sábado, 30 de maio de 2020

PREPARANDO-SE PARA O NASCIMENTO


Um dos temores que encontro mais frequentemente nas pessoas que começam a meditar, como meio de diária peregrinação, é o de que a jornada para seu próprio coração, para esse espaço infinito, possa levá-las ao isolamento, longe do conforto e da familiaridade do conhecido, para o desconhecido. Este é um temor inicial compreensível. Ao dizermos "deixar para trás o familiar", isso frequentemente significa "deixar para trás a superficialidade" e, isso pode criar uma sensação de vazio, à medida que nos expomos a uma maior profundidade e a uma realidade mais substancial. Levamos algum tempo, para nos adaptar a essa nova sensação de pertencer, de um novo parentesco, que parece colocar todos os nossos relacionamentos em uma nova ordem. O nosso "voltar ao lar", pode nos dar a sensação de um "sem lar".

Com o tempo, compreendemos que nessa nova experiência da inocência, de deleite no dom da vida, estamos deixando para trás a infantilidade e adentrando na maturidade completa que Jesus desfruta no Pai, a totalidade de seu amor que entra e se expande em nossos corações, no Espírito. Não será apenas agora, no início de nossa peregrinação, que precisaremos do amor humano e da inspiração de outros. Mas é agora, ao encontrarmos um largo horizonte que nos é pouco familiar, que sentimos uma carência especial da energia da comunidade com outros. Abrirmo-nos a eles expande, por sua vez, nossa sensibilidade a suas carências. E assim que o mantra nos conduza para mais longe de nosso auto-centramento, nos voltaremos mais generosamente para os outros, recebendo, em troca, seu apoio. Na verdade, nosso amor pelos outros é a única maneira verdadeiramente cristã de medirmos nosso progresso na peregrinação da prece.

O compromisso que, a princípio, essa jornada nos exige é pouco familiar. Demanda fé, talvez uma certa negligência para começar. Porém, uma vez que tenhamos começado, será a natureza de Deus, a natureza do amor, que nos fará voar, ensinando-nos, por experiência própria, que nosso compromisso é com a realidade, que nossa disciplina é a prancha que nos impulsiona à liberdade. Só podemos provar que é infundado o temor de que a jornada seja mais de "partida" do que de "chegada" por experiência própria. Esta é uma jornada em que, afinal, só a experiência conta. As palavras ou textos de outras pessoas só podem adicionar alguma luz à realidade completamente verdadeira, completamente presente e completamente pessoal que vive em seu coração e em meu coração. Milagrosamente, podemos adentrar essa experiência juntos e descobrirmos a comunhão exatamente onde a comunicação parecia falhar.

E a jornada para nosso próprio coração é uma jornada para todos os corações. E sob o primeiro raio de luz do verdadeiro, compreendemos que essa é a comunhão, que é o reino que Jesus nasceu para estabelecer e no qual ele novamente nasce em todo coração humano para que compreenda.


Dom John Main, OSB



Fonte: "Preparando-se para o Nascimento" - Leitura de 13/01/2008
THE PRESENT CHRIST (NY: Crossroad, 1991), pp. 39-40.
Tradução de Roldano Giuntoli
http://www.wccm.com.br/site_antigo/leitura_13_01_08.htm
Comunidade Mundial de Meditação Cristã
www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/praia-p%C3%B4r-do-sol-ioga-meditar-1835213/

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