quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

4ª FEIRA DE CINZAS - REFLEXÃO SOBRE A QUARESMA


Portas e janelas sempre me pareceram maravilhosas. Muitas vezes não resisto a tirar uma foto delas, mesmo quando são realmente muito comuns. Mas qualquer coisa comum torna-se maravilhosa quando chama a sua atenção de uma forma repentina e inesperada e você olha duas vezes ou, até mesmo, olha fixamente para ela. Não pode ser explicado racionalmente, mas elas parecem retribuir a atenção que você dá a elas.

Então, pensei hoje em usar esta foto, de uma porta aberta o suficiente, para nos mostrar o que há do outro lado. Neste caso, um oceano calmo da mesma cor azul celeste do céu acima dele, ambos se fundindo no horizonte. Os horizontes, é claro, são meras ilusões na mente de quem vê, porque quando vemos com os olhos límpidos do coração não há horizonte, apenas unidade.

Com o início dos quarenta dias da Quaresma, podemos resolver, por tradição, desistir de algo, geralmente algo em que podemos estar inconscientemente viciados, mesmo que levemente, como o açúcar, e fazer algo extra, geralmente algo que achamos que deveríamos fazer mais, como a meditação. Isso é bom se o fizermos como uma prática infantil simples. Então lembraremos que somos pó e que ao pó voltaremos. As cinzas desenhadas em nossa testa como uma tatuagem temporária enfatizam que somos feitos de terra e que pertencemos ao reino animal. Mas eles também nos lembram que nossa curta jornada na vida vai além de qualquer horizonte. Somos seres luminosos e conscientes e capazes de alcançar patamares de amor cada vez maiores.

No evangelho de hoje, Jesus nos ensina a abrir mão de algo e a fazer algo. Precisamos abandonar a autoconsciência de ator (ou observador) ao nos preocuparmos com o que Deus ou outras pessoas pensam de nós. Essa preocupação típica do ego bloqueia nossa capacidade de admiração e fecha a porta da consciência. Então, nesta Quaresma, por que não nos surpreendemos cada vez que começamos a nos deixar dominar pelo desejo de sermos belos ou de sermos admirados? Jesus também nos diz para fazer algo, entrar em nosso quarto interior, fechar a porta e orar ali na clara luz de Deus. Então nos fundimos com ele.

Quando nos maravilhamos, o ordinário renasce. A Quaresma é a celebração do ordinário. Tudo o que temos a fazer é voltar ao presente. Se estamos tristes é sinal de que estamos vivendo no passado, consumidos por nossos pensamentos e lembranças. Se nos sentimos ansiosos é porque estamos vivendo no futuro. Mas se estivermos em paz conosco e com os outros, a tristeza e a ansiedade são superadas e permanecemos no momento presente. Não devemos olhar para trás, tentando recuperar experiências de paz já vividas. Tampouco devemos adiar a tarefa de voltar ao presente até que tenhamos resolvido nossos problemas e nos salvo do pior.

Quer desistamos de algo e façamos algo extra ou não, podemos fazer a coisa mais importante de todas, a coisa que leva à paz e beneficia aos outros: a prática da Presença de Deus.



Fr. Laurence Freeman, OSB




Fonte do texto e da gravura: WCCM Espanha
Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.

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