segunda-feira, 3 de agosto de 2020

MECANISMOS DA REENCARNAÇÃO


O Livro dos Espíritos, questão 351: No intervalo que medeia da concepção ao nascimento, goza o espírito de todas as suas faculdades?

“Mais ou menos, conforme o ponto, em que se ache, dessa fase, porquanto ainda não está encarnado, mas apenas ligado. A partir do instante da concepção, começa o espírito tomado de perturbação, que o adverte de que lhe soou o momento de começar nova existência corpórea. Essa perturbação cresce de contínuo até ao nascimento. Nesse intervalo, seu estado é quase idêntico ao de um espírito encarnado durante o sono. À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual deixa de ter consciência na condição, de homem, logo que entra na vida. Essa lembrança, porém, lhe volta pouco a pouco ao retornar ao estado de espírito.”


A Reencarnação é uma necessidade da vida espiritual, assim como a morte é uma necessidade da vida corporal. Nem todos os espíritos compreendem, ou pensam da mesma forma em suas futuras reencarnações. De acordo com a vontade, eles podem apressar ou retardar o momento de se reencarnarem. Cedo ou tarde, no entanto, o espírito sente necessidade de crescer. Algumas reencarnações são impostas porquanto o espírito não tem condições de escolher. No momento de reencarnar, o espírito sofre uma perturbação muito maior do que no momento da morte. A morte é a libertação da escravidão, a reencarnação é o ingresso na mesma.

A alma se une ao futuro corpo no momento da concepção. É definitiva essa união, já que outro espírito não pode habitar aquele invólucro. No entanto, a reencarnação só se completa depois do nascimento. Portanto, no inicio os laços são muito sutis, e se o espírito recua diante da prova pela qual tem de passar, ele pode romper esses laços, e a criança não vinga.

A reencarnação nos ensina que a vida é única, mas que existências carnais são múltiplas. Estamos na vida, seja no corpo, ou fora do corpo. O progresso é incessante. Hoje, desenvolvemos determinados valores, amanhã deixamos esses valores adquiridos armazenados e desenvolvemos outros tesouros que se encontram em germe.

O que hoje possuímos é resultado do nosso esforço – quando positivo – ou da nossa irresponsabilidade – quando negativo. Eloquência, conhecimentos intelectuais, amor, sabedoria, são conquistas do esforço pessoal da pessoa, em experiências passadas. Nada na vida é privilégio.

A palavra carma, dá uma ideia fatalista. Na Índia o conceito de reencarnação é um tanto fatalista: “Nasceu pobre, é para pagar mesmo”. Eis porque Allan Kardec não utilizou a palavra carma, preferindo o termo “Lei de Causa e Efeito”. Ou seja, todo efeito provém de uma causa. Toda causa produz um efeito. Se eu produzo positivamente na vida, receberei a consequência com o mesmo teor. Se eu ajo com irresponsabilidade, eu estou gerando efeitos de desarmonia para mim mesmo no futuro.

A reencarnação consegue explicar que a escassez de hoje, é fruto do desperdício de ontem. Então, o bem que hoje desperdiçamos, nos fará falta amanha. A pessoa que utiliza das outras como objetos sexuais, dilacerando vidas, retorna e transita em uma existência experimentando a solidão, para aprender a dar valor às companhias. O homem rebelde, que em um momento de desespero se mata, atirando com o revolver contra a própria cabeça, retorna em uma situação como doente mental, a fim de poder dar valor a benção de um corpo físico saudável. Aquele que teve muito dinheiro, e que utilizou para a satisfação dos caprichos pessoais, reencarna-se em uma situação de miséria, para aprender a utilizar os recursos com sabedoria. O filho doente, cuja mãe não tem nada a fazer a não ser cuidar dele, é o antigo suicida que se matou induzido por ela. A esposa autoritária, é aquela que foi magoada por nós mesmos, em experiências passadas. O filho rebelde, que causa transtornos na vida dos pais, é o mesmo ser que foi abandonado no passado. E assim por diante...

As antipatias e simpatias, que a psicologia convencional não consegue explicar, a reencarnação explica. A reencarnação também diz que não somos nem anjos nem demônios. Somos o resultado de tudo o que fizemos no passado. Ou seja, somos o melhor de nós, atualmente.

Alguns podem objetar que o esquecimento do passado é um obstáculo para a lógica da reencarnação. A razão diz que, se Deus lançou um véu de esquecimento em relação ao passado, isso não é por acaso. Tem uma razão de ser, porquanto a natureza é sábia. O espírito no entanto, que conhece as suas tendências, pode ter uma ideia do que foi no passado. Além disso, o esquecimento é bem temporário, porquanto, após a morte, ele recobra as suas lembranças. Alias, mesmo encarnado, no momento de desprendimento, quando o corpo adormece, ele tem conhecimento do passado.

A recordação do pretérito traria inúmeras consequências desagradáveis. Será que não sentiríamos sentimento de culpa, ao descobrir que aqueles que convivem conosco, foram magoados por nós em reencarnação anterior? Será que o ódio, ou a mágoa, não reapareceria, quando descobríssemos que um irmão nosso, nos arrancou a existência no passado?

O esquecimento, ao contrário, diminui o conteúdo perturbador das emoções do passado, das animosidades, das antipatias, das atitudes infelizes, ensejando um novo começo, uma nova chance, com probabilidades maiores de vitória!


Fonte: Roteiro de Estudo é destinado ao Grupo de Estudos Básico do Centro Espírita Paulo & Estêvão.
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship) - http://www.grevkafi.org


Bibliografia:

- Estudos Espíritas, Divaldo P. Franco / Joanna de Ângelis, 6ª ed., FEB, 1982.
- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 76 ed., FEB

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