segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A CRUZ COMO CAMINHO DE INDIVIDUAÇÃO


A Cruz como imagem do ser humano redimido

Em seus escritos, Carl Gustav Jung se voltou constantemente para o tema da cruz e vê na cruz um caminho da individuação, da autorrealização humana. Jung não escreve sobre a morte de Jesus na cruz, mas sobre a cruz como símbolo. O símbolo da cruz desempenha um papel importante no processo de individuação do ser humano. No curso de sua vida, cada ser humano precisa passar do Ego, que é o âmago consciente de sua pessoa, para o Self, o centro mais íntimo da pessoa, que inclui simultaneamente o consciente e o inconsciente. Nesse caminho da individuação, os símbolos têm uma tarefa especial. Jung refere-se aqui não apenas a símbolos, mas a imagens arquetípicas que são disponíveis na alma do ser humano e que desencadeiam e dirigem o processo da individuação.

Para Jung, Cristo e a cruz estão entre estes arquétipos que podem transformar o ser humano. Cristo é o símbolo mais desenvolvido do Self. É claro que Jung não dissolve o Jesus histórico numa imagem arquetípica. Também para Jung, Jesus foi uma figura histórica. Mas, ao mesmo tempo, ele apelou ao arquétipo do Self que está disponível na alma e o tornou ativo.

A cruz desempenhou um papel importante no caminho da transformação de Jesus. Também nosso caminho da individuação passa pela cruz. A cruz tem para Jung vários significados no processo de individuação. Em todos os distintos aspectos da cruz, trata-se para Jung sempre do efeito sanador e centrador sobre o Self do ser humano.

Por um lado, a cruz é um símbolo do sacrifício. Jung entende sob sacrifício o abandono do Ego em favor do Self e a renúncia à determinação pelos instintos, a transformação da libido. No sacrifício, o ser humano abandona-se a Deus. Para poder se entregar a Deus, o ser humano precisa primeiro conhecer-se a si mesmo. Por isso, o sacrifício é sempre antecedido por um ato de autoexame. A instância do ser humano que sacrifica algo do Ego é o Self. Ao sacrificar o Ego, o Self ganha a si mesmo. A cruz como sacrifício é, para Jung, ao mesmo tempo, uma imagem drástica da repreensão dos instintos. Aqui não se trata da superação dos instintos animais, mas de uma entrega do ser humano inteiro de “um disciplinamento de suas funções especialmente humanas e espirituais, em direção a uma meta espiritual supramundana”. O sacrifício na cruz não quer despedaçar o ser humano, mas promovê-lo em seu caminho interior. Na História, esse sacrifício, ao qual a cruz convidou os cristãos, “levou a um desenvolvimento da consciência que, sem esse treinamento, seria simplesmente impossível”. Sem o disciplinamento através da ascese cristã, manifestam-se novamente a rudeza e a falta de consciência da Antiguidade.

O segundo significado da cruz é para Jung que ela simboliza o sofrimento. Segundo Jung, cada passo no caminho da conscientização progressiva pode ser somente comprado com sofrimento. O sofrimento é o portão pelo qual o ser humano precisa passar quando quer se tornar consciente de si mesmo. O sofrimento tem sua causa principalmente no fato de que o ser humano tem de aceitar-se em suas contradições que às vezes ameaçam dilacerá-lo. Quem se põe a caminho para tornar-se íntegro experimenta como está cruzado e contrariado por contradições e opostos interiores, pelo oposto de luz e trevas, de bem e mal, de consciente e inconsciente, de masculino e feminino.

Diz Jung: Quem quer que se encontre no caminho para a integridade não pode escapar daquela estranha suspensão representada pela crucificação. Pois encontrará sem falta aquilo que o cruza e contraria, a saber, primeiro, aquilo que ele não quer ser (sombra); segundo, aquilo que ele não é, mas que o outro é (realidade individual do tu); e, terceiro, aquilo que é seu Não-Ego psíquico, a saber, o inconsciente coletivo.

Por estar empurrado para lá e para cá pelas contradições, o ser humano é para si mesmo uma cruz e não pode desviar-se da cruz como sofrimento.

Para Jung, o êxito de nos tornarmos humanos depende inteiramente da pergunta de como lidamos com o sofrimento. Quem se desvia do sofrimento que existe necessariamente junto a sua existência humana procura a neurose como sofrimento substituto. Por isso, a cruz como convite de aceitar e carregar o sofrimento que existe essencialmente devido à nossa contrariedade é para Jung favorável a nossa saúde e protege-nos da neurose na qual fugimos de nossa própria verdade.

Nesse sentido, carregar a cruz significa para Jung aceitar a própria cruz e não pensar que poderíamos carregar a cruz de Cristo.

A cruz de Cristo foi carregada por ele mesmo e foi a própria cruz que ele carregou. Certamente é mais fácil colocar-se sob uma cruz alheia e já carregada do que carregar a própria cruz, sob os insultos e o desprezo de seu mundo. Pois, ao fazer isso, fica-se belamente dentro da tradição e se ganha o elogio de ser piedoso. Isso é farisaísmo bem organizado e extremamente anticristão. Cristão é somente quem vive no sentido e no espírito de Cristo.

Sofrer significa a colisão de contradições e opostos, um conflito insolúvel. Exatamente nesse conflito, Deus é reconhecido como a união de todos os opostos: Todo contrário é Deus, por isso, o ser humano tem de assumir esse peso, e ao fazê-lo, ele, com sua contrariedade, tomou posse dele, isto é, se encarnou. O ser humano fica repleto do conflito divino.

A cruz é o símbolo dessa suprema contrariedade e oposição. Quando o ser humano está disposto a confrontar-se com esse conflito, então experimenta nisso Deus, então “realiza-se dentro dele a imago Dei, a encarnação de Deus”.

A cruz é para o ser humano o condutor no caminho para a individuação. Ela o promove no caminho da transformação. É a imagem da passagem dolorosa, sem a qual não há transformação. E ela se encontra também no fim do caminho como imagem do destino, da integridade e da completude que nos esperam no futuro. Pois a cruz mostra ao ser humano a possibilidade de unir dentro de si os opostos e contradições. É um símbolo ordenador.

A cruz significa ordem diante do desordenado ou caótico da multidão do povo informe. Ela é, de fato, um dos símbolos ordenadores mais antigos. Também no âmbito dos processos psíquicos, tem a função de um ponto central gerador de ordem.

Para Jung, a cruz é uma imagem da reconciliação de todos os opostos, portanto, não é uma imagem da propaganda militante e agressiva pelo cristianismo, mas um convite de reconciliar os opostos e as contradições em nosso mundo, os opostos entre as religiões e culturas, entre os povos e as camadas sociais, entre pobre e rico, entre religioso e não religioso, entre luz e trevas, entre céu e Terra. É uma imagem que leva ordem ao caos de nosso tempo, em que tudo fica difuso e diluído, que traz orientação quando tudo se torna confuso e sem sentido. A imagem da cruz tem para Jung um efeito sanador. Ela nos protege de divisões interiores que sempre causam doenças, e nos estabiliza em meio à instabilidade de nosso tempo. Não foi por acaso que o próprio Jung colocou uma cruz na parede de seu escritório para se lembrar constantemente de como o caminho da individuação humana pode dar certo.


Anselm Grün, OSB



Fonte: "A Cruz a imagem do ser humano redimido", 3ª ed., pp. 84-94, São Paulo: Paulus, 2010. 
Via http://sabedoriadodeserto.blogspot.com/
Fonte da Gravura: Instagram

TRIBULAÇÕES E AUTOCONTROLE


A vida, na Terra, é feita de experiências evolutivas, em que o processo de crescimento se faz através dos cursos educativos dos sofrimentos. Nem todas as tribulações, no entanto, são decorrência da imposição das divinas leis.

Quando o espírito se dá conta dos erros cometidos numa etapa, roga a bênção do recomeço sob o açodar dos sofrimentos que o aprimoram, ensinando-o a valorizar a oportunidade e a criar melhores condições para o equilíbrio futuro.

Entendendo a vida como um processo eterno de evolução, conquista, numa oportunidade, o que noutra não soube considerar e, quando tal ocorre, porque o amor foi desdenhado, é no sofrimento que se aprimora.

As tribulações solicitadas constituem bênção que deve ser vivida com alegria, mediante o aproveitamento de cada instante, mesmo que, aparentemente, sob a rudeza causticante da agonia. Noutras vezes, faz-se imperioso expungir (apagar*) os soberanos códigos, ensejando a libertação do calceta (empedernido) que, renitentemente, se entregou ao desvario, convidando-o à reparação expiatória com que conquista a paz, mediante os exercícios mais dolorosos da angústia ou da limitação, das mutilações ou da saudade...

Afirmou Jesus: “No mundo só tereis aflições” em face de ser a Terra, ainda, uma escola de crescimento, cujos métodos são defluentes das necessidades mais imediatas dos seus educandos. “Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” — disse Jesus, conforme anotou Mateus, no versículo trinta e nove, do capítulo cinco do seu Evangelho.

Não sintonizes, portanto, com os agressores que te espreitam e atingem, no caminho da tua redenção. Preserva a calma e desarticula as engrenagens da perversidade que te busca. Tem a coragem de não perder a paciência ante o agressor, evitando ficar igual a ele. Covarde é o ato de revidar o mal, golpe por golpe, sob a insopitável (desenfreada) ansiedade de liberar-se da ocorrência a qualquer preço. Não deixa de ser um imenso desafio moral, a coragem de apresentar a face esquerda ao violento que já golpeou a direita...

O homem, porém, é o seu valor espiritual e não apenas o feixe de músculo que reage com impulsos descontrolados aos estímulos externos. O animal escouceia (dá coice) ou morde, por instinto, quando atingido, porque não dispõe de outro recurso para a defesa.

Habitua-te ao autocontrole, canalizando, de forma edificante, as tuas forças mentais e físicas, mediante exercícios de vigilância contra a agressividade que permanece em ti como herança ancestral...

Se, todavia, alguma vez, sob o apodo (zombaria) ou o golpe violento que te fere, estiveres a ponto de revidar, por falta de forças morais, recorre à oração silenciosa e serás renovado, conseguindo vencer a injunção infeliz.


Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis



Fonte: do livro "Receitas de Paz"
Fonte da Gravura: Tumblr.com

TUDO ESTÁ BEM SE...


Tudo está bem se você se entrega ao Poder Superior.

Esse Poder cala profundamente em suas coisas.

Somente na medida em que você pensa que é quem efetua o trabalho está obrigado a colher os frutos de suas ações.

Por outro lado, se você se entrega e reconhece a seu eu individual somente como uma ferramenta do Poder Superior, esse Poder tomará cargo de suas coisas junto com os frutos das ações.

Estas coisas já não o efetam e o trabalho prossegue sem obstáculos.

O esquema das coisas não se altera, reconheça ou não o Poder.

Só há um caminho de atitude.

Por que você levaria sua bagagem sobre sua cabeça quando viaja de trem?

O trem a levaria, quer esteja sobre a sua cabeça quer esteja no bagageiro.

Levando sobre a cabeça não diminuiria a carga do trem, porém só você faria um esforço desnecessário.

Assim é o sentido das ações (as cargas) por parte dos indivíduos que estão no mundo.


Sri Ramana Maharshi



Fonte: do blog de Gregorio Dávila, Sevilla, España - www.grego.es
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 8 de agosto de 2020

O LABIRINTO DO MINOTAURO


Embora o mito revele um acontecimento que historicamente não podemos conceber como realidade, evidencia, indiscutivelmente, uma realidade psicológica coberta de símbolos que cabe a nós desvelá-los.

Existem vários mitos que reportam ao labirinto. A mais conhecida tradição nos conta que Dédalo, construtor e arquiteto das Ilhas de Creta, construiu um labirinto para o Rei Minos, que havia se tornado rei, graças a ajuda do deus Posseidon.

Para assegurar o reinado de Minos, Posseidon criou um touro branco e lhe deu de presente. A esposa de Minos, Pasifae, enamorou-se perdidamente pelo touro branco e pediu a Dédalo que então fabricasse uma vaca de bronze, bela e atrativa o suficiente para se meter dentro e seduzir o touro branco para que ele se apaixonasse por ela.

A tragédia é enorme, pois desse relacionamento acabou nascendo uma besta, metade homem, o minotauro. Esse monstro passou a residir no interior do labirinto, causando verdadeiro terror aos cretenses. Vários homens tentaram matar o minotauro, mas acabavam se perdendo no caminho; amedrontados, não chegavam ao fim; ou os que mais se aproximaram acabaram vencidos pela besta.

Surgiu, então, um herói, Teseu, futuro Rei de Creta, que só aceitou assumir o reinado com a condição de matar o minotauro. Entrou no labirinto com um machado de duplo fio e um fuso de lã que Ariadne, filha do Rei Minos havia lhe dado, para desenrolá-lo, marcando o caminho. Teseu chega então no centro do labirinto e em luta contra o minotauro, acaba matando-o. Para sair do labirinto, percorreu de volta o caminho sinalizado com o fio que havia desenrolado, recolhendo-o e enrolando-o de volta ao fuso, até torná-lo um novelo esférico.

Podemos relacionar o sentido do labirinto com certos aspectos da psique humana, a seguir abordados:

O fuso simboliza a imperfeição interior do homem, que necessita passar por várias provas para se desenvolver, ou seja, enfrentar os problemas cotidianos que assolam dia a dia. A esfera que Teseu constrói ao recolher o fio, simboliza a perfeição conquistada por ter enfrentado o minotauro.

O minotauro representa a matéria cega, os nossos instintos, egoísmos, vícios e defeitos. Foi gerado como fruto da paixão cega, sem a diretriz de uma razão superior.

O machado de duplo fio utilizado por Teseu representa a vontade, pois somente conseguiremos abrir os nossos caminhos se tivermos uma força de vontade inquebrantável.

O fio, que sinalizou o caminho para Teseu não se perder no labirinto, simboliza a consciência do homem, a nossa memória, que possibilita recordarmos os caminhos já percorridos, os nossos percalços, como uma chance para não cometermos os mesmos erros. Reconhecemos dessa forma os lugares pelos quais já percorremos e os que ainda faltam percorrer.

Ariadne é nossa alma salvadora, pois justo quando Teseu encontrava-se num momento de angústia, ela lhe trouxe uma solução para poder destruir o minotauro e sair do labirinto.

Teseu somos nós, que decididos, com força de vontade e conscientes, enfrentamos o minotauro que nos assola, representado pelo excesso de materialismo, pela paixão desgovernada que gera sofrimento, carências afetivas, rejeições, falta de autoestima, medos, angústias, dúvidas, inseguranças, rancores, preguiças e preocupações.

Não podemos deixar que o minotauro nos vença, pois temos que lutar e chegar no nosso próprio centro, no olho do furacão, onde tudo é calmo e silencioso, onde estamos seguros, conscientes e verticalizados.

Lembrem-se que Teseu somente venceu o minotauro porque teve a coragem de enfrentá-lo. Coragem para vencermos a nós mesmos!


Grasiela Thomsen



Fonte: Boletim Informativo Orfeu, n° 27, p. 6, Jul-Ago 2001
Nova Acrópole Associação Cultural – Porto Alegre/RS
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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O DESTINO DO SER


[...]  Flammarion firmou o princípio de que não é somente a Terra que serve de habitação à espécie humana, mas, sim, todos os astros espalhados pelo espaço sem fim, e eles mesmos inúmeros, aos bilhões. A espécie humana não é, pois, exclusivamente terrestre, nem é na Terra que começou e acabará sua marcha, pelas vias do progresso, até à perfeição, que é seu destino.

[...] Deus não criou somente o nosso mundo e descansou, como se entende pela cosmogonia bíblica. A prótese divina nem teve princípio nem terá fim, porque o movimento e a ação caracterizam a vida, e o Criador cessaria de o ser, se, por um momento, fosse inerte, inativo, em repouso. Deus, pois, criou desde o princípio dos tempos, e criará, incessantemente, por toda a eternidade. Cria mundos e cria espíritos. A criação constante dos primeiros já é princípio corrente na ciência, que chegou a determinar como do fluido cósmico sai a nebulosa, e desta se destacam os núcleos de novos gigantes do espaço. A criação constante dos segundos é dedução forçada da pluralidade de mundos habitados, pois de outro modo não haveria onde se proverem de habitantes os milhares de milhões existentes e os que lhes aumentam o número, por sua constante criação.

[...] Tomemos, pois, os dois novos princípios: pluralidade de mundos e pluralidade de existências da alma, e vejamos o que de sua combinação resulta. Deus cria mundos, ou, antes, estabeleceu a lei da criação de mundos, em identidade de condições, pois não há razão para diferenças, nem as leis do mundo material, como quaisquer outras, são variáveis; e, pelo contrário, mostra-nos a observação que tudo no Universo obedece a normas fixas.

[...] Deus cria espíritos em identidade de condições, pois não há razão para exceções, preferências e exclusões, que não se conformam com os infinitamente perfeitos atributos do Criador... Somos todos criados em estado de inocência, isto é, sem consciência do bem e do mal, faculdade que se vai desenvolvendo, à medida que vamos usando do nosso livre arbítrio. Somos todos criados em estado de ignorância, mas dotados de inteligência, pela qual devemos conquistar o conhecimento universal, como pelo desenvolvimento do senso moral devemos conquistar a virtude universal.

Os espíritos criados, assim, em identidade de condições intelectuais e morais, trazem consigo, latentes, todas as faculdades de que necessitarão para realizar sua transformação da ignorância nativa à mais alta sabedoria, e da inocência inconsciente à mais sublimada virtude. Com estas armas, de que todos são dotados para subirem ao destino a todos marcado, Deus deu sempre sem exceção, a liberdade ou o poder de cada um empregá-los, como quiser, para alcançar aquele destino.

O que se empenhar, 'totis viribus'*, no aperfeiçoamento intelectual e moral de seu ser, fará carreira mais rápida e, conseguintemente, menos dolorosa. Aquele, porém, que desprezar os recursos que lhe foram dados, e entregar-se aos gozos materiais... ou que dormir, preguiçoso, nos pousos da longa viagem, fará carreira mais lenta, e, conseguintemente, mais tormentosa.

E, pois, dando aos espíritos as mesmas condições originais, as mesmas armas para seguirem o seu destino, e idêntico, tanto como excelso destino, o Criador completou sua obra dotando-os da mais plena liberdade no emprego daquelas armas. É do bom ou mau uso que fazem desse sublime dom, que resultam as variedades de todo o gênero, que se observam no seio da humanidade, e o que faz que os ignorantes atribuam a Deus tais variedades. Não; o homem é senhor de seu destino, pela liberdade, mas, por isso mesmo que é livre, é responsável.

Nasce daí uma nova ordem de cogitações. O homem (espírito) que faz bom uso de sua liberdade, no desenvolvimento de sua perfectibilidade, adquire méritos; o que procede de modo aposto, sobrecarrega-se de deméritos. Méritos e deméritos provocam, por lei fatal, recompensas e castigos, e, no mundo moral, as leis de Deus têm a mesma inexorabilidade que as do mundo físico. “Cada um segundo suas obras” é a grande lei da evolução espiritual, da qual resulta que assim como somos livres de praticar o bem ou o mal, somos, por isso mesmo, os que nos julgamos incursos, merecedores de penas ou recompensas, segundo a lei na justiça eterna. Essa justiça não cogita de personalidades: é indefectível...

[...] Como um corpo posto em movimento adquire progressivamente maior velocidade, assim os espíritos, começando o exercício de suas faculdades intelectuais e afetivas, vão progressivamente adquirindo conhecimentos e sentimentos mais apurados, até chegarem ao termo de sua perfectibilidade... A perfectibilidade humana, sendo indefinida, é óbvio que, na vida da Terra, o homem não alcança o destino para que foi criado; apenas conseguirá, se conseguir, os primeiros degraus da longa escada. Outras existências e maiores esforços são indispensáveis para a consecução do altíssima fim.

Terminando a primeira existência corpórea, o espírito que empregou esforços, para progredir, recebe o prêmio de animação; aquele, porém, que dormiu ou só fez mal, recebe a consequência de suas faltas. Tanto o prêmio como o castigo não podem ter duração eterna, porque não foi completado o ciclo do progresso, cuja realização é lei do ser racional.

Deus não seria Pai, se condenasse seus filhos a penas eternas por faltas de um momento; assim como não seria juiz reto, se, por limitado mérito, desse o inestimável prêmio da glória devida a todo o mérito. E ao que ficaria reduzida a perfectibilidade humana, se não passasse do que sabemos e praticamos nesta vida? Os que fossem para o céu, no dizer dos católicos, não precisariam mais progredir, e os que fossem para o inferno, não poderiam fazê-lo.

[...] Assim, se nas coisas humanas não se admitem julgamentos definitivos, mediante provas incompletas, como admitir-se em Deus tais leviandades e precipitações, que redundariam em injustiça e crueldade? Além disto, se o homem é essencialmente perfectível, e se numa existência não pode chegar ao último grau de sua perfectibilidade, como admitir penas e prêmios eternos, depois dessa existência? No céu, é estulto pensar que ainda se tenha de progredir, e, no inferno, para quê?

Por último, se depois de ligeira prova os espíritos têm seu destino irrevogável, e se no fim do mundo, segundo a Igreja Romana, tem de haver completa separação dos glorificados e dos condenados, teremos a eternização do mal, ou antes, a vitória do mal, porque "satanás" ficará sendo por toda a eternidade, o deus do inferno, o senhor dos condenados, por igual a Jeová, Deus do céu e senhor dos bem-aventurados!

Isto não pode calar no pensamento de quem reconhece em Deus os altos atributos de justiça, misericórdia e amor infinitos. O céu torna impossível o inferno. Deus não seria Deus, se "satanás" a ele fosse igual em poder.

Vimos que uma vida única é insuficiente para o amplo desenvolvimento da perfectibilidade humana. Vimos que os espíritos não são criados para o corpo, mas, sim, que este lhes é dado como instrumento de progresso. Destes dois postulados, que só podem ser impugnados, ou pela ignorância invencível, ou pela incredulidade sistemática, resultam as seguintes consequências lógicas: Não há uma única vida, nem um único mundo. Não há penas eternas, pois os espíritos têm mais de uma vida corpórea. Não há inferno, pois não há penas eternas e materiais. Não há demônios pessoais, pois não há inferno, nem penas eternas... Não houve, finalmente, criação de um só par humano, visto que a própria Bíblia atesta a existência de outros seres humanos na Terra, ao tempo de Adão, e sem que dele procedessem.

[...] A medida, porém, que vai evoluindo, o espírito vai ganhando luz, e, à medida que vai tendo luz, vai reconhecendo e repelindo certos preconceitos mais grosseiros e divisando horizontes menos escuros.


Dr. Bezerra de Menezes (Max)


* Trabalhar muito, trabalhar duro, esforçar-se muito... (Expressão latina)



Fonte: "A LOUCURA SOB NOVO PRISMA"
Editora FEB – Federação Espírita Brasileira - www.febnet.org.br - 2012 – Brasil
Fonte da Gravura: Tumblr.com

QUE A LEI DE CAUSA E EFEITO SEJA NOSSA TESTEMUNHA


Se realmente pararmos para pensar sobre elogios e críticas, veremos que isso não tem a menor importância. Se recebemos elogios ou críticas isso não acrescenta nada. A única coisa importante é termos uma motivação pura, e que a lei de causa e efeito seja nossa testemunha.

Se formos realmente honestos, podemos ver que não faz diferença nenhuma receber elogios e aplausos. O mundo todo pode nos cantar louvores, mas se tivermos feito algo errado, então nós mesmos ainda teremos que sofrer as consequências; não há como escapar delas.

Se agimos só com base na motivação pura, todos os seres dos três reinos podem nos criticar e censurar, mas nenhum será capaz de nos causar sofrimento. Conforme a lei do karma, cada um de nós deve responder individualmente por nossas ações.

É assim que podemos colocar fim de uma vez a esse tipo de preocupação, vendo como isso é completamente sem substância, como sonhos ou ilusões mágicas. Quando as pessoas nos elogiam e brilhamos de deleite, isso é porque achamos que receber elogios é benéfico. Mas isso é como pensar que há alguma solidez no arco-íris ou em um sonho. Embora pareça que há muitos benefícios em receber aplausos e elogios, na verdade não há absolutamente nenhum.


Dalai Lama



Fonte: “Bad Reputation”, Tricycle (2007) - (Tricycle’s Daily Dharma, 18/09/2009)
Via https://darma.info/
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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A PORTA DO INCONSCIENTE


[...] Freud foi o primeiro a descrever o que se pode encontrar quando a porta do inconsciente é aberta: nós descemos e realmente damos de cara com a escuridão interior, mergulhando nela... O inconsciente... não pode ser consciente; a lua tem um lado oculto, o sol se põe e não pode brilhar em toda a parte a um só tempo...

Para haver atenção e foco é necessário que outras coisas fiquem fora do campo da visão, permanecendo no escuro, pois não se pode olhar para dois lugares simultaneamente. Entretanto, a escuridão é assim por duas razões: primeiro, por ser necessariamente reprimida... e, segundo, por não ter tido nem tempo, nem lugar para vir à luz. Essa é também a escuridão interior, o chão ou a terra de um novo ser, a parte que se encontra "in potentia" e que vem a ser cultivada pela psicologia junguiana. Aí se encontram o passado e o futuro.

Por trás da escuridão reprimida e da sombra pessoal, encontra-se a escuridão arquetípica, o princípio do não-ser, que foi denominado e descrito como o Demônio, o Mal, o Pecado Original, a Morte, o Nada Existencial, a prima matéria...

A experiência da escuridão interior que Freud descreve é a confrontação viva com a nossa própria natureza reprimida. A besta emerge da gruta onde esteve deitada longo tempo adormecida, e temos terrores noturnos, acordando molhados de suor. Um cadáver ou múmia ancestral ressuscita. Surge um vasto pântano... Um criminoso, uma criança retardada... estes passam a incorporar-se à figuras oníricas que se apresentam sob a forma de marginais, ou seja, seres que foram marginalizados pelas duras leis com que edificamos nossa sociedade interior. Assim, estes potenciais deverão aparecer como uns fora-da-lei, desajustados e ate mesmo aleijados e lunáticos. Curar os cegos e leprosos, ressuscitar os mortos torna-se uma necessidade interna, quando se quer trazer saúde à personalidade.

A experiência dos símbolos da escuridão pode se dar não apenas em nível dos fatos relacionados aos pecados e crimes da vida de cada um, mas também dentro de uma visão mais ampla do desenvolvimento humano. Hércules teve que limpar a imundície dos estábulos de Augias; teve que canalizar verdadeiros rios de energia para realizar esse trabalho impossível. Também teve que dominar o leão das ambições e da sede de poder pessoal e estar pronto para sujar-se nos estábulos. Ulisses precisou defrontar-se com o gigante do olho faminto, o demônio unilateral da compulsão, antes de prosseguir em sua jornada. Em algum lugar há sempre um monstro a ser enfrentado, um ser horrendo a exterminar, um impulso a ser ultrapassado. Em algum lugar um anjo nos espera para uma luta corpo-a-corpo antes de podermos atravessar o rio. E quando se esta sozinho no deserto, que tanto pode ser o subúrbio de nossos dias e o prédio de escritórios, quanto, o que mencionavam os primeiros padres da igreja, demônios de todas as espécies, se aproximam: os que tentam, seduzem, pervertem, provocam projeções e os que nos iludem.

Há sempre uma base de apoio para cada queixa que surge e, quanto mais devastadora fascinante ela for, tanto mais certos poderemos estar de que existe um embasamento arquetípico empregando um sintoma como simbolo, o qual, se melhor compreendido, é não apenas um sofrimento patológico, mas a chance de transformar-se numa experiência religiosa. [...]


James Uillman



Fonte: "Uma busca interior em psicologia e religião"
Tradução Araceli Martins Elman; revisão Jose Joaquim Sobral, Ed. Paulus, 4ª ed., 2004
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/psicologia-psique-m%C3%A1scara-gradinha-2709651/

INTROVERSÃO - INTERIORIZAÇÃO - INTROSPECÇÃO


Os padres monásticos foram sempre lúcidos e simples quanto ao entendimento de que o propósito principal da vida monástica é o de alcançar uma consciência inquebrantável da presença de Deus, a prece incessante. Santo Agostinho escrevendo não apenas aos monges, mas a todos os cristãos, disse que todo o propósito da vida e de todo exercício cristão é o de “abrir os olhos do coração”...

Aqui está a meta da vida cristã, pois ela é o convite que cada um de nós teve o privilégio de receber: o de sermos os discípulos de Jesus. Sempre houve um grande perigo para a verdadeira interiorização, mas ele existe hoje em dia de um modo especial, para nós que vivemos em nossa sociedade acanhada e narcisista, que é o da introversão, o egocentrismo e a auto-análise. A grande prevalência da vulnerabilidade psicológica e da alienação social exacerbam este perigo, quando pedem que se lide com ele com gentileza e compaixão... Ser verdadeiramente interiorizado, é o extremo oposto de ser introvertido. Na percepção da presença que nos habita, nossa consciência é revirada, con-vertida, de forma que não estamos mais olhando para nós mesmos, antecipando ou relembrando emoções, reações, desejos e ideias ou sonhando acordados. Estamos nos voltando para outra coisa. E isto é sempre um problema para nós.

Pensamos que seria mais fácil nos afastarmos da introspecção se soubéssemos para onde devêssemos nos voltar. Se ao menos tivéssemos um determinado objeto para olhar. Se ao menos Deus pudesse ser representado por uma imagem. Mas, o verdadeiro Deus nunca pode ser uma imagem. Imagens de Deus são deuses. Fazermos uma imagem de Deus é, meramente, terminarmos por olhar para uma imagem reformada de nós mesmos. Sermos verdadeiramente interiorizados, abrirmos os olhos do coração, significa estarmos vivendo na visão sem imagens que é fé, e esta é a visão que nos permite "ver Deus". Na fé, a atenção é controlada por um novo Espírito, não mais os espíritos do materialismo, do egoísmo e da auto-preservação, mas o ethos da fé que é, por natureza, não possessivo. Ele está sempre abrindo mão e continuamente renunciando aos prêmios das renúncias, que são muito grandes e, portanto, fazendo-se ainda mais necessário que eles sejam restituídos. Não há desafio mais crucial do que o de adentrar a experiência de se manter centrado-nos-outros. Trata-se do continuado estado estático de despojamento. Podemos vislumbrar isto simplesmente ao nos lembrarmos daqueles momentos ou fases da vida em que experimentamos o mais alto grau de paz, plenitude e alegria, reconhecendo neles, não períodos em que possuíamos alguma coisa, mas períodos em que nos perdemos em algo ou em alguém. O passaporte para o reino demanda o carimbo da pobreza. [...]

E, no entanto, aprender a estar centrado-em-outros é uma disciplina, é um discipulado e implica em ascese. Não há nada mais difícil do que aprender a não estarmos atentos a nós mesmos... Estamos todos inclinados a deixar nossa atenção passear, derivar de volta ao egoísmo, à fascinação consigo mesmo, e quando a atenção fica à deriva nessa correnteza falsa logo voltamos ao estado de distração. Há, então, uma simples verdade a descobrir. Quando a atenção está em Deus, com a visão da fé, tudo nos revela Deus. Quando nossa atenção está em nós mesmos, na cegueira do ego, tudo é distração que nos afasta de Deus.

Parece-nos ser um difícil desafio esse de sempre dirigir nossa atenção para essa visão da fé, até que compreendamos que foi exatamente para isto que fomos criados.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "O Poder da Atenção" - Leitura de 10/08/2008, The Selfless Self (London: DLT, 1989) pp. 31-35.
Tradução de Roldano Giuntoli - Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: Instagram

terça-feira, 4 de agosto de 2020

O EU E A ALMA


Apesar do grande número de fenômenos que o ser humano percebe, para as finalidades que temos em vista eles podem ser classificados em duas divisões gerais: físicos e não-físicos.

A primeira classificação consiste daquelas realidades, objetos e acontecimentos, que o homem pode perceber por meio de seus órgãos sensoriais, ou seja, seus olhos, ouvidos etc. [...] A segunda classificação consiste daquelas percepções ou sensações que são o resultado da consciência do eu. Elas são muito diferentes das experiências físicas.

[...] O ser humano é impregnado de uma força vital misteriosa. Concebemos que a inteligência é um atributo desta força vital, ou que ela, pelo menos, está integrada a seu funcionamento. Logo, evidentemente, esta inteligência inata também existe nos neurônios cerebrais, ou células cerebrais, onde provê uma sensibilidade para aqueles impulsos que nos chegam, através dos nossos órgãos sensoriais, do mundo exterior. Em outras palavras, no cérebro, esta força vital e inteligência tornam possível nossas experiências físicas, equivalendo à nossa consciência objetiva.

[...] Para o místico, a consciência, o estado de percepção, é existência. Para o homem, aquilo de que ele está cônscio é. Todos os poderes que o ser humano é capaz de exercer, sejam físicos, mentais ou psíquicos, só podem ser relacionados com aquilo de que ele tem conhecimento, aquilo que lhe é real. [...] Todavia, o místico sabe que as realidades da sua consciência são duplas: aquelas coisas, ou particulares, que têm uma existência objetiva, como seu corpo e o mundo externo; e aquelas realidades da sua consciência que são percepções interiores, que surgem das profundezas de si mesmo, como emoções, estados de alma, inspirações. Estas últimas podem transformar-se num ímpeto que o farão ter vivências objetivas, mas sua origem parece limitada à natureza etérea do seu ser.

Para o místico, a única separação que existe é esta dualidade da sua consciência, a inclinação para distinguir entre as realidades do eu e as do mundo objetivo. Na realidade, o místico entende que todas estas realidades são parte de uma grande ordem hierárquica, uma escala graduada. Essa gradação é acorde com a simplicidade ou complexidade da sua natureza. Quanto mais complexas as realidades, maior é a sua manifestação de uma inteligência universal — em outras palavras, mais elas representam toda a ordem hierárquica ou Cósmica.

As atividades do eu, as realidades de nosso ser interior são mais complexas neste sentido do que aquelas particularidades do mundo material ou cotidiano que percebemos. Se, por analogia, a ordem Cósmica ou Deus, como preferir, é a síntese de tudo, então, aquele Deus, evidentemente, é complexo — infinito em substância e variedade. Se nos tornamos cônscios do complexo, ou das maiores expansões ou manifestações da Sua natureza, maior a nossa intimidade com Ele, mais Nele viveremos.

Como as causas das sensações do eu são bastante impalpáveis, não são identificadas com substância, nem podem ser realmente localizadas no corpo humano, elas sempre foram muito misteriosas para o homem. [...] Então, como se deveriam identificar os elementos impalpáveis do nosso eu? A conclusão era que eles deviam transcender o mundo, devido à impossibilidade de serem sentidos como pertencentes ao mundo. Esses elementos eram considerados de natureza Divina, devido à sua aparente infinidade e imaterialidade. A alma, portanto, tornou-se o repositório para todas essas qualidades indeterminadas do homem, sendo psique o vocábulo grego que o definiu.

Essa ideia de alma deu expressão à vida espiritual do homem. Quando passou a examinar as influências sutis da alma e, seu estranho efeito sobre ele, como sua natureza melhor, sua vida espiritual mudou como consequência. Tentou viver em harmonia com os sentimentos da alma e com sua compreensão do que julgava que ela fosse.

[...] A maioria de nós deve estar bem familiarizada com o conceito cristão de alma. Naturalmente, a ideia cristã fundamental foi modificada pelas várias interpretações de diferentes seitas. De modo geral, o cristianismo considera que a alma possui uma contínua existência consciente. Em outras palavras, segundo a opinião cristã geral, a alma tem autoconsciência. O cristão reconhece a dualidade do homem: por um lado, o corpo físico e mortal e, por outro, a alma — a vida espiritual ou o ser do homem. Ele agora declara que ambos são de Deus, coisa que, incidentalmente, os primeiros cristãos não ensinavam. Além disso, o cristianismo salienta que a alma não é absorvida em Deus, mas conserva sua identidade separada, e que não se torna completamente absorvida no espírito universal ou essência de Deus, como as filosofias hindu e budista afirmam. Além disso, o cristianismo não reconhece a perfeição da alma (o que pode ser um ponto controvertido, mas a controvérsia resulta apenas das diferenças de interpretação). A alma do homem, para o cristão, é imperfeita até que tenha sido purificada, até que passe pelo processo de salvação.

A concepção rosacruz de alma é verdadeiramente mística. O rosacruz também começa com o reconhecimento da dualidade da natureza do homem — o corpo físico terreno composto do pó da terra, imbuído de energia espiritual, da mesma forma que todas as coisas animadas e inanimadas. Não se faz distinção alguma entre a natureza física do corpo do homem, no tocante às suas propriedades básicas, e a de qualquer outra substância física. Todas são consideradas terrenas. Logo, esta concepção rosacruz reconhece a alma como uma essência espiritual e divina, residente dentro do corpo, durante o período da sua existência terrena. O rosacruz também declara que a alma é informe; isto é, que a alma não tem nenhuma forma definida e concreta capaz de ser descritível ou comparável a qualquer outra coisa de natureza material. Considera a alma como uma espécie de energia, assim como o pensamento não tem forma física, mas pode dar origem, dentro da consciência, à ideia de forma.

O rosacruz afirma que a alma no homem não é uma entidade separada, individual, distinta da alma de todos os outros seres, mas que é parte da energia da alma universal que flui por igual através de todos os homens. A alma no indivíduo mais degradado é tão pura e tão divina quanto a alma do ser altamente iluminado e espiritual. A diferença aparente que existe é uma questão de expressão. É uma reação pessoal à força da alma, tal como a energia elétrica que corre por um circuito elétrico pode, em algumas lâmpadas naquele circuito, produzir uma luz azul e, em outras, uma luz branca e pura, mas a qualidade da corrente elétrica é a mesma em todos os casos. Portanto, a alma no homem é perfeita em todos os momentos e, por conseguinte, não pode ser aperfeiçoada. Afirmar que a alma pode ser aperfeiçoada, diz o rosacruz, é admitir a sua imperfeição. O rosacruz declara que, como a alma emana de uma fonte divina e é a única essência divina no homem, como podemos nós afirmar que essa divindade é imperfeita, ao dizer que a alma deveria ser aperfeiçoada?

A alma se manifesta diferentemente em cada um de nós, devido ao desenvolvimento psíquico do indivíduo, isto é, à sua capacidade de reagir, como se disse acima, à força espiritual dentro dele. É o ego ou personalidade do indivíduo que tem de ser aperfeiçoado. À medida que desenvolvemos e aperfeiçoamos nosso ego e nossa personalidade interior, chegamos eventualmente a apreciar, compreender e perceber a força anímica dentro de nós. Corrigimos nosso pensamento, corrigimos nossos modos de vida e permitimos que a alma se expresse sem obstáculos. Assim, encontramos alguns indivíduos mais iluminados do que outros, mais espiritualistas em manifestação do que outros, mas, em essência, todos são espiritualmente iguais, afirmam os rosacruzes. [...]


Ralph M. Lewis, F.R.C.
Ex-Imperator da Ordem Rosacruz — A.M.O.R.C.



Fonte: do livro "O Santuário do Eu", Biblioteca Rosacruz, 2ª ed., Ed. Renes, RJ
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

MECANISMOS DA REENCARNAÇÃO


O Livro dos Espíritos, questão 351: No intervalo que medeia da concepção ao nascimento, goza o espírito de todas as suas faculdades?

“Mais ou menos, conforme o ponto, em que se ache, dessa fase, porquanto ainda não está encarnado, mas apenas ligado. A partir do instante da concepção, começa o espírito tomado de perturbação, que o adverte de que lhe soou o momento de começar nova existência corpórea. Essa perturbação cresce de contínuo até ao nascimento. Nesse intervalo, seu estado é quase idêntico ao de um espírito encarnado durante o sono. À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual deixa de ter consciência na condição, de homem, logo que entra na vida. Essa lembrança, porém, lhe volta pouco a pouco ao retornar ao estado de espírito.”


A Reencarnação é uma necessidade da vida espiritual, assim como a morte é uma necessidade da vida corporal. Nem todos os espíritos compreendem, ou pensam da mesma forma em suas futuras reencarnações. De acordo com a vontade, eles podem apressar ou retardar o momento de se reencarnarem. Cedo ou tarde, no entanto, o espírito sente necessidade de crescer. Algumas reencarnações são impostas porquanto o espírito não tem condições de escolher. No momento de reencarnar, o espírito sofre uma perturbação muito maior do que no momento da morte. A morte é a libertação da escravidão, a reencarnação é o ingresso na mesma.

A alma se une ao futuro corpo no momento da concepção. É definitiva essa união, já que outro espírito não pode habitar aquele invólucro. No entanto, a reencarnação só se completa depois do nascimento. Portanto, no inicio os laços são muito sutis, e se o espírito recua diante da prova pela qual tem de passar, ele pode romper esses laços, e a criança não vinga.

A reencarnação nos ensina que a vida é única, mas que existências carnais são múltiplas. Estamos na vida, seja no corpo, ou fora do corpo. O progresso é incessante. Hoje, desenvolvemos determinados valores, amanhã deixamos esses valores adquiridos armazenados e desenvolvemos outros tesouros que se encontram em germe.

O que hoje possuímos é resultado do nosso esforço – quando positivo – ou da nossa irresponsabilidade – quando negativo. Eloquência, conhecimentos intelectuais, amor, sabedoria, são conquistas do esforço pessoal da pessoa, em experiências passadas. Nada na vida é privilégio.

A palavra carma, dá uma ideia fatalista. Na Índia o conceito de reencarnação é um tanto fatalista: “Nasceu pobre, é para pagar mesmo”. Eis porque Allan Kardec não utilizou a palavra carma, preferindo o termo “Lei de Causa e Efeito”. Ou seja, todo efeito provém de uma causa. Toda causa produz um efeito. Se eu produzo positivamente na vida, receberei a consequência com o mesmo teor. Se eu ajo com irresponsabilidade, eu estou gerando efeitos de desarmonia para mim mesmo no futuro.

A reencarnação consegue explicar que a escassez de hoje, é fruto do desperdício de ontem. Então, o bem que hoje desperdiçamos, nos fará falta amanha. A pessoa que utiliza das outras como objetos sexuais, dilacerando vidas, retorna e transita em uma existência experimentando a solidão, para aprender a dar valor às companhias. O homem rebelde, que em um momento de desespero se mata, atirando com o revolver contra a própria cabeça, retorna em uma situação como doente mental, a fim de poder dar valor a benção de um corpo físico saudável. Aquele que teve muito dinheiro, e que utilizou para a satisfação dos caprichos pessoais, reencarna-se em uma situação de miséria, para aprender a utilizar os recursos com sabedoria. O filho doente, cuja mãe não tem nada a fazer a não ser cuidar dele, é o antigo suicida que se matou induzido por ela. A esposa autoritária, é aquela que foi magoada por nós mesmos, em experiências passadas. O filho rebelde, que causa transtornos na vida dos pais, é o mesmo ser que foi abandonado no passado. E assim por diante...

As antipatias e simpatias, que a psicologia convencional não consegue explicar, a reencarnação explica. A reencarnação também diz que não somos nem anjos nem demônios. Somos o resultado de tudo o que fizemos no passado. Ou seja, somos o melhor de nós, atualmente.

Alguns podem objetar que o esquecimento do passado é um obstáculo para a lógica da reencarnação. A razão diz que, se Deus lançou um véu de esquecimento em relação ao passado, isso não é por acaso. Tem uma razão de ser, porquanto a natureza é sábia. O espírito no entanto, que conhece as suas tendências, pode ter uma ideia do que foi no passado. Além disso, o esquecimento é bem temporário, porquanto, após a morte, ele recobra as suas lembranças. Alias, mesmo encarnado, no momento de desprendimento, quando o corpo adormece, ele tem conhecimento do passado.

A recordação do pretérito traria inúmeras consequências desagradáveis. Será que não sentiríamos sentimento de culpa, ao descobrir que aqueles que convivem conosco, foram magoados por nós em reencarnação anterior? Será que o ódio, ou a mágoa, não reapareceria, quando descobríssemos que um irmão nosso, nos arrancou a existência no passado?

O esquecimento, ao contrário, diminui o conteúdo perturbador das emoções do passado, das animosidades, das antipatias, das atitudes infelizes, ensejando um novo começo, uma nova chance, com probabilidades maiores de vitória!


Fonte: Roteiro de Estudo é destinado ao Grupo de Estudos Básico do Centro Espírita Paulo & Estêvão.
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship) - http://www.grevkafi.org


Bibliografia:

- Estudos Espíritas, Divaldo P. Franco / Joanna de Ângelis, 6ª ed., FEB, 1982.
- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 76 ed., FEB

EVOLUÇÃO E JUSTIÇA


Questões de "O Livro dos Espíritos"

166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma nova existência.”

a) - Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

b) - A alma passa então por muitas existências corporais?
“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse é o desejo deles.”

c) - Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. E assim que se deve entender?
“Evidentemente.”

167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”


A reencarnação se baseia no conceito da Justiça Divina. O seu objetivo é expiação das faltas e melhoramento progressivo da humanidade.

Um sem numero de fenômenos não podem ser explicados profunda e totalmente sem a luz que a reencarnação proporciona. Crianças que com pouca idade, revelam conhecimentos extraordinários, não havendo aprendido com os pais; as diferenças que existem – social, moral, sentimental etc. – as antipatias e simpatias que a psicologia convencional não logra explicar, podem ser elucidados – todos esses fenômenos – com a chave da reencarnação.

De duas uma: As almas foram criadas iguais ou desiguais.

Se foram criadas desiguais é porque Deus quis assim. Mas é ilógico considerar que Deus – infinitamente justo, bom, imparcial – poderia dar preferência a alguns filhos em detrimento de outros. As almas, portanto, foram criadas iguais. Se foram criadas iguais, por que existe tanta diferença entre elas? Isso nos faz perguntar: “A alma existia antes do corpo, ou foi criada com ele?”

Se a alma é criada com o corpo perguntaríamos:

• Por que as almas – crianças com pouca idade – mostram tendências tão diferentes?

• Por que a diferença de intelectualidade de um Isaac Newton e um homem selvagem?

A mais lógica opção é acreditar que a alma foi criada antes do corpo. Se foi criada antes, isso indica que houve uma vida antes, e um aprendizado anterior. Se isso ocorreu, o que impede de alma ter uma vida depois da morte e continuar aprendendo? O que impossibilita a reencarnação das almas?

Sem a reencarnação ainda perguntaríamos:

• Qual será o futuro depois da morte de um cientista civilizado e um selvagem, quase animal?

• Onde uma criança que morreu com pouca idade, irá? Para o céu sem ter feito o bem? Para o inferno sem ter praticado o mal?

•Como uma mãe pode ser feliz no céu, sabendo que seu filho encontra-se perdido no inferno, sofrendo por toda a eternidade?

•O homem que trabalhou durante toda a sua vida, e se esforçou, ocupará o mesmo local depois da morte que aquele que não fez nada disso, por se tratar de um homem doente, imobilizado?

•Se as almas são novas, por que a humanidade de hoje é mais avançada do que a humanidade medieval?

•Por que existem as simpatias e antipatias? Se não houvesse a reencarnação – disse Allan Kardec – teríamos que inventa-la.


Fonte: Roteiro de Estudo é destinado ao Grupo de Estudos Básico do Centro Espírita Paulo & Estêvão.
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship) - http://www.grevkafi.org


Bibliografia:

- Estudos Espíritas, Divaldo P. Franco / Joanna de Ângelis, 6ª ed., FEB, 1982.
- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 76 ed., FEB

A PRECE COMO ENCONTRO


Os religiosos costumam negligenciar o que é óbvio, e isto é o que é mais óbvio, e do que mais necessitamos lembrar: aqueles que não amam nada sabem de Deus. Não se trata de arrazoado metafísico, mas da razão do coração, [e] nossa experiência humana mais universal ensina isso...

Amor é transcendência, a mudança do foco da consciência, por meio do ato da atenção paciente, para o outro. Os pais fazem isso, os amantes o fazem, e os religiosos também o devem fazer caso queiram ser genuínos.

A maneira como você ora é a maneira como você vive. Vivemos no poder da transcendência por meio de profunda prece. Não apenas 'salat'* e liturgia, mas, contemplação. Todo o propósito desta vida, dizia Santo Agostinho, é o de abrir os olhos do coração, com os quais vemos Deus... O que a religião ensina são os meios, caso não se confunda com os fins: a espera, a paciência, a quietude e, particularmente importante numa era da comunicação instantânea, o silêncio. [....]

[No encontro entre Muçulmanos e Cristãos] rezamos o 'salat' e preces cristãs. Todavia, também nos sentamos em silêncio para meditar: nós a chamamos prece do coração, eles a chamam 'dhikr'**. Ela reduz muitas palavras a uma palavra, em uma rica pobreza de espírito. Nesse silêncio, tocamos numa universalidade para a qual as palavras apenas apontam. Não se trata de uma fuga da realidade, porém, de um abraço com a realidade divina que ambos conhecemos como amor. Os relacionamentos se transformam por meio dessa experiência do silêncio na transcendência, em maneiras que as palavras não logram alcançar. Convivemos de uma nova maneira depois de termos compartilhado a paciência no silêncio do amor.


Dom Laurence Freeman, OSB



*Salat é o nome que se dá às cinco orações diárias, obrigatórias para os muçulmanos, que são um elo direto entre o criador e as criaturas.

**Dhikr, é um ato de devoção islâmica caracterizado pela repetição dos nomes de Deus bem como súplicas ou fórmulas tomadas dos textos da aḥādīṯ e de versos do Corão. O dhikr costuma ser feito de forma individual, mas em algumas ordens sufis institui-se como uma atividade cerimonial. (Wikipédia)



Fonte: Leitura de Domingo, 02 Agosto 2020
Extraído de “A Prece como Encontro: Uma reunião Cristã e Muçulmana"
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/ramadan-kareem-lua-masjid-eid-4145167/

CÂNCER MORAL


O mau-humor sistemático — vício de comportamento emocional — gera a irritabilidade que desencadeia inúmeros males no indivíduo, em particular, e no grupo social onde o mesmo se movimenta, em geral.

Desconcertando a razão, açula (estimula) as tendências negativas que devem ser combatidas, fomentando a maledicência e a indisposição de ânimo.

Todos aqueles que o alimentam, transferem-se de um para outro estado de desajuste orgânico e psicológico, dando margem à instalação de doenças psicossomáticas de tratamento complexo como de resultados demorados ou nenhuns.

Todas as criaturas têm o dever de trabalhar pelo próprio progresso intelecto-moral, esforçando-se por vencer as más inclinações.

O azedume resulta, também, da inveja mal disfarçada quanto do ciúme incontido.

Atiça as labaredas destruidoras da desavença, enquanto se compraz na observância da ruína e do desconforto do próximo.

Muitas formas de cânceres têm sua gênese no comportamento moral insano, nas atitudes mentais agressivas, nas postulações emocionais enfermiças.

O mau-humor é fator cancerígeno que ora ataca uma larga faixa da sociedade estúrdia (leviana).

Exteriorização do egoísmo doentio, aplica-se à inglória tarefa de perseguir os que discordam da sua atitude infeliz, espalhando a inquietação com que se arma de forças para prosseguir na insânia que agasalha.

Colocando a vida espiritual em primeiro plano nas tuas atividades e conduta, a vida passará a ter sentido superior. Sairás da torpe situação em que te debates e lutarás com mais decisão pela conquista de ti mesmo, em consequência, da tua paz.

Sintonizando com Jesus, sentir-te-ás fortemente atraído por ele, e, mediante uma firme resolução, conquistarás, como os seus primitivos seguidores, a felicidade que ainda não fruíste.


Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis



Fonte: do livro "Receitas de Paz"
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/g%C3%A1rgula-mal-humorado-est%C3%A1tua-780540/


O PENSAMENTO CRIADOR


O pensamento criador é o infinito movimento do pensamento, da emoção e da ação. Isto é, quando o pensamento, que é emoção, que é a própria ação, está desembaraçado em seu movimento, quando não é compelido, influenciado ou amarrado por uma ideia, e não provém do campo originário da tradição ou hábito, esse movimento, então, é criador. Enquanto o pensamento estiver circunscrito, seguro por uma ideia fixa, ou meramente se ajustar a um fundo ou condição e, portanto, tornando-se limitado, um tal pensamente não é criador.

A pergunta que toda a pessoa sensata faz a si própria é a de como despertar esse pensar criador; pois que, quando existe esse pensar criador, o qual é movimento infinito, então não pode mais haver ideia de limitação, de conflito. Este movimento de pensar criador não busca em sua expressão um resultado, uma consecução; seus resultados e expressões não são a sua culminância. Não possui ele culminância ou meta, pois que está eternamente em movimento. A maioria das mentes estão buscando uma culminância, uma meta, uma consecução, e modelam-se segundo a ideia do êxito, e um tal pensamento, um cogitar desses, está de contínuo limitando-se a si próprio. Ao passo que, se não houver ideia de consecução, porém, sim, somente o contínuo movimento do pensamento, como entendimento, como inteligência, então esse movimento de pensamento é criador. Isto é, o pensar criador cessa, quando a mente está estropiada pelo ajustamento oriundo da influência, ou quando funciona com um fundo de tradição que não houver compreendido ou a partir de um ponto fixo como se fosse um animal amarrado a um poste. Enquanto esta limitação e ajustamento existirem, não pode existir pensar criador, inteligência, a única que é liberdade.


J. Krishnamurti



Fonte: do livro "O Medo", 2a. ed., 1948
Instituição Cultural Krishnamurti, RJ
Fonte da Gravura: Tumblr.com