quarta-feira, 29 de setembro de 2021

RESGATE E RENOVAÇÃO


A reencarnação não seria caminhada redentora se já houvesse atendido a todas as exigências do aprimoramento espiritual.

Enquanto na escola, somos chamados ao exercício das lições. Ante a lei do renascimento, surpreenderás no mundo dificuldades e lutas, espinhos e tentações. Reencontrará afetos que a união de milênios tornou inesquecíveis, mas igualmente rentearão contigo velhos adversários, não mais armados pelos instrumentos do ódio aberto, e sim trajados noutra roupagem física, devidamente acolhidos a tua convivência dificultando-te os passos, através da aversão oculta.

Saberás o que seja tranquilidade por fora e angústia por dentro. Desfrutarás a amenidade do clima social que te envolve, com os mais elevados testemunhos de apreço, e respirarás, muitas vezes, no ambiente convulsionado de provações entre as paredes fechadas do reduto doméstico. Entenderás, porém, que somos trazidos a viver, uns à frente dos outros, para aprender a amar-nos reciprocamente como filhos de Deus.

Perceberás, pouco a pouco, segundo os princípios de causa e efeito, que as mãos que te apedrejam são aquelas mesmas que ensinaste a ferir o próximo, em outras eras, quando o clarão da verdade não te havia iluminado o discernimento, e reconhecerás nos lábios que te envenenam com apontamentos caluniosos aqueles mesmos que adestraste na injustiça, entre as sendas do passado, a fim de te auxiliarem no louvor à condenação.

Ergues-te hoje sobre a estima dos corações com os quais te harmonizaste pelo dever nobremente cumprido; entretanto, sofres o retorno das crueldades que te caracterizavam em outras épocas por intermédio das ciladas e injúrias que te espezinham o coração.

Considera, porém, o apelo do amor a que somos convocados dia por dia e dissolve na fonte viva da compaixão o fel da revolta e a nuvem do mal. Aceita no educandário da reencarnação a trilha de acesso ao teu próprio ajustamento com a vida, amando, entendendo e servindo sempre.

Se alguém te não compreende, ama e abençoa. Se alguém te injuria, abençoa e ama ainda.

Seja qual seja o problema, nunca lhes conferirás solução justa se não te dispuseres a amar e abençoar. Onde estiveres, ama e abençoa sem restrições ante a consciência tranquila e conquistarás sem delongas o domínio do bem que vence todo o mal.



Francisco Cândido Xavier / Emmanuel



Fonte: do livro "Encontro de Paz", cap. 11
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A HUMILHAÇÃO E PODER


... Humilhar a alguém é tratá-lo como se tivéssemos o direito a exercer sobre ele algum poder, e tratá-lo como inferior a nós.

A sociedade, tal como a conhecemos, ensina-nos a tirania mútua, do mesmo modo que nos ensina sua falsa justiça.

A submissão de alguns homens a respeito de outros é denominada de relações sociais, muitas das quais não seriam nem boas nem más se a intenção que subjaz às mesmas não fosse uma vontade de poder.

Aqui enquadramos, por assim dizer, nossos atos de obediência, e deixamos passar, sem perceber, os atos de opressão que realizamos sem nem sequer ser conscientes disso. Mas alguns destes atos invadem como um fino pó nossa vida inteira...



Madeleine Delbrêl



Fonte: http://lamiradacontemplativa.blogspot.com/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

MORTE - UM MUNDO EM NÓS MESMOS


Sendo a mente o espelho da vida, entenderemos sem dificuldade que, na morte, lhe prevalecem na face as imagens mais profundamente insculpidas por nosso desejo, à custa da reflexão reiterada, de modo intenso. Guardando o pensamento — plasma fluídico — a precisa faculdade de substancializar suas próprias criações, imprimindo-lhes vitalidade e movimento temporários, a maioria das criaturas terrestres, na transição do sepulcro, é naturalmente obcecada pelos quadros da própria imaginação, aprisionada a fenômenos alucinatórios, qual acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das circunstâncias, a individualidade reencarnada, em vez de retirar-se do aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, sofrendo os reflexos das sensações primárias a que ainda se ajusta.

Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da educação, necessitam do hábito, porque todas as conquistas do espírito se efetuam na base de lições recapituladas.

As classes são vastos setores de trabalho específico, plasmando, por intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são peculiares naqueles que as compõem.

É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é submetido, nos bancos escolares, a determinadas disciplinas, incluindo a experiência anterior dos orientadores que lhe precederam os passos na senda profissional escolhida.

O futuro militar aprenderá, desde cedo, a manejar os instrumentos de guerra, cultuando as instruções dos grandes chefes de estratégia, e o médico porvindouro deverá repetir, por anos sucessivos, os ensinos e experimentos dos especialistas, antes do juramento hipocrático.

Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a infância, a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse ou naquele ramo de estudo, fixando-lhes personalidade particular para determinados fins, sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em forma de lições persistentes e progressivas.

Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho confirmativo do tempo de recapitulações indispensáveis ao domínio do aprendiz em certo campo de conhecimento para efeito de serviço nas linhas da coletividade.

Segundo o mesmo principio, a morte nos confere a certidão das experiências repetidas a que nos adaptamos, de vez que cada espírito, mais ou menos, se transforma naquilo que imagina. É deste modo que ela, a morte, extrai a soma de nosso conteúdo mental, compelindo-nos a viver, transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem, teremos a nossa parcela de céu, correspondente ao melhor da construção que efetuamos em nós, e se esse conteúdo é o mal estaremos necessariamente detidos na parcela de inferno que corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o inferno de purgação merecida, criado por nós mesmos na intimidade da consciência.

Tudo o que foge à lei do amor e do progresso, sem a renovação e a sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais é que a produção de nossos reflexos pessoais acumulados e sem valor na circulação do bem comum, consubstanciando as ideias fixas em que passamos a respirar depois do túmulo, à feição de loucos autênticos, por nos situarmos distantes da realidade fundamental.

É por esta razão que morrer significa penetrar mais profundamente no mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo em despir a túnica de nossos reflexos menos felizes, metamorfoseados em região alucinatória decorrente do nosso monoideísmo na sombra, ou transferindo-nos simplesmente de plano, melhorando o clima de nossos reflexos ajustados ao bem, avançando em degraus consequentes para novos horizontes de ascensão e de luz.



Francisco Cândido Xavier / Emmanuel



Fonte: do livro "Pensamento e Vida"
Via: http://www.caminhosluz.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 21 de setembro de 2021

ATENÇÃO E TENSÃO - ESTADO DE ABERTURA


A natureza da oração é a atenção plena e a meditação é a maneira de ficar totalmente alerta. Quando pensamos em estar alerta, tendemos a pensar que é um estado de consciência difícil de alcançar e ainda mais difícil ser capaz de ficar alerta por um período de tempo - isso porque o associamos a um estado de tensão. Pode parecer querer estar acordado quando precisamos relaxar ou dormir. Podemos escapar dessa confusão, que turva nossa compreensão da oração, se pudermos diferenciar entre tensão e atenção.

A oração é um estado de atenção, um estado de não tensão. É verdade, no entanto, que um certo grau de esforço é necessário para entrar nesse estado de consciência. É o mesmo esforço necessário para perseverar na meditação. O único esforço é o esforço da perseverança. Uma vez que assumimos o compromisso de que vamos meditar, o paradoxo se torna a regra que ilumina tudo na meditação. O esforço torna-se fácil e, em vez de tensão, encontramos paz.

O estado de alerta que vivemos não é tanto de tensão como de paz, uma ordem profunda, que nos dá verdadeira tranquilidade. A única tensão exigida é a tensão exigida para o que se relaciona com um estado de expansão; a ordem contém sua própria tensão.

Devemos lembrar que é para esse estado de paz que fomos criados. O estado de alerta, de paz desperta e abertura, é o estado mais natural que somos convidados a experimentar. Sua naturalidade explica por que somos tão inquietos e infelizes até encontrarmos nosso caminho neste estado de consciência. Tendemos a imaginar que esse estado de alerta é apenas como um estado de espera, enquanto dizemos nosso mantra até ... o quê? Ficamos com a ideia de esperar e não gostamos da ideia de esperar indefinidamente. Na verdade, gostamos que as coisas venham de acordo com nossa conveniência. Ter que esperar pode parecer que envolve alguma humilhação, como chegar ao fim de uma linha. Mas esperar é apenas uma metáfora tirada do mundo do tempo e então querer aplicá-la a algo atemporal.

O que esperamos, de fato, já está em nós. Já foi alcançado e Jesus alcançou esse estado de realização. Ele está alerta, atento, em paz. É em oração. Ele o transcendeu no tempo, por toda a eternidade. Portanto, quando meditamos e esperamos pelo Senhor, não estamos esperando que algo aconteça. Estamos simplesmente esperando por algo que já está acontecendo e já foi realizado. E quando isso for alcançado, não dizemos: "Ah, finalmente vai acontecer." Em vez disso, diremos "Agora reconheço o que sempre fui". Esse estado de consciência de que fala Jesus - estar acordado, alerta - é o estado de realização que, quando meditamos, nos faz perceber a nós mesmos. Em essência, é um processo de abertura e não de concentração.



Dom John Main, OSB



Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón; e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón
www.permanecerensuamor.com
permanecerensuamor@gmail.com
Ixtapa, México
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A MUDANÇA SOCIAL SEGUNDO MOSHE CORDOVERO


A vitória da justiça e da fraternidade pode ocorrer tão logo haja o número necessário de cidadãos honestos. Até lá, deve-se aceitar o fato de que a natureza humana é imperfeita e precisa ser aprimorada de dentro para fora. É sábio implementar a estratégia da alma imortal, e desenvolver a política do coração. Moshe Cordovero, um rabino que viveu no século 16, pode ensinar lições sociológicas de grande importância.

Séculos atrás, membros da comunidade judaica de Safed estudaram a tradição da Cabala seguindo um curso apresentado por Moisés, ou Moshe Cordovero (1522-1570).

O ensinamento transmite a mesma ética e sabedoria presentes no que há de melhor em outras religiões e filosofias, e nas comunidades saudáveis ao redor do mundo. [1]

As lições consistiram em pontos práticos e mostraram treze níveis de misericórdia do indivíduo equilibrado em relação aos seus semelhantes, incluindo os adversários:

1) Calmo autocontrole em face do insulto.

2) Paciência ao suportar a maldade.

3) Perdão, a ponto de esquecer a maldade sofrida.

4) Identificação total com o seu próximo.

5) Ausência completa de raiva, combinada com a prática da ação correta.

6) Compaixão, a ponto de relembrar apenas as boas qualidades daquele que nos atormenta.

7) Eliminar todo desejo de vingança.

8) Esquecer o sofrimento causado a si pelos outros e lembrar o bem.

9) Compaixão pelos que sofrem, sem condená-los.

10) Sinceridade.

11) Compaixão além da letra da Lei com os bons.

12) Ajudar os injustos a melhorar, sem condená-los.

13) Ver todos os seres humanos sempre na inocência de sua infância.

Esses princípios fundamentais podem inspirar uma atitude equilibrada em relação aos problemas sociais. As tentativas de aplicá-los mecanicamente a cada nação e a todos os aspectos da sociedade seriam inúteis, mas avançar passo a passo em direção a eles é sábio.

Como comentário ao item 10, “Sinceridade”, cabe lembrar algumas frases de Helena P. Blavatsky.

A teosofista russa escreveu:

“O nosso lema é e será sempre ‘não há religião superior à verdade’. O que procuramos é a verdade, e, uma vez encontrada, nós a colocamos diante do mundo, aconteça o que acontecer”. [2]

A verdade, naturalmente, é imparcial e não deseja derrotar ninguém. O ódio é uma ilusão passageira. Por outro lado, o respeito incondicional e a cooperação realista são partes duradouras da realidade.



Carlos Cardoso Aveline



NOTAS:

[1] “Teachings of the Jewish Mystics”, Compiled and Edited by Perle Besserman, Shambhala Inc., Boston & London, 1998, 150 pp., veja p. 46.

[2] “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, Adyar/Wheaton, Volume IX, p. 7.



Fontes: O texto acima traduz um trecho do artigo “Moshe Cordovero and Social Activism”: https://www.carloscardosoaveline.com/moshe-cordovero-and-social-activism/.
O texto original também está disponível no blog teosófico de “The Times of Israel”: https://blogs.timesofisrael.com/moshe-cordovero-and-social-activism/
Outros textos: https://www.filosofiaesoterica.com
Fonte da Gravura: Capa do livro "Tamareira de Devorá", de Moshe Cordovero, Ed. Sêfer, São Paulo

DE PASSAGEM


Conta-se que no século XIX, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egito.

Seu objetivo era visitar um famoso rabino.

O turista ficou surpreso ao ver que o rabino morava num quarto simples, cheio de livros.

As únicas peças de mobília eram uma mesa e um banco.

— Onde estão os seus móveis? — perguntou o turista.

E o rabino, bem depressa, perguntou também:

— Onde estão os seus?

— Os meus? — Disse o turista. — Mas eu estou aqui de passagem!

— Eu também! — Disse o rabino.

A vida está além da dimensão do corpo carnal, exuberante e luminosa, aguardando todos que a enfrentarão.



Divaldo Pereira Franco



Fonte: do livro "Anotações Espíritas", FEB, 1ª ed., 2013
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/sala-de-estar-tapete-sof%c3%a1-1853203/