domingo, 21 de fevereiro de 2016

A SABEDORIA DA MENTE

Como estudante de Teosofia se compreende que o corpo físico do homem é o seu veículo de consciência mais externo, e junto com esta consideração, também se compreende que interpenetrando este corpo físico há outros corpos que tornam possível ao ser humano contatar os planos mais sutis do nosso sistema solar.

É verdade que, no começo, apenas se tem uma compreensão intelectual da existência de um vasto mundo interno que nos rodeia, mas gradualmente, refletindo e meditando sobre esta realidade maravilhosa, um despertar começa a abrir novos horizontes, e se pode compreender lentamente que o homem é uma criatura que vive simultaneamente em três níveis de consciência.

Um fato muito interessante, que nos sugere o Sr. I. K . Taimni, é que os diferentes veículos do homem estão relacionados com cada um dos diferentes planos da Natureza, que a expressão da consciência é diferente de plano em plano e que parece funcionar em grupos de três veículos.

A consciência atua em cada um dos grupos de três veículos como um todo, constituindo assim uma unidade, embora cada unidade esteja subordinada e contida dentro de uma unidade maior do próximo plano de manifestação mais elevado ou interno.

Consequentemente, para o assunto de hoje, se considerará o grupo de veículos no qual a personalidade se expressa como constituída pelos corpos físico, emocional e mental inferior.

Como cada um destes três corpos está relacionado com cada um dos três planos inferiores – físico, emocional e mental inferior – é fácil chegar à conclusão de que cada um deles é basicamente a fonte de todos os fenômenos de consciência.

Resulta obvio chegar à conclusão da importância de estudar a maneira de regular as atividades destes corpos, tendo em vista o propósito de desenvolver as suas qualidades espirituais latentes com um método bem definido. Este propósito se expressa no Terceiro Objetivo da Sociedade Teosófica.

Poderíamos perguntarmos-nos, por que se tem que considerar este propósito? Porque inegavelmente este conhecimento de si mesmo, ainda que necessariamente limitado, será uma forma muito definida para moldar uma ferramenta valiosa em nossos esforços para atingir uma meta espiritual nobre.

A única forma para poder efetuar uma ajuda efetiva e satisfatória para o mundo é estar equipado plenamente, com todas as qualidades necessárias para esta tarefa.

No livro "Aos Pés do Mestre", de J. Krishnamurti, há orientações úteis e práticas de como se devem tratar os corpos da personalidade, dando ênfase ao fato de que se pode converter em um instrumento útil “como uma pena nas mãos de Deus”, da nossa natureza superior.

Tudo o que pertence ao corpo físico está sendo “descoberto” sistematicamente pela ciência; ainda há um longo caminho a percorrer nas investigações que estão ocorrendo e que levarão a novos “descobrimentos”.

Pode-se acrescentar que a ciência atual, que está indo além do meramente físico e outras disciplinas – entre as quais a Psicologia, que tem atuado amplamente neste campo – está tratando de encontrar uma resposta aos fenômenos claramente relacionados com os planos emocional e mental inferior.

A propósito, é inevitável a surpresa de quanto tem aumentado o interesse da Psicologia atual, nestes últimos anos, pelo tema da vida após a morte. Que outras surpresas poderão encontrar nesta investigação, não podemos presumir.

Desde que todo este conhecimento, que está relacionado aos planos internos nos quais estamos vivendo, somente se pode adquirir de uma maneira muito específica, isto é, por rigorosa autodisciplina e, como tudo que se obtenha dependerá do poder para responder às diferentes vibrações mais sutis, que correspondem a cada um dos planos internos, a consequência óbvia é que não se pode comunicar este conhecimento a outras pessoas, nem sequer formulá-lo por meio de um gráfico, como se faz usualmente com o conhecimento científico comum, que são ensinados sobre matérias do plano físico.

O enfoque teosófico sugere, desde o começo, que cada homem deve desenvolver suas próprias faculdades latentes e que tem de viver este conhecimento no centro de seu próprio ser. Aqui, estamos interessados em apresentar um conhecimento apoiado em uma explicação lógica e razoável, cujo único esforço será o de aceita-lo via intelecto.

Há algo mais importante do que apresentar o ponto de vista de que cada homem deve descobrir este segredo de ouro através da sua própria experiência pessoal?

A dificuldade que se tem de enfrentar é que parte do conhecimento dos mundos internos é incompreensível ao intelecto humano, porque se está somente acostumado a conceber fatos e ideias em um mundo tridimensional e, naturalmente, não se está familiarizado com a forma na qual a consciência se comporta nos mundos mais sutis, que têm um número crescente de dimensões.

É um fato muito claro que temos de aprender, por assim dizer, a “ir para dentro” ou “ir para cima”, sempre em direção a estes mundos internos e “ver” ou “perceber” com a nossa própria consciência, por nós mesmos.

Disseram-nos que à medida que se “entra” ou se “ascende” a estes mundos internos, gradualmente a visão interior deles não ocorrerá em termos de conceitos mentais, e que uma nova forma de consciência, que corresponderá ao desenvolvimento das faculdades latentes da pessoa, se fará presente no processo de penetração nos mundos que formam parte dos mistérios insondáveis de nosso Universo. Talvez esta etapa seja aquela que se descreve quando os corpos estão subordinados à Atma.

Todas estas definições podem parecer uma meta demasiadamente elevada para que se possa alcançar neste mundo físico. Você conheceu alguém que demonstrou estas qualidades apontadas? Podemos responder afirmativamente referindo-nos ao irmão N. Sri Ram, que foi um verdadeiro santo sobre a Terra.

É pertinente mencionar aqui que nossa motivação deve ser verdadeiramente inegoísta e que devemos nos aproximar deste objetivo com: “Uma vida limpa, uma mente aberta, um coração puro, um intelecto ardente…”, como expressou maravilhosamente H.P.B. em A Escala de Ouro.

Sem dúvida o homem tem uma constituição muito complexa porque, como se mencionou anteriormente, atua ou se expressa por meio dos seus vários veículos de consciência nos diferentes planos do Universo.

Enquanto a consciência estiver confinada na esfera da personalidade, nos identificamos normalmente com esta entidade ilusória que surge em cada encarnação e para todos os propósitos práticos, somos esta entidade e temos que compartilhar o seu destino.

Quando transferirmos nosso centro de consciência para um corpo mais elevado ou interno de nossa personalidade – o veículo mental inferior – então podemos descobrir que este foi formado através de milhares de encarnações e que, fundamentalmente, é um reflexo do passado, mesmo contendo a semente da entidade espiritual em si, que tem a possibilidade de expressar por si mesma a beleza dos mundos espirituais que existem além.

Nosso centro de consciência está constantemente mudando-se de um veículo para outro de nossa personalidade e, neste processo, nos identificamos a nós mesmos com cada corpo durante este período, permanecendo sob a ilusão “meu”.

É óbvio hoje em dia, como expressa a ciência, que toda matéria é uma, jamais se destrói, está sempre sofrendo uma transformação e também se regenera a si mesma para ser “reutilizada” outra vez. Esta é uma lei da Natureza. Isso, claro, se aplica o cada um dos corpos de nossa personalidade.

Quando isto é compreendido – não meramente através da crença ou sentimento – então nos tornamos conscientes de que realmente nada é privado ou pessoal e que cada um dos corpos da personalidade é parte do Uno, da mesma Realidade Primaria. Então a personalidade assume um novo papel na nossa vida.

Mesmo sabendo que o verdadeiro problema da vida espiritual consiste em transferirmos o centro de consciência, que agora está localizado na personalidade, para a Individualidade ou para a natureza superior em seu primeiro nível, chamado de corpo causal, isso não diminui a importância dos corpos da personalidade, que têm um papel fundamental a cumprir.

Já que a personalidade é um instrumento necessário, com o objetivo de relacionar-nos com os planos inferiores da manifestação, é muito comum ver como algumas pessoas vivem somente para as necessidades e indulgências do seu corpo físico; outras estão plenamente identificadas com os seus desejos e outras ainda consideram alegremente suas ideias e conceitos mentais como parte dos seus “eus”.

Isso dá uma nova importância ao corpo mental inferior, devido ao fato de que a mente pessoal é parte da Mente Universal ou Divina. “Como um homem pensa em seu coração, assim ele é”, diz a Bíblia. “O homem se converte no que ele pensa, pense portanto no Eterno”, é dito no livro "A Voz do Silêncio".

Toda função realizada em quaisquer dos veículos de consciência pode ser melhorada e aperfeiçoada pela prática e o corpo mental inferior não é uma exceção a esta regra.

Em síntese, se pode dizer que para desenvolver o corpo mental inferior é aconselhável treiná-lo, com a “inibição das modificações da mente”, como se indica nos Yoga-Sûtras de Patañjali, (I-2).

Podemos recordar também o Bhagavad Gita, no qual Arjuna expressa que a mente é difícil de controlar como o vento, e Krishna, para ensinar-lhe como controlar a mente, lhe recomenda “a prática constante” (Abhyasa) e “a ausência de desejos” (Vairagya).

Outro aspecto que se deve mencionar para o desenvolvimento do corpo mental inferior é o meio da construção sistemática de nosso caráter, com a regularidade na meditação e a prática das virtudes na vida diária.

Pode-se acrescentar também que o amor impessoal e inegoísta, a força mais poderosa que é conhecida no mundo, não somente fará crescer em tamanho e beleza o corpo mental inferior, como também se refletirá nas emoções e no corpo físico.

Então, o corpo mental inferior se converterá em uma mente sábia, tornando-se um centro de amor, de júbilo e de paz no mundo e irradiará esta Luz sobre todas as criaturas viventes, no mundo da manifestação, o que será, inegavelmente, um passo definitivo em busca de uma sociedade nobre.

Por acaso, o nosso mundo em geral, e cada criatura em particular não necessitam profundamente de amor, de júbilo e de paz?

Pode alguém conceber algo mais elevado do que este ideal nobre?





Alfredo Puig Figueroa






Fonte: VIII Congresso Mundial da Sociedade Teosófica, de 24 a 31 de julho de 1993, em Brasília/DF, Brasil. Tema: “Rumo a uma Mente Sábia e uma Sociedade Nobre”
http://www.teosofia-liberdade.org.br/a-sabedoria-da-mente/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

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