quinta-feira, 4 de junho de 2020

UM PADRÃO DE MEDITAÇÃO DIÁRIA


Permitir que o padrão da meditação diária prevaleça entre tantos outros padrões da nossa vida, não só imaginária, mas, efetivamente, é um desafio para o que há de melhor em nós; para o melhor em nós. É uma introdução mundana para uma lei cósmica de sacrifício.

Há uma história indiana que nos conta como Vishnu vinha todo dia trazer oferendas para Shiva, colocando mil flores de lótus aos seus pés. Um dia, após alguns milhares de anos desta adoração, ele descobriu, ao deitar as flores de lótus, que havia apenas 999 naquele dia. (Estas coisas acontecem, eventualmente.) Sem hesitar ele arrancou um de seus olhos, lindo, com a forma de uma flor de lótus, para completar a oferenda, colocando-o entre as 999.

A adoração é uma outra forma de compreendermos a auto-renúncia, que é a dinâmica no coração da meditação e de todo amor. Nos oferece uma forma diferente de encarar o sacrifício. Não como uma perda de alguma coisa preciosa, algo arrancado de nós enquanto interiormente esperneamos e gritamos. Mas, como uma oportunidade preciosa para entrarmos em contato com maior bem-aventurança e plenitude. Aceitar, e ceder a estes momentos, é um presente do louvor que reúne todo nosso ser, nos unifica e nos simplifica na súbita alquimia do amor.

Esta é a ação multi-dimensional do mantra na meditação, e esta é a razão pela qual precisamos ser tão simples ao repetirmos o mantra, para que todas estas dimensões sejam harmonizadas e desenvolvidas conjuntamente. Não é apenas um sacrifício de tempo... O sacrifício inclui nossos pensamentos e imaginação, as mil e uma conversações em todos os níveis de nossa mente. Assim como o foi para Vishnu, é uma oferenda de toda nossa forma de ver e conhecer, uma cegueira parcial e temporária, que é um ato de fé, noutra e superior forma de ver e conhecer.

O mantra introduz… na experiência da oração um ato espontâneo de louvor que envolve todo nosso ser. Não apenas dizendo a Deus... quão onipotente, onisciente e onipresente "ele" é. Mas aceitando o convite inerente à nossa verdadeira existência para nos tornarmos como Deus é: pela graça, pela adoção, pelo amor.

Nesta cooperação entre graça e natureza nosso ser torna-se pleno. Cristo, aquele que cura, opera mais unindo profundidade e superfície, o interior e o exterior, na pura dádiva do louvor que é nosso e dele, à medida em que ouvimos o mantra. Como o Padre John Main, OSB ensinou, nossa meditação se torna uma oração mais pura, não só na ação de repetirmos o mantra em face às distrações, mas na facilidade em ouvi-lo.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "Caríssimos Amigos" - Leitura de 06/04/2008
WCCM International Newsletter - Janeiro de 1997 - Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/santo-medita%C3%A7%C3%A3o-ioga-meditando-198958/

Nenhum comentário:

Postar um comentário