Apesar do grande número de fenômenos que o ser humano percebe, para as finalidades que temos em vista eles podem ser classificados em duas divisões gerais: físicos e não-físicos.
A primeira classificação consiste daquelas realidades, objetos e acontecimentos, que o homem pode perceber por meio de seus órgãos sensoriais, ou seja, seus olhos, ouvidos etc. [...] A segunda classificação consiste daquelas percepções ou sensações que são o resultado da consciência do eu. Elas são muito diferentes das experiências físicas.
[...] O ser humano é impregnado de uma força vital misteriosa. Concebemos que a inteligência é um atributo desta força vital, ou que ela, pelo menos, está integrada a seu funcionamento. Logo, evidentemente, esta inteligência inata também existe nos neurônios cerebrais, ou células cerebrais, onde provê uma sensibilidade para aqueles impulsos que nos chegam, através dos nossos órgãos sensoriais, do mundo exterior. Em outras palavras, no cérebro, esta força vital e inteligência tornam possível nossas experiências físicas, equivalendo à nossa consciência objetiva.
[...] Para o místico, a consciência, o estado de percepção, é existência. Para o homem, aquilo de que ele está cônscio é. Todos os poderes que o ser humano é capaz de exercer, sejam físicos, mentais ou psíquicos, só podem ser relacionados com aquilo de que ele tem conhecimento, aquilo que lhe é real. [...] Todavia, o místico sabe que as realidades da sua consciência são duplas: aquelas coisas, ou particulares, que têm uma existência objetiva, como seu corpo e o mundo externo; e aquelas realidades da sua consciência que são percepções interiores, que surgem das profundezas de si mesmo, como emoções, estados de alma, inspirações. Estas últimas podem transformar-se num ímpeto que o farão ter vivências objetivas, mas sua origem parece limitada à natureza etérea do seu ser.
Para o místico, a única separação que existe é esta dualidade da sua consciência, a inclinação para distinguir entre as realidades do eu e as do mundo objetivo. Na realidade, o místico entende que todas estas realidades são parte de uma grande ordem hierárquica, uma escala graduada. Essa gradação é acorde com a simplicidade ou complexidade da sua natureza. Quanto mais complexas as realidades, maior é a sua manifestação de uma inteligência universal — em outras palavras, mais elas representam toda a ordem hierárquica ou Cósmica.
As atividades do eu, as realidades de nosso ser interior são mais complexas neste sentido do que aquelas particularidades do mundo material ou cotidiano que percebemos. Se, por analogia, a ordem Cósmica ou Deus, como preferir, é a síntese de tudo, então, aquele Deus, evidentemente, é complexo — infinito em substância e variedade. Se nos tornamos cônscios do complexo, ou das maiores expansões ou manifestações da Sua natureza, maior a nossa intimidade com Ele, mais Nele viveremos.
Como as causas das sensações do eu são bastante impalpáveis, não são identificadas com substância, nem podem ser realmente localizadas no corpo humano, elas sempre foram muito misteriosas para o homem. [...] Então, como se deveriam identificar os elementos impalpáveis do nosso eu? A conclusão era que eles deviam transcender o mundo, devido à impossibilidade de serem sentidos como pertencentes ao mundo. Esses elementos eram considerados de natureza Divina, devido à sua aparente infinidade e imaterialidade. A alma, portanto, tornou-se o repositório para todas essas qualidades indeterminadas do homem, sendo psique o vocábulo grego que o definiu.
Essa ideia de alma deu expressão à vida espiritual do homem. Quando passou a examinar as influências sutis da alma e, seu estranho efeito sobre ele, como sua natureza melhor, sua vida espiritual mudou como consequência. Tentou viver em harmonia com os sentimentos da alma e com sua compreensão do que julgava que ela fosse.
[...] A maioria de nós deve estar bem familiarizada com o conceito cristão de alma. Naturalmente, a ideia cristã fundamental foi modificada pelas várias interpretações de diferentes seitas. De modo geral, o cristianismo considera que a alma possui uma contínua existência consciente. Em outras palavras, segundo a opinião cristã geral, a alma tem autoconsciência. O cristão reconhece a dualidade do homem: por um lado, o corpo físico e mortal e, por outro, a alma — a vida espiritual ou o ser do homem. Ele agora declara que ambos são de Deus, coisa que, incidentalmente, os primeiros cristãos não ensinavam. Além disso, o cristianismo salienta que a alma não é absorvida em Deus, mas conserva sua identidade separada, e que não se torna completamente absorvida no espírito universal ou essência de Deus, como as filosofias hindu e budista afirmam. Além disso, o cristianismo não reconhece a perfeição da alma (o que pode ser um ponto controvertido, mas a controvérsia resulta apenas das diferenças de interpretação). A alma do homem, para o cristão, é imperfeita até que tenha sido purificada, até que passe pelo processo de salvação.
A concepção rosacruz de alma é verdadeiramente mística. O rosacruz também começa com o reconhecimento da dualidade da natureza do homem — o corpo físico terreno composto do pó da terra, imbuído de energia espiritual, da mesma forma que todas as coisas animadas e inanimadas. Não se faz distinção alguma entre a natureza física do corpo do homem, no tocante às suas propriedades básicas, e a de qualquer outra substância física. Todas são consideradas terrenas. Logo, esta concepção rosacruz reconhece a alma como uma essência espiritual e divina, residente dentro do corpo, durante o período da sua existência terrena. O rosacruz também declara que a alma é informe; isto é, que a alma não tem nenhuma forma definida e concreta capaz de ser descritível ou comparável a qualquer outra coisa de natureza material. Considera a alma como uma espécie de energia, assim como o pensamento não tem forma física, mas pode dar origem, dentro da consciência, à ideia de forma.
O rosacruz afirma que a alma no homem não é uma entidade separada, individual, distinta da alma de todos os outros seres, mas que é parte da energia da alma universal que flui por igual através de todos os homens. A alma no indivíduo mais degradado é tão pura e tão divina quanto a alma do ser altamente iluminado e espiritual. A diferença aparente que existe é uma questão de expressão. É uma reação pessoal à força da alma, tal como a energia elétrica que corre por um circuito elétrico pode, em algumas lâmpadas naquele circuito, produzir uma luz azul e, em outras, uma luz branca e pura, mas a qualidade da corrente elétrica é a mesma em todos os casos. Portanto, a alma no homem é perfeita em todos os momentos e, por conseguinte, não pode ser aperfeiçoada. Afirmar que a alma pode ser aperfeiçoada, diz o rosacruz, é admitir a sua imperfeição. O rosacruz declara que, como a alma emana de uma fonte divina e é a única essência divina no homem, como podemos nós afirmar que essa divindade é imperfeita, ao dizer que a alma deveria ser aperfeiçoada?
A alma se manifesta diferentemente em cada um de nós, devido ao desenvolvimento psíquico do indivíduo, isto é, à sua capacidade de reagir, como se disse acima, à força espiritual dentro dele. É o ego ou personalidade do indivíduo que tem de ser aperfeiçoado. À medida que desenvolvemos e aperfeiçoamos nosso ego e nossa personalidade interior, chegamos eventualmente a apreciar, compreender e perceber a força anímica dentro de nós. Corrigimos nosso pensamento, corrigimos nossos modos de vida e permitimos que a alma se expresse sem obstáculos. Assim, encontramos alguns indivíduos mais iluminados do que outros, mais espiritualistas em manifestação do que outros, mas, em essência, todos são espiritualmente iguais, afirmam os rosacruzes. [...]
Ralph M. Lewis, F.R.C.
Ex-Imperator da Ordem Rosacruz — A.M.O.R.C.
Fonte: do livro "O Santuário do Eu", Biblioteca Rosacruz, 2ª ed., Ed. Renes, RJ
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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