Uma das maneiras de se compreender o Cristianismo Esotérico baseia-se na percepção que a humanidade vem tendo do Cristo ao longo dos séculos. Há três formas do Cristo ser percebido pelo homem:
- O Cristo Histórico — que segue o fio da história dos acontecimentos físicos da vida do Mestre;
- O Cristo Mítico — que segue o fio legendário;
- O Cristo Místico — que segue o caminho mais interno.
As três formas contribuem para a compreensão da figura grandiosa do Salvador, mas a terceira, isto é, o Cristo Místico é a mais ligada ao Cristianismo Esotérico e diz muito sobre a evolução de cada um de nós.
O CRISTO HISTÓRICO
É a vida de Jesus na Terra, a sua vida na carne.
É o Jesus Curador e Instrutor que nasceu de uma família pobre; foi instruído nas escrituras hebraicas; revelou extraordinária inteligência ante os doutores da Lei, em Jerusalém; pelo seu fervor religioso foi enviado para ser educado na comunidade essênia; teve contato com sábios da Pérsia e das Índias; esteve no Egito onde leu, na Biblioteca de Alexandria, obras da Escola Transhimalaia.
Viveu durante 29 anos uma existência mortal, crescendo em graça, pureza e fervor religioso excepcionais, tornando-se um discípulo digno de servir de templo a uma Presença Grandiosa que daria um novo impulso evolutivo à humanidade; foi o Instrutor Supremo, cheio de graça e verdade (Cartas de João I, 14), o Verbo feito carne e uma fonte de vida.
A partir do Batismo, quando sobre ele desceu o raio do espírito sob a forma de uma pomba branca, inicia sua vida messiânica, ensinando as multidões por parábolas, e, pela força do espírito puro curava pela palavra e pelo contato magnético de seu corpo cheio de energia divina.
O Cristo histórico é, portanto, um Ser glorioso pertencente à Hierarquia Espiritual que dirige a evolução da humanidade. Foi morto por blasfêmia, por ter ensinado que a divindade habitava nele como em todos os seres humanos.
O CRISTO MÍTICO
Em torno da gloriosa figura de Jesus estão os mitos que o ligam a seus predecessores; estes mitos ensinam, em forma alegórica, a trajetória de seres semelhantes a Jesus, pois simbolizam a ação do Logos no Universo e a evolução superior da alma humana.
Alice Bailey define mito como uma crença sintetizada e um conhecimento do passado, transmitido com o fim de guiar-nos e estabelecer os fundamentos de uma revelação mais nova, formando os degraus que conduzem à verdade seguinte. Os mitos nos trazem, portanto, a continuidade da revelação.
Neste sentido, o cristianismo tem inúmeros pontos de contato com religiões mais antigas e as festividades comemorativas de acontecimentos da vida de Jesus recordam outros instrutores.
O mito pode ser visto como uma alegoria que traduz verdades internas. O Cristo Mítico é o Cristo dos mitos ou lendas solares que deram ao mundo verdades profundas demonstrando que “O que está em cima é como o que está embaixo”.
O Mito Solar é uma narração onde aparece, em primeiro lugar, a atividade do Logos ou Verbo no Cosmos e, a seguir, os fatos da vida de um Ser que é a encarnação do Logos. O Ensinamento nos diz que no princípio era o Verbo, a palavra criadora, e que nosso Sistema Solar foi edificado, segundo princípios admiráveis, e certos seres personificam esses princípios, ensinando-nos pelas suas ações as Leis do universo e do homem.
O herói do mito é geralmente um Deus ou semideus que tem sua carreira guiada pelo curso do Sol que é a representação do Logos. O herói nasce no solstício do inverno, à meia-noite do dia 24 de dezembro — a noite mais longa do ano, quando o signo de Virgem se eleva no firmamento — e morre no equinócio da primavera — quando os dias são mais longos e as noites mais curtas.
Estas datas são um símbolo — o Salvador vem na maior noite do ano quando a humanidade está envolta nas trevas, nas crises e dificuldades como naquela época estava o povo hebreu e atualmente a humanidade o que nos leva a invocar o Cristo na certeza que Ele virá. O Salvador sempre traz a luz nas épocas de treva “Sempre que houver um debilitamento da lei, Eu volto a nascer, idade após idade”.
O Salvador faz a sua passagem para o Mundo Divino no equinócio da primavera, estando o signo de Áries, o Cordeiro, ligado à crucificação. O Mestre Jesus foi crucificado na ocasião da Quaresma que é seguida da Páscoa quando os dias são mais longos, estando a Terra mais iluminada não só fisicamente, mas também espiritualmente graças ao jorro de luz enviado pelo Cristo na ascensão.
Os livros esotéricos dão uma infinidade de coincidências de acontecimentos da vida de Jesus e de outros seres iluminados, como por exemplo: O nascimento de Jesus apresenta fatos análogos ao de Mitras e de Horus; a Isis egípcia tem semelhança com Maria, de Belém, sendo ambas conhecidas como Nossa Senhora Imaculada, a Mãe de Deus e, em certos desenhos antigos, a Virgem do Zodíaco era representada por uma mulher amamentando uma criança, tipo característico de todas as Madonas.
Os mitos solares se repetem através das idades com nomes diferentes, mas sempre simbolizando o ser divino. No caso da vida de Jesus, as narrações se referem em termos profundos, ao Cristo Universal — o homem simbolizando o Ser Divino (a cruz dentro do círculo). Jesus era o Filho do Homem e o Cristo do Mito Solar era o Filho de Deus, o Cristo dos Mistérios e, no Cristo mítico encontra-se o segredo do Cristo místico.
O CRISTO MÍSTICO
Este é o sentido mais profundo da história do Cristo e diz respeito a como o homem realiza em si mesmo o mistério do Cristo Mítico. O Logos (o organizador) desce ao seio da matéria e por isso o seu símbolo é o Deus-Sol. O Sol físico é o seu corpo e Deus é muitas vezes chamado o que habita o Sol. As filosofias e religiões derivam-se do culto ao Sol e das idéias deste culto sobre a vida, o amor e a existência. Todas se organizam no culto à força sustentadora do universo, entretanto, além de cultuá–La, cabe ao homem desenvolver esta força dentro de si mesmo para que a conheça e possa fazer uso dela.
Assim como no universo ou macrocosmo, o Cristo dos Mistérios representa o Logos, ou a 2ª pessoa da Trindade, no homem, Ele representa o segundo aspecto do Espírito Divino, chamado o “Cristo”, o ungido, o consagrado, o Salvador.
O Cristo Místico é, portanto duplo: o Logos que desce à matéria e lhe dá forma pela Palavra ou Verbo: “No princípio era o Verbo... Todas as coisas foram feitas por Ele e nada foi feito sem Ele”. Temos também o Amor ou o 2º aspecto do Espírito Divino evoluindo no homem. O primeiro representa os processos cósmicos, o outro o processo que se passa no indivíduo, sendo a última fase de sua evolução e, ao ultrapassá-la, o ser humano torna-se um Mestre de Sabedoria.
Este ato é a Cristificação ou Cristianização que os dicionários dizem ser o efeito de cristianizar ou cristianizar-se — prefiro este último, o verbo com a partícula reflexiva “se” indicativa de algo que não pode ser imposto. Cada qual realiza a própria Cristificação desenvolvendo sua vontade e trabalhando em espírito. Gradualmente o homem aprende a conhecer a mente e sabe que esta gera poder e tem força criadora. Aprende que ele é o mecânico que tem o dínamo (a mente) a seu cargo. Concentra sua mente na construção do templo da alma e a edifica dia após dia, pensamento após pensamento. Este templo é criado com os pensamentos puros, e os pensamentos são criadores do caráter e modificam nossa conduta pessoal.
Com a prática de pensar e viver corretamente, o estudante vai se ajustando ao ponto de vista espiritual. A prática aumenta o conhecimento de como obter o fluxo de vida, luz e poder que lhe vem do Alto, ganhando poder espiritual; usa esse saber na vida do dia-a-dia e aprende que é um ser divino como os demais companheiros de jornada e, portanto, portador dos poderes do Pai. Morya diz “A recepção de um pensamento vindo do Infinito é uma afirmação do homem como um Ser espiritualizado, um mensageiro, um guardião da luz. Eu afirmo que o pensamento flui do Infinito de forma compreensível”.
Nossas práticas de meditação dizem que devemos manter a mente aberta às impressões vindas do Mundo Superior e, uma vez recebidas devemos deixá-las impressionar a substância mental inferior e formular pensamentos-forma práticos que serão usados no mundo e na nossa vida. Isso é uma forma de Serviço advinda do Cristianismo Esotérico. Em Morya lemos “O pensamento circulando no amplificador do Infinito, purifica-se e assim exaltado retorna aos mundos manifestados e pode ser observado pela sensibilidade humana: às vezes como uma teia de aranha sobre a face, às vezes sente-se um toque ou um chamado inaudível a outros. São inúmeras as formas de percepção. O homem deve habituar-se aos novos níveis de consciência e de percepção que o conduzem a mais vastos campos de serviço”.
O apóstolo João começa seu evangelho falando sobre o Verbo (ou a Palavra) e o Dr. Clymer em seu livro Cristificação diz que “o Verbo é um fogo do céu. Vem do Pai. É Vida. É luz que ilumina a todo homem que vem ao mundo-carne-corpo. Se não aceita essa luz ele fracassa no mundo espiritual e no físico. O verdadeiro êxito depende sempre destes dois planos e a verdadeira religião pertence aos dois planos, cabendo ao homem realizar a Vontade de Deus aqui na Terra”.
Alice Bailey afirma que o homem, o ser auto-consciente, difere dos demais reinos da natureza por poder avançar na onda da vida de Deus em plena consciência. Lança uma ponte entre o reino em que se encontra e o novo horizonte, pela construção do anthakarana. Os seres humanos são cidadãos de ambos os reinos — o humano e o espiritual — e o Cristo demonstrou essa dupla cidadania pois era o Filho do Homem e o Filho de Deus. Que benefícios tem um homem com dupla cidadania: por exemplo, brasileira e portuguesa? Ele goza de todos os direitos de transitar e viver nos dois países, sem restrição alguma. O mesmo ocorre quando aprendemos a gozar nossa cidadania divina: Agimos com a mesma desenvoltura no mundo material e no espiritual.
Agora é um tempo de crise em que todos os seres humanos são necessários. Cabe ao estudante dar um impulso mental na direção da clareza de pensamento que o transformará de aspirante bem intencionado em discípulo de clara visão, animado por um espírito de amor e boa vontade para com todos os homens, sem restrições de raça, credo ou cor.
Atualmente muito se fala sobre o Reaparecimento do Cristo e isto depende da Cristificação quando se emprega a Vontade para o desenvolvimento do Amor expressando-se nas virtudes cristãs ou qualidades ardentes que juntamente com a Inteligência Ativa ou Adaptabilidade permitem ao homem permanecer no Centro da Tríade Espiritual.
Nossa concentração nestes três aspectos divinos — Vontade, Amor e Adaptabilidade — permite a iluminação da alma e a regeneração do corpo. O estudante sabe que o verdadeiro desenvolvimento é triplo: Os corpos e a mente se alinham e obedecem ao comando da alma.
Lembremos sempre que a verdadeira regeneração da vida é o resultado do desenvolvimento espiritual, por isso o Mestre ensinou: “Busca primeiro o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais lhe será dado por acréscimo”.
Esse trabalho de construção do indivíduo é o Cristianismo Esotérico.
Prof. Tânia Gonçalves de Araújo
Fonte: http://www.encontroespiritual.org/bartigos/bartigos_esoterico.html
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
BIBLIOGRAFIA:
Cristificacion – Dr. Clymer
Cristianismo Esotérico – Anne Besant
De Belém ao Calvário – Alice A. Bailey
AUM – Helena Roerich (§ 14 e 17)
Nenhum comentário:
Postar um comentário