segunda-feira, 14 de março de 2022

O LÓCUS* DO INCONSCIENTE


A consciência de si mesmo é o que conhecemos como eu. É a identidade de uma pessoa. Quando afirmamos eu sou fulano, estamos nos referindo àquilo que, de fato, temos consciência que somos. Mesmo assim, sabemos que existem interferências no nosso modo de pensar, sentir e agir, de que não temos consciência, mas que emergem do nosso próprio ser. Afirmamos que se tratam de vetores inconscientes, mas não sabemos se realmente eles se encontram naquilo que chamamos de Inconsciente. Para elucidar melhor a questão, temos de considerar que existe uma outra instância, que é a individualidade humana. O eu ou ego é uma representação construída, ao longo da vida, pelos fatos e impressões que a marcaram e que nos parece ser a nossa identidade essencial. Aquela outra instância, inacessível à consciência, propalada pelas religiões como sendo a alma ou espírito, é a máxima individualidade essencial do ser humano. Essa individualidade é a natureza da Natureza, momento obscuro da criação divina, que se tornou epicentro do processo de ascensão infinita, coagulador dos fenômenos que compõem a vida. Sua singularidade constitui o grande mistério que reúne a unidade e a totalidade num mesmo princípio.

A possibilidade da existência desses dois “senhores” não deve ser motivo de dúvida. Ego e Espírito são indissociáveis até determinado nível de evolução, mas possuem diferentes domínios e consequentes áreas de atuação. É possível ao ego perceber aspectos inerentes ao Espírito? Ou melhor, é possível, conscientemente, o Espírito se revelar além dos limites do ego, tornando-se a ele perceptível? O caminho para tal, passa primeiro pela percepção, pelo ego, de que é independente do corpo e existe sem ele. O segundo passo será a percepção de que a mente é um órgão a serviço do Espírito e que não o abriga nem o limita totalmente.

A inacessibilidade direta e a subjetividade que envolve as hipóteses para os assuntos que dizem respeito à mente são muito grandes, dificultando as certezas e a precisão de conceitos. Isso nos leva a considerar que o “terreno” da mente está longe de ser o corpo físico. A resposta está na dimensão quântica, em que se “situam” as probabilidades e possibilidades inalcançáveis diretamente pela consciência humana.

Engano pensar que, uma vez libertos do corpo pela ocorrência natural da morte, alcançaremos diretamente aquela dimensão. Na dimensão espiritual, também existem as limitações psíquicas e de compreensão da realidade pertinente. Em cada dimensão vibratória encontrar-se-á limites típicos.

Atuar, visando educar e promover o autoconhecimento de uma pessoa, requer que se tenha em mente que a ação deve alcançar o ser na dimensão quântica, que é o lócus alquímico das verdadeiras transformações. A fala, o olhar, o gesto, a tonalidade afetiva, o exercício modelar, bem como a intencionalidade do instrutor ou educador, devem conter a consciência de que existe aquela dimensão e é nela que se processam as modificações profundas na alma. Isso interferirá na forma como se processam as falas, palestras, doutrinações, diálogos, relacionamentos, bem como toda comunicação entre as pessoas. Se o objetivo não é simplesmente uma compreensão da realidade restrita aos limites físicos nem uma simples mudança de hábitos externos, então a comunicação entre os indivíduos deve levar em conta a dimensão quântica em que estão situados.

A Consciência, produto último da evolução humana, é uma coagulação de conteúdos e experiências inconscientes, isto é, o Inconsciente é matriz da Consciência. Imersos no corpo físico, passamos a acreditar que a Consciência a ele se restringe, sem considerar sua origem inconsciente e seu lócus original.

Há quem acredite que a vida após a morte descortina a ignorância do Espírito. É mais adequado pensar que ela a acentua, pois retira as fantasias oriundas da ideia de um mundo macro que convida o ser humano a conhecê-lo, mas que, em face das inúmeras e constantes projeções, mitifica-o. Olhar para fora leva-o a construir aqueles mitos e fantasias. Olhar para dentro o faz acordar para um mundo diferente, convidativo e profundo. Sem os limites do corpo, levado a perceber a grande ilusão que viveu, tendo de encarar sua ignorância, terá certamente dificuldade em conceber o Universo a sua volta. Continuará mitificando, provavelmente divinizando a realidade. Quando se consegue desvestir a consciência dos mitos e projeções simbólicas milenares, pode-se perceber melhor o Universo.

As ideias quânticas tornam-se importantes para o esclarecimento do ser humano, pois reduzem as ilusões e fantasias, levando-o à consciência do véu interposto não só pelos sentidos físicos como também pelos paradigmas da ciência clássica, mecanicista e causalista. Esses paradigmas configuram uma psiquê enrijecida até então. É hora de se buscar modificar esse estado.

A vida verdadeira, propalada pelo Espiritismo como sendo a espiritual, é parte da questão a ser resolvida pelo Espírito. Vir e voltar para o mundo espiritual, cuja existência é questionada pela ciência, é apenas uma das muitas fases da evolução.

O Inconsciente não se estrutura de forma padronizada, cronológica ou convencional. Imagens, vibrações e configurações complexas compõem seu conteúdo. Palavras, sons e raciocínios lógicos dele não fazem parte. Tudo que dele sai recebe a conformidade da Consciência, portanto, de acordo com protocolos convencionais.

Quando analisamos sob o paradigma espírita, temos de considerar a complexidade da relação entre o Inconsciente e o Espírito. À primeira vista, pode-se pensar que o Inconsciente é o próprio Espírito. A distinção clara está na individualidade deste último. O Inconsciente surge da relação entre o Espírito e o meio. O Espírito precede ao Inconsciente que, por sua vez, gera a Consciência, campo de atuação do primeiro através do ego, estrutura que lhe representa.

A frequência vibratória do Inconsciente o situa fora dos limites do corpo e isso permite que seja acessado fora dos limites da consciência, isto é, por meios não convencionais. Nisso se baseiam as técnicas psicológicas projetivas, as relações mediúnicas, as comunicações telepáticas, bem como qualquer outro modo de apreensão da realidade sem a utilização dos cinco sentidos.

O corpo não tem condições de abrigar o Inconsciente em face das características físico-químicas do cérebro. A frequência vibratória do Inconsciente necessita de outro tipo de estrutura, razão pela qual a frequência vibratória do Perispírito abriga o Inconsciente.

O termo perispírito surge com o Espiritismo. É o corpo espiritual que serve de abrigo à mente e de veículo de manifestação do Espírito. Em breve a ciência perceberá sua existência, provavelmente dando-lhe outra denominação e origem.

A psiquê não é dissociada do todo e das coisas. O Inconsciente se conecta ao mundo real independentemente da Consciência e do ego.

* Lócus (local, lugar, posição) - Nota deste blog.



Adenáuer Novaes



Fonte: do livro "Psicologia e Universo Quântico", pp. 121-4, 1ª ed., 2009
Fundação Lar Harmonia - Salvador/BA - www.larharmonia.org.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/psicologia-linhas-de-campo-5872032/

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