Nossa própria santidade deve ser realizada antes que possamos conhecer o Todo no qual nosso ser está e ao qual realmente pertencemos. O grande erro (e o pecado do clericalismo) é fingir compreender o universal antes de chegar ao autoconhecimento. Tentar entender o universal, falar dele e querer controlá-lo são sinais de que ainda não fomos impregnados dele.
O que significa "universal"? Jesus expressou isso como a natureza do amor divino que é dado imparcialmente a tudo o que existe. Assim como o sol brilha tanto para os bons quanto para os maus. Isso significa que Deus está além da moralidade humana. Deus nunca luta do meu lado contra os outros. Como a chuva, o amor divino cai sobre os inocentes e os perversos. Isso significa que a justiça de Deus está além de qualquer tentativa humana de ser justo. É um amor que une o caçador e a vítima. Em primeiro lugar, precisamos experimentar essa universalidade enquanto ela paira sobre nós. Portanto, reduza o ego. Isso nos simplifica. Ele nos eleva acima da complexidade de nossas vidas, derramando-se por todo o nosso ser, desde o âmago mais profundo. Só então estamos realmente acordados.
A paz não se alcança erradicando e destruindo o mal. Quando tomamos consciência de nossos pecados - raiva, orgulho, ganância, luxúria - a tentativa de destruí-los facilmente degenera em ressentimento contra nós mesmos. Afinal, se não podemos amar a nós mesmos, por que nos preocuparmos em amar os outros? Melhor do que destruir os defeitos é trabalhar com paciência para estabelecer as virtudes, um trabalho bem mais lento e menos dramático, mas muito mais eficaz. E ao evitar os perigos da hipocrisia religiosa e da falsa justiça, criaremos um desenvolvimento de personalidade muito mais amoroso.
Escondidas entre todos os nossos defeitos - nossa capacidade para o mal - estão também as sementes de muitas virtudes. É possível que o terrorista tivesse a semente da justiça dentro de si antes de ser tomado pelo sentimento de raiva e pela ilusão de acreditar ser um instrumento da ira de Deus. Quando declaramos guerra a nós mesmos, corremos o risco de causar um enorme dano colateral: a destruição de nossas próprias sementes de virtude. Qualquer tipo de violência é um crime contra a humanidade porque priva o mundo de uma bondade desconhecida.
O primeiro passo para implantar as virtudes que eventualmente dominarão os pecados é estabelecer a virtude fundamental da oração profunda e regular. Por meio desse ritmo de oração silenciosa, a sabedoria penetra lentamente em nossas mentes e em nosso mundo. A sabedoria é o poder universal que traz o bem do mal. Como diz o Livro da Sabedoria, "a esperança da salvação do mundo está no maior número de sábios". O sábio sabe distinguir autoconhecimento de auto-obsessão, desapego de dureza de coração e retidão de crueldade. Não há regras para a sabedoria. As regras nunca podem ser universais. No entanto, a virtude o é.
Trecho de “Dear Friends”, escrito por Laurence Freeman, OSB no Boletim da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (inverno de 2001).
Carla Cooper
Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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