal destino. Os trabalhos humanos estão encerrados, tua tarefa Cósmica começa.”

Este último Trabalho está associado ao signo de Peixes. Hércules viajou, velejando até a ilha numa taça dourada e quando lá chegou, ele subiu até o topo da montanha onde passou a noite em oração. Depois matou o cão de duas cabeças mas não o pastor. Ele também matou o dono daquelas paragens. Aqui está a parte mais bela da história: Hércules colocou o rebanho inteiro na taça dourada da qual se utilizara para a vinda, levou-o para a Cidade Sagrada e o ofereceu em sacrifício a Athena, a Deusa da Sabedoria. Esta cidade sagrada consiste de duas cidades ligadas por um belo muro e um portão chamado o Portão do Leão. Depois que o gado foi entregue, acabou-se o trabalho de Hércules. 

Vamos pensar em Hércules como um salvador mundial. Ele vê a humanidade possuída por um monstro, um homem de três cabeças, o símbolo de um ser humano com os corpos físico, emocional e mental unidos. O simbolismo do gado vermelho é claramente o dos desejos inferiores, o desejo sendo sempre uma destacada característica da humanidade. Eles são guardados por um pastor, que é a mente, o cão de duas cabeças, representando os aspectos matéria e psiquismo. Está claro porque Hércules poupou o pastor: a mente ainda pode ser o pastor do gado, mas o cão de duas cabeças, a natureza psíquica-emocional e o aspecto matéria, Hércules matou, o que significa que foram privados de qualquer poder.





Fonte: Sociedade das Ciências Antigas
http://www.sca.org.br/
“Os trabalhos de Hércules”, de Alice A. Bailey
Gravura de: Johfra Bosschart (Franciscus Gijsbertus van den Berg, 1919, Rotterdam)