sexta-feira, 23 de setembro de 2022

ORA ET LABORA - TRABALHO E ORAÇÃO


O trabalho e a oração eram para os Padres e Madres do Deserto o caminho para alcançar a oração incessante: “Aquele que acompanha sua oração com as suas obrigações e as suas obrigações com a oração, reza incessantemente. Só assim é possível cumprir o mandato de rezar sempre. Consiste em observar a existência cristã como uma única grande oração. O que costumamos chamar de oração é apenas uma parte disso.” (Orígenes, “Tratado sobre a Oração”)

É importante lembrar que, tanto no deserto egípcio quanto nos mosteiros, os monges eram completamente autossuficientes: os monges e as monjas cultivavam seus alimentos, cuidavam de suas construções e da saúde e bem-estar de seus irmãos e irmãs e a comunidade que os cercava. Os Padres e Madres do Deserto também trabalhavam para se sustentar; faziam cordas, teciam tapetes e cestos e faziam sandálias que depois vendiam no mercado para comprar as necessidades da vida. Alguns trabalhavam como diaristas no fértil vale do Nilo ou no processo de tecelagem de linho. Até os convidados, depois de uma semana de carência, tinham que trabalhar. Eles desaprovavam aqueles que usavam a oração como desculpa para não trabalhar.

Alguns monges vieram ver o abade Lucius e disseram: “Não trabalhamos com as mãos; obedecemos à ordem de Paulo de orar incessantemente”. O velho perguntou-lhes: "Vocês não comem nem dormem?" Eles responderam: "Sim, nós o fazemos". Ele disse: "Quem ora por vocês enquanto dormem? Com licença irmãos, mas vocês não praticam o que dizem. Eu vou mostrar-lhes como eu rezo sem parar, mesmo que eu trabalhe com minhas mãos: Com a ajuda de Deus, pego algumas palmas e me sento para tecê-las, dizendo: 'Com sua imensa bondade, tem misericórdia de mim, ó Deus; perdoe minhas ofensas com sua infinita misericórdia.'" Ele lhes perguntou: "Isto é oração ou não?" Eles responderam: "Sim, é". E ele continuou: "Quando trabalho e oro em meu coração por um dia inteiro, eu ganho cerca de 16 pences. Dois deles eu deixo do lado de fora da minha porta e com o resto compro comida. Aquele que encontra os dois pences do lado de fora da minha porta reza por mim enquanto eu como e durmo. E assim, com a ajuda de Deus, rezo incessantemente."

Neste mundo moderno, todos podemos combinar trabalho e oração através da meditação, o que de fato leva à oração incessante: "Normalmente começamos recitando o mantra, mas à medida que avançamos descobrimos que é preciso menos esforço para perseverar em repeti-lo ao longo do tempo da nossa meditação. Então, parece que não estamos tanto pronunciando o mantra em nossas mentes, mas deixando que ele ressoe em nossos corações. É neste momento que nossa meditação realmente começa: em vez de dizer ou deixar o mantra ressoar, começamos a escutá-lo a cada momento com uma atenção cada vez mais profunda." (John Main, “Uma Palavra Silenciada”)

A partir desse momento, mesmo fora do nosso tempo de meditação, estamos conscientes do mantra que está ressoando em nosso ser, independentemente do que estamos fazendo. No trabalho, quando o silêncio cai de repente, ouvimos nosso mantra ressoando por todo o nosso ser; quando acordamos à noite, lá está ele. É a nossa âncora no meio das tempestades da vida.



Kim Nataraja




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
Traducido por WCCM España
http://wccm.es/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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