quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

A VONTADE: O PODER QUE NOS DIRIGE A PROPÓSITOS EVOLUTIVOS


Há em toda alma humana dois centros, ou melhor, duas esferas de ação e de expressão: uma, a exterior, manifesta a personalidade, o eu, com suas paixões, suas fraquezas, sua mobilidade, sua insuficiência. Enquanto ela regular nossa conduta, teremos a vida inferior, semeada de provas e de males.

A outra, a interior, profunda, imutável, é, ao mesmo tempo, a sede da consciência, a fonte da vida espiritual, o templo de Deus em nós. Somente quando esse centro de ação domina o outro, quando seus impulsos nos dirigem, é que se revelam nossos poderes ocultos e que o Espírito se afirma em seu brilho e sua beleza. É por ele que estamos em comunhão com “esse Pai que reside em nós”, segundo a palavra do Cristo, esse Pai que é o foco de todo amor, o princípio de todas as grandes ações.

Por um, perpetuamo-nos nos mundos materiais onde tudo é inferioridade, incerteza e dor; pelo outro, ascendemos aos mundos celestes, onde tudo é paz, serenidade e grandeza. É somente pela manifestação crescente do Espírito Divino em nós que chegamos a vencer o eu egoísta e a nos associar plenamente à obra universal e eterna, a criar uma vida feliz e perfeita.

Como poremos em movimento esses poderes interiores e os orientaremos para um ideal elevado? Pela vontade! O uso persistente, tenaz dessa faculdade soberana nos permitirá modificar nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria, a doença e a morte.

É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um objetivo preciso. Na maioria dos homens, os pensamentos flutuam sem parar. Sua mobilidade constante, sua variedade infinita oferecem pequeno acesso às influências superiores. É preciso saber se concentrar, colocar seu eu em sintonia com o pensamento divino. Então se produz a fecundação da alma humana pelo Espírito Divino que a envolve e penetra, a torna apta a realizar nobres tarefas, prepara-a para a vida no além, cujos esplendores entrevê enfraquecidamente desde este mundo. Os Espíritos elevados vêem e ouvem entre si os pensamentos que são harmonias penetrantes, enquanto os nossos são, na maioria das vezes, apenas discordância e confusão. Aprendamos a nos servir de nossa vontade e, por ela, a unir nossos pensamentos a tudo o que é grande, à harmonia universal, cujas vibrações enchem o espaço e embalam os mundos.



Léon Denis




Fonte: do livro "O problema do Ser, do Destino e da dor", pp. 20-1
Tradução de Renata Barboza da Silva, Simone T. Nakamura Bele da Silva
Petit Editora e Distribuidora LTDA, 1ª edição, 2000, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/psicologia-psic%c3%b3logo-pensamentos-2146166/

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O OFÍCIO DO CULTIVO ESPIRITUAL


Se você já viu um sapateiro habilidoso trocar uma sola ou polir couro, ou talvez um jardineiro diligente tratar o solo ao redor de uma planta fraca que está tentando recuperar, você saberá do que estou falando. É que existe um jeito, uma atitude e um comportamento que elevam qualquer ofício à categoria de arte.

E há naquele que exerce uma arte com destreza, uma técnica precisa, um conhecimento do assunto e uma experiência que se evidenciam. Mas também, e sobretudo, há uma dedicação, uma paixão e um esquecimento de si que o tornam instrumento de uma vontade maior. O verdadeiro artista dá lugar e deixa penetrar algo que não lhe pertence, que o arrebata e o atravessa. Nesse sentido, quem faz arte torna o sagrado transparente em suas obras, ou seja, Deus se comunica e se manifesta de maneira particular nessas obras e nessas ações.

Dá para viver com arte? Há algo de arte quando nos referimos à "cerimônia do momento" ou "atuação impecável", o que também poderia ser dito em termos menos poéticos como "fazer da melhor maneira possível o que toca a cada momento". Este tema é mais importante do que parece à primeira vista. Se essa forma de comportamento se torna um hábito, modifica substancialmente nossa vida diária.

De fato, se nos aprofundarmos nos detalhes dessa “maneira de se dispor” aos acontecimentos, descobriremos que ela se relaciona com a vivência na "presença", com a "oração incessante", e inclui a atitude de "abandono na providência divina". Assim como são gerados maus hábitos que depois são muito difíceis de erradicar, também podemos nos acostumar a fazer o bem. Mas, o que é isso de fazer bem e como se relaciona com a prática de uma determinada arte?

Poderíamos agir focados no presente, com calma, precisão, harmonia e integridade em todos os momentos, mas por muitos anos nos movemos sob o comando do medo e da inquietação. Aprendemos "até os ossos" a passar para o próximo momento como se ele nos perseguisse, sempre além do agora, saudoso, ansioso, frenético, correndo atrás de uma felicidade miragem que se torna mais esquiva quanto mais fora de nós a colocamos.

Assim, como não podemos mudar completamente o comportamento habitual do corpo e da mente de um dia para o outro, precisamos de um ponto preciso do dia para aplicar nossa atenção máxima no fortalecimento do espírito. Isso tem sido chamado de "o ofício do cultivo espiritual". Uma atividade, talvez mínima, de alguns minutos todos os dias ou a cada dois dias, onde você usa algo material para desenvolver o espiritual. Como veremos ao praticá-lo, descobre-se que o mundo não é realmente material, mas puro espírito e que a matéria é apenas uma das formas pelas quais o espírito se expressa.

Fizeram arte Mozart, Bach, Michelangelo, Leonardo, Shakespeare e Dante, mas você também a encontra na lojinha da esquina, onde encontra o mesmo traço do divino na disposição aconchegante, colorida e meticulosa das prateleiras.

Como é usar algo material para cultivar o espiritual? O que se faz "fora" tem efeito "dentro" e vice-versa. Em outras palavras, há um vaivém constante entre o mundo interior e o mundo exterior, que são apenas dois mundos na aparência. Embora o mundo apareça aos nossos sentidos físicos em sua forma material, é de natureza espiritual. Sabendo disso passamos a usar toda atividade como ponto de apoio para fortalecer o espírito.

Suponha que você vá à academia, lá você usa alguns pesos para tonificar os músculos. Isso entendemos claramente. Da mesma forma, você pode aproveitar o passeio quando for fazer compras ou sua atividade no escritório ou aquela reunião com amigos para se colocar no espírito. E quanto mais nos acostumamos a viver no espírito, mais fácil fica voltar para ele. Estamos nos familiarizando com a vida espiritual.

Quando vivemos divagando, ou seja, perdidos nos devaneios mentais compensatórios do momento, nosso espírito se desintegra, nossa consciência escurece e a atividade que desenvolvemos é muito semelhante a um simples sonho. Além do mais, esquecemos o que fizemos com a mesma facilidade com que esquecemos o sonho que tivemos na noite passada. Por outro lado, se nos predispusermos a uma prática específica, a tonalidade do que vivemos muda. É o grau de consciência que faz a diferença. O que realmente fazemos, então, não é o exterior da atividade, o que se vê, mas o interior. É a espiritualidade aplicada ao que fazemos que importa.

É por isso que sugerimos escolher um "trabalho de cultivo espiritual" que nos permita concentrar essa intenção de espiritualizar nossa vida, em algo muito específico e concreto. Devemos estar presentes em nossa vida, não ausentes dela. Mas como a fantasia viva ou a ação autômato se tornou carne em nós, essa transformação não é fácil. Então escolhemos algo para fazer o nosso melhor para aprender essa coisa de estar verdadeiramente presente. O que equivale a dizer: aprender a viver em espírito e em verdade.

Haverá quem produza ícones religiosos, quem pinte quadros ou desenhe, quem goste da horta ou do pomar, quem faça da cozinha ou da decoração uma arte. Existe a tecelagem, a escrita, a composição musical ou o canto, a prática de algum desporto, o bonsai, a preparação ou criação de perfumes, o restauro de móveis ou a carpintaria do mesmo, diversas formas de criação artesanal, como o uso do tear, a modelagem em argila, escultura, modelagem e um longo etc. No Oriente eles costumam praticar isso com caligrafia, ikebana ou a arte do arco e flecha. É inclusive bastante conhecida aquela atividade que consiste em criar mandalas intrincadas e detalhadas que depois de finalizadas são varridas como se nada tivesse sido feito. Isso é muito curioso e mostra claramente que o que é substancial é o modo interior de que esta figura é feita e não a figura em si. Para isso tem que haver desapego do resultado e atenção com a própria execução. Os jardins zen também têm muito disso e a cerimônia do chá pode nos ensinar muito sobre a atitude de que estamos falando.

O que define uma atividade como seu ofício de cultivo espiritual é que você decida dar a ela essa natureza, essa marca específica. Não deve ser algo que você já tenha muito mecanizado porque vai dificultar a troca da tônica. É melhor algo novo ou que você não faz há muito tempo ou que adia indefinidamente. Mas acima de tudo deve ser algo que você gostaria muito de fazer bem. Pode ser algo em que você não foi treinado e no qual não é muito bom, mas que pode ser muito útil para esses propósitos espirituais.

Desta forma, este ofício torna-se uma forma especial de não-reação. Uma não-reação ativa que implica o desenvolvimento de certas qualidades precisas até se tornar arte. Talvez nos leve o resto de nossas vidas, mas não é importante alcançar algo nisso exteriormente, mas sim a harmonia, a profundidade e a sutileza espiritual que seu próprio exercício nos dá. É importante estar alheio a todas as comparações, é apenas uma ferramenta para despertar os sentidos espirituais...



El Santo Nombre




Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

UM NÍVEL MAIS PROFUNDO DE CONSCIÊNCIA


O mestre Eckhart vai além dos primeiros cristãos quando diz que podemos acessar o verdadeiro conhecimento de Deus e até mesmo alcançar a união perfeita com Ele nesta vida: "De maneira semelhante costumo dizer que há algo na alma que nos conecta intimamente com Deus, algo que é um com Ele, não apenas unido a Ele. É uma unidade e uma união pura." Santa Teresa de Jesus, em sua obra "El Castillo Interior" fala na Sétima Morada do casamento espiritual como o estado permanente de união, além do arrebatamento. Os místicos modernos chamam isso de consciência da unidade.

Como vimos, a ideia da semelhança com o divino sempre foi aceita dentro do cristianismo - a alma como espelho de Deus. Mas a identidade completa tem sido frequentemente contestada. No entanto, o Evangelho de Tomé nos diz: "Quem beber da minha boca será como Eu; Eu mesmo serei essa pessoa e tudo o que está oculto lhe será revelado." A consciência de uma Realidade subjacente de unidade e a interligação de toda a criação e toda a humanidade com a Energia Divina e Consciência Universal, também está presente para nós na oração de Jesus, em seu último discurso aos discípulos: "Mas eu vos peço não apenas para eles, mas para aqueles que acreditarão em mim por meio de suas palavras; que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, assim também eles estão em nós, eu neles e eles em mim, sendo perfeitamente um". (Jo 17,20)

Quando nos lembramos de nossa verdadeira identidade que conhecemos e vemos em um nível intuitivo, então vemos "olho no olho". "Os olhos com os quais vejo Deus são os mesmos com os quais Ele me vê. Os meus olhos e os de Deus são os mesmos olhos, uma visão única, um conhecimento único e um amor único." (Mestre Eckhart)

Isso é comunhão ou união verdadeira? Bede Griffiths explica muito bem: "Não há dúvida de que o indivíduo perde todo o sentido de separação da Unidade e experimenta a unidade total, mas isso não significa que o indivíduo deixe de existir. Como qualquer elemento da natureza, é apenas um reflexo da Realidade Única. Portanto, o ser humano é um centro único de consciência da Consciência Universal". (Bede Griffiths, "Casamento entre o Oriente e o Ocidente")

Tornamo-nos temporariamente conscientes de momentos de beleza em nossos eus eternos à medida que perdemos a consciência de nossos eus superficiais. Devemos mover o centro de nossa percepção, de nossa consciência: "Não devemos olhar, mas fechar os olhos e trocar nossa capacidade de ver por uma nova. Devemos despertar essa capacidade que todos possuímos, mas que poucos usam". (Plotino)

Não temos consciência de quem realmente somos, de nossa herança universal, a menos que usemos esses dois níveis diferentes de consciência. Esse é o primeiro passo, mas o segundo é saber conciliar esses dois modos de ser. "Então, depois de ter descansado no Divino, quando desço do intelecto para o raciocínio discursivo, fico intrigado sobre como poderia ter descido." (Plotinus "Enneads" 4.8.1)

Podemos nos sentir como estranhos no mundo e, no entanto, temos que integrar essas experiências em nossas vidas diárias. E como fazemos isso? A resposta dada por Plotino - místico e filósofo do século II e uma figura muito influente para os primeiros cristãos - é ​​também assumida por Evagrio no século IV. Plotino propõe a prática das virtudes (abandonar os desejos do ego) e a contemplação. Essas duas disciplinas ajudam a manter a conexão entre as experiências místicas e a vida cotidiana.

No pensamento de Plotino convergem todas as correntes de pensamento de 800 anos de especulação grega. Do seu pensamento emerge uma nova corrente destinada a cultivar as mentes de figuras tão diferentes como Santo Agostinho, Dante, Mestre Eckhart, Henri Bergson e T.S. Eliot.



Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

APEGO ÀQUILO QUE SE VÊ


O observador não deve se apegar àquilo que se vê – esta é a maneira de se obter a libertação. O contato dos sentidos com o objeto faz surgir o desejo e o apego; isso leva ao esforço e/ou à euforia ou ao desespero. Depois vem o medo da perda ou o pesar diante do fracasso, e assim se estende a sequência de reações. Com muitas portas e janelas abertas a todos os ventos que sopram, como poderá sobreviver a chama da lamparina no interior? A lamparina é a mente, que deve queimar continuamente, sem ser afetada pelas exigências duais do mundo exterior. A entrega absoluta ao Senhor é uma forma de cerrar as janelas e as portas, pois, com essa atitude, vocês se despojam do “ego” e, assim, não são atingidos pela alegria nem pela tristeza. A entrega absoluta faz com que recorram à Graça do Senhor para enfrentar todas as crises que venham a surgir no seu caminho, tornando-os heroicos, mais resolutos e mais bem preparados para a batalha.



Sri Sathya Sai Baba




Fonte: Discurso Divino, 13 de janeiro de 1965
www.sathyasay,org.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

TRANSCENDER-SE A SI MESMO


A meditação está ligada ao desapego. E em nosso vocabulário religioso ocidental, não há palavra tão incompreendida quanto desapego. A meditação pode apresentar problemas ou complicações incomuns para as pessoas por causa dessa palavra. Desapego pode geralmente parecer para nós como uma espécie de indiferença platônica gelada, e isso é algo que afastou a maioria de nós quando nos deparamos com a palavra em meio a muito rechaço espiritual do passado ao discutir a vida cristã numa visão de mundo amplamente negativa ou distanciamento repressivo.

No entanto, acredito que o desapego é a lição mais importante que a meditação ensina aos homens e mulheres ocidentais hoje, afetados por essa cultura religiosa frequentemente mal enfatizada.

O desapego não é uma dissociação ou uma evasão de seus problemas ou de suas responsabilidades. Não é uma negação de amizade, afeto ou mesmo paixão. O desapego é, em essência, o desapego da preocupação consigo mesmo, daquela mente muitas vezes inconsciente que me coloca no centro de toda a criação.

O desapego está igualmente relacionado com o compromisso de amizade, com a fraternidade duradoura, com um Amor inalcançável e auto transcendente. O desapego torna possível o Amor porque o Amor só é possível se nos desapegarmos da preocupação consigo mesmo, se sairmos do auto isolamento, se nos libertarmos da auto satisfação. É o desengajamento que nos liberta da complacência... Acima de tudo, e esta é a importante lição que temos que aprender na meditação: o desapego é a liberação da ansiedade que temos sobre nossa própria sobrevivência.

A vida ensina-nos que o Amor é essencialmente nos perder na grande realidade do outro, dos outros e de Deus. Deixar de lado nosso egocentrismo nos liberta pelo Amor para que não sejamos mais dominados pela busca animal pela sobrevivência. O desapego exige plena confiança humana: confiança no outro, também nos outros e em Deus. Requer a disposição de deixar ir, abrir mão do controle e deixar estar.



Fr. John Main, OSB




Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

DOIS ASPECTOS DA SENSIBILIDADE


O sofrimento está ligado à sensibilidade. Quanto mais sensível um ser se torna, mais sofre, mas é preferível sofrer e ser sensível a não sofrer e ser como uma pedra. Deve-se ser sensível, mas sem cair na sensibilidade doentia, na pieguice. Muitas pessoas não estão minimamente esclarecidas sobre esta questão; têm medo de ser sensíveis e tornam-se como pedras. Não, é preferível passar pelos sofrimentos e aumentar o seu grau de sensibilidade, porque é o grau de sensibilidade que determina a grandeza, a elevação do ser humano. Segundo os Iniciados, ser sensível é ser capaz de sentir cada vez mais a beleza, o esplendor, a riqueza do Céu, de captar melhor as maravilhas do mundo divino e não continuar a sentir tanto a maldade e a estupidez de certas criaturas. Os grandes Mestres e, acima deles, os Anjos e os Arcanjos, já não sofrem com a fealdade, já nem a veem; só veem a beleza e vivem incessantemente na alegria.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

APATHEIA E AGAPE


A virtude do arrependimento nos ajuda a tomar consciência de nossas emoções egocêntricas e nos leva à humildade à medida que nos tornamos cada vez mais conscientes de nossa necessidade de Deus e de que sem Cristo nada podemos fazer.

O reconhecimento de nossas feridas, essa consciência curativa, nos leva a um crescente senso de harmonia e estabilidade em nossa vida emocional. Além disso, sabendo que somos amados apesar de nossas faltas, poderemos aceitar e amar cada vez mais o próximo, pois nos vemos refletidos no outro: "O monge é um homem que se considera um com todos os homens porque constantemente parece ver-se nos outros” (Evagrio Pontico, “Tratado sobre a oração”).

Evagrio chamou esse modo de ser harmonioso para o qual estamos crescendo com a ajuda da graça, uma combinação de "apatheia" (ausência de emoções de acordo com o estoicismo) e "agape" (amor): integração emocional e Amor Divino intimamente ligados: "Agape é a criatura da apatheia." Juan Casiano não usou este termo "apatheia", mas chamou-o de "pureza de coração". Thomas Merton explica que a pureza de coração é “uma total aceitação de nós mesmos e de nossa situação. A renúncia a qualquer imagem ilusória de nós mesmos, a qualquer superestimação de nossas próprias capacidades, para poder obedecer à vontade de Deus tal como ela se apresenta a nós.

Os contemplativos são frequentemente censurados por seu "egoísmo" porque são considerados preocupados apenas com sua própria salvação. Para Evagrio e os Padres e Mães do Deserto, a oração era fundamental. Era o que dava sentido às suas vidas. Mesmo assim, recebemos este ensinamento: “Pode acontecer que, enquanto estamos orando, um irmão venha nos ver. Então, temos que escolher entre interromper nossa oração ou entristecer nosso irmão, recusando-se a respondê-lo. Mas o amor é maior que a oração. A oração é uma virtude entre outras enquanto o amor as contém todas” (São João Clímaco s.VII).

Só depois de ter colocado a nossa própria casa em ordem é que podemos sentir compaixão sincera pelos outros e servir de apoio: "Alcance a paz interior e milhares ao seu redor encontrarão a salvação" (São Serafim de Sarov). Somos exortados a não esquecer que somos um com Cristo e que o que acontece ao próximo é de extrema importância para nós: “A vida e a morte dependem do nosso próximo. Se ganhamos o irmão, ganhamos a Deus. Mas se escandalizarmos nosso irmão, pecamos contra Cristo” (S. Antonio Abad).

O caminho espiritual nos ajuda a estreitar o espaço entre nós e os outros. Nós somos os guardiões de nosso irmão. Como resultado disso, o mundo se tornará um lugar mais pacífico; não mudar o mundo, mas mudar a nossa própria atitude, passando do interesse próprio para a preocupação com os outros, independentemente das relações familiares, do passado, das diferenças culturais ou religiosas. "Seja a mudança que você quer ver no mundo" (Gandhi). Esta é a essência dos ensinamentos de Jesus.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

"JOGO" CÓSMICO DIVINO


É necessário enfatizar que, para enfrentar com sucesso os problemas que surgem na vida diária, há que se ter inteligência e habilidade, além de qualidades como a justiça, a virtude e a excelência espiritual. Tanto a inteligência como a habilidade são essenciais para o progresso, tão essenciais como duas asas para uma ave ou duas rodas para uma carroça.

Só experimentando e entendendo o mundo é que se pode perceber a importância do caminho superior que conduz ao Altíssimo. O mundo é fascinante pela sua aparência tentadora, embora seja fundamentalmente irreal. É um fenômeno que está se desvanecendo.

Quando se reconhece essa verdade, tem-se consciência do Jogo Cósmico Divino e do eterno Ser Universal. Não se consegue chegar a esse estado de consciência por meio do acúmulo de riquezas, de poder material ou da aquisição de conhecimento e habilidade. Pode-se atingi-lo pela purificação da própria consciência, em todas as suas facetas, e pela sinceridade com que se realiza a busca.



Sri Sathya Sai Baba



Fonte: Lila Kaivalya Vahini, cap. 1
www.sathyasai.org.br
Fonte da gravura: Acervo de autoria pessoal

domingo, 1 de janeiro de 2023

MEDITAÇÃO - EGO OU VERDADEIRO EU


Se nos sentimos isolados dos que nos rodeiam, é porque estamos isolados de nós mesmos. Somente quando sabemos quem somos, podemos ser quem realmente somos e nos comunicar com os outros. Mas o que realmente nos impede de alcançar nosso verdadeiro eu? A meditação nos dá uma resposta muito simples. Uma resposta que, justamente por ser simples, nos é difícil: nada. Não há nada entre nós e nosso verdadeiro eu. Nada, exceto a falsa ideia de que há algo entre eles. Essa ideia falsa é o que chamamos de ego.

Em nossos momentos de meditação... acessamos outro nível de autoconsciência. Primeiro aprendemos a deixar todas as ideias para trás. Então, no próximo nível de consciência, nos separamos da imaginação e deixamos todas as imagens para trás. Quando conseguimos isso, somos simplesmente nós, sem capas, nus. Isso é o que Jesus chamou de "pobreza de espírito".

É uma bela pobreza de espírito. É uma maneira emocionante de ir. Embora haja momentos em que é árduo, não deixa de ser um caminho bonito e sereno. É uma grande pobreza porque nos liberta do ego e nos permite ver a luz do nosso ser real e saber que fazemos parte dessa mesma luz. O mantra* nos leva através das camadas de pensamento, linguagem e imaginação para a pura luz da atenção plena. O mantra é simplesmente o foco que nos leva ao centro onde brilha a luz do eu real.

É possível que você esteja meditando há muito tempo e não sinta que isso está acontecendo. Mas não se preocupe. Não espere que nada aconteça. Se você perseverar, com fé, sua própria vida brilhará lenta mas profundamente graças a essa luz interior e você saberá que essa luz está aí, em tudo.

Nota: Para mais detalhes ver:
*
CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html
* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html



Carla Cooper




Fonte: “The Light of Being”, trecho de LIGHT WITHIN de Laurence Freeman OSB, (Londres: Canterbury, 2008), pp. 85-87.
WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

VIVA EM GRATIDÃO


Em ação de graças pela vida, prometo vencer a minha ganância, que disfarça a ambição em necessidade, confiando que nos foi dado tudo o que precisamos, pelo que prometo repartir generosamente o que tão generosamente recebi.

Em agradecimento pela vida, prometo vencer a apatia, estando atento às oportunidades que cada momento me oferece, e assim responder criativamente a cada situação.

Em ação de graças pela vida, comprometo-me a vencer a violência, sabendo que combater a violência com violência leva a mais violência e morte, por isso comprometo-me a defender a vida através da não-violência.

Em agradecimento à vida, comprometo-me a superar o medo, que é a raiz de toda violência, aproveitando o que temo como uma oportunidade e, assim, prometo corajosamente lançar as bases para um futuro pacífico.



El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/manh%c3%a3-nascer-do-sol-mulher-silhueta-2243465/