domingo, 24 de maio de 2020

O LABIRINTO DE CHARTRES (CATEDRAL DE CHARTRES - FRANÇA)


Quando alguém entra na grande Catedral de Chartres (construída na França do séc. XIII) pela porta oeste, encontra-se pisando e caminhando pelo Labirinto do Peregrino. O Labirinto é desenhado por pedras pretas no piso da nave da Catedral, abaixo dos vitrais da Rosácea, cujo diâmetro ele reflete com exatidão. Durante a idade média, peregrinos pobres que não podiam ir a Jerusalém, faziam uma “peregrinação” simbólica, de joelhos, ao longo de todas as curvas e voltas do labirinto, na própria catedral. Em Chartres, como em muitas outras catedrais europeias, onde desenhos similares também existiam, esta mandala espiritual adquiriu grande significado na devoção dos leigos. Muitas gerações experimentaram a alegria de chegar ao centro do labirinto após muitas dúvidas e hesitações.

Se você seguir o diagrama do labirinto com seu dedo você começará a entender porque John Main não considerava a meditação simplesmente como um método de oração, mas como uma peregrinação e um meio de vida. Assim como a meditação, realizar com devoção a peregrinação do labirinto ilumina a jornada de nossa vida. Todas as curvas e voltas do labirinto nos ajudam a colocar nossos momentos de acídia* e de apateia**, de turbulência e de paz, na perspectiva da concepção global da jornada.
Começamos pelo princípio. Todo percurso humano, mesmo aquele espiritual que transcenda o tempo e o espaço, tem um princípio definido. Não estamos longe do centro, mesmo no princípio, mas temos um percurso a realizar, um processo de compreensão e de autodescoberta, antes de percebermos estar, de fato, já e sempre, no centro. No princípio, parece que chegaremos ao centro num percurso em linha reta, mas logo encontramos os padrões recorrentes de voltas e curvas que testam e aprofundam a nossa fé. Eles podem nos fazer acreditar que estamos perdendo terreno, voltando atrás, e depois de anos de meditação pode nos parecer que não fizemos progresso, exceto pelo amadurecimento de nossa fé, que é o significado essencial de nosso crescimento espiritual. Esta mesma fé então nos mostra que as curvas e reviravoltas do caminho não são a forma como um Deus difícil torna a vida mais difícil, mas a maneira com que um mestre compassivo e sábio desata os nós de nosso coração.

O labirinto nos mostra a sabedoria de não tentar medir nosso progresso: precisamente porque a jornada não é linear e mental, mas cíclica e espiritual, como as espirais de uma mola. Tudo que importa é a confiança de sabermos estar a caminho. O caminho para o centro é estreito, mas leva à fonte da vida. A vida é eterna nessa origem. Precisamos apenas permanecer no caminho. Se tentarmos trapacear e pular do lugar onde estamos para onde queremos estar, sem passar pelo caminho que devemos seguir, ficamos perdidos e confusos. Mas, de qualquer ponto, podemos recomeçar. A compaixão de Deus, sempre presente, é mais diretamente vivenciada na constância da caminhada e na descoberta última, no centro, do significado da jornada que fizemos. Temos apenas que seguir adiante na fé. Quem busca, encontra.

A meditação é um caminho. Ela é, antes de tudo, um caminho de experiência, e não de pensamento ou imaginação. Até mesmo um símbolo como o labirinto indica isso. Um símbolo como o Labirinto do Peregrino de Chartres, ainda que rico em significado, só é verdadeiramente entendido quando vemos que ele aponta para além dele mesmo, completamente além do mundo dos signos. Olhar para uma ilustração do labirinto e traçar a rota até o centro com o dedo é muito diferente de fazê-lo na realidade, de joelhos. Quão diferente é então a prática diária da meditação da mera leitura ou conversação sobre ela.


 Dom Laurence Freeman, OSB



Notas deste blog:

* Indiferença, desânimo.
** O estado de espírito desencadeado pela percepção de eventos no mundo exterior mas sem emoção. Num sentido mais amplo, entende-se por apateia a ausência de todas as emoções, incluindo as agradáveis, mesmo que consideradas desejáveis.


Fonte: Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
"Christian Meditation Newsletter", março de 1992
http://www.wccm.com.br/escola-de-meditacao-wccm/76-escola/cartas/ano-1/915-carta-15
Fonte das Gravuras:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg73kiJBF97CcCa9t_jx7NqETBAXKh2j85Px9VayyglBkdBvKKMAR0NVAd706S9vMQJ6a9cOebHyrLhVKnsBujVgIiQw4V0-donwRhTk8os94MXoW7DNAjWV1OLEn_Iuo5AbeoH8Kb3cVA/s1600/chartres+labyrinth.jpg
https://img2.gratispng.com/20180508/wkw/kisspng-chartres-cathedral-labyrinth-walking-maze-meditati-5af1a6c3c2c551.4417732315257863077978.jpg

QUEBRANDO O ESPELHO


Não creio que seja exagero dizermos que o pecado original seja a consciência de si mesmo, a hiper-auto-consciência do egoísmo, pois a consciência de si mesmo dá origem à consciência dividida. Isto se parece a um espelho entre Deus e nós mesmos. Sempre que olhamos para o espelho, nos vemos. O propósito da meditação é o de quebrar esse espelho, para que não mais olhemos para os reflexos das coisas e, consequentemente vejamos as coisas às avessas, inclusive nós mesmos. A essência da meditação é a de tomarmos de assalto o reino dos céus. O espelho precisa ser quebrado. E, quando Jesus nos diz que ninguém pode ser seu seguidor a menos que deixe para trás a si mesmo, ele está falando acerca da superação da consciência de si mesmo.

Ora, de fato, não se faz necessária muita experiência de vida, para que percebamos que essa consciência de si mesmo nos ilude a ponto de entendermos que todo o universo gira ao nosso redor; ou, para concluirmos que essa consciência de si mesmo é um pavoroso estado de ser. Talvez seja isso o que leva a maioria de nós à meditação. Não queremos passar o resto de nossas vidas olhando para esse espelho e enxergando tudo às avessas. Queremos olhar, com coragem, para o infinito mistério de Deus. Porém, quando começamos a sentir essa primeira perda da consciência do si mesmo e, quando começamos a adentrar o profundo silêncio que é a meditação, podemos vir a nos sentir perturbados e assustados. Nesse ponto, precisamos do apoio de nossos irmãos e irmãs. É por isso que nossos encontros regulares são tão importantes. Precisamos compreender que a fé é um dom, que nos é dado, como nos diz São Paulo, em abundância, caso apenas estejamos abertos a ele e, continuemos a martelar esse espelho, até que ele se despedace inteiramente. Com nosso mantra, nós o "martelamos suavemente".

Não há nada de passivo acerca da meditação. Trata-se de um estado de crescente e mais profunda abertura para a fonte do poder de toda a realidade, que só podemos descrever em palavras adequadamente como Deus-que-é-amor. A meta de nossa vida e, o convite de nossa vida, não é nada menos do que a união completa, a ressonância completa com aquela fonte de poder. Quais são os frutos da não-consciência-de-si-mesmo? Felicidade, paz, controle-de-si, paciência, fidelidade, todas aquelas coisas de que nos fala São Paulo como sendo os frutos do espírito. Esse é o estado de ser, no qual estamos livres para sermos nós mesmos, livres para receber o dom de nossa vida sem medo, em estado de graça, de amor.


Dom John Main, OSB



Fonte: MOMENTO DE CRISTO (São Paulo, Paulus, 2004).
Via Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/838-quebrando-o-espelho-190922
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/china-est%C3%A1tuas-de-buda-religi%C3%A3o-1177009/

O CARMA NÃO OPRIME


O karma é a grande lei da natureza, com tudo o que isso implica. Assim como somos capazes de nos movermos no universo físico com segurança, conhecendo suas leis, também podemos nos mover com segurança nos universos mental e moral quando aprendemos suas leis.

A maioria das pessoas, a respeito de seus defeitos mentais e morais, estão muito como na posição do homem que recusa subir as escadas por causa da lei da gravidade. Ele senta-se desanimado, e diz: "Esta é minha natureza, não posso fazer nada". É verdade, é a natureza do homem, já que ele a construiu no passado, e é "seu karma". Mas com um conhecimento sobre o karma ele pode mudar sua natureza, tornando-a amanhã diferente do que é hoje. Ele não está nas garras de um destino inevitável, imposto de fora sobre si; ele está num mundo de lei, cheio de forças naturais que ele pode utilizar para produzir o estado de coisas que ele deseja. O conhecimento e a vontade - isto é o que ele precisa.

Ele deve perceber que o karma não é um poder que oprime, mas um estabelecimento de condições das quais derivam resultados invariáveis. Enquanto ele viver negligente, em um caminho fortuito, enquanto ele for como um homem flutuando na corrente, atingido por qualquer entulho que passa, soprado por qualquer brisa casual, sugado por qualquer redemoinho casual, isto promete fracasso, azares e infelicidade.

A lei lhe possibilita atingir seus fins com sucesso, e coloca a seu alcance forças que ele pode usar. Ele pode modificar, alterar e reconstruir ao longo de outras linhas a natureza que é o resultado inevitável dos seus desejos, pensamentos e ações anteriores; esta natureza futura é tão inevitável como a presente: o resultado das condições que ele cria agora deliberadamente.

"O hábito é uma segunda natureza", diz o provérbio, e o pensamento cria hábitos. Onde existe Lei nenhuma conquista é impossível, e o karma é a garantia da evolução do homem até a perfeição mental e moral.


Dra. Annie Besant, MST



Fonte: do livro "Um Estudo Sobre o Karma", Ed. Pensamento, SP
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO


Todos estamos cientes de que há trevas em nosso mundo. Todos os dias temos notícias de injustiças horríveis, de violências, de ódio, de feudos e de ganância. Vemos isso tanto no nível pessoal, quanto no nível global. Todos também estamos cientes das trevas em nosso interior...

Quando começamos a meditar, começamos a compreender que não podemos entrar na experiência com apenas uma parte de nosso ser. Tudo aquilo que somos, a totalidade de nosso ser, precisa estar envolvida... Em outras palavras, todas as partes de nosso ser precisam estar expostas à luz. Todas as partes de nós precisam ir para a luz. Não meditamos apenas para desenvolver nossa capacidade ou lado religioso. O homem ou a mulher que é verdadeiramente espiritualizado está em harmonia com todas as capacidades que tem...

A meditação não é o processo pelo qual tentamos ver a luz. Nesta vida não podemos ver a plena luz e continuar a viver. A meditação é o processo pelo qual nós vamos para a luz, pelo qual começamos a ver todas as coisas, a plenitude da realidade. Começamos a ver tudo isso por meio da energia da luz. E, tal como nos diz Jesus, vemos que a energia da luz é o amor.

A medida de nosso progresso na meditação é o quanto nos modificamos no sentido de vermos a todos e a todas as coisas por meio da luz de Deus. Ver por meio da luz do amor, também, nos faz amar a todos. Sem julgar, sem rejeitar, mas ver todos e toda a criação por meio dessa luz que precisamos descobrir em nosso próprio coração.


Dom John Main, OSB



Fonte: John Main OSB, THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING, editado por Peter Ng (Cingapura: Medio Media, 2007), pp. 188-189.
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/840-o-caminho-da-iluminacao-191006
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

PROTEÇÃO CONTRA VIBRAÇÕES NEGATIVAS


O Método de proteção contra as forças do pensamento, sejam elas intencionais ou inconscientes, é a LEI DO AMOR e a ausência do medo. O ser humano que tenha controle sobre o medo e viva em harmonia com esta Lei e com suas exigências, nada tem a temer.

No princípio fundamental do AMOR, na bondade e no perdão encontramos proteção contra todas as influências daninhas e contra as forças destrutivas, que proveem das ações mentais que possam nos afetar, sejam elas conscientes ou não. Recordemos sempre este manto de proteção divina. Cultivemos um espírito de bondade e façamos um julgamento generoso dos atos praticados pelos nossos semelhantes.

Devemos ter uma atitude mental positiva, livre dos temores de tais influências indesejáveis e manter o pensamento: NENHUMA FORÇA MALIGNA NO UNIVERSO É SUFICIENTEMENTE PODEROSA PARA ENTRAR EM MINHA MENTE, EM MEU CORAÇÃO OU EM MINHA ALMA.

Não existe poder suficientemente forte na Terra para influenciar pessoas cujo coração esteja guardado pela couraça do AMOR PURO e generoso para com todos os seres.

Da mesma forma que um ferro em brasa desintegra uma gota d’água que sobre ele caia, assim o calor de um coração puro, contra o qual se dirigem vibrações mentais de natureza maligna, imediatamente transmutará todas essas forças malignas, em forças construtivas de poder e em meios para o seu adiantamento e êxito.

O coração em que o Amor e o perdão habitam é mais poderoso do que a mais forte vontade ou a mais forte mentalidade. A Alma, que guarda como relíquia a CHAMA DO AMOR e a boa vontade, está tão afastada das perversões. que mesmo uma vontade gigantesca não a alcançará.

Protegemo-nos de uma invasão de forças de outras mentes e de vontades alheias, à medida que depuramos nosso coração e nossos desejos de todas as inclinações indesejáveis dos pensamentos afastados de Deus e das paixões indignas.

A pureza de coração e a elevação dos desejos é o seguro da completa proteção. Não importa onde estejamos ou quais sejam os nossos ambientes. Pelo cultivo destas qualidades, que conduzem ao despertar do CRISTO INTERNO e à CONSCIÊNCIA DA ALMA adquirimos essa proteção que nenhum poder na Terra pode atacar.


Dr. Reuben Swinburne Clymer, FRC



Fonte: Revista GNOSE, da Fraternitas Rosicruciana Antiqua, ano 9, n° 113
http://www.fra.org.br
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

ESPAÇO PARA SER


Para nos conhecermos, para nos compreendermos e, para... obtermos uma perspectiva correta de nós mesmos e de nossos problemas, precisamos simplesmente entrar em contato com nosso espírito. Toda auto-compreensão surge como resultado de nos entendermos como seres espirituais e, apenas o contato com o Espírito Santo pode nos conferir toda a amplitude da compreensão... Esse caminho não é difícil. É muito simples. Mas, realmente demanda um sério comprometimento...

O caminho da meditação é muito simples. Tudo o que cada um de nós precisa fazer, é ficar tão imóvel quanto possível, física e espiritualmente... Aprender a meditar, é aprender a abandonar seus pensamentos, ideias e imaginação e, a descansar nas profundezas de seu próprio ser. Lembre-se sempre disso. Não pense, não utilize quaisquer palavras, a não ser sua própria palavra (mantra), não imagine nada. Apenas entoe, repita a palavra nas profundezas de seu espírito e, ouça-a. Concentre-se nela, com toda sua atenção.

Por que isso é tão poderoso? Basicamente, porque nos dá o espaço que nosso espírito precisa para poder respirar. Nos dá, a cada um de nós, o espaço para sermos nós mesmos. Quando você medita, você não precisa se desculpar e, você não precisa se justificar. Tudo o que você precisa fazer, é ser você mesmo, é aceitar, das mãos de Deus, a dádiva de seu próprio ser... E, nessa aceitação você começará a viver sua vida em harmonia, harmonia interior, porque todas as coisas em sua vida passarão a se harmonizar com toda a criação, pois você terá encontrado o seu lugar. E aquilo que é surpreendente é que o seu lugar não é nada menos do que o de estar enraizado e fundamentado em Deus.


Dom John Main, OSB



Fonte: extraído do livro de JOHN MAIN - O MOMENTO DE CRISTO (São Paulo, PAULUS, 2004), p. 132.
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/841-espaco-para-ser-191013
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

ESTADO DO ESPÍRITO APÓS A MORTE DO CORPO FÍSICO


Morto o corpo, a individualidade sobrevivente é tomada de um estado psíquico original, dependendo muito, esse estado, das crenças do indivíduo, seu modo de agir quando vivia na Terra, sua moralidade, finalmente, seu grau de evolução Espiritual.

[...] Uns custam muito a compreender o seu estado, a sua situação; muitos querem crer que não morreram, pois encararam a morte como o fim da existência; mas, sentindo que continuam a existir, percebem que algo ocorreu e sentem-se em grande confusão. Outros consomem largo tempo em busca de um céu imaginário, com que foram acalentados na Terra; muitos, sentindo-se culpados e convencidos de já haverem deixado a vida terrena, julgam-se no purgatório, e outros, ainda, fustigados pelo remorso de suas más obras, sentem-se abrasados por um fogo terrível, que as dores morais ocasionam, julgando-se num inferno candente, sem luz, sem paz no coração, blasfemando contra a própria existência.

A passagem do mundo terreno para o Mundo Espiritual ocasiona tantas dúvidas; tantas agonias, tão terríveis perturbações aos espíritos não preparados para essas mudanças fatais, irremediáveis, que a maior parte raramente consegue adaptar-se logo à nova fase de vida.

Quantos se acham noutro mundo, uns como que adormecidos, outros delirando, outros continuando em seu viver material, sem compreenderem, o meio em que vivem e a sua situação!

É lógico que aqueles que não se prepararam para essa mudança, nem tiveram quem lhes preparasse um lugar para, ao chegarem a esse mundo de luzes, serem recebidos e logo iniciados; aqueles que não quiseram dar ouvidos às vozes espirituais, à Lei de Deus, que a todos mostra a trilha que devemos palmilhar para um bom empreendimento futura, devem passar por acérrimos sofrimentos morais.

Os viciosos, os contumazes, os que excluíram Deus da consciência, que enxovalharam e lesaram o próximo; os que venderam sua inteligência, sua alma, seu coração; os que traficaram com as coisas divinas, sofrem terríveis reprimendas, de acordo sempre com as faltas cometidas; porque a penalidade, não só na Terra, como na Outra Vida, está em proporção às infrações da Lei.

Não há uma só falta que não exija imediata corrigenda, e essa correção começa sempre pelo sofrimento.

Enfim, a perturbação ou o estado de inconsciência dos Espíritos é muito variável; cada um sofre-as de acordo com a sua evolução, a sua constituição psíquica, o papel de responsabilidade social que assumiu na existência terrestre, a sua instrução intelectual etc. Entre dois indivíduos, um ignorante e outro letrado, que tenham incorrido na infração da mesma lei, a pena do letrado se agrava, ao passo que a do ignorante, será atenuada. Tudo está em relação com o indivíduo e o crime cometido. Assim também é a natureza da perturbação, peculiar a cada indivíduo.

Um fato notável tem sido verificado com muitos Espíritos: o não saberem eles que "morreram", segundo a expressão usual. Esse fato se verifica com os Espíritos muito materializados e muito materialistas, especialmente com os suicidas. É uma espécie de condenação a que ficam sujeitos, em virtude da sua teimosia na negação.

Enfim, todos esses Espíritos atrasados ficam presos à Terra; caminham aqui e ali; mas as suas vistas abrangem mais a Terra que o mundo Espiritual. Eles se apinham em torno do globo, presos sempre à pátria e à família, acompanhando todos os movimentos do planeta, como se estivessem encarnados e, muitos deles, sofrem as variações atmosféricas e outras sensações peculiares aos que ainda estão incorporados na matéria.

Quando veem o Mundo Espírita não o compreendem. Pasmam ao observarem a Vida Espírita, o modo porque agem os Espíritos adiantados; admiram-se ao atravessarem grandes cidades, metrópoles flutuantes, ao verem casarios transparentes e multicolores, majestosos edifícios, cuja luz os ofusca; veículos céleres a deslizarem de um a outro ponto; jardins aprimorados com flores belas e aromáticas como nunca viram na Terra. Tudo isso lhes causa estranheza tal e ocasiona-lhes perturbação tão profunda, que preferem, muitas vezes, não prestar atenção senão ao mundo onde deixaram seus corpos e ao qual se acham ligados por afinidades antigas.

São esses Espíritos que vivem numa ânsia contínua de se comunicar com os homens, não tanto para demonstrarem sua sobrevivência, mas para, se possível, prosseguirem no seu antigo modo de viver.

Eles desenvolveram ao extremo os seus sentidos físicos, e, havendo aniquilado o sentido espiritual, ficam, por isso, entre as trevas e a luz, entre o mundo da carne e o mundo do espírito, sem poderem prosseguir na sua vida material e sem poderem viver na vida espiritual, até que as preces, as instruções, os bons conselhos os encaminhem à realidade e sejam então iniciados na vida nova, na qual sentirão grande gozo, gozo esse que se tornará, para eles, um incentivo para trabalharem em prol de seu progresso e bem-estar espiritual.


Cairbar Schutel



Fonte: do livro A VIDA NO OUTRO MUNDO, Publicação original de 1932
Versão digital de 2011, Casa Editora O Clarim - www.oclarim.com.br
Fonte da Gravura: https://i.ytimg.com/vi/56fdNQXlVaM/maxresdefault.jpg

MEDITAÇÃO - AÇÃO PELA QUAL DESCOBRIMOS A UNIDADE


Neste ponto da evolução humana, estamos todos bem conscientes dos problemas a serem enfrentados... acerca do quanto estamos des-unidos, do quanto estamos coletivamente distanciados da verdade que Jesus revela acerca de nossa natureza humana... a de que somos um em essência. Nesse nosso tempo acreditar na unicidade da natureza humana é muito desafiador, assim como, na possibilidade de que os seres humanos podem amar, perdoar, serem justos, absterem-se da violência. É muito difícil acreditar na divina e potencial natureza da humanidade, quando vemos como nos comportamos e, os fracassos dos líderes que, por vezes receamos merecer... e, quando ao nosso redor se dissolvem e entram em colapso tantas daquelas estruturas políticas, religiosas e econômicas, que nos faziam sentir seguros. [...]

A divisão destrói a unidade porque, tal como o termo sugere, ela é diabólica, ela separa. A intenção de dividir para conquistar, é o jogo político que as pessoas inescrupulosas jogam, não pode ser de Deus... porque Deus é uno. Deus não está fragmentado em um panteão de pequenos deuses, que competem entre si, como projeções de nossa própria imaginação, desejos e medos. Apesar de suas diferenças e conflitos, as três grandes religiões irmãs compreenderam... e, evoluíram com o mesmo discernimento acerca da natureza humana e divina, o de que Deus é um. A profunda unidade do ser humano vem do Deus que nos habita, como o disse São Paulo e, a descoberta dessa unicidade em nosso interior, no interior de nossa natureza, é a única maneira de curarmos as feridas da violência e da divisão.

A meditação é a ação pela qual descobrimos essa unidade em nosso interior e, entre nós... Nos desafios de nosso tempo, a unidade que compartilhamos é a coisa mais importante de que devemos nos lembrar – o grande mistério da humanidade – apesar de nossa diversidade racial, cultural e religiosa. Esse não é um aprendizado que se dá de fora para dentro. Ter esse conhecimento significa adentrar um silêncio em que a mente dualista é deixada para trás. A consciência contemplativa não é dogma, nem provém do pensamento analítico, mas da própria experiência da unicidade, que é muito simplesmente a experiência que nos permitimos saborear na meditação.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: Extraído da Conferência de Laurence Freeman OSB na Austrália em outubro 2019.
http://www.wccm.com.br/leitura-laurence-freeman-osb/868-meditacao-200119
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/medita%C3%A7%C3%A3o-budismo-monge-templo-2214532/

PSICOLOGIA DO MISTICISMO HEBRAICO


O misticismo, que pretende desvendar verdades extraordinárias no domínio profundo do universo em relação com o homem, não parece concernir aos patriarcas, a Moisés, e nem mesmo aos profetas. Esses grandes homens esforçavam-se por ligar-se unicamente a Deus, sem preocupar-se com as coisas misteriosas, insuspeitadas, à margem de Deus, já que a seus olhos, tudo o que existe, visível e invisível, só pode emanar da potência criadora divina. Em outras palavras, para eles, apegar-se profundamente, intimamente, à Divindade é possuir pela revelação a chave de tudo o que nos parece misterioso, incompreensível.

Visto sob esse ângulo, o misticismo, tal como hoje o conhecemos, parece incompatível com a espiritualidade dos hebreus ilustres da Alta Antiguidade. Sua essência, no entanto, é espiritual, se o concebermos fora de toda consideração de ordem fictícia, mágica, supersticiosa, embora se situe num plano inferior, se assim se pode dizer, ao do verdadeiro misticismo. O misticismo real é apanágio dos homens de gênio, que encontram, sem procurar, o mistério do ser. Abrange a alta metafísica, a estrutura íntima do universo, concebido como um reflexo da Divindade. É para Deus que tende o místico, é nele se concentrando em profunda meditação, é amando-o que consegue ver coisas extraordinárias que o tornam feliz, alegre e otimista aqui na Terra. Sob esse aspecto, os patriarcas Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, e os profetas, a quem Deus se revelou mais de uma vez, podem, assim, ser considerados como místicos, já que seu amor extremo os põe em comunhão íntima com Ele. O primeiro filósofo foi Abraão, que procura, medita, se concentra para descobrir aquele que rege verdadeiramente o universo. Os ídolos, os deuses que conheceu em casa de seus pais, objetos inertes, são absurdos. Tampouco o Sol, a Lua, as estrelas podem ser como deuses, já que são movidos por uma força superior a eles. Espiritualmente, invisivelmente, pouco a pouco, descobre o Deus verdadeiro, senhor de todo o universo. Moisés jejua e recolhe-se durante quarenta dias no Monte Sinai para ter a felicidade de conhecer a Deus de perto. Os grandes profetas, embora excepcionalmente favorecidos, só vêem a Deus em estado de êxtase, mais ou menos como mais tarde os essênios, os grandes cabalistas ou os santos.

A filosofia, na sua especulação mais profunda, movendo-se no meio da lógica pura (Fílon, esse grande místico, já o havia observado), vê-se impotente para resolver problemas de ordem metafísica que se lhe apresentam, a ela como ao misticismo. Para resolvê-los tem de recorrer ao misticismo, ao qual o racionalismo, seu guia individual, deve subordinar-se, como foi o caso de Espinosa. Uma filosofia não pode atingir a transcendência pelo raciocínio rigoroso do lógico, mas só por uma visada essencialmente mística e intuitiva.

Por isso dizemos que o misticismo ultrapassa a filosofia. Mas a filosofia pode, como já o demonstramos em outra parte, revestir-se de um caráter místico. É o que ocorre em Platão, Fílon, Plotino, Espinosa, Bergson.


Henri Sérouya



Fonte: do livro "A Cabala", Henri Sérouya, Difusão Europeia do Livro, SP, 1970, pp. 11-2.
Fonte da Gravura: Artista ucraniano Alexey Leonov
http://leonov.idea.in.ua/

sexta-feira, 22 de maio de 2020

OS OCEANOS DE DEUS


Nossa vida é uma unidade porque está centrada no mistério de Deus. Mas para conhecer essa unidade temos que olhar para além de nós mesmos e, com uma perspectiva maior do que aquela com a qual geralmente olhamos, quando nossa principal preocupação é o interesse por nós mesmos. Apenas quando começamos a abandonar o auto-interesse e a auto-consciência, é que essa perspectiva maior começa a se abrir. Uma outra forma de dizer que nossa visão se expande, é dizer que nós conseguimos ver além das meras aparências, em direção à profundidade e ao significado das coisas...  não apenas... em relação a nós mesmos mas... ao todo do qual fazemos parte. Esse é o caminho do verdadeiro auto-conhecimento e, é por isso que o verdadeiro auto-conhecimento é idêntico à verdadeira humildade. A meditação nos revela essa preciosa forma de conhecimento, [e] esse conhecimento se transforma em sabedoria... uma vez que conheçamos, não mais por análise e definições, mas por participação na vida e no espírito de Cristo. [...]

A maior dificuldade é começar, dar o primeiro passo, lançar-se na profundidade e na realidade de Deus, tal como revelada em Cristo. Uma vez que tenhamos deixado para trás as praias do nosso próprio eu, rapidamente, navegamos nas correntes da realidade que nos dão direção e impulso. Quanto mais quietos e atentos estivermos, mais sensivelmente responderemos a essas correntes. E, então, nossa fé se torna mais absoluta e, verdadeiramente, espiritual. Pela quietude no espírito, nos movemos em direção ao oceano de Deus. Se tivermos a coragem de sairmos das praias, não fracassaremos em encontrar essa direção e energia. Quanto mais nos distanciamos, mais fortes se tornam as correntes e mais profunda a nossa fé. Por algum tempo, o paradoxo de que o horizonte ao qual nos destinamos está sempre recuando, desafia a profundidade da nossa fé. Para onde estamos indo com essa fé mais profunda? Gradualmente reconhecemos o significado da corrente que nos guia, e compreendemos que o oceano é infinito.


Dom John Main, OSB



Fonte: Extraído de  John Main OSB, "The Oceans of God" (December 1982), THE PRESENT CHRIST (New York: Crossroad, 1991), pp. 222-23, 226.
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/889-os-oceanos-de-deus-200308
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/oceano-p%C3%B4r-do-sol-pessoa-silhueta-2203720/

CORPO E YOGA - RELAÇÕES


[...] Ao pensarmos em yoga, uma das primeiras imagens que nos vem é uma pessoa realizando exercícios físicos quase que em uma espécie de alongamento. Porém, muito mais que uma prática com o corpo, o yoga tem como base toda uma ligação com a aquietação da mente, tornando seu propósito muito mais mental e psicológico do que físico.

Um dos textos mais antigos do Samkhya, sistema filosófico do qual provém o Yoga, afirma que a vida humana é repleta de dor e sofrimento e que removê-los deve ser o foco de nossas atenções. Tanto para o Samkhya como para o Yoga, para que se possa viver em paz e equilíbrio é necessário que se controle as alterações da mente, ou seja, os pensamentos.

De origem indiana, yoga é uma palavra da língua sânscrita, língua clássica criada há cerca de 1500 a.C. Yoga é oriunda da raiz “yug” que significa “ligar”, “manter unido”, “atrelar”, “compartilhamento”. Inclusive foi a raiz sânscrita que originou o termo latino 'jungere' (libertar-se do jugo). Portanto, yoga é, para alguns mestres, a ligação do microcosmo (o ser humano) ao macrocosmo.

A bibliografia presente até o momento nos informa que, de qualquer modo, o yoga sofreu modificações no decorrer dos períodos indianos: desde o pré-védico até o período moderno, passando pelos Vedas, pelas Upanishads e, pelos Puranas, entre outros. Os Vedas, as Upanishades e os Puranas são livros clássicos e sagrados das filosofias milenares praticadas na Índia antiga.

De qualquer modo, o conhecimento que possuímos hoje sobre o que é yoga, ásanas (posturas), yamas (refreamentos) e nyamas (auto-observações), pranayama (técnica respiratória), entre tantos outros termos usuais, devemos a um médico, filósofo e gramático chamado Patanjali.

Acredita-se que, entre o século 1 a.C e 1. d.C, Patanjali tenha sido o primeiro sistematizador do que é o yoga, qual seu objetivo, seus princípios éticos, seus requisitos e suas técnicas, ou seja, ele foi quem organizou e escreveu em forma de sutras – uma espécie de fórmula, onde poucas palavras condensam um enorme conhecimento - todas as informações que eram passadas de mestre para discípulo na forma oral.

O arcabouço ético e moral da prática do yoga está contida nos ensinamentos passados por Patanjali em seus Yoga-Sutras e denominam-se yamas. Para ele, antes que o discípulo pudesse ir para os ásanas (posturas), esse precisava ter os princípios éticos-norteadores dentro de si. Os yamas são o primeiro ramo dentro do ashtanga yoga (oito membros (anga = membro) do yoga) de Patanjali. E sua vivência é fundamental para as posteriores etapas do yoga.

São cinco os yamas:

- Não-violência (ahimsa) - A não-violência, tão pregada por Gandhi, começa em si mesmo. Cultivar a não-violência em si possibilita que não se use da violência em relação ao outro e ao mundo;

- Veracidade (satya) – Ser verdadeiro aos princípios básicos do ser e incluir a verdade em todas as suas manifestações;

- Castidade ou controle dos impulsos (brahmacharia) - Conservar a energia dentro de si para propósitos de auto-conhecimento, ou seja, canalizar a energia e utilizá-la para a obtenção de melhores benefícios. Aqui, cabe dizer que o yoga não é contra o uso da energia para fins sexuais, mas que, a energia deve ser utilizada beneficamente e com fins de auto-aprimoramento até mesmo espiritual;

- Não-roubar (asteya) – Cultivar a integridade, obtendo e usando somente o que lhe é preciso, é não roubar do outro nem da natureza;

- Não-possessão (aparigraha) - Não cobiçar e não apegar-se é um modo para que tudo exista de modo equilibrado e flua, principalmente, as mudanças. O planeta Terra existe há milhares de anos e nós, seres humanos, há apenas uma centena de mil anos.

Porém, Patanjali ainda coloca como segundo ramo dentro do ashtanga, os nyamas, que são observações em si mesmo para se levar em conta no cotidiano da existência. São eles:

- Pureza (sauca) – A pureza do corpo físico, psíquico e emocional por meio dos pensamentos e ações práticas;

- Contentamento (santosha) – A alegria que precisa ser exercitada para que haja um verdadeiro equilíbrio, só é adquirida como resultado de uma prolongada auto-disciplina;

- Austeridade (tapas) – O termo tapas, segundo Taimni, é muito abrangente, mas em linhas gerais, pode-se definir como meio de autodisciplina e purificação através de exercícios e/ou práticas corporais e psíquicas para um auto-aprimoramento do aspirante;

- Estudo e reflexão (svadhyaya) – O conhecimento do que é yoga por meio, primeiramente, dos ensinamentos e livros, para, posteriormente “passar pelos progressivos estágios de reflexão, meditação, tapas etc, até que o sadhaka (aspirante ao samadhi) esteja apto a extrair todo o conhecimento ou devoção do interior, por seus próprios esforços” (TAIMNI, 2004, p.182)*, é o conceito de svadhyaya;

- Entrega a deus (Isvara-pranidhana) – A auto-entrega a uma força maior que pode ser denominada Deus ou à uma macro-consciência. “Essa é a ideia sobre a qual repousa toda a filosofia do yoga, sendo que todos os sistemas do yoga visam à destruição dessa consciência do “eu”, direta ou indiretamente. (...) A prática de Isvara-pranidhana é um dos meios”. (TAIMNI, p.182)*

A base ética e a prática das observações citadas nos yamas e nyamas demonstram as “preocupações” filosóficas e morais com as quais o yoga está envolvido e que perpassam e preparam todos os outros seis ramos do ashtanga yoga de Patanjali, que inclui os ásanas (posturas), pranayamas (envolve a respiração), pratyahara (desligamento dos sentidos), dharana (concentração), dhyana (meditação) e samadhi (iluminação).

É interessante ressaltar que há ásanas que são facilitadoras de um estado mais meditativo e de relaxamento de todo o corpo, e há outras que trazem mais vigor e estado vivo de atenção. Mas qualquer ásana a ser praticada ou instruída por um mestre ou professor conhecedor da técnica fornecerá ao praticante um estado de maior autoconhecimento de seu próprio corpo, de suas emoções e do funcionamento de sua mente. Sendo o objetivo do yoga a supressão dos turbilhões da mente, é importante que o praticante possa perceber dentro de si os movimentos de agitação e calmaria, um dos primeiros benefícios da prática, para que possa evoluir gradativamente ao encontro do samadhi, ou melhor, de um estado de paz consigo próprio.

Ao que tudo indica, o yoga, como instrumento corporal e mental, tem grande potencial para ser um aliado no desenvolvimento biopsicossocial tanto do individuo em formação (crianças e adolescentes) como em adultos que almejam uma vida com melhor qualidade e bem-estar.


Katerina Volcov



Nota:

* TAIMNI, I. K. A ciência do Yoga. (Comentários sobre os Yoga-Sutras de Patanjali à
luz do Pensamento Moderno. 3.ed. Brasília: Editora Teosófica. 2004


Fonte: https://www.academia.edu/36515304/Corpo_e_Yoga_rela%C3%A7%C3%B5es
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ


Dom John Main, OSB, beneditino, fundou em Montreal uma comunidade de monges e leigos que tenta introduzir a prática da oração contemplativa na vida agitada moderna. Juntando ensinamentos orientais à tradição dos padres e mães do deserto, torna-se um dos maiores mestres espirituais através da Meditação Cristã. Em suas palestras descreve sua própria caminhada espiritual e mostra que o caminho da Meditação é o caminho aberto a todos.

Trabalhando no Serviço Colonial da Malásia, ficou profundamente impressionado com a paz que um swami indiano transmitia. Perguntando qual o segredo, o swami o convidou a visitá-lo para lhe passar o segredo da Meditação. Para swami, o objetivo da meditação era o processo de chegar a despertar a consciência da realidade do Espírito do universo, que vive em nossos corações que contém tudo, todas as obras, todos os perfumes, sabores e desejos. Envolve o universo inteiro e, no silêncio, ama a todos.

Meditar é simples... só é preciso meditar. Para meditar é preciso se concentrar, tornar-se silencioso. Para chegar à quietude, utilizamos uma palavra que chamamos de mantra. Precisamos repetir continuamente esta palavra com fidelidade e amor. Nisso somente consiste a meditação.

Retornado ao seu trabalho em Dublin, antes do advento da meditação transcendental, John não encontrou ninguém que soubesse algo sobre meditação, como se entende agora. John torna-se monge pensando de estruturar sua vida sobre este tipo de meditação, mas seu mestre de noviciado o obrigou a seguir o método inaciano.

Mais tarde, o monge beneditino, considera este período da sua vida como um grande dom de Deus, pois o obrigou a desapegar-se do próprio centro de sua vida. Em lugar disso aprendeu a edificar a sua vida sobre o próprio Deus.

Reitor do Colégio de Santo Anselmo, em Washington, encontra os mestres de oração dos antigos Padres do Deserto, através de Cassiano citado por São Bento, para quem quiser subir os degraus mais altos da oração (contemplação). Com espanto leu o que Cassiano diz a respeito de usar uma frase curta para chegar à tranquilidade necessária à oração: a mente expulsa e reprime assim a rica e ampla matéria de todo pensamento e limita-se à "POBREZA DE UM ÚNICO VERSÍCULO".

A leitura de Cassiano lembra a mantra do swami, reconduz à mais rica tradição contemplativa cristã e mostra como a riqueza das tradições orientais e ocidentais surgem da mesma fonte.

A história de João Cassiano e seu amigo Germano tem relevância impressionante para o mundo contemporâneo. Como estes dois jovens, hoje, milhares de ocidentais voltam-se para o Oriente à procura de misticismo, eles queriam apenas aprender a orar e sofriam, inquietos, à procura de um mestre. No Egito encontram o abade Isaac, a quem lhe pedem lhes ensinasse o caminho da oração de Jesus. A sabedoria do mestre vinha de longa fidelidade à oração e às vigílias. João Cassiano e Germano sabiam que É PRECISO ORAR SEMPRE SEM CESSAR! ORAR É TUDO! O ESPÍRITO QUE RESSUSCITA OS MORTOS VIVE EM NÓS E DARÁ VIDA NOVA AOS NOSSOS CORPOS MORTAIS!

Os dois amigos insistem com o santo abade de lhes ensinar o como chegar à oração de Jesus. A resposta é a humildade, o desapego de si mesmos. O grande perigo da oração é reduzir Deus à nossa própria medida para com ele dialogar, fazendo dele um ombro confortável, um ídolo. Para Cassiano o caminho "católico" da oração é aquele sem imagens, que se restringe à repetição de um único versículo, a oração do pobre. Em toda oração o agente principal é o próprio Deus. Ele nos envia o Espírito do seu Filho que geme com suspiros inenarráveis e repete: Aba Pater! (Paizinho)

Dentro da "tradição católica de Cassiano" a oração cristã consiste essencialmente em deixar que o murmúrio da oração de Jesus possa surgir e se enraizar em nosso coração. O Abade Isaac recomenda o versículo (mantra) "Senhor, vem em meu auxílio", que São Bento coloca no início de cada hora litúrgica.

Cassiano assim fala a respeito da mantra: "Esta mantra deve estar sempre no seu coração. Ao adormecer seja repetido esse versículo até que, moldado por esta palavra, habitue-se a repeti-la durante o sono". Ao despertar para um novo dia, a mantra "antecipa todos os seus "pensamentos" e, no decorrer do dia deverá cantar incessantemente no fundo de seu coração". Cada um de nós é chamado a descobrir em seu coração a oração de Jesus e que sejamos arraigados e fundados no Amor.

Palavras do swami a John Main

"Meditar somente quando vier aqui é frivolidade. Meditar uma vez por dia é leviandade. Se você é sério e você quiser enraizar a mantra em seu coração, deve meditar logo ao acordar de manhã, durante meia hora, e o mesmo no fim do dia. Durante a meditação não deve haver na sua mente nem pensamento nem palavras, nem imaginações. O único som será o som da sua mantra da sua palavra. A mantra é um som harmônico; quando ecoa dentro de nós, começamos a desenvolver uma ressonância que nos conduz à totalidade do nosso próprio ser... Começamos a experimentar a profunda unidade que todos nós possuímos em nosso ser. Então o som harmônico faz surgir uma ressonância entre nós e todas as criaturas, toda a criação, e uma unidade entre nós e nosso Criador."



Fonte: www.oraetlabora.com.br/meditacao/arquivo22.htm
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

quarta-feira, 20 de maio de 2020

PERTURBAÇÃO DA MORTE


Toda transformação ocasiona uma perturbação; uma simples mudança, seja de uma cidade para outra, seja unicamente de residência, não deixa de causar uma desorganização psíquica que só cessa com a adaptação ao novo meio. A personalidade não mudou, nada perdeu, continua a ser a mesma, mas sofreu a sua desagregação do meio em que se achava e lutou para se acostumar e poder agir no meio para onde se transferiu. Naturalmente, nesses trâmites por que passou, a pessoa teve contrariedades e sofreu.

Pensemos agora na transição provocada pela morte e façamos uma ideia em relação incomparavelmente superior às insignificantes mudanças – seja de residência, seja de cidade ou de país. Acrescente-se ainda a desagregação do corpo físico e poder-se-á ter uma ideia do que seja a perturbação da morte:

1) mudança de meio;
2) mudança de condições de vida;
3) mudança de meio de ação.

Entretanto, apesar de todas essas mudanças, a individualidade permanece, como permaneceu a mesma individualidade durante todas as mudanças que fez – de casa em casa; de cidade em cidade; de um para outro país. O homem é imperecível nas trocas que faz de residência, nas suas transferências de um país para outro; o Espírito, que é a individualidade permanente, é imortal na sua transformação e passamento para o Outro Mundo, tendo unicamente o trabalho de se adaptar a uma vida nova, muito diferente daquela vivida na Terra e ainda com o acréscimo de não mais possuir um corpo denso, material, que "não podia" dispensar para agir neste mundo, e lhe servia de instrumento para desempenhar a tarefa que veio realizar, ou exercício do cargo que veio desempenhar.

Ora, todos sabem, perfeitamente, como é difícil abandonar hábitos enraizados, e a morte vem suprimir, de uma hora para outra, os hábitos costumeiros, dando lugar à aquisição de outros costumes, visto serem diferentes as condições do meio para o qual somos trasladados.

Está claro que tudo é relativo, e o progresso, em todas as coisas, age gradativamente, sem saltos bruscos, de modo que, na outra esfera da vida, teremos um complemento de vida, como meio de transição para um estado melhor, assim como certamente haverá uma esfera de seguimento à fase física do indivíduo, para que ele se adapte à Vida Superior sem uma transição brusca.

É isto que nos dizem os Espíritos, cônscios do seu estado, e que já passaram pelos trâmites que se seguem à morte e chegaram à Imortalidade.

Por isso, o Mundo Espiritual é provido de meios que fornecem à vida de além-túmulo as condições indispensáveis para a transição. Por exemplo, dizem as entidades do Espaço que lá existem hospitais onde são tratados aqueles que passam por longa enfermidade, e os quais, por suas condições de atraso, não percebem o Mundo dos Espíritos em sua realidade. Aí são curados, e, depois, instruídos sobre a nova situação até que se adaptem ao meio em que se acham.

Os Espíritos dos que morrem quando crianças, são acolhidos carinhosamente por missionários, que se dedicam a essa tarefa, e são igualmente instruídos até que se lhes desponte a consciência integral. Desapareça deles o traço infantil gravado na "consciência pessoal". Assim também sucede com a alimentação. Aos entes muito materializados, que chegam ao Mundo Espiritual sem compreenderem a transformação porque passaram, e têm ainda sensação de fome e sede, lhes são ministrados alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao meio em que iniciaram a nova vida, compreendam que não têm mais necessidades desses alimentos, que julgavam precisos para sua manutenção. Naturalmente, os alimentos assemelham-se muito aos que lhes eram usuais na Terra, mas são feitos de matéria peculiar ao Mundo dos Espíritos e de acordo com o corpo fluídico, ou seja, o organismo perispiritual de cada um.

Não podíamos deixar de narrar todas essas particularidades do Mundo Espiritual, que não deixam de ser lógica, de acordo com a lei da evolução, que não admite bruscas transições e que proporciona, sempre, períodos intermediários para suavizar as mudanças que ocasionam grande abalo, e maior perturbação ainda ocasionariam, se fossem excluídos os meios precisos para essas transições.

Isto tudo demonstra que o Mundo Espiritual não é uma concepção abstrata, uma miragem, um vácuo inconcebível, sem sanção da inteligência, mas, sim, um meio concreto, onde se encontram as condições indispensáveis para as adaptações e o progresso do Espírito.

Já havíamos recebido essas revelações há muitos anos; contudo, conservamos-las como lição de caráter puramente familiar, e sujeita, portanto, à observação: é sabido que as revelações da Verdade têm caráter coletivo; se, de fato, a nossa procedesse dessa fonte, outros também recebê-la-iam em todo o mundo. Se isso acontecesse, julgaríamos essas revelações transcendentais realmente dignas de atenção e até de experimentações novas, com outros médiuns, para sua melhor confirmação.

Com efeito, em diversas obras inglesas, norte-americanas e francesas, vemos, hoje, a reprodução detalhada dessas mensagens. Desenterram o oculto e concorrem para que conheçamos o futuro que nos espera, assim como nos dá a conhecer, desde já, em que consiste a outra vida e quais os meios facultados, nessas regiões, aos entes que nos são caros, para a aquisição de uma felicidade duradoura e de um progresso crescente para a Luz e a Verdade.

E, com estes dados, mal apanhados pela imperfeição dos nossos sentidos, dados fornecidos pelos Espíritos que habitam o Além e passaram, mais ou menos, por essas peripécias, podemos, hoje, fazer uma ideia mais aproximada das condições desse Outro Mundo e em que consiste a perturbação da morte e os meios aplicados para suavizá-la.

Com a leitura das obras espíritas, especialmente “O CÉU E O INFERNO”, de Allan Kardec, e “A CRISE DA MORTE”, de Ernesto Bozzano, muito se aprende sobre a perturbação que ocasiona a passagem de uma a outra vida.


Cairbar Schutel



Fonte: do livro A VIDA NO OUTRO MUNDO, Publicação original de 1932
Versão digital de 2011, Casa Editora O Clarim - www.oclarim.com.br
Fonte da Gravura: https://static.wixstatic.com/media/9a8ad3_90147b9df68e40f5af058cabfcdd3623~mv2.jpg/v1/fill/w_599,h_366/9a8ad3_90147b9df68e40f5af058cabfcdd3623~mv2.jpg

terça-feira, 19 de maio de 2020

MEDITAÇÃO - O MANTRA


[...] a oração não consiste em falar com Deus, mas em escutar e estar com Deus. Esta compreensão simples da oração encontra-se por detrás do conselho de João Cassiano de que, se quisermos orar e ouvir, devemos tornar-nos tranquilos e sossegados, recitando um pequeno verso, repetidas vezes. Cassiano recebeu este método como algo que já era uma tradição antiga e bem estabelecida na sua própria época, uma tradição universal duradoura. Cerca de mil anos depois de Cassiano, o autor inglês de 'A Nuvem do Não Saber' recomenda a repetição de uma pequena palavra: «Devemos orar na altura, na profundidade, na extensão e na largura do nosso espírito [diz ele], não com muitas palavras, mas com uma só» (A Nuvem do Não Saber, cap. 39).

Como esta ideia talvez seja inédita e, na realidade, soe até estranha, deixem-me redizer a técnica básica da meditação. Senta-te de modo confortável, descontrai-te. Certifica-te de que estás sentado direito. Respira calmamente e de modo regular. Fecha os olhos e, em seguida, começa na tua mente a repetir a palavra que escolheste como tua palavra de meditação. O nome para esta palavra-prece, chamada «formula» em latim, é mantra na tradição oriental. Por isso, doravante, utilizarei a frase «dizer o mantra». A escolha da tua palavra ou do teu mantra tem alguma importância. Idealmente, mais uma vez, deves escolher o teu mantra, aconselhando-te com o teu mestre. Mas há vários mantras que são possíveis para um principiante. Se não tens nenhum mestre para te ajudar, escolherás então uma palavra que foi acolhida, ao longo dos séculos, pela nossa tradição cristã. Algumas destas palavras foram, no início, aceites como mantras para a meditação cristã pela Igreja, nos seus primeiros dias. Uma delas é a palavra «maranatha». Este é o mantra que recomendo à maioria dos principiantes, a palavra aramaica «maranatha», que significa «Vem, Senhor. Vem, Senhor Jesus». É a palavra que S. Paulo utiliza para terminar a sua primeira Carta aos Coríntios (l Cor 16,22), e a palavra com que S. João encerra o livro do Apocalipse (Ap 22,20). Aparece igualmente em algumas das mais antigas liturgias cristãs (Didaqué). Prefiro a forma aramaica porque, para a maioria de nós, não tem quaisquer associações; além disso, ajuda-nos numa meditação que estará inteiramente livre de todas as imagens. O nome Jesus será outra possibilidade como mantra, e ainda a palavra que o próprio Jesus empregava na sua oração, a saber, «Abbá». Também esta é uma palavra aramaica, que significa «Pai». O que de importante se deve recordar acerca do teu mantra é a sua escolha, depois de se consultar, se possível, um diretor espiritual; em seguida, manter-se fiel a ele. Se fores inconstante e alterares o teu mantra, estarás a adiar o teu progresso na meditação.

João Cassiano diz que o propósito da meditação é restringir a mente à pobreza de um único verso. Um pouco mais à frente, revela o seu pleno significado numa expressão muito esclarecedora. Fala de nos tornarmos «grandiosamente pobres» (Conferência 10,11). A meditação dar-te-á, sem dúvida, novas perspetivas sobre a pobreza. À medida que insistires no mantra, começarás a compreender de modo cada vez mais profundo, a partir da tua própria experiência, o que Jesus quis significar ao dizer «Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5,3). Aprenderás igualmente, de uma maneira muito concreta, o significado da lealdade, à medida que persistires na repetição do mantra.

Na meditação expressamos, pois, a nossa própria pobreza. Renunciamos às palavras, aos pensamentos, às imaginações, e fazemo-lo restringindo a mente à pobreza de uma só palavra e, assim, o processo da meditação é a própria simplicidade. Para experimentar os seus benefícios, é necessário meditar duas vezes por dia e todos os dias, sem falha. Vinte minutos é o tempo mínimo para a meditação, vinte e cinco ou trinta minutos é, mais ou menos, o tempo médio. É também vantajoso meditar regularmente no mesmo lugar e ainda à mesma hora em cada dia, porque isso ajuda a crescer na nossa vida um ritmo criativo, e a meditação é uma espécie de pulsação que faz soar o ritmo. Mas, uma vez dito e feito tudo isto, a coisa mais importante a ter presente acerca da meditação é continuar a repetir diligentemente o mantra, durante o tempo que a ela se destinou, durante o tempo daquilo que o autor de 'A Nuvem do Não Saber' chamou «o tempo do trabalho» (A Nuvem do Não Saber, cap. 4-7, 36-40).


Dom John Main, OSB



Fonte: A Palavra que leva ao Silêncio, Ed. Pedra Angular
https://www.snpcultura.org/meditacao_o_mantra.html
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/es/photos/mujer-sesi%C3%B3n-estanque-asia-lotus-422708/

domingo, 17 de maio de 2020

O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO


Todos estamos cientes de que há trevas em nosso mundo. Todos os dias temos notícias de injustiças horríveis, de violências, de ódio, de feudos e de ganância. Vemos isso tanto no nível pessoal, quanto no nível global. Todos também estamos cientes das trevas em nosso interior...

Quando começamos a meditar, começamos a compreender que não podemos entrar na experiência com apenas uma parte de nosso ser. Tudo aquilo que somos, a totalidade de nosso ser, precisa estar envolvida... Em outras palavras, todas as partes de nosso ser precisam estar expostas à luz. Todas as partes de nós precisam ir para a luz. Não meditamos apenas para desenvolver nossa capacidade ou lado religioso. O homem ou a mulher que é verdadeiramente espiritualizado está em harmonia com todas as capacidades que tem...

A meditação não é o processo pelo qual tentamos ver a luz. Nesta vida não podemos ver a plena luz e continuar a viver. A meditação é o processo pelo qual nós vamos para a luz, pelo qual começamos a ver todas as coisas, a plenitude da realidade. Começamos a ver tudo isso por meio da energia da luz. E, tal como nos diz Jesus, vemos que a energia da luz é o amor.

A medida de nosso progresso na meditação é o quanto nos modificamos no sentido de vermos a todos e a todas as coisas por meio da luz de Deus. Ver por meio da luz do amor, também, nos faz amar a todos. Sem julgar, sem rejeitar, mas ver todos e toda a criação por meio dessa luz que precisamos descobrir em nosso próprio coração.


Dom John Main, OSB



Fonte: Leitura de Domingo, 06 Outubro 2019
John Main OSB, THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING, editado por Peter Ng (Cingapura: Medio Media, 2007), pp. 188-189.
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/840-o-caminho-da-iluminacao-191006
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

OS CORPOS SUTIS NA OBRA DE ALLAN KARDEC


Ao definir o perispírito em O Livro dos Espíritos, Kardec o descreveu como sendo um laço que liga o espírito ao corpo físico. Afirmou ser este constituído de eletricidade, de fluido magnético animalizado, de fluido nervoso, de matéria inerte, semimaterial, “matéria elétrica ou de outra tão sutil quanto esta”. É evidente que tais palavras não são sinônimas e que Kardec procurava abarcar mais amplamente a natureza do perispírito, dando a entender a existência de uma constituição plúrima (= múltipla), como se pode deduzir da assertiva de se tratar de um fluido nervoso.

Se o perispírito também se constitui de fluido nervoso, o espírito o conduziria, quando desencarnado, para o mundo espiritual? É evidente que não, pois o espírito terá que se desvencilhar dele ao abandonar o corpo. Se o perispírito é formado também por matéria inerte, é justo pensar que esta não acompanharia o corpo físico.

Segundo o espírito Erasto, o fluido vital é um apanágio (= atributo) exclusivo do encarnado. O espírito impele e dirige o fluido vital fornecido pelo médium no fenômeno mediúnico. Se Kardec considerou essa terminologia, então, deve se entender que, de alguma forma, ele reconhecia um compósito (= composto) na natureza do perispírito enquanto encarnado ao afirmar, no item 77 de O Livro dos Médiuns, que ele é formado por fluido vital, o elemento que é apanágio do homem.

Sendo este elemento que animaliza a matéria, desfazendo-se após a morte do corpo, constituinte do perispírito e transmissível em parte entre os indivíduos, devemos identificá-lo como a substância que, exteriorizada, chamamos de ectoplasma.

O Fluido Vital

Portanto, Erasto não estava se referindo ao fluido vital no sentido empregado algumas vezes por André Luiz, ou seja, como fluido de espíritos desencarnados, pertencente ao corpo astral, de acordo com a terminologia que adota para se referir aos colaboradores mediúnicos do mundo invisível.

Atentando-se para esse elemento que nasce com o homem e desaparece logo após a morte, podemos deduzir que ele constitui o duplo etérico, ao qual os grandes magnetizadores, os teosofistas e as doutrinas orientais também se referem. Na época, não se empregava o termo duplo etérico, mas quando Kardec escreveu que o perispírito é constituído de matéria sutil, nervosa e inerte, é evidente que ele estava se referindo ao perispírito como um corpo complexo, não de natureza única.

Outro indício dessa complexidade surge quando Kardec se refere à evolução do perispírito. No capítulo IV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o espírito São Luiz afirma que “o próprio perispírito sofre transformações sucessivas, eterizando-se cada vez mais até a depuração completa, que constitui os espíritos puros”. Segundo o codificador, “sabemos que, quanto mais eles se depuram, mais a essência do perispírito se torna etérea, de onde se segue que a influência material diminui à medida que o espírito progride, isto é, conforme o perispírito mesmo se torna menos grosseiro”.


Em O Livro dos Médiuns, disse ainda que “sua natureza se eteriza à medida que ele se depura e eleva na hierarquia”. É claro que, para a compreensão dos textos, existem duas hipóteses: o perispírito tornar-se-ia mais leve, os fluidos ficariam menos grosseiros, porém, a natureza seria idêntica, não sendo necessária a referência a um corpo complexo; a eterização do perispírito é de tal ordem que ele abandona determinadas camadas, próprias de certas zonas invisíveis, quando é elevado na hierarquia espiritual, passando a viver em esferas mais altas. Neste caso, teríamos indicações de uma natureza complexa para o perispírito nas referências. As duas hipóteses de compreensão não se excluem, pois as mensagens espirituais que têm sido recolhidas e a própria vidência deixam claro que o perispírito se mostra mais diáfano e luminoso à medida que o espírito se eleva.

O que se coloca como questão é se o espírito conserva um corpo espiritual da mesma natureza ao se elevar para zonas mais próximas da Terra ou se realmente há uma mudança em sua estrutura, necessária para a nova ambientação, levando à admissão de uma complexidade em sua organização. Em outras palavras, a evolução do perispírito não seria mais do que a própria modificação dos corpos espirituais.

Kardec apenas ensaiava o estudo do perispírito e, portanto, não poderia conhecer tudo o que lhe dizia respeito. Os próprios espíritos não foram muito expressivos, seja porque preferiam dosar o ensino (como, aliás, sempre advertiram), porque a linguagem humana lhes assinalava óbvias restrições ou porque faltava conhecimento mais preciso do assunto para muitos dos comunicadores, decorrente da relatividade dos próprios espíritos, conforme Kardec assinalou tantas vezes.

No entanto, devemos recordar que, no Ensaio Teórico da Sensação nos Espíritos, presente no item 257 de O Livro dos Espíritos, o codificador deu mostras de sua larga visão. Partindo da eterização do perispírito (“quanto mais eles se depuram, mais a essência do perispírito se torna etérea”), ele concluiu que as sensações do ambiente terreno seriam inacessíveis para espíritos muito elevados, o que só poderia ocorrer se sua natureza fosse completamente diferente.



Fonte: TDM e MAGNETISMO da A.B.C.E. BATUÍRA: Os corpos sutis na obra de Kardec
tdmmagnetismobatuira.blogspot.com/2013/04/os-corpos-sutis-na-obra-de-kardec.html
Fonte das Gravuras: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3MP5-hcTCB1T5I596122cIEa3zqdEi089wxib2nuzHpgZeSd5fpsNDky1MDsr-SNFE8dguDvtmrZMXQC7QUseySfDzQyERtqCLkNT4fQExfTnuwO2h729HiXoTu3xWFkwkVyLPZ3UKeJp/s1600/images+(26).jpg
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