sábado, 30 de maio de 2020

O GRANDE DESAFIO


O planeta Terra é repleto de variedades culturais, de forma que a vida de quem nasce e cresce no Brasil é bastante diversa daquela de quem nasceu e cresceu, por exemplo, no Afeganistão. Mesmo dentro do território brasileiro, há regiões cujos costumes são bastante distintos uns dos outros. E, para não precisarmos ir mais além, podemos deduzir que nas grandes metrópoles pode haver gritantes diferenças entre o cotidiano de um bairro para outro.

Com efeito, sabendo que grande parte de nós é composta pelo que absorvermos do nosso meio, somos forçados a convir que o que somos depende de onde fomos colocados e que bem diferente seriamos caso tivéssemos nascido e crescido dentro de outras culturas.

A pergunta é: o quanto de nós realmente nos pertence e o quanto somos em função das tradições que nos cercam?

O Brasil é um país multicultural, onde há enorme liberdade social, cultural e religiosa. Aqui, tradições e culturas se convivem e se mesclam com bastante facilidade. O brasileiro é então multifacial, a ponto de ninguém ficar escandalizado quando qualquer individuo comum migra de tradição - por exemplo, quando alguém troca de religião.

(...) Baseado nesse raciocínio, vemos o quanto as tradições implicam na personalidade, na crença e no comportamento das pessoas.

Em virtude de gozarmos da liberdade que ora desfrutamos, podemos estudar, pesquisar, refletir e tomar rumos conforme nossa vontade. Temos livre-arbítrio e dispomos de uma gama de subsídios (livros, vídeos, internet etc.) para nosso enriquecimento pessoal, sem maiores choques. Porém, houve um tempo em que desafiar as tradições - especialmente as tradições religiosas - era praticamente impossível ou absolutamente perigoso. Mais triste ainda é sabermos que ainda há em nosso orbe regiões onde imperam tais características.

Seguir as tradições - quer dizer, participar do senso comum - parece cômodo e algumas vezes até mais seguro, todavia, chega o tempo em que somos cobrados pela própria consciência em razão de as explicações tradicionais não mais satisfazerem à lógica, que nos surge naturalmente, da mesma forma que, inexoravelmente, um dia, a conjuntura atual nos perturbará. Aliás, o natural mesmo é que uma estranha inquietação consciencial nos persiga constantemente, fazendo-nos nos mover em atenção ao devir, ou seja, para o que estar por vir, para as constantes transformações - pois, observando o processo de mutação do mundo e das próprias pessoas, somos forçados a crer que também assim será o curso das coisas pelos tempos sem fim.

Para uns, sair desse ciclo cômodo e vicioso das tradições é uma dor de parto, dentre outras razões, pela necessidade de abjurarmos antigas crenças e conceitos que outrora defendíamos com fervor. Um exemplo clássico: mesmo com inquestionáveis evidências de que a Terra orbita em torno do Sol, a Igreja Católica demorou meio milênio para reconhecer essa verdade natural, pois os seus teólogos defendiam religiosamente o modelo aristotélico de que a Terra era o centro do Universo.

Aí está precisamente a primeira luta e provavelmente o maior desafio para o autodescobrimento: permitir-se estudar e questionar as tradições, desconstruir-se para então se reconstruir, saindo do senso comum para o bom senso, partir do raciocínio lógico e em acordo com a própria consciência.

E por que é desafiador questionar as tradições?

As coisas, como estão estabelecidas no nosso mundo, foram construídas em cima de certos interesses e, por isso, historicamente foram impostas pela força da espada. Consolidadas pelo tempo, elas se transformaram em tradições e ficaram enraizadas na cultura popular. Quebrar essas raízes implica em desafiar os interesses, ou, para ser mais prático, desafiar quem se beneficia da organização tal ela como está posta.


Louis Neilmoris



Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital
www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/chefe-poder-mobbing-sucesso-2179948/

Nenhum comentário:

Postar um comentário