terça-feira, 18 de abril de 2023

HUMILDADE - UMA FORMA DE SER ESSENCIAL


No mundo em que vivemos, a virtude da humildade não é valorizada. Pelo contrário, tudo o que se deseja é o sucesso material, a fama, a autoafirmação. Chegamos até a equiparar humildade com humilhação. E claro, quem gosta de ser humilhado?

No entanto, para os Padres e Mães do Deserto, a humildade nunca foi sinônimo de humilhação: foi uma forma de ser essencial. São Bento também considera a humildade como uma das principais virtudes. A sua descrição, embora feita no contexto do mosteiro, ainda hoje é atual. Ele descreve os passos para a humildade como uma escada de doze degraus. Os dois primeiros são a base para adquirir a virtude da humildade: “O primeiro passo para a humildade é manter a reverência a Deus sempre diante de nossos olhos e nunca esquecê-la. Reverenciamos a Deus na Natureza e no Universo que nos cerca; intuímos o Invisível na manifestação do visível e respeitamos a presença Divina em todas as pessoas que encontramos”.

Esta atitude de respeito e reverência leva-nos a conhecer a nossa necessidade de Deus e conduz-nos ao segundo degrau da escada de São Bento para a humildade: abandonar a abordagem egocêntrica da vida. Nossa regra básica é: "Não seja feita a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22,42). Ou seja, não pensando em nossos próprios benefícios e sentimentos, mas na necessidade dos outros: “Feliz é o monge que vê o bem-estar e o progresso de todos os homens com tanta alegria como se fosse a sua própria” (Evagrio Pôntico).

Os próximos passos para subir a escada referem-se à importância da obediência, da escuta profunda (...).

O nono passo é "controlar a língua e ser capaz de permanecer em silêncio. Falar apenas quando for feita uma pergunta". Em outras palavras, estamos sendo solicitados a ouvir os outros, em vez de exigir o direito de ser ouvidos.

Ele lida novamente com o orgulho egocêntrico e nosso forte apego à verdade de nossas próprias opiniões. Mesmo para Evagrio Pôntico, essa demanda foi bastante difícil de ser atendida.

Há uma história sobre ele, desde quando ele veio pela primeira vez para o deserto. Ele se aproximou de um dos monges (provavelmente Macário, o Grande) e perguntou-lhe o seguinte: "Dê-me alguns conselhos com os quais eu poderia salvar minha alma". Essa era a maneira usual de se dirigir a um monge idoso. Os eremitas do deserto ensinavam a quem lhes pedia conselhos, com poucas mas precisas palavras: sabiam intuitivamente o que o outro precisava ouvir. A história continua da seguinte forma: "O velho respondeu-lhe: se queres salvar a tua alma, não fales até que te façam uma pergunta." Esse conselho foi especialmente perturbador para Evagrio Pôntico e ele ficou com raiva por ter pedido conselhos: "Na verdade, li muitos livros e não posso aceitar instruções desse tipo." É fácil perceber que Evagrio ainda teve muito trabalho a fazer com seu orgulho! (...)

Precisamos dar esses passos na escada da humildade para a prática da meditação. Devemos manter nossa mente na Presença de Deus e deixar para trás nossos pensamentos egoístas de auto-realização e orgulho. Com toda a humildade, conhecendo nossa necessidade de Deus, perseveramos fielmente em nossa prática.

A paz de Deus, que excede todo entendimento, é um dom e não uma conquista da qual se orgulhar. É por isso que cada dia precisamos começar de novo com verdadeira humildade, com fé e esperança. John Main e Laurence Freeman nos lembram dessa necessidade enfatizando que somos todos iniciantes, não importa há quanto tempo estejamos nesse caminho.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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