quarta-feira, 30 de março de 2022

O OUTRO LADO DA VIDA


Se for verdade, como afirma Kant, que o bem estar da humanidade depende da metafísica, é evidente que a questão da imortalidade tem para nós uma importância primordial.

... Lucrécio compara o nascimento do homem a um naufrágio; as ondas nos lançam nus e abandonados em praias desconhecidas. ("Ut saevis projectus ab undis navita nudus humi jacet")

Por que razão e com que fim, emergidos do oceano das idades, fomos deixados nas ribas terrestres? Não o sabemos; e tudo quanto precede esse naufrágio nos é de tal forma desconhecido que consideramos o nascimento como o começo de nossa existência.

Chegamos à Terra com uma consciência vazia, e os conhecimentos que essa inconsciência adquire, no decorrer da vida, só dizem respeito aos objetos com que entramos em relação. Mal sabemos se nos assiste o direito de fazer perguntas sobre o que aconteceu antes do nascimento e sobre o que haverá depois da morte; só temos noções do curto período que vai do berço ao túmulo.

O homem dá-se como o rei da criação, mas o seu reino só compreende um dos astros mais insignificantes do firmamento. Orgulhamo-nos da nossa consciência pessoal, que nos torna superiores aos animais; mas sobre os animais, que não compreendem que são mortais, apenas temos a vantagem duvidosa de poder encarar a morte com segurança; e, embora tenhamos a noção da imortalidade, não estamos perfeitamente certos disso.


Barão Carl Du Prel



Fonte do texto e gravura: do livro "O Outro Lado da Vida"

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