sexta-feira, 5 de junho de 2020

INTER-RELACIONAMENTO HUMANO


Personagens e seus valores

Herdamos um mundo com a construção já em andamento, cheio de padrões e paradigmas* assentados conforme as condições da sociedade local. Os valores culturais desse sítio em que habitamos são estabelecidos pela somatória dos gostos e aptidões comuns de nossos conterrâneos, variando de uma região para outra.

Além disso, crescemos identificando as pessoas com quem nos relacionamos pelos postos e valores sociais que elas ocupam (o pai, a mãe, o irmão, o padre, o professor, o médico, o policial etc.). Então, nesses termos, para nós as pessoas que a princípio estão sob rótulos e valores são personagens de um conjunto social. Esses títulos conceituam os Seres e acabam diferenciando-os uns dos outros, criando a ilusão de que o Espírito que anima o homem tenha a medida igual à metragem humana.

Assim é que a mãe diz amar o filho, o filho diz amar a mãe, o esposo diz amar a esposa etc. Todavia, faz-se necessário averiguar se esse benquerer é de fato direcionado ao Ser ou ao posto ocupado por esse personagem. Supomos então uma trama: Maria (mãe) diz amar Joãozinho (filho), do jeito que ele é, incondicionalmente como se diz ser o amor materno. Porém, Maria conhece verdadeiramente quem é o Ser que agora anima o personagem de seu filho? E se conhecesse, ela modificaria seu sentimento? Ora, digamos que o Espírito X, que nesta vida encarnou como filho, tenha sido na vida passada de Maria o seu esposo, seria nela o mesmo sentimento de hoje tal qual fora lá atrás?

Não, provavelmente.

Enquanto na vida material a posição que os Espíritos ocupam numa encarnação pesa no sentimento que lhe atribuímos, pois desconhecemos os valores espirituais destas almas. Não raro, supomos que o status terreno e as características físicas reflitam o valor desta alma no plano espiritual.

Olhando então para aqueles com quem compartilhamos nossos dias, temos o desafio de compreendê-los por dois prismas: o primeiro é o de que todos os indivíduos são consciências espirituais, com valores espirituais, sendo esses valores diferentes da organização a que estamos submetidos na Terra; o segundo critério a ser observado é que, embora sejamos seres espirituais, ora ocupamos uma identidade fictícia nas encarnações, logo, precisamos representar bem esse personagem, o que nos cobra respeitarmos o papel que cada um exerce aqui. O pai biológico, por exemplo, num plano espiritual é mais um irmão nosso, muitas vezes muito mais atrasado moral e, ou intelectualmente que o próprio filho, todavia, nessa ficção que é a vida carnal, exercendo a paternidade, requer do filho o tratamento especial pelas ligações consanguíneas.

Saber que espiritualmente não somos isso que dramatizamos na Terra não implica em desprezarmos essa realidade material temporária, mas sim nos sugere vivermos nosso personagem dignamente para irmos ao encontro do que verdadeiramente somos - porque invariavelmente isso ocorrerá, após o prazo desta encarnação.

Se herdamos um plano físico já em desenvolvimento - portanto, não sendo exatamente uma construção nossa - é porque há uma consciência maior coordenando tudo, desta maneira, é justo pensar que o planejamento natural visa propósitos acertados para todos nós, ou seja, a posição que ocupamos neste plano terreno - por exemplo, sendo homem ou mulher; rico ou pobre; branco, negro ou amarelo; neste país ou em outro etc. - satisfaz a uma ordem sobreposta à nossa vontade. E pelo fato de supormos que poderíamos ser aquela pessoa, ocupar aquele outro posto e viver numa situação qualquer diferente da que ora vivemos, faz com que despendamos grande parte de nossa vida nos imaginando fora de onde estamos e do que somos.

Viver imaginando ser outra pessoa é negar a si mesmo e desdenhar a posição que ocupamos, desobedecendo aos desígnios da natureza, que nos confiou o bom exercício do personagem que nos foi destinado e que devemos interpretar dignamente. Se os outros têm atributos que julgamos ser salutares, que conquistemos então esses valores para o nosso personagem, sem que seja preciso - porque é impossível - trocarmos os papeis.

Uma vez que a consciência não pertence ao corpo material, concluímos que nosso Ser essencial é na forma espiritual, que sobreviverá à morte corporal, numa dimensão diferente desta onde ora vivemos. Desta forma, é justo crermos que o papel que estamos representando e suas características de vida estejam limitados ao tempo desta encarnação, e que passada esta temporada, viveremos sob novas condições, características da nova dimensão onde habitaremos. Isto nos remete à ideia de que aquilo que aqui fazemos terá relação com a posição futura a ser ocupada por cada um de nós.

A esperança de ocuparmos uma posição melhorada, em relação ao que atravessamos na forma humana, deve nos dar forças para desempenharmos os propósitos que hoje nosso personagem terreno nos reclama.


Louis Neilmoris


* Paradigma: algo que sirva de modelo, padrão, exemplo comum.


Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: Tumblr.com

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