quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

MEDITAÇÃO: UMA DAS GRANDES ARTES DA VIDA

É curioso como a meditação se torna importantíssima; não há fim para ela nem há um começo. É como uma gota de chuva: nessa gota estão todos os riachos, os grandes rios, os mares e as cachoeiras; essa gota nutre a terra e o homem; sem ela, a terra seria um deserto. Sem meditação o coração se torna um deserto, uma terra devastada. (Krishnamurti Notebook, 91)

Meditação é descobrir se o cérebro, com todas as suas atividades, todas as suas experiências, pode ficar absolutamente quieto. Não forçado, pois no momento em que você força, há dualidade. A entidade que diz: “Eu gostaria de ter experiências maravilhosas, por isso devo forçar meu cérebro a ficar quieto”, nunca conseguirá fazê-lo. Mas se você começa a investigar, observar, ouvir todos os movimentos do pensamento, seu condicionamento, suas buscas, seus medos, seus prazeres, olhar como o cérebro funciona, então verá que o cérebro se torna extraordinariamente quieto; essa quietude não é sono, mas é tremendamente ativa e, portanto, quieta. Uma grande máquina que está trabalhando perfeitamente dificilmente produz um som; só quando existe atrito, existe ruído. (The Impossible Question, 72)

Nós temos que alterar a estrutura de nossa sociedade, sua injustiça, sua apavorante moralidade, as divisões que ela criou entre homem e homem, as guerras, a total falta de afeto e amor que está destruindo o mundo. Se sua meditação é apenas um assunto pessoal, uma coisa que você, pessoalmente, aprecia, então não é meditação. Meditação implica mudança radical completa da mente e do coração. Isto só é possível quando há este extraordinário sentido de silêncio interior, e apenas esse gera a mente religiosa. Essa mente conhece o que é sagrado. (Beyond Violence, 133, Meditations)

A percepção sem palavra, ou seja, sem pensamento, é um dos fenômenos mais estranhos. Então a percepção é muito mais acurada, não só com o cérebro, mas com todos os sentidos. Tal percepção não é a percepção fragmentada do intelecto nem a questão das emoções. Ela pode ser chamada de percepção total, e é parte da meditação. Percepção sem aquele que percebe na meditação é comungar com o elevado e a profundeza do imenso. Esta percepção é inteiramente diferente de ver um objeto sem um observador, pois na percepção da meditação não existe objeto e, assim, nem experiência. A meditação pode acontecer quando os olhos estão abertos e a pessoa está rodeada por objetos de toda espécie, mas, então, estes objetos não têm absolutamente importância. A pessoa os vê, mas não há processo de reconhecimento, o que significa que não há experiência. Que significado tem tal meditação? Não há significado; não há utilidade. Mas nessa meditação existe um movimento de grande êxtase, que não é para ser confundido com prazer. É o êxtase que dá ao olho, ao cérebro e ao coração a qualidade da inocência. Sem ver a vida como uma coisa totalmente nova, ela é uma rotina, aborrecida, e uma coisa sem sentido. Assim, a meditação é da maior importância. Ela abre a porta para o incalculável, o incomensurável. (Meditations 1969, 3, Meditations)

Nós dificilmente escutamos o som do latido de um cão ou o choro de uma criança ou o riso de um homem enquanto ele passa. Nós nos separamos de todas as coisas e, então, desse isolamento olhamos e escutamos todas as coisas. É esta separação que é tão destrutiva, pois nela está todo conflito e confusão. Se você ouvisse o som dos sinos em completo silêncio viajaria nele – ou, melhor, o som levaria você através do vale e acima da montanha. A beleza disto só é sentida quando você e o som não estão separados, quando você é parte dele. Meditação é o fim da separação, mas não pela ação da vontade ou do desejo. A meditação não é uma coisa separada da vida; ela é a própria essência da vida, a própria essência da vida cotidiana. Ouvir os sinos, escutar o riso do transeunte enquanto ele passa com sua esposa, escutar o som da campainha da bicicleta de uma menininha passando: isto é a totalidade da vida, e não apenas um fragmento dela, que a meditação descortina. (The Only Revolution, 163, Meditations)

Que coisa extraordinária é a meditação. Se houver algum tipo de compulsão, esforço para adaptar o pensamento, imitar, então ela se torna um fardo cansativo. O silêncio que é desejado deixa de ser iluminador. Se ela é uma busca de visões e experiências, então leva a ilusões e auto-hipnose. Só no florescimento do pensamento e, portanto, no fim do pensamento, a meditação tem significado. O pensamento só pode florescer em liberdade, não em padrões sempre ampliados de conhecimento. O conhecimento pode conferir experiências mais novas de maior sensação mas, uma mente que está em busca de experiências de qualquer natureza é imatura. Maturidade é liberdade de toda experiência; não estar mais sob qualquer influência de ser ou não ser. Maturidade na meditação é a libertação da mente do conhecimento, pois o conhecimento molda e controla toda experiência. A mente que é uma luz para si mesma não precisa de experiência. Imaturidade é o anseio por maior e mais ampla experiência. Meditação é perambular pelo mundo do conhecimento e estar livre dele para entrar no desconhecido. (Krishnamurti Notebook, 213)

Se você se determina a meditar, não será meditação. Se você se determina a ser bom, a bondade nunca florescerá. Se cultiva a humildade, ela deixa de existir. A meditação é a brisa que entra quando você deixa a janela aberta; mas se, deliberadamente, você a mantém aberta, deliberadamente a convida para entrar, ela nunca aparecerá. (The Only Revolution, 37)

A meditação é uma das coisas mais extraordinárias, e se você não sabe o que ela é, você é como um homem cego num mundo de cores brilhantes, sombras e luzes em movimento. Ela não é uma questão intelectual, mas quando o coração entra na mente, a mente tem uma qualidade totalmente diferente; ela é, então, ilimitada, não apenas na sua capacidade de pensar, agir eficientemente, mas também em seu sentido de viver num espaço vasto onde você é parte de tudo. A meditação é o movimento do amor. Ela não é o amor de um ou de muitos. É como água que qualquer um pode beber em qualquer jarra, seja dourada ou de barro; ela é inesgotável. E uma coisa peculiar acontece, que nenhuma droga ou auto-hipnose pode produzir; é como se a mente entrasse em si mesma, começando na superfície e penetrando sempre mais profundamente, até que profundidade e peso tenham perdido seu significado e toda forma de medida cessa. Neste estado existe paz completa, não contentamento que veio por gratificação, mas uma paz que tem ordem, beleza e intensidade. Isto tudo pode ser destruído, como você pode destruir uma flor e, contudo, devido à sua própria vulnerabilidade, ela é indestrutível. Esta meditação não pode ser aprendida de outra pessoa. Você deve começar sem saber nada sobre ela, e ir da inocência para a inocência. O solo onde a mente meditativa pode começar é o solo da vida cotidiana, a luta, a dor e a alegria passageira. Ela deve começar aí, e trazer ordem, e daí se mover indefinidamente. Mas se você está interessado apenas em ter ordem, então essa própria ordem trará sua própria limitação, e a mente será sua prisioneira. Em todo este movimento você deve, de algum modo, começar do outro fim, da outra margem, e não estar sempre interessado nesta margem e em como cruzar o rio. Você deve mergulhar na água, não saber como nadar. E a beleza da meditação é que você nunca sabe onde está, aonde vai, qual é o fim. (Meditations 1969, 1)

A meditação é uma das grandes artes da vida, talvez a maior, e não se pode aprendê-la de ninguém. Essa é sua beleza. Ela não tem técnica e, por isso, nem autoridade. Quando você aprende sobre você mesmo, olha a si mesmo, olha o modo como anda, como come, o que diz, a fofoca, o ódio, o ciúme, se você está consciente de tudo isso em você mesmo, sem qualquer escolha, isso é parte da meditação. Então a meditação pode acontecer quando você está sentado num ônibus ou caminhando por um bosque cheio de luz e sombras, ou ouvindo o canto de pássaros ou olhando o rosto de sua esposa ou filho. (Freedom from the Known, 116)

Uma mente meditativa é silenciosa. Não é o silêncio que o pensamento pode conceber; não é o silêncio de uma tarde calma; é o silêncio de quando o pensamento, com todas as suas imagens, suas palavras e percepções, cessou inteiramente. Esta mente meditativa é a mente religiosa, a religião que não é tocada pela igreja, os templos, ou por cânticos. A mente religiosa é a explosão do amor. É este amor que não conhece separação. Para ele, longe é perto. Não é o um ou os muitos, mas antes aquele estado de amor em que toda divisão cessa. Como a beleza, não está na medida das palavras. Só deste silêncio a mente meditativa atua. (The Only Revolution, 115, Meditations)





J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: 
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/

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