domingo, 7 de junho de 2020

ESPERANÇA - ORIENTAÇÃO FUNDAMENTAL DA CONSCIÊNCIA


Esperança não é o mesmo que desejar alguma coisa. Não se trata de sonhar acordado com alguma coisa. Trata-se do oposto da fantasia. Trata-se de uma atitude ou orientação fundamental da consciência. Trata-se de nos voltarmos para fora. Ser esperançoso é descobrir que somos parte integrante de algo maior do que nós mesmos, e que vivemos com a energia dessa realidade completa. A esperança é a auto disposição para o exterior, qualquer que seja a dificuldade de se manter disposto ao exterior. Desespero é a rendição da consciência à energia da introversão. . . A esperança é uma virtude absoluta, constante e não condicionada. Você não pode ser esperançoso apenas quando as coisas correm bem. Você precisa ser esperançoso e, num certo sentido, escolher ser esperançoso, em qualquer circunstância, qualquer que seja a tendência a mergulhar de volta na consciência de si mesmo, no seguro invólucro do ego. A esperança é uma das virtudes que resultam da prece profunda, onde nos voltamos de nós para Deus. . . Esperança é aspirar ao conforto de estar completamente em seu lar. Trata-se da mais forte aspiração de nosso ser.


Dom Laurence Freeman, OSB



Leitura de Domingo, 07 Junho 2020
Fonte: do livro "Perder para Encontrar", de Dom Laurence Freeman, OSB (Petrópolis, Ed. Vozes, 2009)
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
http://www.wccm.com.br/leitura-laurence-freeman-osb/957-esperanca
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O GRANDE AGORA


[...] Deverá dar a máxima atenção ao seu pensamento, principalmente ao pensamento plástico. A capacidade de concentração... evoca imagens penetrantes do Akasha, através do pensamento plástico; elas são fortemente vitalizadas a tentam se concretizar. Por isso só devemos ter pensamentos nobres e puros, e devemos tentar transformar nossas eventuais paixões em qualidades positivas.

A alma do mago já deverá ser tão nobre que ele nem mesmo conseguirá ter pensamentos negativos ou desejar o mal a alguém. Um mago deve agir de modo amável, prestativo a solidário, generoso e respeitoso, discreto e silencioso. Deve estar livre de egoísmo, orgulho e ganância. Essas paixões se refletiriam no Akasha, e como o princípio do Akasha contém a analogia da harmonia, o próprio Akasha colocaria obstáculos no caminho do mago impedindo a sua evolução, ou o que é pior, tornando-a impossível. Um Progresso posterior estaria então totalmente descartado.

É só nos lembrarmos do livro de Bulwer, "Zanoni", no qual a guardiã da fonte nada mais é do que o Akasha, que impede o acesso dos grandes mistérios aos impuros a imaturos. Mesmo se eles o conseguirem, então o Akasha tentará transformar tal pessoa, deixá-la ser dominada pela dúvida, ou prendê-la a um golpe do destino, para proteger os mistérios de todas as formas possíveis. A um imaturo os mistérios permanecerão sempre ocultos, mesmo se forem divulgados em centenas de livros.

Um mago verdadeiro desconhece o ódio religioso ou sectário; ele sabe que toda religião possui seu sistema específico que levará seus devotos a Deus, por isso ele a respeita. Ele sabe que toda religião tem erros, mas ele não a julga, pois cada dogma serve ao estágio de maturidade espiritual de seu adepto.

Através da sua evolução o mago passará a ser suficientemente maduro a ponto de enxergar com sua visão espiritual todos os pensamentos, todas as ações, todas as atitudes, relativas ao passado, ao presente ou ao futuro.

Ele sempre será tentado a julgar o seu semelhante mas com isso ele poderia contrariar as leis e provocar uma desarmonia. Um mago desse tipo não possui maturidade suficiente e perceberá que o Akasha anuviará a sua clarividência e o Maya o atormentará com ilusões. Ele precisa saber que o bem e o mal têm direito à existência a que cada um tem uma missão a cumprir. Um mago só poderá chamar a atenção de uma pessoa ou julgar seus defeitos e fraquezas quando convocado diretamente para tal, a deverá fazê-lo sem colocar nisso uma crítica.

O mago autêntico aceita a vida como ela é, o bem lhe traz alegria e o mal lhe traz o aprendizado, mas ele nunca se deixa abater. Ele conhece as próprias fraquezas e se esforça em dominá-las. Jamais cultivará o arrependimento ou a culpa, pois estes são pensamentos negativos e portanto devem ser evitados. É suficiente que ele reconheça seus erros e não os repita novamente.

É basicamente errôneo prender-se ao passado e lamentar as coisas desagradáveis que o destino lhe impôs. Só os fracos queixam-se constantemente para despertar a piedade dos outros. O verdadeiro mago sabe que através da evocação de imagens do passado elas podem voltar à vida, desencadeando novas causas e criando novos obstáculos no seu caminho. É por isso que o mago vive exclusivamente o presente e olha para trás só em caso de necessidade. Para o futuro ele fará só o planejamento do que for estritamente necessário e deixará de lado todas as ilusões a fantasias, para não gastar com elas as energias tão arduamente conquistadas, e para não dar ao subconsciente a possibilidade de criar obstáculos em seu caminho.

O mago trabalha objetivamente na sua evolução sem esquecer seus deveres materiais, que deverão ser cumpridos com tanta conscienciosidade quanto as tarefas de sua evolução espiritual. Portanto, ele deverá ser muito severo consigo mesmo. Deverá sempre ser muito prudente, e no que se refere à sua evolução, discreto.

O princípio do Akasha não conhece o tempo nem o espaço, ele age, portanto, sempre no presente, pois os conceitos temporais dependem dos nossos sentidos. É por isso que recomendamos ao mago adaptar-se o máximo possível ao Akasha, reconhecendo-o como o grande AGORA, pensando e agindo em função dele. [...]


Franz Bardon



Fonte: do livro "Iniciação ao Hermetismo"
Edição digital de Comunidade PGEM
Via http://br.groups.yahoo.com/group/haon
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A TRANSFORMAÇÃO COMEÇA DENTRO CADA PESSOA


O progresso da pessoa e o progresso da sociedade caminham juntos. Nosso mundo moderno não pode alcançar a paz e uma ordem social plenamente justa, apenas pela aplicação de leis que atuam sobre o homem, por assim dizer, vindas de fora dele. A transformação da sociedade começa dentro da pessoa. Começa com o amadurecimento e a abertura da liberdade pessoal em relação a outras liberdades - em relação ao resto da sociedade. A 'doação' cristã que é exigida de nós é uma participação inteligente e plena da vida de nosso mundo, não somente com base na lei natural, mas também na comunhão e reconciliação do amor interpessoal. Isso significa uma capacidade de estar aberto para os outros como pessoas, de desejar para os outros tudo o que sabemos ser necessário para nós mesmos, tudo o que é exigido para o pleno crescimento e até para a felicidade temporal de uma existência plenamente pessoal.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Amor e vida"
Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

AS SETE LEIS ESPIRITUAIS DO SUCESSO


Para praticar estas leis, e gradualmente ir-se habituando a elas e aos seus efeitos, aplique uma em cada dia da semana, começando no Domingo:

Lei da Potencialidade Pura
Crie tempo para estar só, em silêncio, e simplesmente Ser.
Comungue com a natureza, observando algum dos seus elementos ou manifestações.
Pratique o não-julgamento, tanto em relação a situações como a pessoas.

Lei do Dar e do Receber
Ofereça algo (por ex. um sorriso, um cumprimento, ou um desejo) a todas as pessoas que vir.
Receba e agradeça tudo o que a vida lhe oferece.
Dê e receba carinho, afeição, apreço, amor.

Lei do “Karma” ou da Causa e Efeito
Pense, fale e aja sempre de modo positivo - útil, amável e verdadeiro.
Esteja consciente do presente e das consequências (p/ si e p/ os outros) de cada escolha que faz.
Peça orientação para elas, escutando a sua intuição e as mensagens do seu corpo.

Lei do Mínimo Esforço
Pratique a aceitação de pessoas, situações, circunstâncias e eventos tal como são e ocorrem.
Tome responsabilidade por tudo o que lhe acontece e não atribua culpas a nada nem a ninguém.
Liberte-se da necessidade de defender o seu ponto de vista, e de querer convencer ou persuadir os outros.

Lei da Intenção e do Desejo
Liste todos os seus desejos, guarde a lista consigo, e leia-a de manhã e à noite.
Confie, quer se realizem, quer não, lembrando-se que “nada acontece por acaso”.
Aceite o presente tal como ele é, libertando-se da necessidade de saber os resultados.

Lei do Desapego
Dê a si próprio e aos outros a liberdade de serem quem são.
Não force soluções para os problemas.
Aceite a incerteza e entre no campo de todas as possibilidades.
Antecipe a excitação que pode ocorrer a partir da sua abertura a uma infinidade de escolhas.

Lei do “Dharma” ou do Propósito da Vida
Procure conhecer e contactar o seu Eu superior.
Abra-se a descobrir as suas qualidades e os seus talentos únicos.
Pergunte como pode melhor servir e ajudar.


Dra. Lígia Maria Carvalho de Noronha



Adaptação de “As Sete Leis Espirituais do Sucesso”,
do médico holístico indiano, Dr. Deepak Chopra
Fonte da Gravura: Tumblr.com

sábado, 6 de junho de 2020

MATURIDADE


Ninguém pode despertar para a percepção da Realidade Absoluta, da harmonia do cosmos, antes que seu tempo tenha chegado. É, por isto, supérfluo, e, por vezes, prejudicial, querermos impor certas ideias a certas pessoas ainda não suficientemente evolvidas; não as podem receber, assim como uma fêmea imatura não pode conceber um filho. Não podemos fazer desabrochar um botão de rosa antes do tempo marcado pela natureza da planta; podemos sacudir o botão, comprimi-lo, abri-lo a força, e, possivelmente, estragá-lo – mas não o podemos fazer florescer. Um raio solar, porém, fará a seu tempo, suavemente, com um beijo cálido, o que nenhuma violência inoportuna consegue realizar.

Podemos, todavia, preparar os caminhos a nossos semelhantes para que, a seu tempo, recebam e assimilem certas ideias – embora não lhes possamos dar essas ideias. Todo enriquecimento interior vem, por assim dizer, em sentido vertical, ao passo que todo nosso trabalho preliminar, de mestres, guias e educadores, é meramente horizontal. Entretanto, no ponto de intersecção entre o vertical e a horizontal está a grande experiência e o segredo último de todo progresso. Da combinação da vertical e da horizontal resulta uma cruz, símbolo da redenção; este mesmo símbolo é chamado na matemática mais, na física positivo, e nas religiões esotéricas o mesmo sinal significa infinito ou universal.


Huberto Rohden



Fonte: do livro "Profanos e Iniciados", Ed. Alvorada, 1990
Fonte da Gravura: Tumblr.com

QUE PAZ QUEREMOS ?


Se os homens desejassem de fato a paz, haveriam de pedi-la sinceramente a Deus e ele a concederia. Mas por que dar ele a paz a um mundo que em verdade não a quer? A paz que o mundo finge querer não é, de modo algum, verdadeira paz.

Para alguns a paz significa apenas a liberdade de explorar os outros, sem medo de represálias ou intervenção. Para outros, a paz significa a liberdade de roubar o próximo sem interrupção. Há ainda os que consideram a paz como meio para devorar tranquilamente os bens da terra, sem serem obrigados a interromper seus prazeres, para dar de comer aos que sua ganância faz morrer de fome. E para a quase generalidade dos homens, a paz significa simplesmente a ausência de qualquer violência física, que poderia lançar uma sombra sobre vidas dedicadas à satisfação de apetites animais, ao conforto e aos prazeres.

Muitos desses já pediram a Deus o que julgavam ser a 'paz', admirando-se de sua oração não ter sido atendida. [...] Deus deixou-lhes o que desejavam, pois a ideia deles sobre a paz era apenas outra forma de guerra. A 'guerra fria' é simplesmente a consequência normal de nossa ideia corrompida de uma paz baseada numa política de 'cada um por si' no campo da ética, da economia e da política. É um absurdo esperar uma paz sólida, baseada em ficções e ilusões!

Portanto, em lugar de amarmos o que imaginamos ser a paz, tratemos de amar os outros e a Deus acima de tudo. E em vez de odiar os que julgamos serem causadores de guerra, odiemos os apetites e as desordens de nossa própria alma, que são as causas da guerra. Se amarmos a paz, então, detestemos a injustiça, a tirania, a ganância - mas detestemos essas coisas 'em nós mesmos', não no outro.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Novas Sementes de Contemplação"
Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

INUTILIDADE E INDIVIDUALIDADE


Além de nos ensinar a valorizar nossas doenças, as parábolas de Chuang Tsé nos dizem que, para desenvolver nosso pleno potencial, precisamos nos tornar inúteis para o mundo. Caso contrário, viveremos vidas amargas e insatisfeitas, maltratados e despojados de partes preciosas da nossa personalidade. A seu modo exagerado, Chuang Tsé está nos dizendo para vivermos como seres individuais.

Jung também enfatizou a importância de vivermos a singularidade da nossa vida. O elemento-chave no processo de individuação é o desenvolvimento da personalidade própria enquanto oposta à vida na coletividade. Jung sentia uma inquietação específica a respeito da situação crítica do indivíduo na sociedade moderna; pois observou que, no instante em que o indivíduo se associa à massa, sua singularidade é diminuída e obscurecida.

Como Jolande Jacobi indicou em The Way of lndividuation [O Caminho da Individuação]:

E demasiado grande o número de pessoas que não vivem suas próprias vidas e geralmente quase nada conhecem de sua verdadeira natureza. Elas fazem um esforço violento para "se adaptar", para não se diferenciar de nenhum modo, para fazer exatamente aquilo que as opiniões, regras, regulamentos e hábitos do ambiente exigem como sendo "o certo". Elas são escravas "daquilo que os outros pensam", "daquilo que os outros fazem" etc.

E é isso que ocorre, cada vez mais, quanto mais tentamos viver como membros médios da sociedade - casando, tendo filhos, nos estabelecendo em uma profissão estável e assim por diante. Essas normas são fatais, em especial para aqueles cujos padrões interiores se desviam tremendamente da média, como os artistas, os gênios, os padres e as freiras.

Quanto mais nos alinhamos com os nossos próprios caminhos individuais, menos somos capazes de viver estritamente segundo as normas e valores coletivos. Para realizar a nossa totalidade, é preciso que nos libertemos dos sugestionamentos da psique coletiva e do mundo à nossa volta e que estejamos dispostos a parecer inúteis ou estúpidos.

Nas palavras de Lao Tsé:

Quando o sábio superior ouve falar do Caminho, ele O percorre com muita sinceridade, Quando o sábio mediano ouve falar do Caminho, às vezes O segue, às vezes O esquece. Quando o sábio inferior ouve falar do Caminho, ele dá sonoras gargalhadas. E se ele não der sonoras gargalhadas, esse não seria o Caminho. Logo, se buscas o Caminho, segue o som das gargalhadas! (1)

Lieh Tsé levou ainda mais longe a ideia de ser inútil, sugerindo que nos abstenhamos de sacrificar até mesmo um único fio de cabelo em benefício do mundo. Só assim o mundo estaria em ordem. Isso, mais uma vez, é um exagero; Lieh Tsé não quis dizer que devemos abandonar o mundo e nos tornar eremitas. O verdadeiro sábio tem como meta seguir sua própria natureza no mundo.

Nas palavras de Chuang Tsé:

Só o homem perfeito pode transcender os limites do humano e, ainda assim, não se retirar do mundo; vive de acordo com a humanidade e, ainda assim, não prejudicar a si mesmo. Dos ensinamentos do mundo, ele nada aprende. Ele possui aquilo que o torna independente dos outros. (2)

Em outras palavras, devemos ter como meta nos tornarmos nós mesmos e trazermos para o mundo aquilo que somos.


Gary Toub


Notas:
1. Lao Tsé: Tao Te King, org. G. F. Feng e J. English (Nova York: Vintage Books, 1972), cap. 41.
2. Chuang Tsé: Chuang Tzu, trad. H. Giles (Londres: Unwin Paperbacks, 1980), págs. 263/264.



Fonte: do livro "Ao Encontro com a Sombra", Ed. Cultrix, Connie Zweig e Jeremiah Abrams (Orgs.)
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

sexta-feira, 5 de junho de 2020

DESPERTAR CONTEMPLATIVO


Pelo simples fato de todos os homens buscarem instintivamente, de um modo ou de outro, o despertar de seu verdadeiro eu interior, todas as formas sociais válidas de religião procuram, de alguma maneira, propiciar uma situação tal em que cada membro do grupo de adoradores possa elevar-se acima do grupo e acima de si mesmo para encontrar a si e aos demais em um nível superior. Isso implica que todas as formas verdadeiramente sérias e espirituais de religião aspiram, ao menos implicitamente, a um despertar contemplativo do indivíduo e do grupo. Mas as formas de religião e adoração litúrgica que perderam o impulso inicial do fervor tendem a esquecer cada vez mais seu propósito contemplativo, passando a dar importância exclusiva aos ritos e às formas cerimoniais por si mesmos ou pelo efeito que se espera que causem no Ser adorado.


Thomas Merton, OSB 



Fonte: do livro "A experiência interior"
Via: Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: Tumblr.com

IMPERMANÊNCIA: ENSINAMENTO BÁSICO DO BUDISMO


"Devemos encontrar a perfeita existência através da existência imperfeita."


O ensinamento básico do budismo é a impermanência ou a mudança. Para cada existência, a verdade básica é que tudo muda. Ninguém pode negar essa verdade e todo o ensinamento do budismo está condensado nela. Este é o ensinamento para todos. Seja onde for, este ensinamento é verdadeiro. [...]

Este também é chamado o ensinamento do nirvana. Quando percebemos a perene verdade de que "tudo muda" e encontramos serenidade nisso, descobrimo-nos no nirvana.

Sem aceitar o fato de que tudo muda, não podemos encontrar perfeita tranquilidade. Mas, infelizmente, embora seja verdade, temos dificuldade em aceitá-lo. Por não conseguirmos aceitar a verdade da impermanência é que sofremos. Em consequência, a causa do sofrimento é a não aceitação dessa verdade. O ensinamento da causa do sofrimento e o ensinamento de que tudo muda são, pois, dois lados da mesma moeda. Em termos subjetivos, a impermanência é a causa de nosso sofrimento. Em termos objetivos, este ensinamento é simplesmente a verdade básica de que tudo muda.

[...] Devemos encontrar a perfeita existência através da existência imperfeita. Devemos encontrar a perfeição na imperfeição. Para nós, a completa perfeição não é diferente da imperfeição. O eterno existe por causa da existência não-eterna. No budismo, esperar algo fora deste mundo é um ponto de vista herético. Não buscamos nada fora de nós mesmos. Devemos encontrar a verdade neste mundo, através de nossas dificuldades, de nosso sofrimento. Este é o ensinamento básico do budismo. O prazer não é diferente da dificuldade. Bom não é diferente de mau. Bom é mau; mau é bom. São dois lados da mesma moeda. Portanto, a iluminação deve estar na prática. Este é o entendimento correto da prática, o entendimento correto da nossa vida. Assim, encontrar prazer no sofrimento é a única maneira de aceitar a verdade da impermanência. Sem compreender como aceitar essa verdade, você não pode viver neste mundo. Mesmo que tente escapar dele, seu esforço será em vão. Se você pensa que existe alguma outra maneira de aceitar a eterna verdade de que tudo muda, é ilusão sua. Este é o ensinamento básico de como viver neste mundo. Qualquer que seja seu sentimento acerca disso, você tem de aceitá-lo. Você tem de realizar este tipo de esforço.

Assim, enquanto não nos tornarmos fortes o bastante para aceitar a dificuldade como prazer, temos de continuar no esforço. Na verdade, quando você se torna suficientemente honesto e franco, não é tão difícil aceitar essa verdade. Você pode mudar um pouco sua maneira de pensar. Sabemos que é difícil, mas a dificuldade não será sempre a mesma - algumas vezes será difícil, outras nem tanto. Se você está sofrendo, achará algum prazer no ensinamento de que tudo muda. Quando você tem problemas, é bem fácil aceitar este ensinamento. Então, por que não aceitá-lo em outras ocasiões? É a mesma coisa. As vezes, você até pode rir de si mesmo ao descobrir quão egocêntrico é. Mas, independente de como se sinta a respeito deste ensinamento, é muito importante mudar sua maneira de pensar e aceitar a verdade da impermanência.


Shunryu Suzuki



Fonte: do livro "Mente Zen, Mente de Principiante", Ed. Palas Athena
Editado por Trudy Dixon - Tradução de Odete Lara
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/medita%C3%A7%C3%A3o-reflex%C3%A3o-mulher-pessoa-3664103/

AHIMSA - ALÉM DA NÃO-VIOLÊNCIA: O AMOR


Todos somos como vibrações localizadas da infinita bondade da presença de Deus. Então, o amor é a nossa própria natureza. O amor é nosso primeiro, meio e último nome. Amor é tudo; não o amor como sentimentalismo, mas o amor que é auto esquecido e sem interesse próprio.

Isso também é maravilhosamente exemplificado na vida e obra de Gandhi. Ele nunca tentou ganhar nada. Ele apenas tentou mostrar amor; e é isso que "ahimsa" realmente significa. Não é apenas um negativo. A não-violência não captura seu significado. Significa mostrar amor incansavelmente, não importa o que aconteça. Esse é o significado de dar a outra face. De vez em quando você precisa defender alguém, mas isso significa que você está sempre disposto a sofrer primeiro pela causa - ou seja, pela comunhão com seus inimigos. Se você vencer seus inimigos, você falhou. Se você faz de seus inimigos seus parceiros, Deus conseguiu.


Pe. Thomas Keating, OCSO



Fonte: Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/religi%C3%A3o-ahimsa-ahura-mazda-baha-i-2028188/

INTER-RELACIONAMENTO HUMANO


Personagens e seus valores

Herdamos um mundo com a construção já em andamento, cheio de padrões e paradigmas* assentados conforme as condições da sociedade local. Os valores culturais desse sítio em que habitamos são estabelecidos pela somatória dos gostos e aptidões comuns de nossos conterrâneos, variando de uma região para outra.

Além disso, crescemos identificando as pessoas com quem nos relacionamos pelos postos e valores sociais que elas ocupam (o pai, a mãe, o irmão, o padre, o professor, o médico, o policial etc.). Então, nesses termos, para nós as pessoas que a princípio estão sob rótulos e valores são personagens de um conjunto social. Esses títulos conceituam os Seres e acabam diferenciando-os uns dos outros, criando a ilusão de que o Espírito que anima o homem tenha a medida igual à metragem humana.

Assim é que a mãe diz amar o filho, o filho diz amar a mãe, o esposo diz amar a esposa etc. Todavia, faz-se necessário averiguar se esse benquerer é de fato direcionado ao Ser ou ao posto ocupado por esse personagem. Supomos então uma trama: Maria (mãe) diz amar Joãozinho (filho), do jeito que ele é, incondicionalmente como se diz ser o amor materno. Porém, Maria conhece verdadeiramente quem é o Ser que agora anima o personagem de seu filho? E se conhecesse, ela modificaria seu sentimento? Ora, digamos que o Espírito X, que nesta vida encarnou como filho, tenha sido na vida passada de Maria o seu esposo, seria nela o mesmo sentimento de hoje tal qual fora lá atrás?

Não, provavelmente.

Enquanto na vida material a posição que os Espíritos ocupam numa encarnação pesa no sentimento que lhe atribuímos, pois desconhecemos os valores espirituais destas almas. Não raro, supomos que o status terreno e as características físicas reflitam o valor desta alma no plano espiritual.

Olhando então para aqueles com quem compartilhamos nossos dias, temos o desafio de compreendê-los por dois prismas: o primeiro é o de que todos os indivíduos são consciências espirituais, com valores espirituais, sendo esses valores diferentes da organização a que estamos submetidos na Terra; o segundo critério a ser observado é que, embora sejamos seres espirituais, ora ocupamos uma identidade fictícia nas encarnações, logo, precisamos representar bem esse personagem, o que nos cobra respeitarmos o papel que cada um exerce aqui. O pai biológico, por exemplo, num plano espiritual é mais um irmão nosso, muitas vezes muito mais atrasado moral e, ou intelectualmente que o próprio filho, todavia, nessa ficção que é a vida carnal, exercendo a paternidade, requer do filho o tratamento especial pelas ligações consanguíneas.

Saber que espiritualmente não somos isso que dramatizamos na Terra não implica em desprezarmos essa realidade material temporária, mas sim nos sugere vivermos nosso personagem dignamente para irmos ao encontro do que verdadeiramente somos - porque invariavelmente isso ocorrerá, após o prazo desta encarnação.

Se herdamos um plano físico já em desenvolvimento - portanto, não sendo exatamente uma construção nossa - é porque há uma consciência maior coordenando tudo, desta maneira, é justo pensar que o planejamento natural visa propósitos acertados para todos nós, ou seja, a posição que ocupamos neste plano terreno - por exemplo, sendo homem ou mulher; rico ou pobre; branco, negro ou amarelo; neste país ou em outro etc. - satisfaz a uma ordem sobreposta à nossa vontade. E pelo fato de supormos que poderíamos ser aquela pessoa, ocupar aquele outro posto e viver numa situação qualquer diferente da que ora vivemos, faz com que despendamos grande parte de nossa vida nos imaginando fora de onde estamos e do que somos.

Viver imaginando ser outra pessoa é negar a si mesmo e desdenhar a posição que ocupamos, desobedecendo aos desígnios da natureza, que nos confiou o bom exercício do personagem que nos foi destinado e que devemos interpretar dignamente. Se os outros têm atributos que julgamos ser salutares, que conquistemos então esses valores para o nosso personagem, sem que seja preciso - porque é impossível - trocarmos os papeis.

Uma vez que a consciência não pertence ao corpo material, concluímos que nosso Ser essencial é na forma espiritual, que sobreviverá à morte corporal, numa dimensão diferente desta onde ora vivemos. Desta forma, é justo crermos que o papel que estamos representando e suas características de vida estejam limitados ao tempo desta encarnação, e que passada esta temporada, viveremos sob novas condições, características da nova dimensão onde habitaremos. Isto nos remete à ideia de que aquilo que aqui fazemos terá relação com a posição futura a ser ocupada por cada um de nós.

A esperança de ocuparmos uma posição melhorada, em relação ao que atravessamos na forma humana, deve nos dar forças para desempenharmos os propósitos que hoje nosso personagem terreno nos reclama.


Louis Neilmoris


* Paradigma: algo que sirva de modelo, padrão, exemplo comum.


Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: Tumblr.com

quinta-feira, 4 de junho de 2020

NATUREZA DO ESOTERISMO


Uma das definições mais inadequadas do esoterismo é a de que diz respeito ao que está oculto e velado e que, embora pressentido, permanece desconhecido. Infere-se que ser esoterista é estar entre aqueles que procuram penetrar em certo reino secreto no qual o estudante comum não tem permissão de entrar.

A abordagem fundamental dos que procuram captar o esoterismo ou ensiná-lo aos estudantes consiste em enfatizar o mundo das energias e reconhecer que, por trás de todos os acontecimentos do mundo fenomênico existe o mundo das energias, as quais são da maior diversidade e complexidade, mas todas se movem e atuam sob a Lei de Causa e Efeito.

É desnecessário assinalar a natureza prática desta definição e sua aplicabilidade à vida do aspirante individual, à vida da comunidade e dos assuntos mundiais como aos níveis condicionantes imediatos das energias espirituais experimentais que procuram constantemente fazer impacto ou contato com o mundo dos fenômenos – e o fazem sob a direção espiritual, a fim de implementar o Plano Divino. A afirmação acima é de vital importância; todas as demais definições estão implícitas nela, e é a primeira verdade importante que todo aspirante aos mistérios e à universalidade do que move os mundos e fundamenta o processo evolutivo deve aprender e aplicar.

A primeira tarefa do esoterista consiste em captar a natureza das energias que procuram condicioná-lo e que se expressam no plano físico através do seu equipamento ou veículo de manifestação. Portanto, o estudante esoterista deve compreender que:

1. Ele é um agregado de forças herdadas e condicionadas pelo que foi, além de uma grande força antagonista que não é um princípio e que chamamos de corpo físico;

2. Ele é sensível a certas energias, das quais será cada vez mais consciente e que, embora hoje desconheça e não tenham utilidade para ele, deve se tornar consciente em um dado momento, para que possa penetrar com mais profundidade no mundo das forças ocultas. Tais energias poderiam ser malignas para ele se trabalhasse com elas e, portanto, deve saber diferenciá-las e descartá-las; há outras energias que deverá aprender a usar, porque são benéficas e aumentariam seu conhecimento e, portanto, devem ser consideradas boas. Mas tenham em mente que as energias em si não são boas nem más. A Grande Loja Branca, a nossa Hierarquia espiritual, e a Loja Negra empregam as mesmas energias universais, mas com motivos e objetivos diferentes; ambos os grupos são compostos de esoteristas treinados.

Portanto, o esoterista em treinamento deve:

1. Tornar-se consciente da natureza das forças que constituem o equipamento da sua personalidade e que ele próprio levou magneticamente à expressão nos três mundos (físico/etérico, astral e mental), e que são uma combinação de forças ativas. Ele deve aprender a diferenciar entre a energia estritamente física, que responde automaticamente a energias internas e outras, e as que vêm dos níveis emocionais e mentais da consciência, as quais são enfocadas através do corpo etérico, o qual, por sua vez, mobiliza e energiza o veículo físico para certas atividades;

2. Tornar-se sensível às energias impulsionadoras da alma, que emanam dos níveis mentais superiores, as quais procuram controlar as forças do homem tríplice quando ele alcança um determinado grau de evolução bem definido;

3. Reconhecer as energias que condicionam seu meio ambiente, vendo-as não como eventos ou circunstâncias, mas como energias em ação; por esse meio aprende a abrir caminho por trás das cenas dos acontecimentos externos e para o mundo das energias, procurando fazer contato e se capacitar para gerar certas atividades. Assim penetra no mundo dos significados. Os fatos e circunstâncias, os acontecimentos e fenômenos físicos de todo tipo, são simplesmente símbolos do que ocorre nos mundos internos, mundos em que o esoterista deve penetrar até onde a sua percepção permitir; portanto descobrirá sequencialmente mundos que exigirão dele uma penetração científica;

4. Para a maioria dos aspirantes a própria Hierarquia espiritual é um reino esotérico a ser descoberto e que aceitará ser penetrado.

Reconhecer entre a energia e a força, saber discriminar entre os diversos tipos de energia, tanto com relação a eles mesmos (aspirantes e discípulos) como aos assuntos mundiais, e começar a relacionar o que se vê e experimenta com o invisível, o que condiciona e o que determina é a tarefa do esoterista.

As igrejas e os homens devem aprender que nada existe no mundo dos fenômenos, das forças e das energias que não possa ser controlado pelo espiritual. Tudo o que existe é, em realidade, espírito em manifestação. Os povos estão adquirindo mentalidade política, o que os Mestres veem como um grande passo para a frente. Há de se ter alcançado um grande progresso quando as pessoas de orientação espiritual incluírem esta área relativamente nova do pensamento humano e sua atividade internacional dentro do campo da investigação esotérica.

O esoterismo é uma ciência – essencialmente a ciência da alma de todas as coisas – e tem terminologia, experimentos, deduções e leis próprias. Quando digo alma refiro-me à consciência animadora que se encontra na natureza toda e nos níveis que estão fora da zona que de maneira geral chamamos de natureza. Os estudantes se esquecem de que todo nível de consciência, do superior ao inferior, é um aspecto do plano físico cósmico e em consequência – do ponto de vista do processo evolutivo – é de natureza material e – do ponto de vista de determinados Observadores divinos – é absolutamente tangível e formado de substância criadora. O esoterista trabalha todo o tempo com substância; com a substância vivente e vibrante de que são feitos os mundos e que – herdada de um sistema solar anterior – está matizada pelos fatos passados e, como se disse , “já tingida pelo carma”.

O estudo esotérico, unido a uma forma de viver esotérica revela, no devido tempo, o mundo dos significados e conduz oportunamente ao mundo das significações. O esoterista procura descobrir a razão do porquê; luta com o problema dos fatos, acontecimentos, crise e circunstâncias a fim de chegar ao significado que possam ter para ele; quando descobre o significado de qualquer problema específico, utiliza-o como estímulo para penetrar mais profundamente no mundo de significados que recém lhe foi revelado; aprende então a incorporar seus pequenos problemas pessoais ao Todo maior, perdendo assim de vista o eu inferior e descobrindo o eu superior.

O verdadeiro ponto de vista esotérico é sempre o do Todo maior. O estudante vê o mundo de significados como uma rede intrincada e estendida sobre todas as atividades e aspectos do mundo fenomênico.

O esoterismo implica, portanto, em viver uma vida em sintonia com as realidades subjetivas internas, o que só é possível quando o estudante está inteligentemente polarizado e mentalmente enfocado, e que só é útil quando ele pode se mover entre estas realidades internas com destreza e compreensão.

Toda verdadeira atividade esotérica produz luz e iluminação; cujo resultado é a intensificação e qualificação da luz herdada da substância mediante a luz superior da alma – no caso da humanidade que trabalha conscientemente. Por conseguinte, podemos definir o esoterismo e sua atividade em termos de luz. 

O esoterista se ocupa da luz nos três aspectos, mas atualmente é preferível que se ocupe de uma abordagem diferente até que – mediante desenvolvimentos, ensaios e experimentos – conheça as triplas diferenciações em um sentido prático e não somente teórico e místico.

Desafiaria todos os esoteristas a procurarem uma abordagem prática do que delineei e pediria para viverem uma vida redentora, desenvolverem a sensibilidade mental inata e atuarem continuamente de acordo com o significado que há por trás dos assuntos mundiais, nacionais, comunais e individuais. Se assim o fizerem, então a luz brilhará repentina e crescentemente sobre seu caminho. Portanto, poderão ser portadores de luz e saber que “nessa luz verão a Luz”, e que também seus semelhantes a verão.


Alice A. Bailey



Fonte: Lucis Trust - Escola Arcana
www.lucis.org
Fonte da Gravura: Tumblr.com

UM PADRÃO DE MEDITAÇÃO DIÁRIA


Permitir que o padrão da meditação diária prevaleça entre tantos outros padrões da nossa vida, não só imaginária, mas, efetivamente, é um desafio para o que há de melhor em nós; para o melhor em nós. É uma introdução mundana para uma lei cósmica de sacrifício.

Há uma história indiana que nos conta como Vishnu vinha todo dia trazer oferendas para Shiva, colocando mil flores de lótus aos seus pés. Um dia, após alguns milhares de anos desta adoração, ele descobriu, ao deitar as flores de lótus, que havia apenas 999 naquele dia. (Estas coisas acontecem, eventualmente.) Sem hesitar ele arrancou um de seus olhos, lindo, com a forma de uma flor de lótus, para completar a oferenda, colocando-o entre as 999.

A adoração é uma outra forma de compreendermos a auto-renúncia, que é a dinâmica no coração da meditação e de todo amor. Nos oferece uma forma diferente de encarar o sacrifício. Não como uma perda de alguma coisa preciosa, algo arrancado de nós enquanto interiormente esperneamos e gritamos. Mas, como uma oportunidade preciosa para entrarmos em contato com maior bem-aventurança e plenitude. Aceitar, e ceder a estes momentos, é um presente do louvor que reúne todo nosso ser, nos unifica e nos simplifica na súbita alquimia do amor.

Esta é a ação multi-dimensional do mantra na meditação, e esta é a razão pela qual precisamos ser tão simples ao repetirmos o mantra, para que todas estas dimensões sejam harmonizadas e desenvolvidas conjuntamente. Não é apenas um sacrifício de tempo... O sacrifício inclui nossos pensamentos e imaginação, as mil e uma conversações em todos os níveis de nossa mente. Assim como o foi para Vishnu, é uma oferenda de toda nossa forma de ver e conhecer, uma cegueira parcial e temporária, que é um ato de fé, noutra e superior forma de ver e conhecer.

O mantra introduz… na experiência da oração um ato espontâneo de louvor que envolve todo nosso ser. Não apenas dizendo a Deus... quão onipotente, onisciente e onipresente "ele" é. Mas aceitando o convite inerente à nossa verdadeira existência para nos tornarmos como Deus é: pela graça, pela adoção, pelo amor.

Nesta cooperação entre graça e natureza nosso ser torna-se pleno. Cristo, aquele que cura, opera mais unindo profundidade e superfície, o interior e o exterior, na pura dádiva do louvor que é nosso e dele, à medida em que ouvimos o mantra. Como o Padre John Main, OSB ensinou, nossa meditação se torna uma oração mais pura, não só na ação de repetirmos o mantra em face às distrações, mas na facilidade em ouvi-lo.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "Caríssimos Amigos" - Leitura de 06/04/2008
WCCM International Newsletter - Janeiro de 1997 - Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/santo-medita%C3%A7%C3%A3o-ioga-meditando-198958/

O ALFA E O ÔMEGA DE TODA A FILOSOFIA E RELIGIÃO


A quintessência, o Alfa e o Ômega de toda a filosofia e religião resume-se no seguinte:

– que existe uma Realidade absoluta, infinita, eterna, consciente,

– que todas as coisas do universo, percebidas como várias e distintas, não são senão manifestações múltiplas dessa única Realidade...

A pluralidade dos fenômenos é meramente aparente – a unidade do Noúmeno é real.

A Realidade não teve princípio, nem terá fim – ao passo que seus fenômenos começam e acabam, nascem e morrem. Os fenômenos transitórios são causados – a eterna Realidade é incausada, mas causadora de todos os efeitos.

A perfeição do homem consiste na faculdade de perceber a unidade da Causa absoluta através da pluralidade dos efeitos relativos. Os seres irracionais, dotados de sentidos mas destituídos de razão, não percebem senão a pluralidade dos fenômenos, ignorando a unidade do Noúmeno. Quanto mais próximo está um homem da animalidade do irracional, tanto mais percebe a pluralidade dos fenômenos e tanto menos conhece a unidade do Noúmeno – e vice-versa.

Perceber a pluralidade sem a unidade, é analfabetismo filosófico; perceber a unidade sem a pluralidade, é unilateralismo de principiante; perceber a unidade na pluralidade, é que é o mais alto grau de perfeição. O primeiro estado é caos, o segundo é monotonia, o terceiro é harmonia.


Huberto Rohden



Fonte: do livro "Profanos e Iniciados", Ed. Alvorada, 1990
Fonte da Gravura: Tumblr.com

ENCONTRAR A DEUS


Receio que não haja um meio fácil, porque encontrar Deus é coisa muito difícil e árdua.

O que chamamos Deus não será algo que a mente cria?

Você sabe o que é a mente. A mente é o resultado do tempo e pode criar qualquer coisa, qualquer ilusão. Ela tem o poder de criar ideias, de projetar-se em fantasias, em imaginação; está constantemente acumulando, eliminando, escolhendo. Sendo preconceituosa, estreita, limitada, a mente pode delinear Deus, ela pode imaginar o que seja Deus, de acordo com suas próprias limitações. Porque certos instrutores, sacerdotes e chamados salvadores disseram que há Deus e o descreveram, a mente é capaz de imaginar Deus nesses termos; mas essa imagem não é Deus. Deus é algo que não pode ser encontrado pela mente.

Para compreender Deus, você precisa primeiro compreender a sua própria mente - o que é muito difícil. A mente é muito complexa, e compreendê-la não é fácil. Mas é bastante fácil sentar e embarcar em algum tipo de sonho, ter várias visões, ilusões, e depois pensar que se está muito próximo de Deus. A mente pode ludibriar-se muito.

Assim, para realmente experimentar aquilo que se possa chamar Deus, você precisa estar completamente tranquilo; e acaso não verificaram já como isso é extremamente difícil? Nunca observaram que mesmo as pessoas mais velhas nunca se sentam e ficam quietas, como elas se agitam irrequietas, como movem os dedos e gesticulam com as mãos? Fisicamente, é difícil sentar e ficar quieto; muito mais difícil é a mente aquietar-se! Você pode seguir um guru e forçar a mente a aquietar-se; mas sua mente não estará realmente quieta. Ela ainda estará desassossegada como uma criança que se pôs de castigo num canto. É uma grande arte ter a mente completamente silenciosa sem coerção; e só então há a possibilidade de experimentar aquilo que se pode chamar de Deus.

Você está mesmo interessado em descobrir? Você faz perguntas e depois se senta; você não ouve realmente. Já notaram como as pessoas mais idosas quase nunca ouvem vocês? Elas raramente os ouvem porque estão muito encenadas em seus próprios pensamentos, em suas próprias emoções, em suas próprias satisfações e tristezas. Espero que vocês tenham notado isto. Se souberem observar e ouvir, realmente ouvir, vocês descobrirão uma porção de coisas, não só sobre as pessoas mas também sobre o mundo.

Aqui está esse rapaz perguntando se Deus está em toda parte. Ele é muito novo para fazer esse tipo de pergunta. Não sabe o que ela realmente significa. Ele provavelmente tem alguma vaga ideia de alguma coisa - a sensação da beleza, uma percepção dos pássaros no céu, de águas correntes, de um rosto bonito, sorridente, de uma folha dançando ao vento, de uma mulher carregando um fardo. E há ira, ruído, tristeza - tudo isto está no ar. Então, ele está naturalmente interessado e ansioso por descobrir o que significa a vida. Ouve as pessoas mais velhas falarem sobre Deus e fica intrigado. É muito importante para ele fazer tal pergunta, não é mesmo? E é igualmente importante que todos vocês busquem a resposta; portanto, como eu disse outro dia, vocês começarão a captar o sentido de tudo isto interiormente, inconscientemente, no mais profundo de si mesmos; e então, à medida que crescerem, terão ideias de outras coisas além deste horroroso mundo de conflitos. O mundo é belo, a Terra é farta; mas nós a estragamos.


J. Krishnamurti



Fonte: do livro "O Verdadeiro Objetivo da Vida", Ed. Cultrix, SP
Fonte da Gravura: La Fuente

quarta-feira, 3 de junho de 2020

CONSIDERAÇÕES SOBRE A HUMILDADE


É quase impossível superestimar o valor da verdadeira humildade e seu poder na vida espiritual, pois o início da humildade é o início do caminho da bem-aventurança, e a consumação da humildade é a perfeição de toda alegria.

A humildade contém em si a resposta a todos os grandes problemas da vida da alma; é a única chave que dá acesso à fé, início da vida espiritual, pois fé e humildade são inseparáveis.

Na perfeita humildade desaparece todo egoísmo e a alma não vive mais para si nem em si mesma para Deus, mas se perde de vista, mergulha em Deus e é nele transformada.

A essa altura da vida espiritual, a humildade atinge o mais alto grau de exaltação da grandeza. É aqui que todos os que se humilham são exaltados, pois vivendo não mais para si ou no nível humano, o espírito é liberto de todas as limitações e vicissitudes da criatura e da contingência, e mergulha nos atributos de Deus, cujo poder, magnificência, grandeza e eternidade se tornam nossos pelo amor, pela humanidade.

Se formos incapazes de humildade, seremos incapazes de alegria, porque só a humildade pode destruir o egocentrismo que impossibilita a alegria.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Novas sementes de contemplação"
Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

O SENTIDO ESOTÉRICO


[...] O “sentido esotérico” significa, em essência, o poder de viver e funcionar subjetivamente, possuir um contato interno constante com a alma e o mundo no qual se encontra, o que deve se efetuar subjetivamente através do amor, ativamente demonstrado; da sabedoria, constantemente vertida, e da capacidade de incluir e identificar a si mesmo com tudo que respira e sente, uma das notáveis características de todo verdadeiro Filho de Deus.

Quero dizer, portanto, que há de se manter internamente uma atitude mental que possa se orientar à vontade em qualquer direção. É capaz de reger e controlar a sensibilidade emocional, não somente do próprio discípulo, como também de todos com os quais entra em contato. Pela força do seu pensamento silencioso, é capaz de levar luz e paz para todos. Por meio do poder mental, é capaz de se sintonizar com os pensamentos do mundo e o reino das ideias e discriminar e escolher os elementos e conceitos mentais que o habilitarão, como trabalhador do Plano, a influenciar seu meio ambiente e a revestir os novos ideais nesta matéria mental que permitirá que sejam reconhecidos com mais facilidade no mundo habitual do pensamento e do viver cotidianos. Esta atitude mental também capacitará o discípulo a se orientar para o mundo das almas e, deste lugar de elevada inspiração e luz, descobrir seus colaboradores, se pôr em comunicação com eles e – em união com eles – colaborar no desenvolvimento das intenções divinas.

Este sentido esotérico é a principal necessidade do aspirante nesta época da história mundial. Até que os aspirantes tenham captado isto em alguma medida e possam utilizá-lo, não poderão fazer parte do Novo Grupo, nem trabalhar como magos brancos, e estas instruções permanecerão teóricas e sobretudo intelectuais, em vez práticas e operacionais.

A meditação é necessária para cultivar este sentido esotérico interno, e meditação contínua nas primeiras etapas de desenvolvimento. Mas, à medida que o tempo passa e o homem cresce espiritualmente, esta meditação diária dará lugar a uma orientação espiritual constante e a meditação, tal como a compreendemos e dela necessitamos agora, já não será necessária.

O desapego do homem pelas formas que utiliza será tão completo que ele viverá sempre no “centro do Observador” e, a partir deste ponto e atitude dirigirá as atividades da mente, das emoções e das energias que fazem a expressão física possível e útil.

A primeira etapa do desenvolvimento e cultivo do sentido esotérico consiste em manter uma atitude de observação constante e desapegada.


Fundação Lucis Trust - Escola Arcana



Fonte: www.lucis.org/pt-br/422-2/introducao-ao-livros/o-sentido-esoterico/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/mandala-esot%C3%A9rico-m%C3%ADstico-magia-1866212/

REALIDADE ETERNA DA VIDA


Toda a tradição cristã nos diz... que, caso nos tornássemos sábios, deveríamos aprender a lição de que aqui não temos “nenhuma cidade que nos prende”... Mas, a principal fantasia de muitos dos interesses mundanos, opera a partir de um ponto de vista completamente oposto... sabedoria de nossa tradição..., é a de que a consciência de nossa fraqueza física nos permite enxergar, também, nossa própria fragilidade espiritual. Existe uma consciência profunda em todos nós, tão profunda que, frequentemente, permanece enterrada, na maior parte do tempo, de que devemos estabelecer contato com a integralidade da vida e, com a fonte da vida. Devemos estabelecer contato com o poder de Deus e, de alguma maneira, abrir esse nosso frágil vaso terreno ao amor eterno de Deus...

A Meditação é uma via de poder, pois é o meio de entendermos nossa própria mortalidade. É o meio de nos concentrarmos em nossa própria morte. Ela consegue isso, por ser uma via que segue além de nossa própria mortalidade. É uma via que segue, além de nossa própria morte, até a ressurreição, para uma nova e eterna vida, a vida que nasce de nossa união com Deus. A essência do Evangelho cristão é a de que somos convidados para essa experiência agora, hoje. Todos nós somos convidados a morrer para a nossa própria auto-importância, o nosso próprio egoísmo, nossas próprias limitações. Somos convidados a morrer para nossa própria exclusividade... Nosso convite a morrer, também é o de nascer para a nova vida, para a comunidade, para a comunhão, para uma vida plena e, sem medos. Suponho que seria difícil estabelecer o que é que as pessoas mais temem, a morte ou a ressurreição. Porém, na meditação perdemos nosso medo, pois compreendemos que a morte é morte do medo e, ressurreição é nascer para a nova vida.

Cada vez que nos sentamos para meditar, nos conectamos com esse eixo de morte e ressurreição. Isso se dá, pois em nossa meditação vamos além de nossa própria vida e, de todas as limitações de nossa vida, em direção ao mistério de Deus. Descobrimos, cada um de nós a partir de nossa própria experiência, que o mistério de Deus é o mistério do amor, amor infinito, amor que expulsa todos os medos.

Essa é a nossa ressurreição, elevarmo-nos à completa liberdade que se dá como um alvorecer em nós, uma vez que estejam em foco nossa própria vida e morte e ressurreição. A meditação é o grande meio de focalizarmos nossa vida na realidade eterna que é Deus, a eterna realidade que ali está para ser encontrada em nossos próprios corações. A disciplina de repetir o mantra, a disciplina do retorno diário, pela manhã e à tarde, à meditação, possui esse único e supremo objetivo: o de nos focalizarmos completamente no Cristo, com uma acuidade visual que veja nós mesmos e toda a realidade, como ela é. Ouçamos o que São Paulo escreveu aos Romanos: "Ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor". (Rom 14: 7-8)


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "Morte e Ressureição" - Leitura de 23/03/2008
MOMENT OF CHRIST (New York: Continuum, 1998), pp. 68-70.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/universo-c%C3%A9u-star-espa%C3%A7o-cosmos-3591579/