quinta-feira, 29 de maio de 2025

CONSTRUÇÃO DO CORPO ESPIRITUAL


O trabalho do discípulo é construir em si um corpo espiritual que lhe permita nascer uma segunda vez. Ele possui a ideia: o Reino de Deus e a sua Justiça, a perfeição, a harmonia celeste, e agora falta-lhe acumular os materiais para construir o edifício.

Na realidade, desde que a ideia lá esteja, os materiais virão por si. Quando tendes a ideia, o plano, e o expondes, ele atrai do Cosmos todos os elementos que vêm distribuir-se segundo as linhas diretrizes desse plano. O vosso trabalho deve ser apenas manter firmemente o plano no vosso coração e na vossa alma. É assim que se forma o vosso corpo espiritual, o corpo da glória, o corpo do Cristo. Aquilo a que se chama o segundo nascimento é a formação, pelo homem, desse corpo luminoso, que lhe permite viver e agir no plano espiritual.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com

Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/pentecostes-esp%C3%ADrito-santo-9568814/

ENCONTRO COM DEUS (Temas de Cabala)


Para incitar ao homem a buscar o conhecimento de Deus, a Torá formula um mandamento: conhece a Deus. Mas, para que o homem sinta que é capaz de empreender tal esforço, é necessário que o despertar de seu desejo de empreender a busca venha do Alto. A iniciativa, pois, vem do céu (do Alto): va-yeda Elohim..., "o Senhor conheceu aos filhos de Israel", e teve piedade de seu miserável estado no Egito; lhes enviou a Moisés para dizer-lhes que "Ele é o Eterno", que se interessa pelos assuntos humanos, "que os quer retirar de suas tribulações no Egito, que os adota como seu povo, a fim de que o conheçam". (1)

Em seu amor ao homem, Deus lhe faz saber que o conhece e que o homem pode também conhecê-lo. Uma voz celeste lhe murmura ao ouvido: levanta-te! Pois "não há homem que não tenha sua hora": a hora em que essa chamada se faça perceptível.

O que deve fazer o homem quando é solicitado por Deus? Como pode chegar até seu interlocutor? Acabará por reconhecê-lo se o "busca com todas as suas forças e com toda a sua alma". (2) Mas, acaso haverá algum caminho que conduza até Ele para chegar a conhecê-lo? O profeta o indica assim: "Eleva o olhar e observa: Quem criou estas coisas? Ele é quem fez sair seu exército em ordem e quem chama por seu nome a todas as coisas; é tal a grandeza de seu poder e sua força poderosa que nenhuma delas deixa de obedecer-lhe". (3) Este versículo do profeta que se tornou, por assim dizer, clássico, foi utilizado sobretudo pelos racionalistas judeus da Idade Média, que queriam estabelecer a demonstração naturalista, 'a posteriori', da existência de Deus. A natureza, criada e ordenada, despertou sua intuição de um Deus criador e ordenador. Em sua opinião, esta passagem de Isaías traduz, em linguagem bíblica, o conceito aristotélico do princípio das coisas ou primeiro impulso do cosmos. Os racionalistas judeus reelaboraram e ampliaram esta intuição na ideia de um Deus pessoal que mantém e cultiva sua obra e que se interessa pelas suas criaturas, sobretudo pelo homem. Também a cabala fez uso desse versículo, não para demonstrar a existência de Deus, senão que para indicar ao homem como pode encontrá-lo e vivê-lo. Não deduz a ideia de Deus a partir da obra da natureza, senão que, pelo contrário, deduz a ideia da natureza da obra de Deus. Tal é a interpretação do Zohar: "Está escrito: 'no principio'. Rabi Eleazar abriu uma de suas conferências com o seguinte prólogo: 'Eleva teu olhar e considera quem criou todas as essas coisas'. 'Eleva teu olhar' para o local em que estão fixos todos os olhares... E então compreenderás que o misterioso Ancião, eterno objeto das investigações, 'criou essas coisas'. 'E quem é Ele'. MI? (Quem?), Aquele que foi chamado 'a Eternidade do céu' (4), nas alturas; porque tudo está em seu poder. Acaso se chama MI porque é o objeto eterno de busca e porque está em um caminho misterioso e porque não se deixa ver?... Esta extremidade superior do céu é chamada MI (Quem?). Mas existe também uma extremidade inferior chamada MA? (que?). A primeira, misteriosa, chamada MI, é o eterno objeto de busca. Quando o homem empreende esta busca e quando se esforça por meditar e subir degrau por degrau até o final, acaba por chegar ao MA? O que aprende? O que compreende? O que buscou? De fato: tudo permaneceu tão misterioso como antes."

"E Rabi Shimon, dirigindo-se a seu filho, fala como segue: 'Eleazar, meu filho, continua explicando o versículo para que seja revelado o mistério que os filhos deste mundo ainda não conhecem'. E como Rabi Eleazar guardasse silêncio, Rabi Shimon disse: 'Eleazar, o que significa a palavra ELEH (aquilo, essas coisas)?...' Esse mistério não me foi revelado até o dia em que o profeta Elias me apareceu enquanto eu estava na margem do mar. Disse-me: 'Rabi, tu sabes o que significam as palavras MI BARA ELEH? (Quem criou as essas coisas?)' E eu lhe respondi: ELEH significa os céus e os corpos celestes; a Escritura recomenda ao homem contemplar as obras do Santo, bendito seja, como está escrito: 'Quando considero os céus, obra de tuas mãos...'; e um pouco mais adiante: 'Deus, nosso Senhor, quão admirável é teu Nome em toda a Terra'. (5) Elias me replicou: 'Rabi, essa palavra encerra um segredo; foi pronunciada diante do Santo, bendito seja, e seu sentido foi ocultado na escola celestial; é este o sentido: quando o Mistério de todos os mistérios quiz manifestar-se..., revestiu-se com uma túnica preciosa e resplandecente e criou ELEH (aquilo, todas as coisas), que se agregaram a seu Nome. ELEH somado a MI (invertido = IM) formou ELOHIM'." (6)

A interpretação desse importante versículo de Isaías, tal como nos oferece o Zohar, corresponde ao conceito original que a Bíblia nos dá de Deus. Quando o livro do Gênesis relata a criação do mundo, insiste o mesmo na obra realizada por Deus que nas ordens e exigências formuladas por Ele durante a realização de sua obra criadora. E o relato do Gênesis nem sequer se refere a seu modo de consumação. Desde o princípio nos põe diante do Criador, que não é um poder impessoal: nos incita a estabelecer relações com Ele, relações que Ele já iniciou com nossos pais e nas quais já fomos comprometidos.

Esta individualidade que é Deus leva um nome, ELOHIM, que indica sua qualidade de Criador. Como interlocutor do homem, levará um segundo nome, inefável, que simboliza o Tetragrama YHVH (YUD, HEI, VAV, HEI). Este Deus age. Cria, BARA, o universo em um momento determinado, que fixou como ponto de partida do tempo: BERESHIT. (7) E neste universo criado atualmente existimos. Encontramo-nos diante do mesmo Deus, com o qual estamos atualmente relacionados.

O acontecimento único da criação "dos céus e da Terra" é designado BARA, "criou", pretérito indefinido. Seguem duas formas verbais cujo alcance é reduzido e cujo significado é secundário: praticamente desaparecem diante do vigor e a grandiosidade do primeiro. ("Então a Terra era informe e vazia... e o espírito de Deus se movia sobre as águas.") Deus trabalha para dar forma a sua criação e proporcionar um objetivo a sua obra produzida no "começo" por uma ação repentina: "Fala", "considera", "distingue" e "chama". A Bíblia nos relata assim todas as sucessivas etapas que, encadeadas, permitiram a este universo apenas "começado" a converter-se em uma obra completa, mas não acabada: Deus "produziu esta obra para ser feita". (8) As ações divinas que nos relata a Bíblia não estão ditas com um pretérito indefinido, senão com um passado orientado ao futuro: VA-YOMER, VA-YAR, VA-YAVDEL, VA-VIKRA... Deus ordenou e continua ordenando; e ordenará sempre que determinadas coisas se façam, com o fim de indicar ao homem o uso que deve fazer delas. (9)


Rabi Alexandre Safran


Notas:

1 - Ex 6, 6-7; cf. Zohar II, 25a-b.

2 - Dt 4, 29; cf. Jr 29, 13; ICr 28, 9; IICr 15, 2.

3 - Is 40, 26.

4 - Dt 4, 32.

5 - Sl 8, 4, 10.

6 - Zohar I, 1a-2, a; cf. Zohar II, 138, a; 197, b; 231, a; Tikunei Zohar, Tikune 49.

7 - Gn 1, 1; cf. Rabi Eliahu de Vilna, Aderet Eliahu, Gn I, 1, p. 9; Maimônides, More Nevuhim II, 30.

8 - Gn 2,3.

9 - Cf. Zohar I, 47, a; Sefer haBahir 57.


Fonte: LA CÁBALA

Ediciones Martínez Roca, S.A., 1976

Barcelona, España

Original: LA CABALE

1972, Payot, Paris, France

Traducción (español): Carlos Ayala

Tradução (português): deste blog

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quarta-feira, 28 de maio de 2025

A FONTE CELESTE


É ligando-nos à Fonte Celeste que fazemos correr a nossa própria fonte.

Primeiro, no nosso coração, pelo amor. Aconteça o que acontecer, sejam quais forem as amarguras, as decepções, as provações, devemos deixar sempre aberta a fonte do amor, pois é assim que o nosso coração se purifica.

Ao intelecto, a Fonte Divina desce como luz. Graças a essa luz, evitamos as ciladas, os obstáculos, discernimos qual a via a seguir e avançamos com segurança nessa via.

Ao penetrar na alma, a Fonte Divina dilata-a até aos confins do Universo; confundimo-nos com a imensidão, contemos dentro de nós todas as criaturas, abraçamos o mundo inteiro.

Quando tivermos conseguido fazer jorrar a fonte no nosso coração, no nosso intelecto e na nossa alma, ela fundir-se-á com a Fonte Primordial, que é o nosso espírito, que é o próprio Deus, e assim nos tornaremos poderosos como Ele.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
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terça-feira, 27 de maio de 2025

A AVENTURA DE DESCOBRIR QUEM SOMOS


Se em vez de nos chamarmos pelo nosso nome, nos chamássemos de outra coisa, ainda seríamos nós? E se morássemos em outro lugar? Se tivéssemos outra profissão?... O que nos faz continuar a ser eu, apesar das possíveis variáveis? O que significa ser eu?

Segundo o psicoterapeuta e ensaísta suíço C. Gustav Jung, o Self é o centro interno do ser humano que inclui o consciente e o inconsciente, e corresponde simplesmente a ser, a ser autenticamente, a estar no centro. Mas o Eu deve coexistir com o ego, o núcleo consciente da pessoa, que é responsável por se apresentar, brilhar, viver as suas próprias necessidades e colocar-se no centro. Não há, portanto, uma pequena diferença entre “ser” e “posicionar-se” no centro.

Do ego vêm os nomes egoísmo, egomania, egocentrismo etc. Uma série de termos que têm muito a ver com mau relacionamento com os outros, arrogância, manipulação, confundir o pensamento com a verdade absoluta, vontade de impor a nossa forma de ver as coisas...

Mas, em si, o ego não é algo repreensível. É, em grande parte, constituído pelo conjunto de papéis que desempenhamos no “grande teatro do mundo”, e que os vestimos com diferentes ‘trajes’ que poderiam ser adaptados a cada um dos papéis.

O ego faz parte de nós, constitui o suporte da nossa personalidade: apresentamos-nos como engenheiros, educadores, médicos etc. Destacamos os nossos méritos acumulados quando vemos o nosso prestígio atacado ou consideramos oportuno reconhecer o nosso valor etc. E, na realidade, tudo isso nos pertence, mas não constitui o nosso verdadeiro ser.

Quando olhamos para o nosso passado, em relação ao presente, percebemos que muitas coisas mudaram em cada um de nós: aparência física, capacidades físicas e intelectuais, interesses, hobbies etc., mas permanece algo que nos torna conscientes de continuar sendo o mesmo.

Eu sou eu e minhas circunstâncias, disse Ortega; e esse Eu, ao contrário das nossas circunstâncias, é o que permanece vivo, enquanto elas mudam ou desaparecem.

Pelo contrário, o ego não tem vida própria. É algo que se 'gruda' no eu para poder participar da sua vida, porque 'sabe' que não vai sobreviver, que vai morrer quando a nossa dimensão humana neste mundo desaparecer, como Teilhard de Chardin o disse. É por isso que precisa alimentar-se continuamente dos subterfúgios do poder, das posses e da fama, para ganhar a ilusão tola de participar da imortalidade do Eu.

Mas não vamos sobrecarregar o ego com culpas que não lhe pertencem. Devemos representar os papéis que nos foram atribuídos nesta vida de forma profissional e honesta. O que nos traz dificuldades, insatisfação e infelicidade é a identificação com o nosso ego que pode ter sido colocado no centro, pois assim teríamos suplantado o nosso Eu pelo papel que estou desempenhando.

Comentando as parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa, como imagens que representam a si mesmo, o beneditino Anselmo Grün vem nos contar algo que pode nos ajudar a compreender a aventura que temos considerado: o tesouro e a pérola são imagens que representam o verdadeiro Eu.

O tesouro está enterrado no campo. Devemos chegar às profundezas da terra, para lá encontrá-lo: cavar no campo das nossas almas, e também no corpo do nosso ser humano porque o nosso Eu se expressa no nosso corpo. Se alguém se tornou ele mesmo, podemos ver isso em seu comportamento e em sua maneira de se comunicar com os outros.

A imagem da pérola preciosa, pela qual um comerciante vende os seus bens para comprá-los, tal como no caso do tesouro, mostra-nos outro caminho para o verdadeiro Eu. A pérola cresce nas feridas da ostra. Trata-se justamente de descobrir as pérolas nas feridas da própria história de vida, porque esse é o nosso verdadeiro Eu, sabendo também que, se descobrimos a pérola, a ferida deixa de doer.

Quão importante deve ser descobrir quem somos, e o comportamento mais inteligente que estas parábolas sugerem é "vender tudo o que temos" para “comprar” o que acabamos de descobrir.

Já no século IV aC. C., Sócrates disse: conheça a si mesmo e conhecerá o universo e os deuses. Uma grande aventura que temos ao nosso alcance.


Ignácio Gallego



Na verdade, toda a nossa peregrinação espiritual se resume em sermos capazes de responder à pergunta: Quem somos nós? (comentário da Comunidade Meditação Cristã)

Artigo publicado em 01/02/2023 no ABC de Sevilha.

Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/budismo-theravada-freiras-medita%C3%A7%C3%A3o-3818886/


Nota:

segunda-feira, 26 de maio de 2025

MI e MA (QUEM e QUE) – TEMAS DE CABALA


O que impressiona o homem e o atormenta, e o deixa ansioso para poder compreender a sua origem e a tudo o que o rodeia e o leva a formular, não sem angústia, esta questão: Quem poderia ter criado o universo que em sua totalidade  e harmonia nos deixa desconcertado? É assim que Rabi Eleazar, filho de Rabi Shimon ben Yochai, esclarece: "Levantai os vossos olhos ao alto e pense em quem criou tudo isso." "Lá", acrescenta ele, "examinando cuidadosamente e profundamente você saberá que 'o misterioso e eterno ANCIÃO', objeto de nossa busca, criou isso, ou seja, o universo. E quem é ELE (MI = QUEM)? É aquele que é chamado de 'Extremidade do Céu nas alturas', porque tudo está em seu poder. Por que é chamado de MI? É porque ele está em um lugar misterioso, e não se revela. Além desta consideração, não podemos abordar."

Note que o termo MI (quem) especifica a misteriosa designação de Deus, e implica, a partir de uma combinação de letras, um senso metafísico que compreende o universo. Na verdade, MI está em estreita ligação com MA (que). Neste caso existem duas extremidades, uma superior, no Céu, chamado MI, a outra, abaixo, chamado MA.

O Zohar explica, em outras palavras, que quando o Mistério de todos os mistérios queria manifestar-se, ele primeiro criou um "ponto", que originou o Pensamento Divino; em seguida ele formou todos os "tipos de imagens", e gravou todos os tipos de imagens e, finalmente, gravou a lâmpada sagrada e misteriosa, uma imagem representando o mistério mais sagrado, obra profunda saída do Pensamento Divino. Porém, isso foi só o começo da criação, que mesmo já então existente sem contudo existir ainda de forma explícita. Permanecia ainda oculta no Nome e chamando-se a si mesmo apenas de MI. Então, querendo manifestar-se e ser chamado pelo seu Nome, Deus "vestiu-se de uma veste" preciosa e resplandecente, e criou ELEH (aquilo, estes), que foi adicionado ao seu Nome.

A palavra ELEH (aquilo, estes), assim como MA (que), não é algo separável daquilo que se constitui a natureza de Deus. Este algo supremo que se originou no todo da magnitude do Pensamento Divino, é apenas a manifestação tangível de Deus, em suas obras. Além disso, por um jogo de palavras muito frequente, o Zohar obtém a palavra ELOHIM, adicionando ao MI, ao reverso (1) (IM), à palavra ELEH (ELEH+IM - ELOH+IM). ELOHIM implica, neste sentido, um símbolo completo; isto é, a entidade do Todo, já que Deus e o Universo são um. Dito de outra forma, com o termo ELOHIM, que é a denominação de Deus em si mesmo, e com o termo ELEH (essas coisas, aquilo, estes), o universo constitui-se da união de Deus e as "coisas". Além do ELEH, a importância de MA é enfatizada nesta declaração de Rabi Shimon: "O céu e todos os corpos celestiais foram criados usando MA."

Esses traços panteístas que destacam as características intrínsecas do todo, são explicadas da seguinte forma: "Uma luz", diz Rabi Shimon, "cria outra; uma encobre outra e se unem ao Nome do Altíssimo. MA, que está abaixo, ainda não existia explicitamente, e só foi explicitado no momento o qual as letras emanaram umas das outras. ELEH, da alturas, derramou ELEH para baixo, qual uma mãe empresta suas roupas à filha e a adorna com suas joias. E quando ela a enfeitará com suas joias convenientemente? Quando todos os homens aparecerem diante do Senhor Todo-Poderoso, como está escrito em Êxodo 34, 23: 'Três vezes ao ano aparecerá todo o varão de teu povo diante do Senhor, o Eterno, Deus de Israel.' É aqui chamado de Senhor, como está escrito em Josué 3, 2: 'A Arca da Aliança, do Senhor de todos na Terra.' Se substituirmos a letra HEI (ה), da palavra MA (מה), que é a imagem do princípio feminino pela letra YUD (י), de MI (מי), que é a imagem do princípio masculino, e se a isso adicionarmos as letras ELEH (אלה) que emanam do alto, através de Israel, formamos ELOHIM (אלהים) que está abaixo" (Zohar 1, 2a).

O todo parece, assim, emergir de uma aparente dualidade, simbolizada pela dissociação de dois elementos: MI e MA. Diz-se aparente porque de fato o Zohar declara formalmente que o MI do alto e o MA de baixo são, na realidade, uma e a mesma coisa. Além disso, quando dizemos que MA vem de MI, não devemos tomar as palavras ao pé da letra (Zohar 1, 2a). Da mesma forma, os termos MI e ELEH, símbolos da dualidade 'de cima' e 'de baixo', são a mesma coisa. O Santo, bendito seja Ele, diz o Zohar, criou as formas das "grandes letras" às quais correspondem às letras pequenas daqui de baixo. Isto é porque as duas primeiras palavras das Escrituras têm duas letras BEIT (ב) como iniciais (BERESHIT e BARA (בראשית ברא)), e as duas palavras seguintes duas letras ALEF (א) (ELOHIM e ET (אלהים את)) para indicar as letras celestes, de cima, e as deste mundo, de baixo. Não são, na realidade, mais que as únicas e mesmas letras com as quais é tudo operado no mundo celestial, de cima, e no mundo de baixo (Aqui novamente a dualidade desaparece para resultar em uma única substância).

A dualidade não reside na distinção, tão frequentemente cogitada, entre ELOHIM e IAVEH (אלהים יהוה). Eles são um, apesar de certas nuances particulares e específicas para cada um deles (2). Aqui está como o Zohar resolve essa distinção: "Este mistério está resumido nas palavras das Escrituras: 'Que as luzes (MEOROTH (מארת)) sejam feitas no firmamento dos céus...'" (Zohar 1, 12a). A palavra “luzes” (MEOROTH) é escrita sem a letra VAV (ו), o que indica um singular para nos dizer que as duas luzes não são mais do que uma unidade indivisível. Do mesmo modo que a luz, vista através de um prisma, parece ser composta de cores brancas e escuras, embora na realidade seja uma só cor, da mesma forma as essências divinas formam uma só unidade. Também isso nos remete ao verdadeiro significado da coluna de fumaça branca durante o dia e a de fogo durante a noite indo diante de Israel na travessia do deserto. Essas duas colunas eram o símbolo das duas essências divinas que correspondem ao dia e à noite; e uma se funde com a outra para iluminar o mundo. (3)

A essência divina, portanto, não implica nenhum somatório (4), nenhum número. "O Senhor é único e não há um segundo e, antes do Uno, que se poderia contar?" (Sefer Yetzira 1, 6).

Se o Zohar se preocupa em insistir no caráter da dualidade (fictícia), é com vistas a identificar mais a estrutura íntima do universo, para nos levar a compreender adequadamente sua essência. Na essência do misticismo judaico, existe apenas um Ser Supremo, Deus, que envolve absolutamente tudo. Tudo está nele, tudo é rigorosamente determinado por ele.


HENRI SÉROUYA


Notas:

1- Metátese: troca de lugar de fonemas ou sílabas dentro de uma palavra.

2- Esta distinção entre ELOHIM e IAVEH é explicada da seguinte maneira pelo Zohar: ELOHIM, como Criador, expressa a Presença de Deus no universo. IAVEH expressa a manutenção, a duração desta Presença. No primeiro capítulo do relato do Gênesis, ELOHIM aparece sozinho, IAVEH só é acrescentado a ele no segundo capítulo. No Deuteronômio 4, 35, as palavras IAVEH é ELOHIM significam que ELOHIM se funde em IAVEH. O Zohar acrescenta que desde o exílio de Israel (a maldade que oprime a justiça), o poder divino aparenta ser invisível, MI parece separado de ELEH, como se toda a economia cósmica estivesse perturbada. Mas, nos tempos messiânicos, os dois termos aparentemente separados se unirão numa harmonia indissolúvel.

3- Esta aparente dualidade de IAVEH e ELOHIM é reduzida de acordo com a explicação do Zohar (III, 61) à Lei escrita, que é a imagem de IAVEH e à lei oral (palavra) que é a de ELOHIM. E como a lei escrita generaliza e a lei oral analisa, resulta que um não pode existir sem o outro, assim como o mundo de cima e o mundo de baixo (o nosso) dependem um do outro.

4- A associação, segundo o Zohar (1, 22b), que existe na essência divina é comparável com aquilo que existe entre o macho e a fêmea que não são mais do que um. Da mesma forma, pensamento e palavra (verbo) formam um.


Fonte: do livro LA KABBALE

Éditions Bernard Grasset

Paris, France – 1947

Tradução (português): deste blog

Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/estrela-de-davi-magen-david-7402718/

A PALAVRA É O RECEPTÁCULO DE ENERGIAS


O poder de um Iniciado está em que ele sabe impregnar as palavras que pronuncia com a matéria da sua aura, que é abundante, intensa e pura. A palavra é o receptáculo de uma força e produz efeitos tanto mais poderosos quanto mais impregnada estiver desse elemento criador que é a luz.

Não é dado a qualquer pessoa pronunciar as palavras mágicas capazes de produzir grandes efeitos. Mas um Iniciado que pronuncie essas mesmas palavras, sem forçar a voz, sem fazer gestos, pode comandar as forças da Natureza e atrair os seres superiores. Não foi a palavra que criou o mundo, foi o Verbo. A palavra é o meio de que o Verbo se serve para realizar o trabalho de criação. O Verbo é o primeiro elemento que Deus pôs em ação; a palavra é o meio que permite ao Verbo manifestar-se.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com

Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/coro-alegria-louvar-cantar-voz-306766/