Se pudéssemos fazer um 'restart' da mente, tal como se nossa vida principiasse a partir do momento em que propomos esse exercício, livrando-nos de preconceitos (ideias fixas que tomamos de pronto como verdades e conceitos absorvidos pelas tradições), mas preservando a nossa capacidade intelectual já alcançada, chegaríamos de pronto à percepção de que estamos vivos, mediante justamente nossa capacidade de pensar, ou seja, porque percebemos a vida, pois não basta estar vivo - o que seria simplesmente vegetar -, mas, além disso, é imprescindível ter consciência dessa maravilha que é viver. Foi essa a primeira constatação lógica que levou o filósofo francês René Descartes a celebrizar a frase “Penso, logo, existo”.
Pensamos em função de sermos um Ser, uma Consciência, um “Eu”, uma identidade individual exclusiva. Descobrimos então que temos o poder de manipular a potência do nosso pensamento, criando ideias desejadas ou dando novos rumos a quaisquer outras que nos surjam involuntariamente (e não é verdade que alguns de nossos pensamentos nos sobrevêm sem que tenham sido elaboradas pelo nosso consciente?).
Descobrimos ainda que somos inteligentes (já que exercemos influência na condução das ideias) e que gozamos da liberdade de pensamento.
Se tivermos uma mente já bem ativa, poderemos criar todo um Universo particular, inventar um reinado próprio, elaborar histórias e criar um cotidiano, como se fossemos deuses — ainda que esse mundo seja apenas uma ficção dentro da nossa própria casa mental.
Mas então, um problema filosófico logo se configura acerca da essência do Ser: desde quando o indivíduo é constituído? Pois, se levarmos ao pé da letra a expressão "Penso, logo, existo", seremos forçados a crer que a existência só é tida como válida a partir de quando o indivíduo adquire intelecto para reconhecer-se vivo e consciente de si - o que não ocorre senão depois de alguns anos após o seu parto biológico. Desta maneira, a criança que não formula um juízo considerável deixaria de ser considerada uma Consciência, um Ser. E parece um absurdo desconsideramos que uma criancinha que já ande, fale e exprima desejos, sentimentos e emoções, não possa ser considerada uma pessoa. Por outro lado, teríamos um ancião que, pelo avanço da idade, caia na caduquice e então deixe de ser uma Consciência em razão de não mais possuir o domínio de sua sanidade mental.
Para não sustentarmos tal absurdo, teremos de considerar a possibilidade de a Consciência existir e ter compreensão de si mesma fora do âmbito físico, sendo justamente a natureza física - no caso, por ainda estar em formação orgânica - a causa pela qual essa Consciência não possa se manifestar inteligivelmente. Assim, um bebê - mesmo que ainda muito longe de poder expressar suas capacidades intelectivas - já é aquele indivíduo inteligente que mais tarde evidenciará, bem como o velho caduco continua sendo o mesmo Ser, embora agora suas ideias não possam mais ser evidenciadas em virtude das fraquezas da máquina corporal.
Mas, concentrando-nos no estado mental voluntário de si, encontramos o Ser como condição para o Estar Consciencial.
Só que, além de nosso mundo mental, há muito mais...
Louis Neilmoris
Fonte: do livro "O Grande Encontro Filosófico - Autodescobrimento Aplicado"
Ed. Luz Espírita, abril de 2014, digital - www.luzespirita.org.br
Fonte da Gravura: artista ucraniano Alexey Leonov - http://leonov.idea.in.ua/
Outras dezenas de quadros em: http://leonov.idea.in.ua/en/gallery
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