terça-feira, 2 de junho de 2020

ATENÇÃO INCONDICIONAL E ININTERRUPTA


No Sermão da Montanha, Jesus identificou as preocupações materiais como nossa principal fonte de ansiedade. Como podemos nos sentir mais confortáveis e reduzir o sofrimento pessoal? Esta é a maior preocupação que obscurece o momento presente e rompe as verdadeiras prioridades.

"Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento e o corpo mais do que a roupa?" Mt 6:25.

Quando ele diz para não nos preocuparmos, Jesus não está negando a realidade dos problemas diários. Está nos dizendo para abandonarmos a ansiedade e não a realidade. Aprender a não se preocupar é uma tarefa difícil... 

A despeito de seu 'distúrbio-deficiência de atenção', a mente moderna também tem sua capacidade natural de ficar tranquila e transcender suas fixações. Na profundidade, ela descobre sua própria clareza quando está em paz, livre da ansiedade. A maioria de nós tem cerca de meia dúzia de ansiedades favoritas, como doces amargos que mastigamos infinitamente. Ficaríamos assustados se nos livrássemos delas. Jesus nos desafia a superar o medo de abrir mão da ansiedade, o medo que temos da própria paz. A prática da meditação é uma forma de aplicar seu ensinamento à prece; ela prova, por meio da experiência, que a mente humana pode realmente optar por não se preocupar.

Isto não significa que podemos anular facilmente a mente e afastar todos os pensamentos segundo nossa vontade. Na meditação, permanecemos distraídos e, contudo, livres da distração, porque - por mais minimamente que seja a princípio - estamos livres para optar por onde colocar nossa atenção.

Gradualmente, a disciplina da prática diária fortalece essa liberdade. Seria pueril imaginar que conseguiremos plenamente esta liberdade a curto prazo. Permanecemos distraídos por muito tempo. Logo nos acostumamos com as distrações como companheiras de viagem no caminho da meditação. Mas elas não têm que predominar. Optar por dizer o mantra com fé e voltar a ele sempre que as distrações intervêm, exercita a liberdade que temos de prestar atenção. Não se trata de uma escolha no sentido de optarmos por uma determinada marca na prateleira do supermercado. É a opção pelo compromisso. A recitação do mantra é um ato de fé, e não um deslocamento do poder do ego. Em cada ato de fé existe uma declaração de amor. A fé prepara o terreno para que a semente do mantra germine no amor.

Não criamos um milagre de vida e crescimento sozinhos, mas somos responsáveis por seu desenvolvimento. Chegar à paz da mente e do coração - ao silêncio, à tranquilidade e à simplicidade - não exige a vontade de um campeão, mas a atenção incondicional e ininterrupta, bem como a fidelidade de um discípulo.


Dom Laurence Freeman, OSB




Fonte: "Meditação" - Leitura de 09/03/2008 http://www.wccm.com.br/site_antigo/leitura_09_03_08.htm
JESUS,O MESTRE INTERIOR (Martins Fontes, São Paulo 2004), pp. 277-278.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/setas-dentro-press%C3%A3o-solicita%C3%A7%C3%A3o-de-2029157/

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