domingo, 17 de janeiro de 2021

PENSAMENTOS E MEDITAÇÃO


Você poderia falar mais a respeito de nos desapegarmos dos pensamentos que nos ocorrem durante a meditação?


Não acho que nos desapeguemos das coisas; creio que o que mais fazemos é desgastá-las. Se começamos a forçar nossas mentes para fazerem as coisas, estaremos exatamente de volta ao dualismo do qual tentamos nos livrar. O melhor meio de nos desapegar é notar os pensamentos quando aparecerem e reconhecê-los.

"Estou de novo pensando!" Sem julgá-los, então, retornar à nítida experiência do momento presente. Sejam apenas pacientes. Teríamos de fazer isso dez mil vezes, mas o valor de nossa prática é o retorno constante da mente para o presente, inúmeras vezes seguidas. Não procurem aqueles lugares maravilhosos, onde os pensamentos não ocorrerão. Uma vez que os pensamentos basicamente não são reais, em algum momento começarão a ficar obscuros e menos imperativos, e acabaremos percebendo que existem momentos em que desaparecem, porque vemos que não são reais. Já irão sumir com o tempo, sem que saibamos de maneira exata como aconteceu.

Aqueles pensamentos são nossas tentativas de nos proteger. Ninguém quer, de fato, deixá-los de lado; são aquilo a que estamos apegados. Com o tempo, o meio de acabarmos enxergando sua irrealidade está em apenas deixar correr o filme. Depois de o assistirmos umas quinhentas vezes, sem dúvida, ele acaba se tornando monótono!

Há duas espécies de pensamento. Não há nada de errado em pensar no sentido que denomino "pensamento técnico". Precisamos pensar afim de andar daqui até o canto, para assar um bolo ou resolver um problema de física. Esse uso da mente é correto. Não é nem real, tampouco irreal; é só o que é. Porém, opiniões, julgamentos, lembranças, devaneios a respeito do futuro, 90% dos pensamentos que giram em nossa mente não têm qualquer realidade essencial. Do nascimento até a morte, a menos que despertemos, desperdiçamos quase toda a nossa vida em função deles.

A parte horrível do sentar (na meditação Zazen) está em começarmos a ver o que de fato se passa em nossa mente. É chocante para todo mundo. Vemos que somos violentos, preconceituosos e egoístas. Somos tudo isso porque uma vida condicionada, com base em falsos pensamentos, levou-nos a esse estado.

Os seres humanos são essencialmente bons, gentis e compadecidos, mas é preciso um grande esforço de escavação para extrair essa joia das entranhas de nosso ser.


Charlotte Joko Beck



Fonte: do livro "Sempre Zen"
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/imagem-buda-medita%C3%A7%C3%A3o-f%C3%A9-216411/

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