quinta-feira, 6 de outubro de 2022

OBEDIÊNCIA - OUVIR COM ATENÇÃO


O primeiro dos votos beneditinos é o de obediência. A raiz latina desta palavra, "ob-audire", significa "ouvir com atenção".

Os cristãos do deserto foram obedientes, ouviram com atenção: a Deus, aos mandamentos, que no deserto se chamavam bem-aventuranças, e a seu "Abba" e "Amma", seus pais e mães espirituais. Um dos anciãos disse que Deus pede aos monges e monjas dois tipos de obediência: que eles obedeçam às Sagradas Escrituras e que obedeçam a seus Pais e Mães espirituais.

O objetivo desta escuta profunda é silenciar os desejos do ego, nosso próprio desejo e aprender a ouvir a "voz mansa e delicada" dentro do nosso ser mais profundo, a vontade de Deus. A obediência está, portanto, intimamente relacionada às virtudes da pobreza e da humildade, conhecer nossa necessidade de Deus e conhecer nossas próprias limitações.

A essência da meditação também é escutar atentamente, escutar nosso mantra ressoando por si mesmo em nosso ser. Lembremo-nos do que disse John Main: "Nossa meditação realmente começa quando, em vez de pronunciar o mantra, começamos a ouvi-lo envolto em atenção cada vez mais profunda." (John Main, OSB, "A Word Made Silence")

Silenciando nossos pensamentos, colocando nossa atenção no mantra e deixando para trás nossas imagens condicionadas, que muitas vezes são resultado de nossas feridas emocionais, transcenderemos nosso "ego", a parte consciente de nosso ser. Então, com o tempo, seremos capazes de deixar nosso verdadeiro eu, a centelha divina dentro de nós, permear todos os nossos pensamentos e ações. A atenção concentrada é a essência da oração, como enfatizou Evagrius (Evágrio Pôntico): "Quando a atenção busca atenção, ela a encontra. Porque se há algo que acontece no caminho da atenção é a oração e, portanto, deve ser cultivada."

A mesma atenção deve ser dada às Escrituras. A cultura do século IV ainda era em grande parte uma cultura oral e as Escrituras eram lidas em assembleias semanais – chamadas synaxis. Prestar atenção era essencial...

Depois de ouvir as escrituras, os monges do deserto deveriam ir para suas celas e repetir um ou dois versos que os tocassem ou ressoassem particularmente. Eles não devem refletir sobre seu significado, mas internalizar as palavras e deixá-las que lhes falassem pessoalmente. Isso poderia levá-los à oração e à contemplação, estando na presença silenciosa de Deus. Esta disciplina tornou-se "lectio divina" na tradição beneditina: lectio, meditação, oração e contemplação. A repetição das palavras sagradas leva ao silêncio da verdadeira contemplação. Isso é realmente parte da disciplina e prática da meditação, como John Main e Laurence Freeman nos ensinaram. "Precisamos ler as Escrituras, saboreá-las e deixar as Escrituras nos inspirarem", como aponta Laurence Freeman, OSB. E então permitiremos que influencie a maneira como conduzimos nossas vidas.



Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana - http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e em português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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