Por que as ideias se enraízam em nossas mentes? Por que os fatos não se tornam importantíssimos, não as ideias? Por que as teorias, ideias, se tornam tão mais significativas do que o fato? É que não podemos compreender o fato, ou não temos a capacidade, ou temos medo de encarar o fato? Assim, ideias, especulações, teorias são meios de fugir do fato. Você pode fugir, pode fazer todos os tipos de coisas; os fatos estão aí: o fato de que a pessoa é irada, o fato de que a pessoa é ambiciosa, o fato de que é sexual, dezenas de coisas. Você pode suprimi-los, pode transmutá-los, que é outra forma de supressão; você pode controlá-los, mas eles são todos suprimidos, controlados, disciplinados com ideias. As ideias não desgastam nossa energia? As ideias não entorpecem a mente? Você pode ser inteligente em especulação, citações; mas, obviamente, é uma mente estúpida que cita, que leu um bocado e cita. Você remove o conflito do oposto com um golpe se viver com o fato e, assim, liberar a energia para enfrentar o fato. Para a maioria de nós, a contradição é um campo em que a mente fica presa. Eu quero fazer isto, e faço uma coisa inteiramente diferente, mas se enfrento o fato de querer fazer isto, não há contradição; e, portanto, com um golpe eu anulo todo o sentido de oposto totalmente, e minha mente fica completamente participante no que é, e na compreensão de o que é. (The Book of Life)
Posso eu olhar todo problema sem a palavra: o problema do medo, o problema do prazer? Porque a palavra cria, gera pensamento; e pensamento é memória, experiência, prazer, e, por isso, um fator de distração. Isto é realmente surpreendentemente simples. Porque é simples, nós desconfiamos. Nós queremos que tudo seja muito complicado, muito elaborado; e o elaborado fica envolvido no perfume das palavras. Se eu puder olhar para uma flor não-verbalmente – e eu posso; qualquer um pode se der suficiente atenção – não posso olhar com essa mesma atenção objetiva não-verbal para os problemas que tenho? Não posso olhar a partir do silêncio, que é não-verbal, sem o mecanismo pensante de prazer e tempo operando? Não posso simplesmente olhar? Eu acho que esse é o X da questão – não abordar da periferia, o que complica a vida tremendamente, mas olhar a vida, com todos os seus complexos problemas de subsistência, sexo, morte, miséria, sofrimento, a agonia de estar tremendamente só – olhar tudo isso sem associação, a partir do silêncio, o que significa sem um centro, sem a palavra que cria reação do pensamento, que é memória e tempo. Eu acho que esse é o problema real, a questão real: se a mente pode olhar a vida em que existe ação imediata, não uma ideia e, então, ação, e eliminar totalmente o conflito. (Collected Works, Vol. XV, 143, Choiceless Awareness)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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