segunda-feira, 27 de outubro de 2014

TODO TORNAR-SE É DESINTEGRAÇÃO - ALÉM DO TEMPO

A mente tem uma ideia, talvez agradável, e ela quer ser como essa ideia, que é uma projeção de seu desejo. Você é isto, de que não gosta, e quer se tornar aquilo, de que você gosta. O ideal é uma autoprojeção; o oposto é uma extensão do que é; não é, absolutamente, o oposto, mas uma continuidade do que é, talvez um tanto modificado. A projeção é obstinada, e o conflito é o empenho em direção à projeção. Você está empenhado em se tornar alguma coisa, e essa coisa é parte de você mesmo. O ideal é sua própria projeção. Veja como a mente lhe pregou uma peça. Você está empenhado atrás de palavras, perseguindo sua própria projeção, sua própria sombra. Você é violento, e está empenhado em se tornar não-violento, o ideal; mas o ideal é uma projeção daquilo que é, apenas sob um nome diferente. Quando você está consciente desta peça que pregou em você mesmo, então o falso como falso é visto. O empenho em direção a uma ilusão é o fator desintegrador. Todo conflito, todo tornar-se é desintegração. Quando há consciência desta peça que a mente pregou nela mesma, então fica apenas o que é. Quando a mente fica despida de todo tornar-se, de todos os ideais, de toda comparação e condenação, quando sua própria estrutura entrou em colapso, então o que é passou por uma completa transformação. Enquanto houver o dar nome ao que é, há relação entre a mente e o que é; mas quando este processo de dar nome – que é memória, a própria estrutura da mente – não existe, então o que é não existe. Só nesta transformação há integração. (The Book of Life)

É a mente, é o pensamento, que cria tempo. Pensamento é tempo, e o que quer que o pensamento projete deve estar no tempo; portanto,o pensamento não pode ir além dele mesmo. Para descobrir o que está além do tempo, o pensamento deve chegar ao fim – e essa é a coisa mais difícil, pois o fim do pensamento não chega pela disciplina, pelo controle, pela negação ou supressão. O pensamento só acaba quando compreendemos todo o processo do pensar e, para compreender o pensar, deve haver autoconhecimento. Pensamento é o ego, pensamento é a palavra que se identifica como “eu”, e em qualquer nível, elevado ou baixo, que o ego esteja colocado, é ainda dentro do campo do pensamento. E o ego é muito complexo; ele não está no nível da pessoa, mas é formado de muitos pensamentos, muitas entidades, cada uma em oposição à outra. Tem que haver uma constante consciência de todas elas, uma consciência em que não há escolha, nem condenação ou comparação, ou seja, deve haver a capacidade de ver as coisas como elas são sem distorcê-las ou traduzi-las. No momento em que julgamos ou traduzimos o que é visto, distorcemos aquilo de acordo com nosso conteúdo. Ser é estar em relação, e é apenas no centro da relação que podemos, espontaneamente, descobrir a nós mesmos como somos. É esta própria descoberta de nós mesmos como somos, sem nenhum sentido de condenação ou justificação, que produz uma transformação fundamental no que somos – e esse é o início da sabedoria. (Collected Works, Vol. VI, 220, Choiceless Awareness)




J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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