(...) Na fase infantil, o ser humano estende a mão, de fato, mas é para receber e a sua palavra predileta é «dá-me!», e a maior alegria que se pode proporcionar à criança é a chegada do Natal ou do dia do seu aniversário para receber presentes. Na fase verdadeiramente adulta, e autoconsciente, a corrente inverte-se e a maior alegria dum espírito elevado é ofertar — por isso se diz que a maneira mais segura, mais rápida e mais radiante de ser feliz é pensar menos em si e fazer mais pelos outros.
O pior é que os adultos, em sua esmagadora maioria, permanecem teimosamente apegados à fase infantil, por isso não admira que sejam infelizes: o egoísmo prolongado para além da infância é fonte de extrema insegurança, o discernimento falha, o medo sobrepõe-se ao amor e o interesse próprio ao bem alheio. O desajuste é total porque quem assim se descaminhou vê-se de súbito rodeado de inimigos, ou pelo menos de competidores, e por isso o poeta brasileiro Vicente de Carvalho bem podia dizer, com lapidar desencanto:
A felicidade está onde a pomos,
mas nunca a pomos onde nós estamos.
A felicidade não é um fim em si, é uma consequência: não estamos neste mundo para alcançá-la a todo o custo, mas para aprender, e o caminho que conduz à perfeita alegria — a tal «perfeita alegria» cantada pelo Poverello — começa quando aprendemos a dar o estrito valor, e não mais do que esse, às posses materiais, compreendendo que a prosperidade não se equaciona apenas com uma grande conta bancária ou uma boa marca de automóvel, mas consiste antes de mais nada em ter a consciência do Cristo Interno permitindo que esse Divino Amor se difunda e se irradie através de nós, ou seja, em saber que dispomos de todos os meios, sobretudo espirituais, para usufruir os dons da natureza e sermos capazes de partilhá-los.
No Serviço de Templo da Fraternidade Rosacruz reza-se uma oração muito bonita que o diz duma forma singela, e da qual me permito transcrever algumas estrofes:
Não mais luz, Senhor, Vos peço,
Mas olhos para ver a existente;
Nem canções mais doces,
Mas, se o mereço, ouvidos para ouvir o som presente.
Nem mais forças,
Mas apenas como usar o divino poder que já possuo;
Nem mais amor,
Mas o dom de transformar num gesto de carícia um esgar de amuo (mau humor).
Nem mais alegria, Senhor,
Mas sim sentir no meu íntimo a sua cálida presença,
Para poder aos demais distribuir
Quanto tenho de coragem e bem-querença.
Não mais dádivas, amado Deus, Vos peço,
Mas apenas o saber e a inspiração
De espalhar à minha volta com sucesso
As que tenho a transbordar do coração…
(...)
Antônio de Macedo
Fonte: do livro "Laboratório Mágico", cap. "O Pássaro Azul da Felicidade"
Fraternidade Rosacruz
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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