Embora o mito revele um acontecimento que historicamente não podemos conceber como realidade, evidencia, indiscutivelmente, uma realidade psicológica coberta de símbolos que cabe a nós desvelá-los.
Existem vários mitos que reportam ao labirinto. A mais conhecida tradição nos conta que Dédalo, construtor e arquiteto das Ilhas de Creta, construiu um labirinto para o Rei Minos, que havia se tornado rei, graças a ajuda do deus Posseidon.
Para assegurar o reinado de Minos, Posseidon criou um touro branco e lhe deu de presente. A esposa de Minos, Pasifae, enamorou-se perdidamente pelo touro branco e pediu a Dédalo que então fabricasse uma vaca de bronze, bela e atrativa o suficiente para se meter dentro e seduzir o touro branco para que ele se apaixonasse por ela.
A tragédia é enorme, pois desse relacionamento acabou nascendo uma besta, metade homem, o minotauro. Esse monstro passou a residir no interior do labirinto, causando verdadeiro terror aos cretenses. Vários homens tentaram matar o minotauro, mas acabavam se perdendo no caminho; amedrontados, não chegavam ao fim; ou os que mais se aproximaram acabaram vencidos pela besta.
Surgiu, então, um herói, Teseu, futuro Rei de Creta, que só aceitou assumir o reinado com a condição de matar o minotauro. Entrou no labirinto com um machado de duplo fio e um fuso de lã que Ariadne, filha do Rei Minos havia lhe dado, para desenrolá-lo, marcando o caminho. Teseu chega então no centro do labirinto e em luta contra o minotauro, acaba matando-o. Para sair do labirinto, percorreu de volta o caminho sinalizado com o fio que havia desenrolado, recolhendo-o e enrolando-o de volta ao fuso, até torná-lo um novelo esférico.
Podemos relacionar o sentido do labirinto com certos aspectos da psique humana, a seguir abordados:
O fuso simboliza a imperfeição interior do homem, que necessita passar por várias provas para se desenvolver, ou seja, enfrentar os problemas cotidianos que assolam dia a dia. A esfera que Teseu constrói ao recolher o fio, simboliza a perfeição conquistada por ter enfrentado o minotauro.
O minotauro representa a matéria cega, os nossos instintos, egoísmos, vícios e defeitos. Foi gerado como fruto da paixão cega, sem a diretriz de uma razão superior.
O machado de duplo fio utilizado por Teseu representa a vontade, pois somente conseguiremos abrir os nossos caminhos se tivermos uma força de vontade inquebrantável.
O fio, que sinalizou o caminho para Teseu não se perder no labirinto, simboliza a consciência do homem, a nossa memória, que possibilita recordarmos os caminhos já percorridos, os nossos percalços, como uma chance para não cometermos os mesmos erros. Reconhecemos dessa forma os lugares pelos quais já percorremos e os que ainda faltam percorrer.
Ariadne é nossa alma salvadora, pois justo quando Teseu encontrava-se num momento de angústia, ela lhe trouxe uma solução para poder destruir o minotauro e sair do labirinto.
Teseu somos nós, que decididos, com força de vontade e conscientes, enfrentamos o minotauro que nos assola, representado pelo excesso de materialismo, pela paixão desgovernada que gera sofrimento, carências afetivas, rejeições, falta de autoestima, medos, angústias, dúvidas, inseguranças, rancores, preguiças e preocupações.
Não podemos deixar que o minotauro nos vença, pois temos que lutar e chegar no nosso próprio centro, no olho do furacão, onde tudo é calmo e silencioso, onde estamos seguros, conscientes e verticalizados.
Lembrem-se que Teseu somente venceu o minotauro porque teve a coragem de enfrentá-lo. Coragem para vencermos a nós mesmos!
Grasiela Thomsen
Fonte: Boletim Informativo Orfeu, n° 27, p. 6, Jul-Ago 2001
Nova Acrópole Associação Cultural – Porto Alegre/RS
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/est%C3%A1tua-escultura-pierre-monumento-3867432/
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