quinta-feira, 23 de julho de 2020

MELANCOLIA - TRISTEZA PROFUNDA E VAZIO INTERIOR


A melancolia é um sentimento de tristeza profunda, de vazio interior e de falta de algo muito importante, dentro de si mesmo, que se perdeu. Costuma ocorrer na depressão, sendo acompanhada de dores torácicas e ânsia de choro. Causa mal estar e baixa total do humor. É mais comum nas mulheres, principalmente quando enfrentam perdas e rejeições.

Enquanto a tristeza é um sentimento comum ao ser humano, quer esteja em depressão ou não, a melancolia é uma ocorrência ocasional. Ela é componente sempre presente na depressão e provoca um mal-estar por vezes insuportável.

Acompanhei um caso de uma advogada solteira de 45 anos, que sempre viveu na casa de sua mãe, muito embora tivesse independência financeira suficiente para ter a sua própria. Teve poucos e mal sucedidos relacionamentos amorosos, pois se queixava de não conseguir alguém de quem efetivamente gostasse. Trabalhava num escritório de uma grande empresa. Seus colegas tinham o hábito de convidá-la a sair no último dia de trabalho na semana, a fim de “comemorarem” mais uma boa jornada. Deixaram de fazê-lo após sucessivas negativas dela, que sempre alegava cansaço, além de outras ocupações familiares. Porém, todos sabiam de antemão que seu problema era a falta de vitalidade psíquica, isto é, falta de vontade de viver. Ela era vista como uma pessoa triste e sem motivação para viver. Não era inicialmente depressiva, mas melancólica, reservada e de poucos amigos. Sua depressão só veio acontecer de fato, após a morte da mãe.

Sua melancolia era causada por um forte sentimento de inutilidade e de culpa, desde que sua mãe morrera há onze anos. Quando sua mãe adoecera, dois anos antes de falecer, ela se fechou para o mundo. Dedicara-se a ela para que não sofresse. Amava a mãe e não aceitava, desde que adoecera, a ideia de que ela morresse. Sua mãe padecia de um câncer, cujo desfecho fatal ocorreu após dois anos de tratamento. Ela sofreu muito com a morte da mãe, tornando-se depressiva e melancólica. No fundo, culpava-se pela morte da mãe, achando que poderia ter feito mais por ela e que deveria tê-la amado mais.

Sentia saudades e uma profunda gratidão pelo que a mãe fez por ela, dando-lhe uma boa educação e muito amor. Sabia ser grata à mãe, mas achava que fizera pouco por ela. Queria-a de volta para não sentir culpa. Era mais altruísta de sua parte pensar no retorno da mãe e no pesar de sua morte, do que aceitar que todos um dia devem deixar esta vida. Sua melancolia representava sua incapacidade de aceitar a morte e entender sua providência. Rejeitava a ideia de que era importante aceitar a morte de sua mãe, para que se libertasse de tamanha culpa. Não entendia que já tinha retribuído o amor recebido.

A melancolia é uma saudade que permanece dentro da pessoa, sem que seja adequadamente suprida, cuja saída é a compreensão e aceitação dos fatos como pertinentes e adequados. São eles resultantes do mundo interno de cada pessoa, como respostas às necessidades educativas mais íntimas.

Superar a melancolia é um passo que deve ser dado para que o indivíduo saia de seu mundo egoico e pequeno, no qual se enredou por um processo mórbido de auto-piedade. Para isso deve sair da condição inconsciente de “coitadinho” e de vítima do destino, como se ele fosse obra do acaso, e encontrar em si as razões para que as coisas aconteçam como são. Viver de acordo com um sentido interno que coloca os fatos, simultaneamente como consequentes e como antecedentes ao pensar e ao querer. Os fatos antecedem o querer, pela própria exigência da vida, tanto quanto correspondem ao que se deseja, como respostas à vontade humana.


Adenáuer Novaes



Fonte: do livro "Alquimia do Amor - Depressão, Cura e Espiritualidade"
FUNDAÇÃO LAR HARMONIA, 1ª ed., Salvador/BA, 2004
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/fantasia-humanos-misticismo-m%C3%ADstico-2964231/

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